O ARRANJO…

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Infelizmente está progredindo no basquete aqui jogado em alto nível (assim muitos o definem…) o arranjo já bem conhecido na NBA, de que jogo mesmo, aquele para valer, somente é disputado do terceiro quarto em diante, onde tanto diferenças elásticas de placar são dirimidas, ou equilíbrios são quebrados de forma inversa, como num acerto de compadres que professam a mesma disposição em poupar “desnecessários” esforços, pois afinal de contas não são feitos de ferro.

E por conta de tais arranjos, assumidos por muitos jogadores, e não sei se por algum técnico de comportamento mediador, podemos tentar compreender e analisar tantas e muitas vezes “inexplicáveis” oscilações entre os iniciais e finais quartos de uma partida.

No jogo deste domingo, entre Brasília e Flamengo, duas das melhores equipes do país, nada de plausível pode ser mencionado que explique os comportamentos passivos nas defesas das duas equipes nos quartos iniciais, o que originou uma tempestade de arremessos longos sem quaisquer anteposições defensivas, onde notórios arremessadores como Alex e Marcelo exerceram suas especialidades da forma mais livre que se possa imaginar, num espetáculo de pirotecnia pura e descompromissada, num verdadeiro e lastimável tiro aos pombos.

E veio o terceiro quarto, com as equipes descansadas pela economia de esforços nos quartos iniciais, e fez-se a diferença, quando de repente, não mais que de repente, descobriram, ou se lembraram  que a não cedência de espaços à esquerda depois de um corte iniciado à direita, retiraria dos arremessos do Marcelo a enorme eficiência quando os armava daquela forma, anulando sua maior arma, a mesma que o premiou com quatro arremessos de três seguidos nos quartos de permissividade defensiva.

Como cumprindo um ritual, parecido em intenções àquele importado da matriz de encerrarem o jogo antes do sinal da mesa, como que retirando dos juízes a incumbência regimental de encerrá-lo como determinam as regras, resolvem jogar sério nos quartos finais, defendendo como deveriam fazer desde o inicio, já que jogadores profissionais com público pagante.

Aparentemente decidido o jogo, um novo período de poupança, traduzido em administração de resultado, que é uma ação que compromete a liderança de técnicos concordantes com tais atitudes de seus comandados, que por conta deste comportamento põem em risco resultados tidos como definitivos.

Mais não só jogadores traçam normas diferenciadas na interpretação do grande jogo, juízes também colaboram com tais distorções, principalmente quanto à critérios interpretativos das regras, como a marcação da infração dos 3 segundos, onde o critério aleatório torna-se moeda de compensação a falhas cometidas, e não uma regra bem definida na incidência da mesma.

Quando da tolerância descabida do limite de 5 segundos para a cobrança de lances livres, sabidamente a maior oportunidade de exposição televisiva para jogadores bem orientados à mesma, como o Alex, que somente aqui no país, executa seus maneirismos que ultrapassam seguidamente os 11 segundos, pois não o vimos agir desta forma quando jogando no exterior ( somem 11 segundos ao número de lances livres executados e teremos uma apreciável exposição exclusiva, alcançada pela burla às regras do jogo), e que já tem um rol de seguidores que aumenta a cada dia, à sombra permissiva das arbitragens.

Também o discurso inflamado de jogadores se insurgindo contra marcações de faltas, com o beneplácito de juízes que se refestelam em dar explicações, quando sua função é a de aplicar as regras com justiça e bom senso, nada mais.

Ao final do insosso jogo, venceu aquele que resolveu marcar a sério num terceiro quarto, quando o deveria tê-lo feito desde o inicio, pelo menos em respeito aos novecentos e pouco pagantes presentes e perdidos na imensidão de 14 mil lugares vazios.

Mas algo de positivo podemos apontar, o fato de que começamos a aprender como devem ser marcados os grandes arremessadores, sem evitar que arremessem, e sim alterando suas trajetórias e deslocamentos habituais, mental e tecnicamente estabelecidos, e que por conta desta disposição resultados positivos podem e devem ser alcançados.

Amém.

Foto de Fernando Maia-O Globo



8 comentários

  1. Adriano 02.02.2010

    Professor, o senhor vai voltar aos bancos do Brasil como técnico de Saldanha da Gama, é isso mesmo? Como aconteceu esse retorno? De quem partiu o convite, e por que você aceitou? Estou ansioso para vê-lo em ação! Abraço

  2. Basquete Brasil 02.02.2010

    Prezado Adriano, tomei a liberdade de fazer de seu comentário o tema do artigo publicado hoje.A não ser os dois jornais de Vitoria que me contataram hoje, você foi o primeiro a mencionar o assunto até agora sigiloso. Um abraço, Paulo.

  3. roberto henrique 03.02.2010

    Agora sim, desejo boa sorte…mas quero ver se realmente sua teoria é boa, na prática é bem diferente.
    CUIDADO agora vc deixou de ser a pedra e vai ser a janelinha.
    Att,

  4. Suzana 03.02.2010

    Sucesso, professor!

    Vou acompanhar seu trabalho. Será riquíssima esta combinação de ação em quadra com reflexão aqui no blog.

    abraço!

    Suzana

  5. Basquete Brasil 03.02.2010

    Prezado Roberto, desculpe, mas nunca serei janelinha ou uma pedra que agride, pois o exercicio honesto, leal e ético da critica democrática é um ganho que jamais abdicarei, assim como a capacidade sempre renovada de me indignar.
    Quanto a pratica ser diferente da teoria, meus deuses, é a chave de toda a experiência humana, onde um aspecto se torna inegável, a inexistência de uma em função da outra, já que inseparáveis. A grande arte é o encontro da mediatriz que as irmana na história da humanidade.
    Obrigado pelos votos de boa sorte, que precisarei aliada, mesmo que em proporção ínfima, ao intenso trabalho que defrontarei.
    Um abraço, Paulo Murilo.

  6. Basquete Brasil 03.02.2010

    Cara Suzana, que bom contar com seu apoio, e pode esperar boas discussões e reflexões sobre o grande desafio a ser enfrentado. Um abraço, Paulo Murilo.

  7. Jose Geraldo 05.02.2010

    Paulo, fiquei muito feliz em saber que, mesmo depois de longo tempo, você retorna a direção de uma equipe de basquete. Com tanto conhecimento compartilhados em tantas longas e agradáveis conversas e a vivência pedagógica em tantos anos de cátedra não tenho dúvida que, “no devido tempo”, os atletas desta equipe perceberão o quanto melhorarão o seu desempenho esportivo, além claro dos outros aspectos que o completam.

    Sinceros votos de boa sorte é o que deseja Zé Geraldo.Forte abraço.

  8. Basquete Brasil 06.02.2010

    Obrigado Zé, e fico em divida com você por não comunicá-lo da minha vinda para o Espirito Santo. Foi tão repentino, do convite à viagem, que mal tive tempo de me programar devidamente. Mas logo logo me comunico. Obrigado pelos votos, e aceite um abraço do amigo. Paulo.

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