QUANDO AS PERNAS FALHAM (OU NUNCA FUNCIONARAM)…

– “É jogo para pouca tática e muita disposição”, afirma o jogador Helio do Flamengo antes do jogo.

– “O jogo se ganha com o coração, na vontade, e às vezes a estratégia fica de lado”, declara o jogador Fúlvio no intervalo do jogo.

Com um cenário desse, o que esperar taticamente de um jogo tão importante?

E não deu outra, que como num cartão de visitas, deu-se uma bolinha de três por parte do Fisher, seguida de outra do Marcelo, inaugurando um jogo fundamentado nas afirmações dos jogadores acima, e continuado até o quarto final, quando a equipe carioca, em vez de voltar ao jogo interior, para de 2 em 2 pontos retomar a partida, preferiu as “bolinhas de 5 pontos”, como se a hipotética e sonhadora existência delas fosse real. Somemos a esse panorama uma constatação avassaladora, não mais a incapacidade técnica e fundamental de defesa, individual e coletiva, mal de que padecem muitos e muitos jogadores e equipes brasileiras,  aumentada pelos muitos anos percorridos de estrada por alguns deles. Querer, e em alguns casos saber defender, difere frontalmente do poder, física e tecnicamente, defender. A capacidade de se postar fisicamente no ato de defender, onde a mobilidade dos membros inferiores têm de ser levada a extremos, somada a uma aguçada percepção de tempo e espaço, não são qualidades que dispensem condicionamentos físicos e mentais ordenados,  extremamente treinados e afiados.

Pagamos demais para ver o que acontece, principalmente quanto aos arremessos de fora do perímetro, como numa aposta inter pares de quem acerta mais e erra menos, como num desafio permissivo em ambos os contendores, atitude esta somente factível quando jogam de forma igual ou semelhante, onde as oportunidades se dividem igualmente, e que seria diferente na forma e nos resultados se algo inovador, insólito, corajoso e realmente diferente, fosse colocado neste carrossel girando sempre na mesma direção, com as mesmas luzes, a mesma e monocórdia melodia, o mesmo e medíocre destino, o girar indefinidamente sobre si mesmo.

Tímida e receosamente, algumas de nossas equipes tentam a dupla armação, que seria uma valida tentativa de incrementar o jogo interior com mais e precisas técnicas, num acréscimo de qualidade fundamental e de inteligentes ações táticas, e por que não estratégicas, já que profundas mudanças seriam incrementadas, fugindo celeremente da mesmice técnico tática que tem nos escravizado a longo e longo tempo.

A equipe de São José, errou muito menos, marcou melhor, principalmente no perímetro interno, onde contou com rebotes de qualidade com o Murilo e o Chico, e contra ataque superior, onde o Fúlvio e Laws brilharam intensamente, e com uma ressalva de peso, pois arremessaram 27/42 de dois pontos, e admissíveis 10/16 de três, contra 26/49 e 7/23 respectivamente por parte dos cariocas.

No próximo sábado poderemos atestar algumas evoluções importantes para o basquete brasileiro, quando duas das equipes que se notabilizaram por suas artilharias de fora do perímetro, se enfrentarão numa final. Caso São José volte a optar pelo seu poderoso e eficiente jogo interno e nos contra ataques, frente a uma equipe que marca inconsistentemente, mas ataca com sofreguidão a partir do perímetro externo, e que penetra com assiduidade e precisão, reforçando e posicionando sua defesa, terá boas chances de vitória, mas que para tanto precisará proteger das faltas seu farol de referência, o Murilo, pois será por aí que Brasília, com seu mais do que experiente plantel, apostará suas fichas, num jogo com táticas previsíveis e tradicionais. Vence aquele que quebrar tal evidência. Quem viver verá.

Amém.

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O REINADO DAS “BOLINHAS” VI…

“O emotivo superou o basquete”, foi o que disse o Ruben Magnano à TV após o jogo, definindo com precisão a realidade do mesmo, numa contundente contra mão ao clima feérico e grandiloquente dos responsáveis pela transmissão adjetivando a partida como fantástica, do mais alto nível, a prova da grandeza do basquete brasileiro, agora pertencendo à elite mundial, e outros mais elogios inócuos e irreais.

Jogo iniciado, juiz antenado, discursos didáticos a torto e a direito, quando motivado, ou provocado por uma falta técnica, o técnico pinheirense esbraveja com o midiático juiz – “Cansei de ser roubado, até aqui dentro…” Tá me chamando de ladrão?” – “Não, é o outro…” num diálogo lamentável, transmitido em som estéreo, à cores, e em rede nacional, e que em nenhum momento foi sequer citado pelos comentaristas de plantão.

