O QUADRAGÉSIMO SEGUNDO DIA – A SUPERAÇÃO…

Chego ao ginásio um pouco antes das 10:00hs, para o treino da manhã, e vejo que em frente da porta da administração uma fila de jogadores estava formada. Pergunto o porquê da mesma e a resposta veio célere – Dia de pagamento professor! – E lá vão eles, um a um, receber seu salário.

A atmosfera interna do ginásio estava abafada pelo calor reinante e com a temperatura subindo rapidamente previ um desgaste a mais na já bastante desgastada equipe, e na véspera de um jogo para lá de importante.

Reuni os jogadores, felizes com o pagamento, e os liberei para efetuarem seus inadiáveis pagamentos e compromissos bancários, deixando para bem mais tarde, às 18;00hs, o importante treino do dia. E lá foram eles darem seguimento às suas vidas e a seus compromissos, acumulando mais uma reserva de energia para o clássico de amanhã.

Passo a tarde revisando um vídeo do jogo entre nosso adversário e Minas, procurando uma maneira mais lógica e eficiente para dosar as forças de uma equipe, como disse anteriormente, desgastada física e emocionalmente pelos vários transtornos por que passou durante a já quase finda temporada, mas que bem e racionalmente preparada chega aos três últimos jogos confiante e proprietária de uma forma de jogar tão sua, tão particular, que sente razoavelmente compensada as anotadas deficiências. Separo três pontos que podem nos beneficiar, e parto para o ginásio.

O treino é intenso, mas não muito longo, dosado nos três pontos que anotei na revisão do vídeo, e mais dois referentes à nossa própria equipe. E dei por encerrada a nossa preparação para o grande confronto. Estamos prontos, vamos jogar, e que vença o melhor.

Amém.

O QUADRAGÉSIMO PRIMEIRO DIA…

O fim de semana promete, pois o jogo de sexta contra a equipe de Vila Velha, o CETAF, mexe com as cidades limítrofes, com suas torcidas apaixonadas, e pelo fator mais instigante, a imperativa necessidade do CETAF vencer para obter a classificação aos play off da Liga. Nossa equipe já afastada da fase semi final, deseja encerrar sua participação apresentando um basquete de qualidade, demonstrado nas últimas partidas duramente disputadas, como fator determinante para a próxima temporada.

No treino matutino muitos desfalques, todos baixados ao fisioterapeuta por força dos duros embates sofridos nas duas últimas partidas, com  Minas e Brasília. Foi um treino que intitulo de Academia do Arremesso, onde corrigimos as falhas mais comuns nos arremessos da maioria dos jogadores, vitimas de um trabalho de base deficiente e pouco detalhista. É uma atividade de sintonia fina daqueles pequenos, e até imperceptíveis detalhes que alteram, e muito, a precisão dos arremessos, gerando insegurança e falhas, com grande prejuízo para toda a equipe.

No treino da tarde, após a exibição do vídeo do jogo com Brasília, o trabalho ganha em empenho e dureza, quando em meia quadra vamos às minúcias do nosso sistema de ataque, contestado todo o tempo por uma defesa linha da bola implacável, onde “o deixar as jogadas darem certo”, cedem espaço às antecipações, retomadas, bloqueios e duras disputas pela bola, que são fatores básicos às melhorias ofensivas, pois originam novas e diferentes ações, somente perceptíveis e factíveis sob intensa ação defensiva.

E as defesas revezando marcações individuais e por zona, com empenho máximo, leva toda a equipe a explorar as possibilidades que o sistema ofensivo possa oferecer, aumentando-as na medida em que a leitura dos comportamentos defensivos se tornem comuns e seletivas.

O treino se encaminha para seu final, quando para alegria geral determino que o mesmo, por 10min seja estendido por toda a quadra, comportamento pouco usual em nosso trabalho, aceito por todos, mas deixando uma pontinha de vontade pelo tradicional “campo inteiro”.

Amanhã, véspera do grande desafio, treinos específicos serão desenvolvidos, sempre voltados à excelência de um sistema que une a equipe em torno de um objetivo comum, jogar da melhor maneira possível o grande jogo.

Amém.

