PUSILÂNIMES…

Em 1967 fui para Brasília,onde além de exercer o magistério de Educação Física(aprovado em concurso público)me dediquei ao basquetebol,em anteposição a um grupo enorme de japonêses que implantaram o judô nas escolas,e só se dedicavam a ele.Se podiam trabalhar unicamente no judô,porque eu não poderia fazer o mesmo no basquete?Foi um argumento poderoso e pude dar inicio a um dos bons trabalhos que realizei em minha vida desportiva.Primeiro com a seleção masculina juvenil,que todo Campeonato Brasileiro só ocupava as últimas colocações.Depois de 4 meses de treinamento intenso fomos para a competição em Belo Horizonte onde alcançamos o 5ºlugar com brilhantismo.No ano seguinte sob o comando do grande Geraldo da Conceição a equipe alçou o 3ºlugar em Recife,o que demonstrou o acêrto do trabalho.Vindo ao Rio encontrei-me com o Vice-Presidente Técnico da CBB,o Prof.Gerson Silva,que me fez um desafio.Se em 6 meses eu preparasse uma equipe feminina juvenil,estavamos em julho de 68,ele faria realizar o primeiro Campeonato Brasileiro Juvenil Feminino em Brasilia no ano seguinte,isto porque somente 3 estados trabalhavam jovens atletas,São Paulo,Pernambuco e Bahia.No Rio de Janeiro,a administração do Prof.Cysneiros na Federação ,jurou que enquanto lá estivesse não haveria basquete feminino no estado.Aceitei o desafio,e em outubro daquele mesmo ano viemos para os Jogos da Primavera do Jornal dos Sports,onde ganhamos o torneio colegial com sobras.Em fevereiro de 69 voltamos ao Rio,convidado pela CBB para fazer a preliminar da decisão
do Campeonato Carioca Masculino Principal,entre Botafogo e Vasco da Gama num Maracânanzinho com 20 mil torcedores.Jogamos contra a única equipe remanecente do Rio de Janeiro,o Olaria,que mesmo com sua equipe adulta perdeu para nossa equipe juvenil para o delírio de todos os presentes.Logo após o jogo,o Prof.Gerson nos enviou a São Paulo onde o Diretor Técnico da FPB,Prof Fabio Barros já nos aguardava para uma turnê
pelo interior do estado.Jogamos contra as equipes principais de Araçatuba e Sorocaba, e contra equipes juvenis de Santo André,São Caetano e São Bernardo.Vencemos um jogo e perdemos os outros com placares nunca superiores a 5 pontos.A performance da equipe convenceu o Prof.Gerson da exequibilidade do Campeonato em Brasilia,e com o convencimento e ajuda à Federação do Rio Grande do Norte,a condição minima de 5 equipes exigida pelo regulamento dos campeonatos brasileiros foi alcançada.Na semana que antecedeu a realização do Campeonato fui afastado do comando da equipe que formei e preparei com grandes sacrificios,por imposição de um grupo que não aceitava um “estrangeiro” se impondo no terreno que afirmavam lhes pertencer,mesmo que esse estrangeiro fosse o campeão brasileiro da categoria principal.A equipe foi entregue a uma comissão que no espaço de uma semana pôs o trabalho por terra,pois a equipe que preparei para somente ter dificuldades com São Paulo,terminou em 3ºlugar.Mas foi o inicio de uma tradição de renovação do basquete feminino brasileiro,e que vinha se mantendo em sua fundamental importância nos últimos 35 anos.Até que nesse ano de 2005
a CBB resolveu não realizar o Campeonato porque somente duas Federações,a Paranaense
e a Do Espirito Santo se comprometeram a realizá-lo.Mas como ambas votaram contra o grego melhor que um presente nas últimas eleições,ele e sua turma resolveu punir as federações,esquecendo que o maior punido e profundamente prejudicado foi o basquete feminino brasileiro,tão necessitado de novos valores.Num jogo em que fui excluido injustamente por um árbitro de terceira categoria,mencionei que ele estava tomando uma atitude pusilânime,e me fui do ginásio.Dias mais tarde me encontrei com ele que afirmou não me ter relacionado na súmula por ofensa,pois não sabia o significado da
palavra pusilânime.É o mesmo termo que aplico à direção da CBB.Todos vocês são pusilânimes,em suas atitudes de política rasteira e vendetas mafiosas.E para que não pairem dúvidas sobre o significado da palavra em questão,menciono o Dicionário Brasileiro da Lingua Portuguesa,que assim a define:PUSILÂNIME,adj.es.2gên.Diz-se da pessoa que tem fraqueza de ânimo; tímido; medroso; covarde.(Do lat.pusillanime.)
