3,4 e 5…
Recentemente em um Summer Camp do Portland Trail Blazer alguns jogadores latinos se submeteram a testes para uma possivel contratação por aquela equipe da NBA. Um dos testes era a ultrapassagem driblando por uma fileira de cadeiras, exercicio básico do drible. Eis que um dos jogadores derruba 3 cadeiras e tropeça em outras duas. É claro que foi mandado de volta imediatamente. Era um”3″, ou ala no jargão do basquetebol. Se enfrentando um lote de imóveis cadeiras trombava com varias, imagina-se o que ocorreria se fossem defensores ativos. Essa realidade não é tão rara assim nas equipes brasileiras, onde os”3″ se não tropeçam nos marcadores saem com frequência pela linha final por não exercerem um mínimo domínio da bola ao driblá-la. Alguma firmeza só sentem, quando destros, penetrando pela esquerda do garrafão, ou canhotos pela direita, pois nessas posições afastam a variável “linha final” das possibilidades de erro e se concentram em tirar uma reta da cesta, isso se não ocorrer uma flutuação defensiva que corte sua trajetória. Nessa situação recua ou eleva a bola acima da cabeça para um passe que o tire daquela situação. Mudança de direção com um passo atrás, ou reversão completa ou negaciada simplesmente são de total desconhecimento por parte da maioria dos”3″ e”4″ de equipes brasileiras. Se especializaram em correr feito doidos pela frente, por trás e pelo meio da defesa na procura de um pequeno espaço que o faça receber um passe para o arremesso salvador, preferencialmente de três pontos. Só observamos penetrações pela lateral da quadra quando, por motivos de desespero tático dois armadores são colocados em campo e um deles, por exigência do sistema do Passing Game, recebe a bola naquela posição lateral e com sua melhor habilidade que os “3” e”4″ em questão, evoluem para a cesta desbravando os caminhos desconhecidos por aqueles. Por que não preparar e treinar os alas (verdadeira denominação desses jogadores) em algumas das habilidades dos armadores? Por que se instituiu em nosso país a negação aos alas de habilidades próprias dos armadores?Isso foi implantado quase como uma exigência natural do sistema suicida do Passing Game. Muitos de nossos alas, altos e ágeis são privados dessas habilidades pela cretina “especialização” a que são submetidos por um sistema absurdo e anacrônico, mas de beleza coreográfica imposta por técnicos que no fundo odeiam a livre iniciativa, ou liberdade de ação de jogadores audaciosos e por isso mesmo perigosos em sua auto-suficiência.-Fulano, você passa a bola para beltrano, corre em direção do pivô, faz um bloqueio nele, abre e se coloca para um possível passe para o arremesso, e você sicrano, corre para receber o passe se beltrano não se colocar a contento e… e por ai vai a instrução, é claro, toda ilustrada com desenhos claros e objetivos na prancheta. Para que desenvolver habilidades em alas se a coreografia detalhada nas pranchetas tudo irá resolver sem os pequenos e dispensáveis detalhes de criatividade e improvisação técnica? E o que falar dos “5” que deveriam obrigatoriamente se situar sempre próximos à cesta, de preferência estando do lado oposto à bola, para que na possibilidade do passe o recebesse em movimento, não dando chance ao marcador para interceptá-lo, mas que no fatídico Passing Game é obrigado a sair até além da linha dos três pontos para servir de arriete a passes absurdos e totalmente ineficientes, e na maioria das vezes, quando de um arremesso veloz pegá-lo fora do rebote, fora da ação para a qual deveria ser preparado. Hoje vemos um novo tipo de jogador, o pivô-cestinha de três pontos, num desperdício que raia ao ridículo estratégico. E mesmo quando conseguem o rebote ofensivo chegam ao solo de frente para a cesta, quando a tentativa subsequente de ida para os pontos encontra oposição quase intransponível. Girar 180º no ato do rebote, aterrisando de frente para a quadra onde, com o domínio livre da bola poderá optar pelos três movimentos básicos do jogador, o drible, o passe ou novo arremesso, é atitude totalmente desconhecida pela maioria dos pivôs brasileiros, assim como a repetição cansativa de tentar finalizar uma cesta com a mão contraria ao lado em que se encontra, quando se o fizesse com a mesma mão não só obteria a cesta como possivelmente sofreria uma falta pessoal. Mas esses detalhes de fundamentos são perfeitamente dispensáveis quando uma sequência de bem ensaiados passes culmina com um glorioso arremesso de três pontos, belo e irretocável. Mas fica uma pergunta, e quando aqueles pictóricos arremessos teimam em não cair??Em minha pesquisa de doutorado em Lisboa”Estudo sobre um efetivo controle da direção do lançamento com uma das mãos no basquetebol”, da qual falarei em futuros artigos, demonstrei com bastante exatidão os índices de acerto em arremessos nas varias distâncias, fatores que definitivamente me deram a certeza de que podemos ser poderosos jogando para os dois pontos e lance-livres, dando aos mesmos toda precisão possível, destinando os três pontos para determinadas situações, e mesmo assim nas mãos daqueles que realmente sejam especialistas nesse difícil arremesso. Jogando pelos dois pontos ganhamos em precisão, aproveitamos mais ataques, forçamos as defesas para dentro do garrafão, e ai sim sobrará bom espaço para um arremesso de três pontos, ocasional e estratégico, e não usual e suicida. Mas isso é história para ser contada e discutida quando da adoção de alguma outra situação de jogo que não o indefectível, totalitário e antidemocrático Passing Game.