PESQUISA? PARA QUE?

Garrincha nasceu,viveu,jogou como ninguèm e morreu sem que um único estudo científico tentasse descrever metodólogicamente como um homem, com tantas deformações anatõmicas, alcançasse o ápice da performance técnica como o fez em sua trajetória de gênio do futebol. Nunca se fez um estudo científico sobre algumas das técnicas assombrosas desenvolvidas por Pelé em sua brilhante trajetória de futebolista inigualável.No entanto,bastou Roberto Carlos pôr os pés na Itália para que uma equipe de ciêntistas universitários o filmasse por todos os ângulos para tentar compreender a técnica de seus formidáveis arremates. Muitos anos atrás,quando pertencia ao LTE da EEFD/UFRJ,juntamente com os técnicos Roberto Pavel da natação,e Paulo Matta do voleibol,elaboramos um sem número de filmes técnicos, entre os quais os dos recordistas mundiais de natação Manoel dos Santos,Silvio Fiolo,Luis Nicolau e Precopenko,e as equipes campeãs olímpicas do Japão e da Tchecoslováquia no voleibol,além do Campeonato Mundial de Judô em Londrina e do Campeonato Mundial Feminino de Basquetebol em S.Paulo, como um ensaio prático para o futuro Laboratório de Pesquisas no Campo Desportivo, que era o nosso sonho final.No entanto, a verba que propiciaria a criação do Laboratório foi deslocada para o NUTES(Núcleo de Tecnologias no Ensino da Saúde)da UFRJ,no desencadeamento do processo que levou a EEFD do Centro de Filosofia e Ciências Humanas para O Centro de Ciências da Saúde,que originou a debacle da Educação Física no âmbito escolar.Daí para diante o que se viu foram pesquisas de puro interêsse médico, com enfoque zero na área do gesto desportivo,com vultosas verbas para financiar caríssimos laboratórios de fisiologia do esfôrço,para medirem e avaliarem débito de oxigênio,dobras cutâneas,etc,etc… que mais tarde embasariam e financiariam a mina de ouro em que se transformou o culto ao corpo em nosso país,é claro, sob o comando dos médicos,tendo os profissionais de Ed.Física como coadjuvantes minoritários do butim alcançado.Educação Física na área da saúde se tornou realidade nacional,e hoje quando se fala em desporto escolar temos no Ministério do Esporte e no COB seus pressupostos garantidos pelo Conselho Federal e Conselhos Estaduais de Ed.Física em suas funções dissociadas da unidade escolar, aquela que tem como obrigação constitucional a formação integral do jovem.A Educação Física fora do âmbito do Ministério da Educação tornou-se uma aberração inconcebível.Por tudo isto as pesquisas das técnicas e do gesto desportivo são insignificantes em nosso país.Mas existem e sempre existiram uns teimosos que esporadicamente se insurgiram contra tais situações, entre os quais me encaixo,mesmo sem verbas, nem oportunos mecenas.Em 1976 fiz parte da primeira turma de um curso de mestrado em Ed.Física na USP, e após 2 anos,tendo completado todos os créditos exigidos com excelentes conceitos,fui desligado do curso por me negar a mudar a tese final,que era de caráter experimental na área técnica de basquetebol,pela negativa do professor orientador em aceitá-la. Quatorze anos depois consegui defendê-la como tese de doutoramento na Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa,provando a excelência do projeto.Na minha volta de Portugal oferecí uma cópia da tese à CBB,e pelo que soube foi abandonada em um fundo qualquer de gaveta, e jamais foi sequer discutida ou divulgada.No entanto,tem sido usada como base de pesquisa na Europa e em um único caso aqui no Brasil.Recentemente veio ao conhecimento do público algumas tentativas de pesquisas na área técnica do voleibol e da natação,porém são muito poucas as iniciativas nesse campo, ao contrário das pesquisas que interessam ao outro campo, o que detem as verbas e as políticas na área dos esportes, os profissionais da saúde.Uma leitura cuidadosa nos três volumes da Produção Científica em Educação Física e Esportes,publicados pelo Núcleo Brasileiro de Dissertações e Teses em Ed.Físca e Esportes(NUTESES)da Universidade Federal de Uberlândia comprovam essa evidência.Então o que se vê na realidade é o quase total domínio do empirismo irresponsável pairando sobre o fator que poderia dar um impulso inigualável ao desporto nacional,um bem organizado e orientado programa de desenvolvimento técnico através pesquisas nesse esquecido campo.Mas para tanto teríamos de contar com técnicos e professores com esperiência desportiva,e que não trajassem jalécos.Sei que apesar de poucos, existem, e poderiam desenvolver muito bons programas científicos voltados para a melhoria das técnicas do ato desportivo, e que o mesmo pudesse retornar como área de concentração nos mestrados e doutorados de nosso país,deixando para a medicina,fisioterapia,psicologia,psicomotricidade,saúde pública,serviço social,etc, as pesquisas de seus interesses nas áreas que se apoderaram da Ed.Física.Sobra-nos as fintas,os dribles,os passes,as cortadas,os saques,as corridas,os saltos,as braçadas,os chutes,as empunhaduras,o equilíbrio e a força,ações que nenhum estetoscópio poderá medir,quantificar,modificar,otimisar, desenvolver.Estas sobras poderão se transformar em um vastíssimo campo de pesquisas, bastando que queiramos tentar,pois em caso contrário poderemos afirmar:Pesquisa? Para que?



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