Como bem definiam os romanos na antiguidade,são um bando de covardes,são todos iremediavelmente PUSILÂNIMES!Que os deuses nos protejam,Amén.

O QUE TODO ARMADOR DEVERIA SABER II.

Exclusivamente fundamentos,eis o que deveria saber,treinar,dominar,exaurir-se em seu conhecimento,para,aí sim,improvisar na busca do movimento simples,intuitivo,limpo,e por isso mesmo, aparentemente fácil de executar em toda sua complexidade. Toda e qualquer ação que envolva os fundamentos do jogo será sempre sob a presença física,próxima,muito próxima do adversário,no drible,na finta,no passe,no rebote,no arremesso,quando de posse da bola,e no desmarque, no corta-luz, no bloqueio, na defesa,quando sem a mesma.Em qualquer circunstância a presença incômoda,forte,ativa, móvil e inteligente do adversário se fará presente, fazendo e obrigando o uso conciente dos fundamentos transformar-se no pilar do jogo em sí.Sempre será muito difícil a aquisição dessas habilidades plenas, mas obrigatórias para aqueles que pretendem jogar bem o basquetebol, em qualquer categoria,em qualquer idade,dos mais jóvens iniciantes,ao mais veterano dos jogadores,pois,ao contrário do que muita gente pensa e prega deslavadamente, SEMPRE se pode aprender e apreender movimentos e habilidades novas com a prática constante e habitual dos fundamentos.NENHUMA tática de jogo terá e alcançará bons resultados sem que seus executantes dominem os fundamentos do jogo. Caminhos traçados em pranchetas jamais serão trilhados por jogadores destituidos de habilidades naqueles fundamentos necessários à sua execução,
por mais boa vontade que tenham em conseguí-lo,pelo simples fato de se antepor à coreografia traçada a ação defensiva adversária,que nunca é levada em consideração na
apresentação dos rabiscos.Dominar os fundamentos vai muito além da ação solitária,que é importante no estágio inicial da aprendizagem, para aquela em que a anteposição defensiva se faz presente em toda a sua força, quando o técnico se faz atuante na orientação defensiva para provocar e desencadear a ação ofensiva. Esse é o grande desafio nos esportes em que o contato físico é permanente,nos quais o improviso ante situações de extrema pressão só pode se fazer presente e atuante na condição de uma
resultante do domínio dos fundamentos,que quanto maior for,mais eficiente será sua
consecução.Fora desse princípio,nada em termos de táticas poderá ser alcançado,por maior que seja o talento na montagem de uma coreografia,por muitos técnicos que desconhecem como preparar fundamentalmente seus jogadores.Se nossas estatísticas,tão ao gosto de uma imprensa despreparada,mas convicta de sua pretensa importância,
primasse,não pelos resultados percentuais,mas pelos coeficientes de produção,onde ações positivas são relacionadas aos erros de execução dos vários fundamentos,muito do que se faz e apregoa de qualidade técnica de jogo e de jogadores seria posto por
terra,desmistificando o que consideram basquetebol de alto nível.Pois bem,o que se depreende dessa colocação? Que falta ao preparo de nossos jogadores,em TODAS as categorias,a seriedade na aquisição das habilidades básicas do jogo, os seus fundamentos.E de todos os jogadores,aqueles que mais necessitam dos mesmos,sem dúvidas nenhumas,são os armadores,pois partem deles as ações ofensivas que definem
o sucesso,ou insucesso de suas equipes,assim como o comando das ações defensivas,tão ou mais importantes do que aquelas.Chega às raias do absurdo vermos nossos armadores
agindo como sinalizadores de pseudo-movimentos táticos,numa perda preciosa de um tempo reduzido pelas regras,em vez de agirem como afinados e ajustados radares ante o