O TRIGÉSIMO NONO E QUADRAGÉSIMO DIAS…

Depois da catarse coletiva que representou a grande vitoria contra Brasília, voltamos à rotina de trabalho, pois o campeonato segue seu rumo, e na sexta feira um encontro tradicional, disputado sob o signo da rivalidade  local contra o CETAF de Vila Velha tem de ser alvo de um preparo minucioso, já que para nosso adversário se trata de um encontro decisivo às suas pretensões de classificação aos play off da liga.

Logo, baseado na apresentação dos jogadores para o treino matutino, onde vários deles se apresentaram lesionados ou extremamente estafados, realizamos somente um treino corretivo de arremessos, deixando para a atividade vespertina a movimentação mais exigente.

E que aconteceu em grande estilo, na qual o empenho e o interesse em manter a forma técnica da equipe se tornou evidente e recompensador. Avançamos muito no entendimento dos sistemas, tanto o defensivo, como o ofensivo, principalmente quanto a jogadas da lavra dos jogadores, sem a minha interferência direta, numa conquista da equipe que me encorajou na manutenção do livre arbítrio em seu todo.

Foi sem dúvida uma segunda feira encorajadora.

Hoje, terça feira, iniciamos o dia com um intenso treinamento de fundamentos de dribles, fintas, passes e arremessos DPJ, procurando a excelência nos arremessos em velocidade, marca pessoal da equipe. Toda uma movimentação através exercícios de fundamentos coletivos foi levada ao maior grau de exigências, físicas e técnicas, preparando a todos com situações de jogo as mais realistas possíveis.

À tarde, um treino fortíssimo contra defesas zonais foi levado à extrema exigência física, com resultados compensadores, principalmente pelo aumento progressivo na leitura do jogo pelos jogadores, quando voltados ao pleno entendimento do sistema que utilizam.

Aos poucos a equipe vai tomando forma, consistente e conscientemente, como deve ser desenvolvido um treinamento em plena temporada, ainda mais quando a proposta técnico tática é inédita e oposta ao que praticavam desde sempre. Mas com o comprometimento maciço dos jogadores, mesmo as dificuldades inerentes ao processo de aprendizagem sendo aceitas e contornadas, viabilizam o novo projeto, a nova feição de uma equipe desprestigiada e minimizada por todos.

Temos um longo caminho ainda por percorrer, mas um inicio compensador ajuda muito a trilhá-lo, mesmo contra todas as dúvidas vindas daqueles que desejam e se esforçam em manter o basquete no limbo em que se encontra. Devemos continuar, e não desistiremos de um sistema que embasa a nova identidade de nossa equipe.

Sexta feira teremos mais uma oportunidade de divulgar um trabalho que tem a nossa cara, que representa a nossa identidade, que executamos como ninguém, perdendo e vencendo.

Amém

PS- Clique o mouse na foto para ampliá-la.

O TRIGÉSIMO OITAVO DIA – A VITÓRIA…

Chego ao ginásio que ainda vazio brilha de tão limpo, refletindo a luz solar no piso uniforme e lindo. Vou até o banco e me sento já visualizando o jogo, bem ali na minha frente. De repente retiro de minha pasta um CD com músicas inéditas de meu filho caçula e peço para que o técnico que revisava o som o toque. E então, no ginásio vazio e brilhante, ao som das belas canções do João David pressinto que algo de muito especial ali ocorreria, que finalmente minha equipe, meu time, se reencontraria com seu destino, com a tão sonhada vitória, contra o líder da competição e seu plantel de grandes jogadores, jamais por um golpe de sorte, mas arrancada pela luta, e acima de tudo pela coragem de um grupo que tenho um imenso orgulho de liderar.

Na preleção que antecede o jogo traço com a equipe as estratégias longamente estudadas, fundamentadas num duro treinamento, na insistência dos que acreditam num sistema diferenciado, num sistema de sua exclusiva propriedade, mas que se escuda e ampara na coragem de desenvolvê-lo contra todas as perspectivas de um basquete engessado, padronizado e formatado como o nosso. Também estabelecemos a estratégia defensiva, optando pela utilização também corajosa da defesa linha da bola, aquela que nos propicia marcar os pivôs pela frente, que na impossibilidade de conter o poderio de atacantes de grande categoria cede aos mesmos e sob grande pressão somente a possibilidade de arremessos de 2 pontos, jamais 3, e que se utiliza da zona como recurso de quebra de ritmo, nunca como base defensiva. Enfim, em uníssono, comprometidos com o que treinamos e aceitamos integralmente fomos para a luta, dura e exaustiva luta, enfrentando a melhor equipe brasileira, a líder do campeonato.