Segue o jogo, com três arremessos de três convertidos pelo pivô Alírio, numa tácita demonstração de como jogaria a equipe brasiliense, aberta e penetrante, favorecendo seu jogador mais talhado para esse tipo de ação, o Alex.

Mas erros de fundamentos seguidos do outro pivô, o Cipriano, permitiu que a equipe paulista encostasse no placar, mas com a saída do Figueiroa que vinha jogando em dupla com o Paulo, a equipe retornou ao sistema único, terminando o primeiro tempo quatro pontos atrás (36 x 40).

Foi um primeiro tempo terrível, onde a convergência se fez presente para ambos os lados, com 6/13 nos arremessos de dois pontos e 4/13 nos três para o Paulistano, e 6/14 nos dois e 7/11 nos três para Brasília, numa tendência progressiva que se confirmou ao fim do jogo, quando a equipe paulista perpetrou um 13/28 nos dois e 8/33 nos três, com a equipe candanga assinalando 17/28 e 11/22 respectivamente, para um final apoteótico de 55 tentativas de três e 22 erros de fundamentos, num jogo muito mais próximo da definição do Magnano, do que a viagem no imaginário dos que transmitiam um jogo que somente eles viram.

No intervalo, numa entrevista, o jogador Nezinho discorre sobre a arbitragem, seus dúbios (em sua opinião) critérios, e o excesso de “papo” de jogadores e juízes, o que tumultuava demais a partida. No entanto, no quarto a seguir o mesmo jogador se perde em discussões e contatos com um dos juízes( foto), numa contradição flagrante ao seu depoimento anterior. Enfim, a tão decantada relação didática entre juízes e jogadores havia se transformado em uma autêntica baderna, inconcebível para um jogo de tal importância.

No quarto final, sem que a equipe paulista contestasse os longos arremessos de seu adversário, viu a contagem se expandir até um final de 81 x 62 para a equipe do planalto central, mas não antes de aos 6:53min para o fim da partida (foto), ante uma tentativa de reação, o jogador Marcos levar um “toco de aro” retumbante, além de sua equipe teimar nos arremessos de três (foto), quando teria mais do que suficiente tempo para de 2 em 2 se aproximar dos candangos, que desta forma irão, por mais uma vez, decidir o campeonato contra um surpreendente São José, num absurdo jogo único e em quadra neutra, em troca de uma transmissão em rede aberta da emissora líder no país.

Mas não podíamos encerrar esse artigo sem mencionar mais uma aberração às regras do jogo, quando em lances livres um câmera invade a quadra, se coloca logo atrás do jogador (foto) que irá executar o arremesso, num flagrante desrespeito às mesmas, atitude que não encontra guarida nos grandes campeonatos do resto do mundo, mas conta com o beneplácito de nossos juízes.

Amém.

Fotos – Reprodução da TV. Clique nas mesmas para ampliá-las.

O REINADO DAS “BOLINHAS” V…

Não me contive e resolvi assistir o jogo ao vivo no Tijuca, mas podendo também assistir o jogo de Brasília pela TV. Combinei ir para o apartamento da minha filha, que fica praticamente ao lado do ginásio tijucano, e seguir para o segundo jogo, mesmo sabendo que a entrada seria difícil por ser um ginásio pequeno para uma imensa torcida. Temendo não conseguir entrar, não assisti as prorrogações em Brasília, tirando de mim a possibilidade de fazer um comentário isento e o mais preciso possível.

No entanto, algo me chamou a atenção no jogo do planalto central, talvez motivado pela ausência do Shamell, mas que mudou completamente a forma de jogar do Pinheiros, uma dupla, participativa e altamente eficiente armação, sabendo jogar com seus pivôs, principalmente o Fiorotto, forma impossível de ser desenvolvida com a presença centralizadora e pontuadora do lesionado e ausente jogador. Figueroa e o Paulo encheram os olhos de quem os viu jogar, numa inter ajuda permanente e instigante, demonstrando sim, que dois armadores de ofício podem, e deveriam sempre jogar juntos, ampliando as opções do jogo interno, ajudando-se mutuamente ante defesas pressionadas, e acima de tudo, garantindo qualidade nos passes, nos dribles, nas fintas, na defesa e pontuando complementarmente, e não prioritariamente, como sempre agiu o ausente Shamell, um pseudo ala com qualidades que o poderiam firmar  como um armador de superior qualidade na liga.

Por conta desse posicionamento, e enfrentando uma equipe muito forte em sua volúpia pontuadora, mas falhando na defesa interna, os paulistas levaram o jogo em perfeito equilíbrio até, acredito, ao final eletrizante e atípico para seus padrões até agora, ao qual não pude testemunhar, pois tive de me deslocar rapidamente para não perder o jogo que definiria a outra vaga na final do NBB4.