comportamento tático defensivo dos adversários, fator que desencadeará todo o comportamento de sua equipe,e que em nada resultará se não tiver e usar seu dominio
pleno e conciente da bola e de seu corpo,oscilando permanentemente entre o equilibrio instável e o estável,determinados pela velocidade da ação em sí,da leitura simultânea
de seus pares e do adversário,de seu pleno conhecimento e dominio dos elementos básicos do jogo,seus sempre necessários,repetitivos e enraizados fundamentos,que na prática do dia a dia,no treino e no jogo,nunca será igual em sua dinâmica,em sua execução.Por isso devem ser treinados e praticados à exaustão,durante toda sua vida
de jogador e atleta.Uma equipe sem tática definida, mas com grande preparo nos fundamentos,sempre será mais efetiva e perigosa do que aquela com maus fundamentos,
mas com um pretenso arsenal de táticas rebuscadas em uma pretensiosa prancheta.”Corra
para lá,bloqueie aquí,se desloque acolá,arremesse naquele ponto!” Mas os jogadores
desconhecem o drible, ou pensam que conhecem, passam sem precisão, fintam mal e bloqueiam pior ainda.E são repreendidos porque a tática salvadora não deu certo,pois
afinal saiu do vasto conhecimento estratégico do técnico de plantão.Tão fácil,tão corriqueiro,tão devastador nos mais comezinhos principios de bem treinar uma equipe,
seja ela de QUALQUER categoria que for.Nossos armadores necessitam de doses maciças
de fundamentos,em tempo integral,mas orientados por quem realmente conheça e dê a
real importância aos mesmos em uma equipe,e não a uma turma que ainda tem o desplante de afirmar,que jogadores de equipes adultas não podem ser corrigidos, que são
incorrigíveis.Concordo,pois os mesmos se deparam com quem nem de longe desconfiam o que seja formar,treinar e preparar um jogador nos principios básicos do jogo,os fundamentos e sua específica,dificil e especializada didática,a qual nada ou pouco significa ante uma prosáica prancheta embaixo do braço.O que todo armador deveria fazer,na ausência do interesse maior de alguns técnicos que desprezam tais detalhes
técnicos,que procurassem aqueles que ainda se preocupam com os mesmos,para realmente
se completarem como jogadores de qualidade,confiáveis e preparados para executarem
os mais disparatados movimentos táticos que exigissem deles,para que não caissem no permanente ridículo de perdas de bola e de tempo numa atividade de extrema dinâmica,
e que não perdoa os pretenciosos e os preguiçosos.Se existem tais técnicos?Claro que sim,não são muitos,mas são muito,muito bons,e que têm uma particularidade em comum,
odeiam pranchetas,pois trabalham olhando dentro e diretamente nos olhos de seus atletas,como fazem os verdadeiros mestres na arte de bem ensinar um jogo.Procure-os
e aprendam a jogar basquetebol.Garanto que será um bom investimento,apesar do que afirmam em contrário.Incorrigíveis são eles,a patota dos estrategistas de um sistema
só,do que chamam pomposamente de “basquete internacional!”Lamentável e grotesco,bem
ao gosto da mediocridade reinante em nosso malfadado basquetebol.

ONDE A CORDA SE ROMPE?

Sempre em seu ponto mais frágil,numa dobra,num segmento poído,no esgarçamento quando sujeita a uma carga acima de sua estrutura.Assim como as cordas,nosso corpo apresenta pontos frágeis e passiveis de rompimentos,mesmo cercados e envolvidos por musculatura de grande porte.São os tendões,e não é atôa que um deles é conhecido,por sua fragilidade como Tendão de Aquiles,único ponto mortal daquele mítico herói grego.Na primeira vez que assisti a uma atuação do Nenê,no Tijuca,quando jogador do Vasco da Gama,impressionou-me sua elasticidade e grande proporcionalidade fisica,dono que era de uma musculatura