Os dois quartos iniciais foram parelhos, 19×21 e 22×24 terminando em 41×45 para Brasília. Foram quartos de puro duelo, entre defesas e ataques, onde a equipe de Brasília não conseguiu uma cesta sequer de três pontos, qualificando sobremaneira nossa opção defensiva, contrabalançada pela eficiência ofensiva que aproveitou todas as possibilidades nos arremessos de curta distância, pois dos 11 arremessos nossos de 3 pontos, somente efetuamos 2 nesta primeira fase.

O terceiro quarto foi difícil, pois nosso pivô de ofício, André cometeu três faltas, e a equipe de Brasília insistiu o mais que pode no jogo interior com o Mineiro, além de começar a se tornar eficiente nas poucas oportunidades que dávamos para seus arremessos de 3, que foram somente 15 ao final do jogo. Venceram o quarto em 12×20.

Ao inicio do quarto final estabeleceram 13 pontos de vantagem, mas o desgaste de sua equipe já era evidente, fator que chamava uma troca de estratégia, inclusive sugerida pelo meu assistente Washington, a utilização de uma zona forte e agressiva com a finalidade de quebrar o ritmo final da equipe candanga.

Exatamente aos 5 minutos para o fim do jogo determinei a troca defensiva, e descontamos os pontos em quatro ataques desperdiçados pelo nosso adversário. Com 8.5 segundos para o término vencíamos por um ponto e ainda teríamos duas faltas de lateral para serem utilizadas. Por principio não gosto deste tipo de jogo, e uma falta proposital àquela altura poderia ser interpretada como ante desportiva, e o jogo iria para as calendas gregas. Optei pela defesa pura e simples, porém pressionada, mas o Guilherme em 3 segundos concluiu uma cesta que daria a vitoria a sua equipe. Tínhamos 5 segundos e fomos para dentro do garrafão de Brasília, como fizemos o jogo inteiro, jogando de dois em dois pontos, com segurança e minimizando erros pela proximidade dos arremessos. E o Roberto, num rebote, dominou a bola, levou falta clara, mas colocou a bola na cesta. Fim. Vitoria merecida, suada e arrancada do fundo daqueles corações corajosos e sacrificados.

Foi um belo e instigante jogo, que deveria ser veiculado para todos os amantes do grande jogo, principalmente os jovens técnicos. Mesmo os veteranos, e os velhos como eu, que tanto necessitam desenvolver alternativas técnico táticas dirigidas a um basquete caquético e viciado, atado a influências que freiam e  limitam nossos jogadores com táticas e pranchetas mais caquéticas ainda. Precisamos ir de encontro a soluções inovadoras, e minha humilde, corajosa e valente equipe se posta na vanguarda desta inadiável e fundamental mudança de rumos, que se os deuses ajudarem, transformará e reintroduzirá nosso basquete em seu lugar de direito no concerto internacional, não que o que propomos e executamos seja a solução ideal, mas que sirva como sinalizadora de novos e arejados tempos, pois creio firmemente que merecemos dias melhores.

Na preleção final no vestiário, olhei fundo nos olhos de cada um e agradeci a oportunidade que nos deram, a todos, de demonstrar o valor de um trabalho honesto e inovador. Ao deixá-los sozinhos como sempre faço, ainda ouvi pela porta entreaberta a oração que todos faziam, em uníssono, agradecendo de mãos dadas a corrente de esperanças dentro de cada um.

Parabéns rapazes, vocês foram brilhantes, humildes e generosos. Estou feliz.

Amém.

PS- Clique o mouse na foto para ampliá-la.

O TRIGÉSIMO SÉTIMO DIA – PROPONDO UM SISTEMA…

Este foi o placar ao final do terceiro quarto do jogo com a equipe do Minas, e que se manteve até os três minutos finais da partida, quando três arremessos de três definiram a partida para os mineiros. Como havia previsto anteriormente, a nossa equipe seria adversária temível à partir do momento que chegasse ao quarto final em iguais condições físicas e técnicas, mesmo após todos os percalços por que passou, sedimentada num sistema de jogo diferenciado e eficiente.