Por sorte consegui um lugar atrás de uma das cestas, para ao lado do meu filho assistir uma batalha e tanto. E de saída uma surpreendente similitude com o modo de atuar do Pinheiros em Brasília, uma autêntica dupla armação liderada pelo Helio e um mais surpreendente ainda Marcelo, numa função onde não possui muita qualificação, mas onde atuou com bastante enfoque no jogo interior, servindo os pivôs com passes precisos e de qualidade, e pontuando de media distância com eficiência.

Mas aos poucos, o pivô Caio começou a pagar caro por sua lesão no tornozelo, assim como se ressentia de uma forma física adequada a uma competição tão exigente, e praticamente parou em campo. Foi o suficiente para a equipe paulista encostar no placar, desgastando sobremaneira o excelente Kammerichs, brigando sozinho na taboa carioca.

Mas foram nos quartos finais que algo a muito esperado concorreu para a superioridade dos rubros negros, a eficiente participação do ágil e veloz pivô Hayes, que em dupla com o Kammerichs e mais adiante com o Teichmann dominaram os rebotes, concluíram com sucesso, e com precisos passes de dentro para fora permitiram arremessos de seus companheiros mais equilibrados e precisos. A equipe do Pinheiros somente pode contar com um sobrecarregado Murilo na briga dos rebotes, já que o outro bom jogador nesse fundamento, o Chico, abria muito para arremessos de três pontos, esquecendo que de dois em dois pontos poderiam, ele e sua equipe, se aproximarem e até virarem o placar a seu favor. Mas a volúpia e sangria dos três pontos estando enraizadas profundamente na realidade do nosso basquete anulam uma evolução técnico tática que se faz tardia para o grande jogo tupiniquim.

Foram dois jogos com alguns números assustadores, que nem as desculpas de que se tratavam de partidas nervosas e decisivas, retiram das mesmas uma brutal carga de preocupações, principalmente no quanto destas influências irão desaguar na seleção olímpica, com sua proposta de um basquete mais solidário, eficiente e preciso.

Foram 53 erros de fundamentos (24 no Rio e 29 em Brasília), e espantosos 95 arremessos de três (41 e 54 respectivamente), num desperdício absurdo de esforço por parte de jogadores que ainda não compreenderam (ou mesmo não saibam) o quanto comprometem a qualidade do jogo, em tentativas despidas de um mínimo de controle técnico e objetividade tática.

Precisamos reaprender a jogar em dupla armação, para que dominemos o perímetro externo em toda a sua extensão, assim como voltarmos a valorizar o jogo interno, através jogadores altos, velozes e flexíveis, abandonando de vez os pesados e lentos cincões  de um oficio que, mesmo as grandes seleções mundiais estão aposentando, pois com velocidade, flexibilidade e apuro nos fundamentos, quem sabe, nos tornemos também eficientes defensores, contestadores de dentro e fora do perímetro, decretando a urgente diminuição desta maldita hemorragia que nos desgasta e expõe frente ao trágico reinado das bolinhas.

Hoje teremos definidos os finalistas, e estou torcendo, timidamente, que as duplas armações retornem em grande, e que nossos bons pivôs sejam municiados permanentemente, tornando o jogo mais técnico e menos comprometido com erros inconcebíveis. Vamos a eles.

Amém.

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A DURA E CRUEL REALIDADE…

Creio com convicção que muito do que se diz e se fala da educação em nosso país aí está retratada no mais definitivo argumento dessa realidade, a falência e conseqüente dilapidação de uma profissão sustentáculo das grandes nações deste desigual e injusto planeta, que encontra em nosso país o mais baixo índice salarial na escala de todas as carreiras básicas.

Nos últimos três anos que antecederam minha aposentadoria na Faculdade de Educação da UFRJ, lecionei Didática, Prática de Ensino e Tecnologia Educacional para alunos da Educação Física e da Pedagogia, sendo que para este segmento a maioria dos alunos era composta daqueles que não conseguiram acesso em cursos de Engenharia, Medicina, Odontologia, Economia e demais bem situados no plano da alta rentabilidade, optando pela Pedagogia como última oportunidade de alcançarem uma graduação universitária. Por conta disso a produtividade acadêmica destes alunos era de baixa qualidade, face ao desinteresse e à baixa estima que os assaltavam durante o curso. Era extremamente difícil mantê-los interessados e motivados a continuar os estudos, frente à alta incidência de reprovações e desistências.

Hoje acredito que aquele triste quadro tenha se avolumado, e que, face ao desestímulo de ordem salarial tenda a se agravar de forma definitiva tal realidade.

