O DÉCIMO NONO DIA- O JOGO…

As equipes batem bola na quadra, estou sozinho no banco, meu assistente ficou em Vitória, conto somente com o preparador físico Honorato e o fisioterapeuta Marcos, e um punhado de bons jogadores tensos, mas confiantes no trabalho até agora realizado em 18 dias apenas. Volto a comandar, a exercer o solitário mister de comandar, responsabilizando-me integralmente pelos sistemas sugeridos, treinados, discutidos e prestes a se porem à prova, numa jornada ousada e atrevida, pois será tentada uma nova forma de jogar o grande jogo, em anteposição ao sistema único globalizado, e contra uma das equipes mais centradas e desenvolvidas no mesmo, e na sua bela casa.

Dois armadores puros jogando fora do perímetro, três pivôs móveis no interior do mesmo, ambos os seguimentos interagindo permanentemente, num carrossel de bolas entrando e saindo do cerne da defesa adversária, compondo um complexo puzzle de possibilidades, cujas peças se encaixarão na medida da extensão da leitura do jogo, determinando situações tão inéditas para nós, como, e principalmente para o adversário, já que aleatórias, mas profunda e decisivamente ligadas ao domínio dos fundamentos do jogo, onde pranchetas decididamente não têm motivos de existir, quanto mais posarem de vedetes na TV.

Foi um jogo atípico, pois de um lado uma equipe engajada no lugar comum, mas contando com excelentes jogadores, um dos quais, norte americano que jogou de forma sublime, sem que o conhecesse, já que não tive acesso a vídeos com sua participação, privando-me de montar algo de efetivo em sua marcação ponderada, aquela que não o priva de jogar, mas tenta diminuir sua eficiência, que alcançou os 30 pontos. Mas que não foi o motivo definitivo de nossa derrota, já que com a utilização da defesa de linha da bola, baixamos as médias ofensivas de alguns jogadores do Pinheiros, como o Shamell, e principalmente seus dois especialistas em 3 pontos, o Mortari, que zerou, e o campeão dos arremessos de 3 do Festival das Estrelas, Thiago, que converteu tão somente dois lances livres.

Além do que, vencemos a disputa dos rebotes, ofensivos inclusive, já que contávamos permanentemente com três deles colocados, com 33 contra 25. Cometemos 7 erros contra 14, conseguimos 14 assistências contra 16, roubamos 4 bolas contra 6, e o mais importante, arremessamos 64 bolas de 2 pontos com 34 acertos, media mais do que satisfatória, contra 28/46 do Pinheiros, e mais, contando com a efetiva participação dos “considerados reservas”(não para mim, nunca…) com 35/67 tentativas, e 8/23 do adversário. E o mais importante, o fator que mais discuto, estudo e publico, e que tenho posto em prática nos últimos 20 anos, a erradicação da ditadura dos três pontos, e suas implicações que tanto prejudicaram nosso basquete. Arremessamos 8 bolas com dois acertos, sendo que as duas últimas foram por mim liberadas na tentativa de alguma diminuição do placar, prontamente obedecidas pelos jogadores em quadra. Atingimos 85 pontos jogando para dois pontos, provando o acerto do sistema, e privilegiando a precisão se antepondo à aventura, muitas vezes irresponsável de arremessos e arremessadores pretensamente especialistas, o que não o são com a mais absoluta das certezas, e que no fim das contas é a meta que pretendemos alcançar no desenvolvimento desta simples maneira de jogar.

Então Paulo, com tantos pontos positivos, onde se caracterizou a derrota de 13 pontos? Na perda de 15 lances livres? Ou numa falta técnica arrivista marcada por um juiz que ao final do jogo veio se desculpar pelo engano, mas que não teve a hombridade de fazê-lo no momento da ação?

Os lances livres foram o ponto que detectei logo que assumi a equipe, e que podem ter decidido o jogo, à primeira análise, sem muitas dúvidas estatísticas, e mesmo a nefasta e injusta falta em um bloqueio (toco…) legítimo de um dos meus pivôs, o mais calmo e tranqüilo deles, o André, mas que provocou no mesmo uma pequena explosão de indignação com o erro arbitral,  mais tarde (e tarde demais…) reconhecido em conversa privada e coloquial, quando deveria ter sido exposta em público, abertamente.