A diferença final foi de 9 pontos, dois a menos dos 11 lances livres perdidos por nossa equipe, num processo oscilatório por que passa esse fundamento no contexto da mesma, e que vem se tornando de difícil, mas não impossível correção. Mas alguns pormenores devem ser considerados, principalmente quando nenhum de nossos jogos é veiculado pela mídia televisiva, a não ser as imagens captadas obrigatoriamente pela LNB e repassada às equipes em duas cópias e uma outra para a própria liga. O grande público somente tem conhecimento de alguns jogos transmitidos em rede à cabo, jamais em rede aberta, e mesmo assim os disputados pelas equipes ponteiras.

Uma mudança técnico tática de vulto, inédita e audaciosa como a nossa, e que muito representaria para a nossa evolução, mesmo não apresentando resultados imediatos, mas repleta de indagações e que contradiz 20 anos de um posicionamento padronizado, formatado, pasteurizado, de um sistema único de ataque, calcado na NBA, e que é somente veiculado aos técnicos da liga e a uns poucos torcedores presentes aos nossos jogos, mereceria uma análise bem mais ampla, pois afinal de contas é algo realmente diferente, e que muda radicalmente o enfoque exclusivo de um único sistema de jogo para todo o nosso basquetebol, em todas as categorias, em todas as faixas etárias, a começar por todas as nossas seleções, municipais, estaduais, nacionais.

Exatamente por tudo isto, é que me propus veicular um ou dois jogos da equipe do Saldanha da Gama nesse blog, e para tanto requeri via email a permissão da direção da LNB, da qual faço parte como técnico de um de seus filiados, mas não obtive resposta, o que me entristece sobremaneira, já que os maiores beneficiados seriam os muitos jovens técnicos, e mesmo os veteranos, espalhados por esse imenso país, curiosos que estão em tomar conhecimento deste sistema que propus por longo tempo, e que ora emprego no Saldanha, e não tão somente os demais técnicos das demais equipes, concorrentes aliás.

Mas voltando ao jogo, analisemos alguns importantes aspectos:

– Com 29/58 arremessos de 2 pontos, fomos mais eficientes que o Minas com 25/41, numérica, e não percentualmente falando.

– Nos arremessos de 3 pontos, mantivemos o baixo número de tentativas em 2/7, ao mesmo tempo que ao utilizarmos a defesa linha da bola, reduzimos as 12/26 tentativas do Minas contra Brasília no seu jogo anterior, para 6/17 contra nossa equipe.

– Nos lances livres a decisiva diferença, 8/19 nossos em confronto aos 13/17 da equipe mineira.

– 26 rebotes nossos contra 27 do Minas, assim como 10 assistências nossas contra 9.

– 17 e 16 faltas pessoais respectivamente. 6 erros contra 3 de Minas, e 7 roubos de bola contra 1, provando a eficiência defensiva.

– E o mais instigante, 29/54 pontos vindo dos reservas, contra 3/9 dos mineiros.

Num confronto em que o jogo interior vem sendo resgatado em pleno jogo a jogo, os nossos pivôs móveis André, Amiel, Casé , Jesus e Roberto, com seus 48 pontos se rivalizaram com os 44 pontos alcançados pelos pivôs Drudi e Murilo, para um total final de 72 e 81 pontos respectivamente para nós e o Minas, restando somente um ponto em que a desigualdade foi patente, os 11 lances livres perdidos que selaram nossa sorte. Paciência e reconhecimento de que muito mais trabalho teremos de desempenhar daqui para frente.

Mais um jogo perdido, mais uma prova do nosso crescimento, da consolidação de nossa opção técnico tática, tanto ofensiva como defensiva, lastimando tão somente que a mesma fique restrita a um nicho de técnicos de elite, e não à analise e discussão da grande massa composta dos técnicos jovens do país.

Mas quem sabe, a autorização da LNB chegue…

Amém.