Hoje, quando nos deparamos com o acintoso despreparo de nossos técnicos desportivos advindos da universidade, e agravado por aqueles que a ela não pertenceram, e ao olharmos detidamente os gráficos que ilustram a reportagem, podemos de pronto avaliar o porquê da baixa qualidade do ensino no país, o mesmo país que ousa promover suntuosos e vultosos empreendimentos desportivos, sem ao menos ter e promover uma política nacional voltada a Educação, e conseqüente valorização das suas reservas intelectuais, seus professores.

Mantê-los na mais baixa escala salarial do país, confirma uma perversa política direcionada à manutenção de seu povo também abaixo de uma escala, na qual sua manipulação sócio política atende os mais altos interesses de uma classe política alinhada com outros interesses hegemônicos que nos esmagam e espoliam.

Em minhas turmas de Educação Física e da Pedagogia lembrava  que éramos o único país ocidental onde nem a esquerda e nem a direita desejavam o país educado. A direita, garantindo o poder pela ignorância do povo, a esquerda querendo-o mais ignorante ainda para usá-lo como massa de manobra para assumir o poder. E é exatamente o que vem ocorrendo com a ascensão da esquerda em nosso país, que após sua vitória adotou o lema direitista para se manter no poder. Um povo educado não se submeteria a uma escala de valores enumerada nessa reportagem, pois sequer elegeria esse tipo de governantes que se estabeleceram de forma tão rasteira. Duas gerações bem educadas e preparadas nos dariam uma outra dimensão de nacionalidade auto sustentável, e não escrava de bolsas disto e daquilo, pois não se deveria dar peixes a ninguém, e sim ensiná-los a pescar.

No microcosmo do desporto, situações que estamos vivendo em nosso basquetebol são o reflexo direto de tão dramática situação em que se encontra a educação no país, o preparo de nossos professores e o progressivo desinteresse dos alunos, fruto da vergonhosa e deprimente classificação postada na reportagem.

Fico muito triste com tudo isso, pois num dia do passado me senti um predestinado pela opção conscientemente tomada, a de ser um professor, um professor do meu país.

Amém.

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O REINADO DAS “BOLINHAS” IV…

24seg  para o término do jogo, Brasília vencendo por 3 pontos, bola de posse do Pinheiros, que parte para o ataque com seu armador Figueroa, que até aquele momento havia arremessado 1/4 bolinhas de três, e que executa uma outra com 4seg de ataque, errando frente a uma forte contestação, quando poderia, como armador que é, ter trabalhado a bola um pouco mais, a fim de liberar um seu companheiro melhor colocado, e que por essa precipitação, deu a vitoria aos candangos.

No entanto, como conceituar uma partida decisiva de playoff com 55 arremessos de três pontos, sendo que a equipe paulista cometeu um inacreditável 11/32 de três, e um 13/28 de dois, optando por um jogo externo com a mais absoluta incompetência convergente? Simplesmente inaceitável.

A equipe candanga, que desta vez resolveu jogar, apertou a defesa interna, e um pouco também a externa, suficiente para elevar o nível de imprecisão das bolinhas paulistas, e levou para Brasília a condição impar de poder fechar a série na próxima sexta feira.

Mas o espetáculo não poderia estar completo sem mais uma feérica participação da arbitragem antenada, que, fugindo de uma atribuição administrativa que deveria ter sido tomada muito antes do inicio da partida, retardou-a para que os nomes das equipes constassem do placar, pois os tradicionais “Local” e “Visitante” não poderiam lá estar. Depois, durante todo o transcurso do jogo travou diálogos didáticos com o jogadores, como se tratassem de infantos ou juvenis, e não experientes e calejados participantes, inclusive de seleções nacionais, tendo inclusive, marcado uma reversão de posse de bola pela inobservância do limite de 8seg  para a transposição da defesa para o ataque pela equipe de Brasília, e num momento chave do jogo, mas em momento algum interferiu nos 9seg em média de todos os lances livres executados pelo Alex. Infelizmente nossa arbitragem está se transformando num espetáculo de lastimável mau gosto, retirando em muito a seriedade de uma função de pouco papo e ação pura na aplicação das regras do jogo. Não bastassem as exibições espalhafatosas de muitos técnicos, temos agora a presença verborragicamente didáticas nas arbitragens.

Mas, legal mesmo foi a entrevista inicial do técnico de Brasília ao ser perguntado do porque o pivô Alírio sairia no quinteto titular. “Como a defesa do Pinheiros poderia repetir com sucesso o fechamento do garrafão aos seus pivôs, o Alírio, que também é bom de três pontos, tentaria com seus arremessos “abrir” a defesa dos paulistas”. Sim, sua equipe perpetrou um 8/23 arremessos de três, mas frente aos 11/32 de seus oponentes venceu o jogo por dois pontos, que poderiam ter sido muito mais se seus pivôs jogassem como devem jogar os pivôs, lá dentro, e não aqui fora fazendo o que não sabem, ou melhor, pensando que sabem.