adequada e bem distribuida em seu longelíneo perfil.Com dois ou três dribles alcançava a cesta com extrema facilidade,numa caracteristica de ala nato.No entanto,atuava como pivô,que para nossa sempre deficiente idèia no aproveitamento de um homem alto,condena-o àquela função.E ele se foi para a NBA,e ao invés de desenvolver suas características natas de um ala,se robusteceu de forma avassaladora para se tornar um daqueles pivôs de choque tão ao gosto do basquete profissional americano.Jogou sua primeira temporada como pivô clássico,pesado no modelo intimidador,no que não foi muito eficiente.Na segunda,foi deslocado para uma função de ala-pivô,mas já bastante comprometido em sua velocidade pela excesso de massa fisica adquirida sabe-se lá de que maneira.Agora,no limiar de sua terceira temporada,parte para a cesta,numa ação típica de um ala,e ao flexionar sua perna para o impulso vigoroso em direção à enterrada vê seus ligamentos do joelho se romperem como a corda cansada e sobrecarregada do exemplo dado ao inicio desse artigo.Do jovem e vigoroso atleta que assisti no Tijuca,para a cena vista em primeiro plano pelo mundo inteiro do terrivel rompimento,passaram-se três anos de equivocos e busca quase desumana pelos milhões de dólares que sempre estiveram em jogo.Se sua compleição fisica,que era equilibrada e potente para um ala fosse mantida e diligentemente aprimorada nada disso teria ocorrido da forma como aconteceu,numa progressão livre e desempedida de qualquer oposição de adversários.A busca incessante e forçada para adquirir um fisico de pivõ de choque,alterou todo um sistema orgânico,toda uma estrutura muscular,para no final da transformação ser obrigado a voltar às suas origens de um ala-pivô.Mas já era tarde demais,pois seus tendões não conseguiram suportar tamanha agressão perpetrada em seu corpo.É o prêço que muitos como ele estão
e continuarão a pagar pela ambição desmedida em um mercado onde a qualidade é medida em dólares.Se ao voltar,não perder pelo menos 15kg.do que chamam de massa muscular,correrá o perigo,e ai redobrado,de ver seus tendões se romperem de vez.Um prestigiado site abriu uma enquete para saber o porque de tantas contusões que afligem nossos atletas,e outros mais,na NBA,principalmente nas articulações tibiotársicas e dos joelhos.Tenho a resposta na ponta da lingua,demasiada e desenfreada musculação,anabolizantes e o que chamam de suplementos vitamínicos.Não foi por qualquer motivo que o sindicato dos jogadores da NBA se insurgiu contra o rigido controle anti-doping que a direção da mesma quis implantar,sob pressão da Comissão do Senado Americano que investiga essas praticas no desporto profissional dos Estados Unidos.Tudo é válido quando salários atingem a casa dos dois dígitos em milhões de dolares,tanto para os jogadores,como,e principalmente,para o exército de agentes e empresários que habitam aquele cenário de circo romano.Nosso indigitado Nenê sofre na pele e na alma,os efeitos de pertencer a tão seleto clube no mundo do desporto profissional.Tudo isso oferece motivos de sobra para não defender a seleção de seu pais,ainda mais quando jogador por aqui viaja para os jogos,de ônibus,e numa final de Jogos do Interior de S.Paulo duas equipes se enfrentem com somente cinco jogadores de um lado e seis do outro,já que os restantes foram dispensados por seus medicos e técnicos,momentos antes do inicio da partida,pelo conhecimento que haveria um exame anti-doping ao final do jogo.E isso numa realidade em que os salarios por uma temporada de 4-5 meses não ultrapassam os 10 mil reais.O que dizer então quando estão em jogo 30 milhões de dólares? Haja tendões!

A GRANDE COVARDIA.