Adendo 2 – A pancadaria continua imperando embaixo das cestas, até um dia que um acidente de graves proporções venha a acontecer, Por enquanto alguns rasgões, dentes quebrados e luxações se tornam lugar comum em todos os jogos, onde as regras da FIBA são omitidas por uma arbitragem cada vez mais permissiva e ausente. Torno a repetir, técnicos e juízes tem de se reunir para discutirem pormenores e particularidades do jogo, principalmente aquelas que se desenrolam embaixo das cestas. O bom senso tem de se fazer presente nestas situações, para que as regras do grande jogo sejam plenamente obedecidas.

Paulo Murilo.

O TRIGÉSIMO SEXTO DIA – O AMANHÃ…

Neste dia extremamente abafado, onde a respiração é dificultada no interior de um ginásio mal ventilado, com temperaturas 6 a 7 graus mais elevadas que no seu exterior (33º C às 10hs da manhã), fizemos dois treinos, invertendo seus conteúdos normais distribuídos entre manhã e tarde, com a realização técnico tática da equipe pela manhã, e os fundamentos à tarde.

Temendo um desgaste desnecessário motivado pela antecipação do treino de amanhã, das 10 para às 7 horas, e o da tarde de 18 para às 14hs, cancelei o primeiro, mantendo o vespertino como praticamente o apronto para o jogo de sexta feira contra o Minas.

Sem dúvida alguma, se um bom projeto para a temporada 2011 for agora estabelecido, a recuperação do piso do ginásio próprio do Saldanha teria de ser prioritário, pois de saída a utilização do mesmo seria a garantia de que horários e disponibilidades de apoio, como musculação, fisioterapia, sala de vídeo e direção, e mesmo um pequeno alojamento secundado por uma indispensável cozinha, e mais, um ginásio à beira do mar, elevado, onde a aeração é constante, sem contar seu enorme carisma junto a sua enorme torcida, seriam fatores incontestáveis ao apoio logístico de uma verdadeira equipe de alta competição. Que sua direção pese e analise com carinho esta enorme possibilidade, reforçada pelo mais importante e básico dos fatores que levam ao sucesso, suas categorias de formação, ali, juntas à equipe de elite, vendo-a treinar e jogar, como exemplo vivo de superação e dedicação.

E treinamos forte, motivados pelo interesse e dedicação de todos, dirimindo dúvidas observadas e discutidas quando da projeção do vídeo do último jogo em Assis, projeção esta que somente foi possível pela graciosa cessão do refeitório do hotel onde me instalo, agradecendo ao seu gerente a gentileza de cedê-lo.

Ao final do treino um gentil repórter coloca uma instigante questão baseada no número de vitórias nas 5 rodadas finais, e o que representariam para a equipe – classificação entre as doze, podendo disputar 4 vagas para o play off  com as 4 equipes ponteiras – Não terminar como última colocada na competição – ou, simplesmente voltar a vencer depois de tantas derrotas?

Respondi com uma outra pergunta – Que tal preparar em 18 dias uma equipe traumatizada pela última classificação, ir a São Paulo e fazer duas partidas emocionantes, perder uma e vencer a outra contra o vice campeão paulista, estar cônscio de liderar uma equipe de bons jogadores, com um sistema de jogo inovador, e de repente ser surpreendido por uma greve de alguns deles, importantes e experientes, que foram desligados da equipe, e ter de recomeçar o trabalho, sem um espaço congênere ao que tive, de 18 dias, para situar a equipe perante o novo desafio? O que fazer, senão encarar de frente um problema absolutamente inesperado, e entre treinos, bons jogos e derrotas previsíveis, ir em busca das tão sonhadas vitórias?

Sim, quero, queremos todos, e daí nosso comprometimento profissional e técnico, ir de encontro às vitórias, com todas as nossas forças, com todo o nosso empenho e amor à causa do grande jogo. Conseguiremos? Saberemos daqui a 5 jogos, que tenho a mais absoluta certeza, serão jogados com técnica e coração. Merecemos, pelo menos, o reconhecimento de tanto esforço, e torcemos para que no futuro possamos ser cobrados com justiça e isenção.

Vamos então, jogar o jogo, pois amamos jogá-lo.

Amém.

OS TRIGÉSIMO QUARTO E QUINTO DIAS…

Chegamos muito cansados dos jogos em São Paulo, e por esta razão resolvemos reiniciar os treinamentos na terça feira pela manhã, nos preparando para os jogos com Minas e Brasília no fim de semana.