Mas em absoluto foram os motivos reais, e sim os progressivos traumas provocados pela sequência cumulativa de erros de arbitragens, jogo a jogo, temporada a temporada, por muitos juízes que se sentem no direito de julgarem aprioristicamente, de interferirem nas zonas de atuação uns dos outros, e que mesmo se seu número aumentasse para 4 ou 5, continuariam nas intromissões indevidas e pouco éticas, causando apreensões e medos indevidos em jogadores e alguns técnicos, num confronto absurdo que sempre me neguei a participar, arbitro que fui na federação do RJ, e professor de técnica de basquete nos cursos de formação de árbitros, onde tais comportamentos eram discutidos e dirimidos, evitando a criação de  áreas de atrito permanentes e antipáticas, levando muitos jogadores a se colocarem em antagonismo com os mesmos logo que a bola subia para o jogo.

Mesmo ante tais evidências, esse também não foi o motivo real da derrota, e sim a incapacidade de alguns jogadores em abstrair tais influências, longamente plantadas em suas mentes, tornando-as indesejáveis companheiras de suas realidades desportivas, e não inconscientes álibis para constantes derrotas.

Perdemos pela ausência dessa abstração, que será de agora em diante um objetivo a ser estudado, discutido e erradicado de seus comportamentos, para quando amanhã se defrontarem com a verdade das quadras mantenham o equilíbrio e a devida distância de uma variável imutável, mesmo que sob o domínio do erro crasso, da vontade e da decisão irrecorrível, correta ou errada do trilar do apito de um juiz.

E os 15 lances livres perdidos Paulo? Nos ajudariam a vencer, mas adiaria a correção do mal maior, o domínio comportamental consciente ante uma injustiça cometida.

Isso posto, nos concentremos, pois tudo recomeçará amanhã.

Amém.

O DÉCIMO OITAVO DIA…

Foi uma viagem tranquila até São Paulo, com uma pequena, porém sutil diferença, a troca do clima quente e abafado de Vitória, pela umidade chuvosa da paulicéia, clima bem mais favorável a uma partida de basquete, onde o desgaste é minorado. Torço para que estas condições se mantenham estáveis, o que proporcionaria um jogo menos desgastante e de melhor nível técnico.

Como o ginásio do Pinheiros não pode ser cedido, e não tendo disponível uma academia no hotel, optei por uma conversa bem demorada com os jogadores, onde o clima amistoso e amigável permitiu que a mesma fluísse, apesar dos assuntos de ordem técnico táticos se constituírem matéria complexa em alguns casos.

Todo um levantamento do que realizamos e treinamos até o dia de hoje foi enfocado, dissecado, perguntado e respondido por todos da equipe, até que ao constituirmos um raciocínio lógico e compreendido por todos, pudemos estabelecer as estratégias para o jogo de logo mais, numa prova mais do que cabal da unidade que começa a emanar do cerne de uma equipe até pouquíssimo tempo atrás desacreditada e perdedora, e o pior, perante si mesma.

Agora, ante uma nova realidade técnico tática adquirida duramente, positivas perspectivas se apresentam como fruto da dedicação e do comprometimento de todos. Que assim seja.

Amém.

OS 100 MIL…

Ao iniciar este blog em setembro de 2004, jamais poderia imaginar que se transformasse no veículo aberto e democrático a serviço do grande jogo em que se transformou, graças ao debate aberto e ético, zelosa e responsavelmente mantido por mim e os inúmeros leitores espalhado por este imenso país e no exterior também.

Em 2008 fiquei curioso a respeito da verdadeira penetração do blog junto à comunidade basqueteira, fosse clubística, escolar, ou puramente aficionada. Contatei-o então ao Stats do Google, que ontem atingiu a marca de 100 mil visitas diretas na leitura dos artigos aqui publicados. Claro que é uma marca modesta para os padrões da rede mundial, mas quando penso que 100 mil pessoas aqui se ligaram de alguma forma, vislumbro uma luz no fim de um  túnel que marcou  nossa débâcle nos últimos 20 anos.