Enfim, de hemorragia em hemorragia de três, lá vai a barca de resultados singrando um basquete equivocado e absolutamente pobre. O Magnano que lá estava deve, por mais uma vez, colocar sua barba rala de molho, pois as feras das bolinhas já já estarão em suas mãos, que não são de um mago ou mágico, mas de um técnico com a função ingrata de domá-las e educá-las para executarem um basquete, pelo menos aceitável , solidário, e acima de tudo responsável. Torçamos para que consiga.

Amém.

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OBVIEDADES…

Vai prosseguindo o NBB4 e seus playoffs, onde pudemos ver pela TV três jogos, dois do Flamengo com São José, e um do Pinheiros com Brasília, e pela primeira vez aqui no blog me recuso a comentá-los como sempre fiz, pois o que testemunhamos não merece maiores análises técnico táticas, e muito menos estatísticas.

Mas Paulo, pelo menos o segundo jogo do Flamengo foi empolgante, com um São José arrancando uma vitória na prorrogação, e isso não conta? Claro que conta, e o efeito de tal vitória se estendeu ao terceiro jogo de forma contundente.

Então o que faltou acontecer para que um comentário mais abrangente pudesse ser feito? Vejamos:

– No segundo jogo da serie, o Flamengo que iniciou com uma excelente opção de jogo interior, comandou a partida, que teria tudo para ser facilitada, dada a inconsistência defensiva do Pinheiros ante um jogo próximo à sua cesta eficiente e objetivo, além de se defrontar com uma defesa disposta às contestações fora do perímetro, ponto fortíssimo dos paulistas. De repente, numa prevista recaída a partir do terceiro quarto, os cariocas voltaram ao seu jogo tradicional, e deu no que deu.

– No terceiro jogo, inicio carioca com o jogo interior, mas com um Caio visivelmente lesionado, sendo repetidamente substituído por um oscilante Vagner, e tendo um Kammerichs se desgastando progressivamente, sem que os outros dois bons pivôs da equipe, o Teichmann e o Átila fossem acionados na rotação. Resultado? Voltaram ao jogo tradicional centrado no Marcelo, dando a grande brecha por onde os paulistas penetraram com competência, virando a série em 2 x 1. Até agora não consegui entender o não acionamento de todos os pivôs da equipe carioca, ainda mais num momento decisivo do campeonato, assim como a quebra de um sistema que provava ser  eficiente, pela teimosia de alguns jogadores voltados às suas performances, e não as da equipe  num todo. Os resultados ai estão.

– No segundo jogo entre Pinheiros e Brasília, a equipe candanga, por ter perdido o vôo, não apareceu para jogar. Espero que no terceiro apareça, afinal, trata-se de um playoff, e a mesma tem um título a defender.

Espero poder contar um pouco mais na próxima rodada, por que estas duas somente refletiram a mesmice endêmica que teimosa e persistentemente nos assola desde sempre. Fortes emoções, prorrogações, ginásios transbordantes, velam sutilmente a dura verdade do nosso momento técnico tático, no umbral de uma decisiva competição olímpica. Temos de evoluir.

Amém.

Foto – Divulgação GloboEsporte

O QUE DIZER HELENO?…

CLIPPING DO BASQUETE

 

———- Mensagem encaminhada ———-
De: heleno lima <helenolima@hotmail.com>
Data: 19 de maio de 2012 13:57
Assunto: RE: BASQUETE ARGENTINO DA UM SACODE NA SELEÇÃO BRASILEIRA SUB-15 MASCULINA
Para: clippingdobasquete02@gmail.com

 

Trabalhei muito nestas categorias. A diferença de um ou dois anos é muito grande. Diferenças que desaparecem com o tempo à medida que ficam mais velhos. Nós levamos uma equipe com quatro jogadores de 15 anos, sete jogadores de 14 anos e um de 13 anos.
Podem ter certeza isto explica tudo. Se foi estratégia foi errada. Não é possível que tenhamos somente quatro jogadores de 15 anos em condições de defender nossa seleção da categoria. Tem que haver uma explicação coerente a respeito disto. Levar uma diferença dos portenhos (Uruguai e Argentina) de 64 pontos não tem cabimento. Existe algo errado nisto. Gostaria de ouvir o Prof. Paulo Murilo que entende disto mais do que eu.  Prof. Heleno Lima

 

 

 

O Clipping do Basquete do Alcir Magalhães veiculou a matéria acima, que culmina com o pedido do técnico Heleno Lima para ouvir minha opinião à respeito. Trabalhamos juntos no vencedor projeto do Olaria AC nos anos oitenta, com praticamente todas as categorias, do infantil à primeira divisão, com muita seriedade e competência, num tempo em que a formação de base, não só no Rio, como em muitos estados brasileiros, fluía e se desenvolvia, abastecendo as divisões superiores com jogadores bem treinados nos fundamentos e nos sistemas de jogo, com ótimos técnicos e professores, até o momento em que a modalidade se viu afastada dos clubes pela falta de incentivos e investimentos, até alcançar o estado de penúria em se encontra.