O treino desta manhã de terça constou de uma extensa sessão de arremessos de media distância e lances livres, e uma aferição das condições físicas da equipe, já que muito exigidos nos jogos em São Paulo.

No treino da tarde, sob temperatura muito alta, recordamos toda a movimentação contra defesa individual, e posteriormente, zona, com um ótimo aproveitamento.

Enfim, consegui na gerência do hotel onde me encontro um local apropriado para vermos o vídeo de nosso último jogo contra Assis, assistido com muita atenção, já que a síntese de todo o nosso trabalho até aqui realizado, cabendo a mim comentários pontuais e uma profunda análise do sistema adotado e praticado por todos.

E o ponto crucial desta análise teve como ponto central os dois últimos quarto quartos dos jogos contra Bauru e Assis, quando nos deixamos vencer com diferenças de até 20 pontos, placares estes que de forma alguma espelhavam a realidade dos jogos até aqueles momentos decisivos. Ou a  queda brusca, responsável pela débâcle representava o clímax de uma sucessão de erros cometidos até aquele momento, ou uma acentuada quebra na condição física da maioria dos integrantes da equipe? Talvez um pouco de cada um dos aspectos descritos e mostrados no vídeo, que ao serem reconhecidos por todos determinariam suas possíveis correções para os embates futuros?

Perguntas com respostas condicionadas a mais treinos, sérios e duros treinos, fator único para o caminho das tão sonhadas vitorias.

Amém.

O TRIGÉSIMO TERCEIRO DIA – O JOGO EXEMPLAR…

Mais um jogo, contra Assis, mais uma derrota, mas pequenas vitorias são alcançadas, numa melhora defensiva acentuada de jogo para jogo, quando já evoluímos para os 3/4 da partida em igualdade de condições técnicas, um quarto além dos excelentes dois quartos iniciais que fazíamos, num trabalho bem sei lento, mas cuja tendência evolutiva advirá com certeza.

Num jogo cujo poder de rebote do fortíssimo adversário somaram 45 acertos, contra 25 dos nossos, virar para o quarto decisivo 8 pontos atrás, por si só caracteriza uma enorme evolução se comparada aos 18 pontos em média dos dois jogos anteriores, faltando tão somente um maior condicionamento físico e mental para que o equilíbrio técnico seja alcançado, numa escalada difícil e sofrida, mas não impossível, mesmo a esta altura do campeonato, bastando mantermos o alto nível de comprometimento que a quase maioria dos jogadores demonstram no dia a dia do preparo da equipe, onde uns poucos ainda se mantêm num nível abaixo dos demais, os quais tenho dado atenção redobrada.

Claro que os fatores negativos que assaltaram a equipe nas duas últimas semanas influenciaram por demais a produtividade de todos os jogadores, cujas correções nos tem tomado tempo precioso e que ainda nos cobrarão juros bastante altos, queiram muitos críticos reconhecerem ou não, tão contundentes evidências, indiscutíveis por sinal, exatamente por ser o basquetebol uma modalidade de altíssima técnica, cuja aquisição, manutenção e desenvolvimento da mesma não tem paralelo em outras modalidades.

Exatamente por esta característica técnico tática é que os resultados custam muito a se concretizarem, sem que os mesmos atinjam a excelência de seus princípios básicos de execução.

E por ter conhecimento das reais capacitações dos jogadores, provadas e comprovadas nas quadras sob meu comando, é que afirmo ser plenamente possível alcançarmos um estágio acima do razoável para o restante do campeonato, e uma gradação técnico tática de vulto na continuidade de um trabalho pleno de possibilidades e consideráveis avanços, se prestigiado e patrocinado com isenção e plena confiança de seus gestores.

O jogo de hoje, como os que o antecederam nos últimos 30 dias, representou uma renovada chance de afirmação de uma equipe desacreditada, ainda perdendo jogos, mas plantando a cada partida uma semente de boa técnica, bons sistemas e um principio fundamental a qualquer equipe, o comprometimento de muitos, mas não muito longe da maioria.