E por conta desse humilde sucesso, sinto cada vez mais forte dentro de mim a vontade de continuar a luta, agora, inclusive, dentro das quadras, mas que não me privará de forma alguma do contato sadio e esperançoso com todos aqueles, que como eu, amam, compreendem, divulgam, ensinam e debatem o grande jogo em nosso país.

Obrigado a todos, e partamos para os próximos 100 mil.

Amém.

SAUDADES DO BASQUETEBOL…

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Terminada a série que retratou os 17 dias da primeira fase de treinamentos da equipe do Saldanha da Gama, visando o recomeço do campeonato nesta sexta feira em São Paulo contra o Pinheiros, retomo meus artigos reproduzindo um email que recebi do grande técnico Heleno Fonseca Lima, como prova cabal do quanto em benefícios aufeririam nossos jovens técnicos se ouvidos e prestigiados os grandes mestres do passado, ao contrário de serem segregados por aqueles que se apropriaram indebitamente das verdades do grande jogo, que pela sua grandeza deveria ser, não propriedade, e sim parte integrante da cultura esportiva do nosso tão mal tratado país.

Ai está um documento cuja simplicidade conota seriedade, dignidade e acima de tudo, mérito.

Para: paulomurilo <paulomurilo@infolink.com.br>
De: heleno lima <helenolima@hotmail.com>
Data: Wed, 24 Feb 2010 10:12:58 -0200
Assunto: Saudades do Basquetebol
Acabo de me sentir 40 anos mais jovem.
O texto abaixo foi retirado do Blog do Professor Paulo Murilo que hoje treina uma
equipe NBB, em Vitoria -ES.
Fiquei feliz, porquanto, o pequeno texto retrata exatamente uma "parte de
treinamento" que eu como Treinador do Olaria do Rio de Janeiro, nos anos 70,
executava a exaustão com nossa Equipe, formada basicamente por jovens da Região da
Leopoldina no Rio, todos, basicamente, AMADORES.
Este grupo de atletas, liderado pelo capitão  Dr. Creston Fernandes e sob a regência
do grande armador Alfinete  obteve um sensacional sucesso sagrando-se campeã carioca
infantil/68 e juvenil /72, vice-campeã brasileira juvenil/73 (o campeão foi o
Sport-Recife), bi campeã carioca 72/73 de Sub-21 e participando dos Finais Four
carioca adulto 72/73 e colocando-se em terceiro lugar no Brasileiro Adulto/73,
eliminando, inclusive, na classificatória a considera imbatível Equipe do
Palmairas-SP, de Carioquinha, German, Gonzales, Ze Olaio, Mindaguas e outros.
Então, de repente, vejo que os métodos de treinamento, para quem realmente conhece
Basquetebol,continuam atuais.
Ao Professor Paulo Murilo, que trabalhou comigo neste Olaria, em 71, meu
agradecimento pela oportunidade de evidenciar que ainda estamos vivos em matéria de
Técnica de Basquetebol e boa sorte nesta empreitada corajosa nos "jovens 70
anos" de sua profícua existência.
Professor Heleno Lima
"Retornamos hoje pela manhã ao trabalho de fundamentos para pivôs móveis, suas
fintas e conclusões próximas à cesta, assim como ao trabalho de drible, parada e jump
para os armadores, na tentativa válida de resgatar estes dois movimentos tão
esquecidos por nossos jogadores e técnicos, voltados ao festival de três pontos que
se instaurou no país.
Realizamos um bom treino, com ênfase nos fundamentos (sempre eles…), nas estruturas
de uma defesa de linha da bola, e no correto posicionamento nos rebotes, ofensivos e
defensivos".

O DÉCIMO SÉTIMO DIA…

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Nesta véspera de embarcarmos para São Paulo de encontro a uma realidade que nos tem sido adversa na taboa classificatória, não podemos nos dar o direito de continuarmos inertes e derrotados antes do derradeiro jogo ser jogado. Podemos e devemos superar esta fase com muito trabalho e a disposição de uma boa equipe querendo provar o seu valor, obscurecido pela ausência de comando e de um sentimento de auto-estima claudicante.

