PENSEMOS E FALEMOS À SÉRIO
Dias antes da decisão da Copa do Mundo de Futebol no México em 1970, estavamos eu
e o grande Prof.Alfredo Gomes de Faria em nossa sala do Laboratório de Tecnologia da
Educação,na EEFD da UFRJ na Praia Vermelha, discutindo as consequências que adviriam
com a vitória da Seleção Brasileira, dentro daquele contexto de regime militar. Claro
que não queríamos a derrota do Brasil, mas concordavamos que dalí para diante tudo mudaria para o Desporto e a Educação Física em nosso país. E não deu outra,os militares assumiram a paternidade da vitória e transferiram para a Escola de Educação Física do Exército, alí pertinho, na Urca, praticamente toda a elaboração das políticas desportivas no Brasil. O que ocorreu daí para diante é de conhecimento de todos, mas alguns aspectos sequer ainda foram abordados. Aproveitando o embalo da conquista,pré-instalou-se em nosso país uma corrida pelo domínio das ciências ligadas às atividades físicas, lideradas por alguns médicos com livre trânsito entre os militares.Eramos acessores da Direção da EEFD, e meses adiante fomos informados pela Direção que a Escola seria transferida do Centro de Filosofia e Ciências Humanas para o Centro de Ciências da Saúde, sob o pretexto de que naquele Centro a Educação Física ganharia em status e galgaria um patamar superior no ramo da ciência.Nossa reação,dos
professores e de quatro médicos que pertenciam ao Departamento de Metodologia da
Educação Física foi tão intensa, que o mesmo ficou na Praia Vermelha na Faculdade de
Educação, se negando a ir para a Ilha do Fundão onde se instalou a EEFD já sob a
jurisdição do CCS. As consequências dessa mudança foram catastróficas para a Educação
Física brasileira,pois o exemplo da EEFD, sempre pioneira nas conquistas educacionais
foi acompanhado pela maioria das Escolas no Brasil,tornando a disciplina um apêndice
da área médica.Era o fator básico de que precisavam aqueles que de uma forma avassaladora queriam transformar o”culto ao corpo” num dos mais rentáveis negócios
dos dias de hoje, atividades essas impossiveis de se concretizarem se a Educação
Fisica ficasse no âmbito das escolas primarias e de segundo grau. Que clientela teriam se os jovens encontrassem na escola os ensinamentos que os fizessem conhecedores de seu corpo e se beneficiassem dos principios desportivos em sua educação? Nada disso, esses preceitos, quanto mais ausentes da escola , mais clientes
teriam quando adultos, mais rentáveis se transformariam, sejam pagando do próprio
bolso, sejam beneficiados por políticas governamentais terceirizadas em escolinhas
de tudo que é atividade física. Academias pululam em nosso país,distantes do aspecto
mais fundamental da atividade física, os principios pedagógicos e educacionais que
os beneficiariam pela vida afora. Por outro lado, as pesquisas específicas da Educação Física e dos Desportos foram minimizadas por pesquisas de interesse da área
médica, transformando o que seria um professor de Educação Física em um paramédico
despreparado para a escola e abandonado pelo ministério do setor.Hoje as verbas para
Educação Física são oriundas do Ministerio da Cultura e do COB. Hoje os professores
de Educação Física são alcunhados de Profissionais da Educação Física e são sujeitos
a um Conselho Federal de Educação Física nos moldes dos CRM’s da vida. São profissionais não mais formados em Centros de Ciências Humanas, e sim em Centros de Ciências da Saúde, dissociados dos aspectos humanistas, mas profundamente lançados
ao pragmatismo da área médica. Universidades públicas se dão hoje ao luxo de investirem muito dinheiro na formação de um profissional de Educação Física para que o mesmo se transforme em Personal Trainer de uma minoria abastada. Escolares? Nem pensar, pois não auferem lucros como aquela. O basquetebol está incluido nesse que foi o mais bem urdido golpe dado na comunidade escolar, e não vislumbro nem a longo prazo soluções para atenuar tão monstruoso crime. Se alguma saída houver terá de começar pela volta dos Cursos de Educação Física aos Centros de Formação de Professores, dos quais, jamais deveriam ter saído, e que a liderança desses professores seja,como sempre deveria ter sido exercida pelo Ministerio da Educação, afastando do seio da juventude aqueles aventureiros que ora se locupletam pela omissão de muitos. E que o Conselho Federal dos Profissionais de Educação Física seja restrito àqueles que povoam as academias, as praias e os ringues nesse injusto país. Conselhos não tem abrigo em escolas, entidades com delegação constitucional, responsáveis pela formação integral da juventude brasileira.Sempre disse aos meus alunos da UFRJ que negassem o rótulo de professores de Educação Física, e que se situassem sempre como Professores! Se um pouco desse milagre acontecer, não só o basquetebol, mas todas as outras modalidades poderão ser massificadas, não só para termos atletas de alto nível, como cidadãos preparados para uma vida saudável e equilibrada. É só, por enquanto…