Hoje apesar da longa experiência adquirida dentro e fora das quadras, pude voltar a sentir aquela emoção de estar lutando em igualdade de condições contra uma equipe poderosa e muito forte fisicamente em 3/4 da partida, que serão 4/4 muito em breve, tenho a mais absoluta certeza.

Esta será uma semana de trabalho intenso, pois nos defrontaremos com duas equipes que ponteiam a Liga, Minas e Brasília, ante as quais uma evolução bem planejada poderá ser comprovada, ou um pouco mais adiada , dependendo do caminho a ser escolhido, treinado e aceito por todos.

Amém.

O TRIGÉSIMO SEGUNDO DIA…

Já madrugada aqui em Assis, os jogadores dormem depois de um treino bastante intenso, quando desenvolvemos o sistema defensivo, que na medida das possibilidades atuais da equipe, deverá ser aquele setor prioritário no jogo de daqui a pouco contra a forte equipe da cidade. Ao som da banda de meu filho caçula ( www.Myspace.com/flightband) que na lonjura de Budapest sei que torce por mim e a equipe nessa duríssima Liga, projeto no papel e na minha mente ações que pretendo desenvolver no jogo, pesando soluções e alguns recursos ainda não suficientemente explorados, na busca permanente de uma vitoria, que apesar de difícil obtenção não é descartada em hipótese alguma de meus cada vez mais críticos planos, haja vista tantos percalços nos 30 dias que preparo e dirijo a equipe.

Tenho conversado muito com os jogadores, transmitindo e detalhando os treinamentos e os sistemas adotados, numa permanente troca de experiências e opiniões que visem o crescimento de todos, inclusive o meu próprio, obtendo considerável e benéfico retorno, e mais, pesquisando suas esperanças, pequenas ambições e sonhos no amanhã de suas vidas. E a possibilidade de estudarem, concomitante ao basquete, é o objetivo mais ansiado por todos, o que em hipótese alguma me deixa surpreso, dadas as pistas por mim captadas nos encontros e trocas de idéias, não fosse eu um experiente professor com mais de 50 anos de batente. Sem dúvida alguma esse é um ponto prioritário que abordarei no projeto para a próxima temporada, claro que se for sinalizada a querência à minha continuidade na direção da equipe, onde uma inteligente manipulação de horários de treinamentos propiciaria o desenvolvimento da dualidade desporto-estudo no seu mais puro sentido.

Mais são projeções para um futuro perto ou distante, mas que caracterizariam um enorme e decisivo avanço no seio da atividade desportiva em nosso país.

São duas da manhã e preciso descansar um pouco. E embalado pelo som do filho querido me deixarei adormecer e acordar para mais um encontro com o destino de uma equipe que já se faz merecedora de uma vitoria, de uma ansiada vitoria.

Amém.

O TRIGÉSIMO PRIMEIRO DIA – A REGRA OMITIDA…

Nesta manhã fizemos um bom treino de fundamentos e arremessos, visando primordialmente uma execução mais objetiva do drible e conseqüente mudança de direção, a fim de que a organização do nosso sistema  de jogo pudesse fluir mais naturalmente e com alguma dose de liberdade no permanente combate com a defesa contraria, principalmente por parte dos armadores, numa antevisão da única forma possível de evitá-lo, a anulação da conexão entre os armadores e os pivôs dentro do perímetro interno.

E fomos para o jogo à noite, planejando forçar as ações internas, com deslocamentos permanentes de todos os pivôs móveis, e consequente ligação com os armadores. Na defesa, o abandono da dobra interna, a fim de serem evitados os passes para as laterais onde arremessadores de três pontos costumam atingir bons índices de acerto pela total liberdade presenteada pela referida dobra que tenta em ajuda evitar finalizações de curta distância, cedendo no entanto o espaço mais do que confortável para o arremesso de três pontos. Minha proposta aos jogadores foi a de trocarmos 3 por 2, ao permitir o corte em direção à cesta, em vez de deixá-los à vontade para o arremesso de três, onde são realmente poderosos.