Pela manhã, propus que refizéssemos o circuito de fundamentos que apresentei no primeiro treino, para aferirmos o quanto de melhoria alcançamos na prática dos mesmos. E foi o que constatamos, uma significativa melhora na pratica dos fundamentos, principalmente nos dribles e arremessos em DPJ (drible, parada e jump).

À seguir, uma bem fornida sessão de movimentação defensiva, visando em especial a linha da bola, onde as flutuações lateralizadas se firmam a cada treino realizado. Terminamos com series de arremessos, com ênfase nos lances livres, que aos poucos vai se distanciando como um dos pontos frágeis da equipe.

Por fim, no treino vespertino realizamos o nosso único treino de conjunto, com a utilização integral da quadra de jogo, provando que o sistema de distribuição de camisas na promoção sistemática dos famosos “coletivos”, pratica disseminada pelo país dissimulada em treinamento principal de uma equipe de alto nível, pode ser perfeitamente substituída vantajosamente pelos treinos fracionados e específicos, os quais denomino como fragmentos de um sistema , onde partimos das partes para o todo, numa progressão em tudo facilitadora na aprendizagem, testagem e fixação do sistema proposto.

Finalmente o conjunto, quando seriam buscados o ritmo e a cadência impostas pelos armadores, e o sincronismo dos pivôs móveis em suas contínuas movimentações dentro do perímetro, onde as finalizações em dois pontos reinaram absolutas, qualificando os três únicos arremessos longos com uma eficiência de dois acertos.

Pronto, a primeira fase foi alcançada, talvez não suficiente para garantir vitorias neste fim de semana, mas promissora pelo comprometimento de todos na busca do tempo perdido.

Que os deuses nos ajudem, merecemos uma chance, e a buscaremos com ardor.

Amém.

O DÉCIMO SEXTO DIA…

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Retornamos hoje pela manhã ao trabalho de fundamentos para pivôs móveis, suas fintas e conclusões próximas à cesta, assim como ao trabalho de drible, parada e jump para os armadores, na tentativa válida de resgatar estes dois movimentos tão esquecidos por nossos jogadores e técnicos, voltados ao festival de três pontos que se instaurou no país.

E o fizemos com o máximo empenho, no intuito deliberado de restabelecer a importância vital do jogo de dois pontos, mais preciso do que o de três, menos glamoroso, mais de uma eficiência definitiva se bem administrado. E aos poucos, homeopaticamente, vamos reintroduzindo o salutar hábito de melhor aproveitamento em ataques físico e emocionalmente desgastantes, com conclusões bem mais precisas técnica e estatisticamente do que  a enxurrada de  tentativas de três.

Na parte da tarde, sob uma brisa que se insinuava ginásio adentro, efetuamos um duro e extenuante confronto entre defesa linha da bola e os sistemas de ataque até agora treinados, onde temos alcançado evidentes progressos, principalmente no setor defensivo, que se estabelecido em confiabilidade, servirá de base efetiva ao progresso ofensivo, decorrência natural pela alternância dominante dos sistemas, fator determinante no progresso técnico tático da modalidade.

Concluímos o treino com uma troca de pontos de vista entre mim e os jogadores, que mesmo ainda bastante contidos no exercício salutar da livre  expressão, já ensaiam uma maior participação sobre os problemas que vem afligindo a equipe, desde os técnicos até os administrativos, hábito que pretendo desenvolver ao máximo, para o benefício da equipe como um todo.

Amanhã concluiremos nossos trabalhos antecedentes a ida a São Paulo, terminando o esforço inicial proposto, e dando inicio a outro, o de provarmos a nos mesmos de sermos capazes e competentes para produzirmos resultados superiores aos até agora alcançados, numa tentativa válida que nos faça dignos de dias melhores, que com certeza hão de vir.

Amém.