Abro o jornal,e na página de esportes me deparo com uma reportagem sobre basquete feminino, uma fóto da Janeth e sua afirmativa de que estava desempregada, não tendo estabelecido nenhum contrato com as equipes que disputarão o campeonato da CBB. Naquele momento estudava sua participação no campeonato da NLB ora começado,mesmo com a ameaça de não convocação para a seleção brasileira que disputará o Mundial,ou seja,a mais experiente e capitã da seleção está ameaçada de não ser convocada pelos donos do basquete brasileiro se aceitar um contrato de equipe da NLB.Em outras palavras,ou aguarda na ociosidade a convocação,ou,no caso de garantir seu sustento estará fora da seleção.Trata-se de uma atitude da mais pura covardia,não com a Janeth,mas para com o basquete feminino do país,que desde sempre foi relegado ao segundo plano na CBB,mas que nunca perdeu a oportunidade de se promover com as vitórias dessas valorosas jogadoras,e de seus técnicos,principal e basicamente em São Paulo.Nos últimos 30 anos foram os técnicos e as técnicas paulistas que mantiveram o basquete feminino no mais alto patamar que equipes de basquetebol alcançaram no Brasil e nas competições internacionais,mesmo com as agressões mais descabidas que sofreram no momento de verem seus esforços reconhecidos,principalmente nas duas conquistas mais representativas,o Mundial e a Olimpiada,onde foram campeãs e vice-campeãs respectivamente.E ai cabe uma pequena,porém elucidativa e terrivel historinha de horror administrativo,da qual fui testemunha,e que me revoltou a ponto de nunca mais voltar a pisar na sede da CBB.Estava voltando de Portugal onde havia concluido meu Doutorado em Ciências do Desporto,com uma tese sobre arremessos de basquetebol,e fui até a sede da CBB ofertar uma cópia da mesma para ser divulgada a todos os interessados em pesquisa dos esportes,ainda mais que o presidente na ocasião era um Professor Titular da UFRJ,que havia sido meu professor e com o qual trabalhei no Departamento de Metodologia da Ed.Fisica da EEFD/UFRJ,o Prof.Renato Brito Cunha.Em seu gabinete,aguardei por sua atenção,pois ao telefone travava uma áspera discussão com a diretoria de uma equipe de São José dos Campos sobre o Campeonato Nacional,e sobre as eleições que se aproximavam.Ao desligar,muito nervoso e bastante colérico disse a mim que daria uma lição naquela turma que não o apoiava,e pediu ao superintendente que fizesse entrar aquele que dirigiria a equipe brasileira no Mundial da Austrália.Imediatamente,fiz ver ao presidente o tremendo erro e grande injustiça se aquela atitude fosse tomada,principalmente com os técnicos que trabalharam por 20 anos até alcançarem o estágio técnico que aquelas jogadoras atingiram,e que o técnico que ele estaria indicando em nenhum momento participou diretamente daquele esforço nas divisões superiores.Minha veemência em nada alterou o sentido punitivo do presidente,e a história daquela formidável equipe,fruto de um trabalho hercúleo de um punhado de técnicos culminou em dois dos mais importantes títulos de nosso basquete,e que cairam nos braços de quem era ainda jogador infantil quando todo aquela epopéia começou 20 anos antes.Quando de meu sexagésimo aniversário,reuni em minha casa algumas das jogadoras que dirigi no tri-campeonato brasileiro feminino de 1966,e a elas se juntaram as grandes Maria Helena e Heleninha.No meio da comemoração dirigí-me às duas e pedi que me relatassem quais foram as reações das principais jogadoras da seleção ante àquela escolha para o Mundial.Disseram-me que algumas lhes telefonaram afirmando que não aceitariam a convocação se fosse mantida a escolha do técnico.As duas grandes mestras reagiram contra tais posições com o argumento maior de que não poderiam deixar passar a grande chance de suas vidas,e que custaram tanto tempo e tantos sacrifícios,mesmo ante tão gritante injustiça.A equipe estava pronta e madura para os embates que se sucederiam,e não seria uma atitude de vendeta que tiraria da mesma suas reais chances de vitória.E foi o que se sucedeu,e o técnico e a CBB não tiveram maiores problemas comportamentais,graças à interferência maior,mesmo magoada,das representantes do grupo de técnicos que colocaram aquelas atletas no estágio de excelência em que se encontravam.Com esse relato,na presença de outras jogadoras veteranas, do grande Guilherme Franco e do Raimundo Nonato,também presente no aniversário e que foi o Chefe da delegação naquele campeonato,tive a sensação de que ao me indignar naquele gabinete o fiz com carradas de razão, onde o fato de não negar competência profissional ao técnico escolhido, não afastaria de mim o amargo sabor da brutal injustiça cometida contra os verdadeiros responsáveis pelo alto padrão técnico daquela geração.Logo,podemos concluir que o que ocorre hoje com a grande Janeth vem se tornando um lugar comum na história desse surpreendente basquete feminino brasileiro,que não se sabe como,sempre encontra soluções positivas,mesmo quando só é lembrado na hora de levantar as taças e os troféus,nem sempre por quem de direito, pelo mérito,pela justiça.A grande ironia de tudo isso,é que os maiores beneficiários dessas conquistas viraram as costas para o basquete feminino,e canalizaram suas glórias para o masculino, onde não conseguem, nem de longe repetir o que aquelas jogadoras alcançaram,não só para si mesmas, mas para todos nós, justos ou injustos. São as mulheres do Brasil, brilhantes e competentes. A elas minhas homenagens.