Mas desde os primeiros minutos de bola em jogo, testemunhando a poucos metros de distância os verdadeiros atentados cometidos sobre meus armadores, através uma marcação faltosa todo o tempo, onde a carga ilegal ao corpo dos mesmos era constante e violenta, sob os olhares complacentes e absolutamente ignorantes quanto à interpretação das regras elaboradas e emitidas pela FIBA, mas perfeitamente alinhados aos critérios utilizados na NBA, que percebi de pronto a quase impossibilidade de fazer chegar nossos passes com precisão aos nossos pivôs na zona interna, numa cristalina constatação do formidável equivoco em que vem se transformando a arbitragem brasileira, principalmente quanto às cargas faltosas e ilegais sobre os armadores e demais jogadores. Mais tarde no hotel, aquela visão inicial que tive sobre o jogo era confirmada a cada ação pelo irrefutável vídeo que assistia, incrédulo e inconformado, inconformismo este que não manifestei durante todo o jogo por não considerar válidas intervenções coercitivas aos árbitros,atitude incompatível  a minha função de técnico de uma equipe que deveria estar disputando um jogo de alta competição, arbitrado por juízes preparados para a mesma.

Quebrado o sincronismo entre armadores e pivôs, nos restou as tentativas individuais que tanto treinei para que não acontecessem dentro do sistema adotado, numa clara demonstração do quanto de poder negativo uma arbitragem omissa pode desencadear no âmago de uma equipe. No nosso banco os auxiliares e jogadores ensaiavam protestos contra critérios tão desiguais, os quais procurei conter para que não perdêssemos as poucas oportunidades que nos restaram para buscarmos um equilíbrio minimamente possível.

Nos terceiro e quarto quartos conseguimos a duras penas e muita insistência de minha parte evitarmos as dobras nas penetrações do adversário, mantendo por conseguinte os arremessadores sob um maior controle defensivo, mas a diferença passando dos 20 pontos inviabilizava uma reação.

Lições foram listadas para posteriores correções, onde duas variáveis sobressaem, a reestruturação defensiva de alguns jogadores, habituados a não contestarem tentativas de três pontos dentro do sistema único de jogo que praticaram desde sempre, e o reestudo de uma formula que tornem os armadores capazes de atuar e alimentar seus pivôs embaixo de pancada, isso mesmo, na acepção do termo, pancada, numa constatação lamentável e constrangedora, e que infelizmente vai se impondo ao nosso basquetebol.

O jogo eminentemente físico mascara e até anula em alguns casos a técnica e a habilidade de muitos jogadores, numa perigosa e irresponsável emulação do que ocorre com o futebol, onde jogadores de alta técnica sofrem coerção aberta por parte de jogadores inábeis e violentos, como se fosse um pecado original o exercício da arte de jogar. O basquete corre sério perigo de se ver no mesmo caminho do futebol, sob o beneplácito de uma arbitragem equivocada e pessimamente formada. Urgem discussões de técnicas de jogo com os conselhos de arbitragens em todo o país, a fim de que a essência do jogo não descambe para o âmbito de um prosaico circo romano.

Mas verdade seja dita que perdemos para uma equipe melhor, com bons arremessadores, e extremamente rápida, mas que teve facilitada sua vitoria pela quase impossibilidade de nossos armadores jogarem dentro das regras, caçados que foram por toda a partida, numa claríssima constatação de que seus defensores estavam orientados a não permitirem que a bola chegasse ao perímetro interno em boas condições, mas que infelizmente para o correto e legal desenvolvimento do jogo faltou a correta aplicação das regras, onde a violência deliberada deve ser coibida permanentemente.

Sem dúvida estudaremos maneiras de contornar tal comportamento agressivo, sem que o imitemos jamais, pelo bem do grande jogo.

Domingo teremos mais um jogo aqui em São Paulo, contra a equipe de Assis, esperando, no mínimo desejável uma arbitragem condizente com o espírito das regras da FIBA, e não dentro do espírito agressivo e ilegal preconizado pela NBA.

E aos problemas que temos enfrentado, que não se some mais este, para o qual não existem treinamentos imediatos que o anulem.

Conseguimos manter nossos valores estatísticos bem próximos aos que vínhamos obtendo nos jogos anteriores, com uma pequena queda nos lances livres e números de rebotes, o que demonstra o acerto do sistema adotado, cuja tendência de se firmar aumenta a cada dia, a cada treino, a cada competição. Muito trabalho temos pela frente, e é para lá que vamos, todos.

Amém.