O DÉCIMO QUINTO DIA…

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Recomeçamos pela manhã com os três jogadores que foram a Uberlândia ausentes, pois depois de um domingo inteiro de viagens, baldeações e longas esperas, chegaram em Vitória pela madrugada e extremamente cansados. Mas mesmo assim realizamos um bom treino, com ênfase nos fundamentos (sempre eles…), nas estruturas de uma defesa de linha da bola, e no correto posicionamento nos rebotes, ofensivos e defensivos.

Pela tarde, com a equipe completa, e sob uma temperatura mais amena no ginásio, trabalhamos os sistemas ofensivos contra defesas individuais e por zona, de forma intensa, procurando sempre situá-los o mais perto possível de verdadeiras situações de jogo, conseguidas com as permanentes instruções e orientações dirigidas ao sistema defensivo que se antepunham aos mesmos. Essa é uma atitude não muito usual na maioria dos técnicos, que em muitos casos e situações de treinamento sugerem um comportamento defensivo mais tolerante a fim de que o sistema ofensivo se beneficie tecnicamente.

Ao incentivarmos e corrigirmos ao máximo as defesas nos treinos, estaremos promovendo uma acentuada melhoria ofensiva, pois sucedendo a um domínio defensivo sempre advêm um ofensivo, e vice-versa, numa troca constante responsável pela evolução técnico tática da modalidade.

Tentaremos ao máximo nos próximos treinos, o sincronismo exigido pelos novos sistemas, fator final e difícil de alcançarmos em tão breve espaço de tempo, mas não impossível de consegui-lo, com empenho e doação integral.

E bem ao final da prática uma pergunta me foi dirigida do por que da minha ausência em Uberlândia para o Jogo das Estrelas, tendo como resposta não ser eu uma delas.

E com uma grande dose de otimismo, emanado do esforço despendido por todos nestas três semanas, seguiremos para São Paulo cônscios do dever cumprido, e prontos para lutar pelo soerguimento da equipe.

Amém.

O DÉCIMO QUARTO DIA…

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Hoje conheci o ginásio do Saldanha da Gama, um belo local, amplo e bem arejado, mas deteriorado pelo tempo e quase nenhuma manutenção. Uma pena, pois se conservado seria bem superior aos ginásios onde treinamos e jogamos. O piso ainda é taqueado, inadequado às modalidades atuais, cujas exigências na absorção de impactos são enormes. Mas mesmo assim se prestou muito bem ao treino exclusivo de arremessos, já que a ausência dos três  jogadores que foram a Uberlândia inviabilizaram a pratica coletiva planejada para hoje.

Tenho recebido inúmeros emails e comentários postados no blog sobre a constituição dos sistemas treinados por nós, em anteposição ao sistema único, utilizado pelas demais equipes. Claro que não os exporei em suas minúcias e detalhes técnicos de imediato, pois um elemento técnico de caráter inédito é um dos  argumentos mais sólidos a ser preservado perante o conhecimento técnico das demais equipes, e cujo elemento surpresa deverá estar sempre presente.

Mais adiante publicarei os sistemas sem restringir quaisquer detalhes de treinamento e preparo, assim como toda sua concepção antagônica ao sistema único. Torna-se de crucial importância para o grande jogo, que outros mais sistemas de ataque e defesa sejam divulgados, a fim de que nossos jovens técnicos alcancem uma cultura técnico tática generalista e democrática, porta de entrada à criatividade e a novos conceitos de jogo.

Segunda feira retomamos os treinamentos já na semana de reinicio dos jogos do segundo turno, onde enfrentaremos o Pinheiros e o Paulistano, em busca de uma reabilitação tão perseguida.

Até lá então.

Amém.

O DÉCIMO TERCEIRO DIA…

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Manhã nebulosa, logo um arrefecimento na temperatura ambiente permitirá uma movimentação mais intensa no abafado ginásio. E assim foi mais um treino matinal totalmente voltado aos fundamentos, com especial relevo nos passes e arremessos de curta e media distancias.