ALTERNATIVAS.

Percorro os sites,os blogs,jornais e revistas especializadas em esporte, na busca de comentários,críticas ou simples noticiário sobre basquetebol no Brasil.Alguns sites publicam o que ocorre em alguns estados no que concerne a campeonatos,torneios e atividades extra quadra,mas a maioria absoluta se concentra nos campeonatos do exterior,com,inclusive analistas dito especializados em NBA,Ligas européias,e até Drafts e vida particular das grandes estrelas dessas competições.E chegam a tais minúcias que desconfio que na maioria dos casos seja matéria paga,é claro,por quem pode pagar,e bem.Tem até comentarista exclusivo de jóvens talentos,adolescentes inclusive,que se bandearam para o exterior com contratos mais do que explícitos.E fico me perguntando o que nos interessa como joga e atua um tal de Adonis,que inclusive optou pela cidadania grega,sem maiores vinculações com nosso basquetebol. Mas lá está ele,acessorado pela mídia,com briefings quase semanais.Atletas que desde cedo já contam com uma bem azeitada maquina publicitária,mas que não consegue emplacar nenhum deles nas configurações básicas,por exemplo,da NBA.Com algumas honrosas exceções,tratam-se de jogadores que primam pelo pouco preparo nos fundamentos,mas excedem nas auto-promoções,patrocinadas por espertos empresários,que se locupletam ante a realidade de indigência em que sobrevive o basquete.Se todos aqueles que preenchem laudas e laudas de papel toda semana,para escrever sobre uma realidade que prima pela obviedade técnica e tática como a NBA,se orientasse à nossa realidade,por mais pobre que possa parecer,em muito ajudaria na promoção e no desenvolvimento do jogo em nosso país.Mas para escrever sobre preparação fundamental,técnica individual,técnica coletiva,tática e estratégia de equipe o colunista teria primordialmente que estudar,e muito,tanto a nossa realidade,como a que a precedeu,e mais,teria de se interessar profundamente pelas nossas coisas,amá-las,desejá-las na primazia,pelo menos no continente sul-americano,para começar.Escrever e se auto-denominar em especialista em NBA,com sua realidade antagônica à nossa,tanto social,e mais determinantemente econômica,beira ao surrealismo,e o que é pior,surrealismo unilateral.Duvido,repito,duvido que se encontre em jornais e revistas americanas e européias uma linha sequer que mencione nossos campeonatos,nossas competições,quiça o dia a dia de um de nossos jogadores,mas o Adonis aí está,do alto de seus bem vividos quinze anos,com uma cobertura de superstar,só não sei do que.Temos algumas alternativas para melhorar nosso padrão técnico,e uma delas seria uma promoção maciça,analítica e questionadora de nosso basquetebol,aproveitando-se todas as brechas que a midia pudesse dispor para tanto,e que os que tanto promovem o exógeno pudesse concentrar seus conhecimentos e ações no endógeno,às nossas reais necessidades.Se nossos jóvens articulistas,que tão bem discorrem sobre as equipes e jogadores da NBA,se voltassem às análises do que nossas equipes produzem técnicamente,de como se comportam,também tecnicamente nossos jogadores,se se interessassem em cobrir as divisões de base,de promover aqueles verdadeiros técnicos que formam,educam e dirigem os jóvens,em vez da permanente promoção dos”estrategistas de plantão” que apregoam terem lançado fulano e beltrano,
mas que nunca mencionam quem realmente os formou e ensinou,que escrevessem sobre a diversidade de sistemas e escolas técnicas que ainda teimam em existir nesse colossal continente que é o nosso país,enfim,que escrevessem sobre o basquete brasileiro,estariamos dando um passo gigantesco para o seu soerguimento,apesar das dificuldades e vicissitudes por que tem,e ainda irá passar.Mas para que isso ocorra uma grande mudança ética tem de ocorrer,e uma enorme dose de coragem tem de se impôr ao domínio escancarado que o poder economico de uma NBA possui,e está se fazendo impôr a todos nós,a nosotros.Uma crítica bem fundamentada e honesta é a base de todo e qualquer processo de evolução técnica no desporto.Americanos,europeus e asiáticos
já descobriram o mapa da mina a décadas,cabendo a nós a cópia e a imitação canhestra.
Temos de tomar vergonha na cara,já é tempo.