 

Some-se a esta realidade, outra mais perversa ainda, a decadência do ensino do basquete nas escolas superiores de educação física, que deixaram de oferecer três semestres da modalidade, assim como em outras, como o vôlei, o handebol, o futebol, a natação, o atletismo, passando-as a um mínimo insignificante, substituído-as por disciplinas voltadas às áreas médicas, como as fisiologias, biomecânicas, psicologias, etc., que passaram a ocupar as grades horárias prioritariamente, numa formação voltada à saúde, como resultado das anexações das escolas aos centros de ciências da saúde, em vez dos centros de formação de professores, onde estavam historicamente sediadas. A realidade é que hoje a maioria destas escolas formam paramédicos de terceira categoria, fornecendo pessoal a academias e consultórios, como força de trabalho explorada pelas holdings do culto ao corpo que se espalham velozmente por todo o país, e com uma agravante a mais, com uma formação mais voltada aos cursos de bacharelato do que os de licenciatura, numa inversão absoluta de valores voltados ao processo educacional do país, com o abandono das escolas para a educação física e os desportos.

 

Claro que a formação de base se ressente profundamente dessa formação nas universidades, refletindo tal despreparo didático pedagógica nas formações de base de todas as modalidades, que não encontram na maioria dos clubes os subsídios mínimos para suprirem tão vasta deficiência de ensino.

 

Por conta de tal situação, ex-jogadores e até leigos são transformados em técnicos formadores, deficientes em tudo o que se refere ao processo educacional de jovens, mas sempre prontos ao sucesso rápido que os catapultem às divisões superiores e melhores salários, situações estas que os poucos convenientemente bem formados não conseguem equiparar, não só por serem minoria, como, e principalmente, por se tornarem onerosos por suas qualificações legais. Por conta desta distorção, a maior parte dos jovens iniciantes ficam pelo caminho, e aqueles poucos que conseguem prosseguir o fazem eivados de defeitos e limitações, basicamente no instrumental mais precioso para a pratica e o domínio do grande jogo, seus fundamentos.

 

Outro e incisivo fator define tal situação com grande precisão, a padronização formatada de cima para baixo no preparo daqueles poucos egressos de uma formação altamente deficiente, por parte de federações alinhadas com uma confederação mentora de um único sistema de jogo, cuja maciça divulgação se faz através de clinicas e de cursos patrocinados por uma ENTB totalmente voltada ao mesmo, onde o planejamento, a aprendizagem e fixação do sistema suplanta em muito o ensino, que deveria ser maciço, dos fundamentos,  no que deveria ser o objetivo central a ser alcançado, pois nivelaria todos os jovens jogadores, independendo de funções, estaturas e posições, no pleno conhecimento das técnicas individuais e coletivas que os tornariam aptos aos sistemas de jogo que mais adiante conheceriam e treinariam, sempre respeitando suas individualidades e amadurecimento físico e emocional, variantes que oscilam de individuo para individuo.

 

Por tudo isso caro Heleno, é que sempre me insurgi contra esta situação altamente irresponsável, e muitas vezes criminosa, por parte daqueles que ousam querer implantar formatações e padronizações em crianças e adolescentes, da forma mais absurda e, torno a afirmar, irresponsável possível.

 

Os 64 pontos acumulados por nuestros hermanos, refletem esssa catástrofe, com a mais séria das conseqüências, por se tratar do futuro do grande jogo, da categoria competitiva inicial, e que não merece ser tratada de forma tão abjeta. Se mudanças têm de ser feitas, é por ai que deverão começar, pela entrega da formação a pessoas qualificadas, altamente qualificadas, as mais qualificadas que possamos recrutar, de uma comunidade que pertencemos, eu e você num passado não tão distante assim, a comunidade daqueles que real e responsavelmente conhecem, estudam, pesquisam, divulgam e ensinam o basquete como deve ser ensinado. E você, como eu, sabemos que existem esses profissionais, só que nunca lembrados, sequer consultados, por quem deveria fazê-lo.

 

Heleno, frente a esta realidade, o que mais dizer?

 

Amém.

Fotos- Divulgação CBB. Clique nas mesmas para ampliá-las.

 

DE DELFIN E CARDEAIS…

A convocação saiu, a segunda, pois outra já havia vindo a público, visando o Sul Americano, com jogadores que, segundo o Magnano, poderão ser pinçados para a equipe que vai à Londres, num luxo sequer comparado às grandes nações líderes na modalidade, onde duas seleções máster soam inverossímeis.