É realmente surpreendente o poder de resistência de um mau hábito técnico adquirido, quando perante a perspectiva de mudança, por mais simples que seja, principalmente quando o arremesso é o foco da questão. A intensidade nos exercícios visando o aprimoramento de sua mecânica de execução é minimizada ante a enorme dificuldade de corrigi-la se necessário for, pela evidência de um erro técnico que inviabiliza sua precisão. Trava-se então a luta desigual entre um hábito adquirido ao longo de anos de pratica intensa, e a necessidade de corrigi-lo em algumas sessões de treinamento. E é neste exato momento que entram em cena a experiência e o conhecimento do técnico, para num processo de desconstrução substituir um hábito adquirido equivocadamente por outro devidamente corrigido. Não é fácil, mas perfeitamente possível, tornando um jogador mais seguro e confiável na arte do arremesso.

Ao final da tarde, com uma temperatura bem mais amena, treinamos intensamente reposições laterais e de fundo bola, com encadeamento no sistema ofensivo contra defesa individual e por zona, numa movimentação bastante semelhante ao jogo real, tal o empenho e dureza empregues pelos jogadores na quadra. Foi um eficiente exercício de doação e comprometimento de todos, quando agora podemos afirmar com segurança estarem abertas as possibilidades reais de um soerguimento técnico tático, consubstanciado a um elevado padrão na auto estima de toda a equipe.

Infelizmente, a uma semana do reinicio da competição, e num momento decisivo de firmarmos os novos padrões duramente adquiridos, três de nossos jogadores se deslocarão até Uberlândia para exibições gratuitas e despidas de ganhos reais de técnica, desfalcando a equipe em treinos de crucial importância para sair da situação de última colocada na liga, assim como do assistente técnico tão necessário nesses treinos, todos deslocados a convite desta mesma liga, convite este que declinei pelo compromisso assumido junto a equipe num momento tão critico por que tem passado.

Mas vamos em frente com os que aqui ficaram, numa escalada que em absoluto pretendo interromper.

Amém.

O DÉCIMO SEGUNDO DIA…

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Trocamos hoje de ginásios para os treinamentos, já que o até agora utilizado, e que é onde jogamos as partidas oficiais, também recebe jogos da liga de vôlei, na qual temos um representante. O novo local, do outro lado da rua, faz parte de um complexo esportivo da prefeitura, muito amplo e bem completo, mas com um aspecto em comum, a pouquíssima ventilação, tornando o ambiente de treino abafado ao extremo.

Este opressivo fator torna os treinos matutinos pouco proveitosos, já que bastante interrompidos para a necessária hidratação dos jogadores, por isso torneio-os mais corretivos e voltados aos fundamentos, principalmente os arremessos, ponto frágil da equipe, que é voltada aos de três pontos, subestimando os de dois pontos, que são aqueles que mais enfoco nesta retomada.

Como em quase todas as equipes que dirigi, alguns jogadores apresentam sérias deficiências nos arremessos, fruto de má iniciação e uma quase completa ausência de correção no passar dos anos, fixando hábitos muito difíceis de tirar. Nessa equipe são dois os casos incluídos nesse lastimável pormenor, mas, como em todo bom desafio, vamos enfrentar e corrigir tais deficiências. Muita observação, trabalho e insistência, temperada com doses maciças de paciência, por certo corrigirão os dois talentosos, e ainda muito jovens jogadores.

No treino da tarde praticamos nossa defesa linha da bola em confronto com o novo sistema que adotaremos para o restante do campeonato, sempre realçando as boas intervenções defensivas, que quanto mais efetivas forem, maiores serão as possibilidades de sucesso de uma ofensiva sob estudos e prática intensa.

De repente sou avisado de que o treino deveria ser encerrado em 15 minutos, pois o local seria utilizado por uma equipe feminina de vôlei, deixando no ar a sensação de que muito ainda teremos de caminhar na direção de um sentido profissional na concepção do termo. Parei um treino que crescia em intensidade, por força de uma claudicante e equivocada hierarquia administrativa. Paciência.

Aos poucos algumas mudanças se fazem sentir no âmago da equipe, e uma das mais importantes é a constante troca de informações entre os componentes dos quintetos que se enfrentam nos exercícios de ataque e defesa propostos, numa demonstração de profunda participação e interação coletiva. Aos poucos o comprometimento do grupo vai se impondo, o que é algo digno de se admirar.

Trabalho que segue, seguro e responsável, digno e irrepreensível.

Amém.