Mas algo por trás dessa pródiga safra de talentos, justificando as duas seleções convocadas, deveria ser interpretado, não fosse o técnico hermano, além de excelente na quadra, sagaz, e muito, fora dela, senão vejamos:

– Desde o Pré-Olímpico de Porto Rico, que o relacionamento do delfin com os cardeais não era dos melhores, extensivo ao Marcos também, e mais recentemente com o Leandro e seu pulso malandro, fatos estes mencionados pela mídia e de completo conhecimento do técnico argentino, e mesmo pelo seu antecessor espanhol.

– Em Mar del Plata, a seleção houve-se relativamente bem sob o comando (ainda meio claudicante com relação aos cardeais, mas sem o delfin…) do argentino, classificando-a para Londres, depois de 16 anos de abstinência olímpica, e exatamente nesse ponto que uma grande dúvida começou a assombrar o inteligente técnico, pois estaria mais do que claro que, frente aos problemas que o delfin começou a enfrentar na NBA, entre outros, com uma indesejável troca de equipes, e conseqüente desprestigio técnico na rica e poderosa liga, e sabedor da grande vitrine constituída pela mega promovida Olimpíada, marketing que nem as grandes estrelas americanas esnobam, viu na seleção a oportunidade real de valorização e exposição profissional na mais emblemática competição do planeta.

– Então, como convocá-lo depois de tantas idas e vindas, profissionais, políticas ou mesmo pessoais, não ferindo suscetibilidades daqueles que deram a “cara a tapa” em Mar del Plata, e liderados pelos cardeais? Difícil, muito difícil, ainda mais para um estrangeiro que em sua terra natal jamais passou por semelhantes problemas, haja vista a verdadeira irmandade constituída pela formidável geração campeã olímpica e vice mundial, da qual foi o técnico, e que agora se despedirá em Londres, sempre unida.

– Mas, sagaz como ele só, convocou um jogador daquela saga pré olímpica, onde teve brilhante participação, além de relacionar outros mais na seleção para o Sul Americano, que poderão, inclusive, recompor a equipe para Londres, já sabedor que somente por um milagre da medicina, o Rafael Hettsheimeir poderia ser aproveitado, originando dessa forma a brecha para o delfin se encaixar sem maiores contestações, já que bem superior na posição que o indigitado Rafael, e mais, garantindo um Leandro, inquestionavelmente superior tecnicamente que um dos jovens presentes em Mar del Plata, o Luz e o Raul.

– Claro, que um discurso mencionando que os mesmos terão de brigar por uma vaga na equipe, cai no vazio, pois na ausência de um surpreendente Rafael, ninguém mais contestaria a posição de um delfin profundamente interessado na rentável vitrine olímpica. Logo, o caminho para definir a equipe para Londres estaria pavimentado para um técnico que, face ao sucesso, não só profissional, mas político também, viu seu belo contrato estendido até 2016, numa façanha difícil até para um Coach K.

O engraçado nessa indesejável novela, é que os outros dois jogadores da grande Liga, o Varejão e o Spliter, nunca encontraram, pelos seus coerentes posicionamentos frente às convocações, quaisquer oposições cardinalícias, constituindo-se um caso à parte no relacionamento inter pares no âmago da seleção.

Concluindo, daqui para frente, o Magnano terá que se ater a um problema a mais, além do técnico tático, o de liderança, pois cisões existiram, estarão latentes ou não, mas existiram, e num ambiente de alta competição, tais óbices podem corroer um bom trabalho, podem salientar que entre delfin e cardeais, nem só promessas de união resolvem, e sim certezas.

Finalmente, num artigo maravilhoso do Marcel, Adeus às armas em seu site Databasket, muito do que aqui prevejo, é objetiva e magistralmente descrito pelo grande desportista em seus parágrafos finais, ao qual deposito o meu respeito incondicional, a quem muito deve o basquete nacional, o”bom basquete” para ele, o “grande jogo” para mim, ambas as definições que merecem um tratamento melhor por parte de todo aquele que o ama, o respeita, e que deseja o melhor para ele, pois tanto o Marcel, como eu, professamos diferentes formas de jogar, frontalmente em oposição à mesmice em que nos encontramos, desejando ao Magnano que mude tal situação, talvez a única forma de nos fazermos realmente presentes e competitivos em Londres, lançando uma providencial base para o futuro, para 2016, num esforço conjunto que é vedado, mesmo que minimamente a nos dois, por propugnarmos diferentes formas de jogar, por sermos, realmente  diferentes no pensar, agir e divulgar o “bom basquete”, o “grande jogo”, como bem lembrou o jornalista Giancarlo Gianpietro com o artigo O preço de ser diferente em seu blog VinteUm no dia de hoje.

Marcel, brindo a diferença.

Que viva a democrática e plural diferença!

Amém.

ESTÃO APRENDENDO…

E não é que estão aprendendo, ou melhor, estão tomando jeito? Defesa existente na maior parte do jogo, ataques centrados no interior do perímetro, contra ataques quando possível, e milagre dos deuses, somente 9/17 arremessos de três, 17/32 de dois, e 23/25 nos lances livres. Foram estes os números do Flamengo, contra um tradicional 9/33 de três da equipe paulista, que praticamente impossibilitada de penetrar a forte defesa rubro negra, fartou-se nas bolinhas de três, quase sempre contestadas, daí o alto numero de arremessos imprecisos e desequilibrados.

Somemos a tudo isso outro importante e determinante fator, a atitude coletivista do Marcelo, que em conjunto com o Helio e o Jackson, formaram uma verdadeira linha de passes para os pivôs, que em troca voltavam bolas em ótimas condições para finalizações precisas e equilibradas dos três, vamos aqui conceituar, armadores.

São José tentou resistir o mais que pode, mas as sucessivas faltas de seu pivô Murilo, a inconstância e flagrante falta de ritmo de um Jefferson retornando de lesão, e uma ciranda de passes lateralizados pela fortíssima defesa interior dos cariocas, impediram qualquer tentativa de reverter um resultado mais do que anunciado pela firmeza do jogo rubro negro.

Foi uma vitoria lapidar, pois expôs uma determinante vontade de modificar um sistema de jogo viciado e escravizado aos longos e imprecisos arremessos, e ao crônico abandono de pivôs talentosos e eficientes, que reencontraram a equipe ao se tornarem participantes ativos da mesma no plano ofensivo, determinando um parâmetro de força que, se repetido nos próximos jogos tornará essa equipe muito difícil de ser batida, principalmente se seu adversário teimar no jogo de entorno, afogado em passes inócuos, arremessos profusos de três pontos, e uma defesa focada nas dobras e pouco participativa e atenta nos rebotes.

Foi um jogo que abre e promete novas perspectivas de jogo, na medida em que perseverem e acreditem que o grande jogo pode ser jogado de formas diferenciadas de um sistema único coercitivo, retrógado, e corporativista. Torço ardentemente que a mudança que tanto aguardamos esteja perto, muito perto de se tornar realidade, uma bem vinda realidade.

Amém.

Fotos de Fernando Azevedo. Clique nas mesmas para ampliá-las.

SIMPLES E OBJETIVO…

O primeiro quarto foi um horror, que nem a desculpa de que em decisões os nervos afloram, convencia, mais ainda quando jogadores mais do que experientes estavam em quadra. Flamengo e Uberlândia são equipes compostas de veteranos, e alguns mais do que veteranos. O engraçado é que ambas se marcavam firmemente, evitando as bolinhas, vigiando as infiltrações, mas…errando a não mais poder.

Veio o segundo quarto e, surpresa das surpresas, a sempre afoita equipe rubro negra postou-se em forte defesa, dentro, e intensamente fora do perímetro, brecando a grande arma do Uberlândia, as bolinhas de três, indo mais além quando resolveu jogar com seus bons pivôs, vencendo ao final dos quartos iniciais por 39 x 28. Nessa fase, a equipe carioca tentou 0/2 arremessos de três pontos, algo surpreendente e inusitado, provando que de 2 em 2 poderiam alcançar os 40 pontos, com mais precisão e segurança, otimizando seus ataques e valorizando seus esforços defensivos.

Mas, veio a recaída no terceiro quarto, quando as equipes desembestaram a chutar de três, como que numa volta a um hábito solidamente enraizado, e perpetraram os cariocas um 0/7 até que conseguiram acertar a primeira bolinha na metade do quarto. A sucessão de erros provocou uma reação mineira bastante perigosa, quando aconteceu o mais inesperado ainda, o Flamengo voltou a jogar com seus pivôs e a evitar os arremessos desnecessários, além de voltar a marcar forte fora do perímetro. Resultado? Venceu um jogo inicialmente difícil por 77 x 62, e classificou-se às semifinais.

Fica no ar uma indagação – Por que não jogam sempre assim, por quê? Mesmo no sistema único, a opção pelo jogo seguro e preciso se torna factível na medida em que a equipe opte pela simplicidade e objetividade das ações ofensivas, abdicando dos arremessos arrivistas e, principalmente, optando pelo jogo de equipe, tornando-a unida e participativa.

Enfim, se for repetida essa atitude técnico tática, poderemos testemunhar uma equipe seriamente candidata ao titulo da liga. Aguardemos então.

Amém.

Foto de Fernando Azevedo. Clique na mesma para ampliá-la.