MENTIROSAS ESTATÍSTICAS.
O nosso malfadado basquetebol tem agora mais uma sarna para se coçar.Grassa como uma praga a moda das verdades estatísticas,aquele instrumento pseudamente matemático que classifica,rotula,promove e até destroi reputações ,sem a menor cerimônia,como se fosse a coisa mais natural do mundo.Agora mesmo vem a público um trabalho que compara jogadores da NBA com os europeus,e de quebra os demais mortais,o resto.Chegou-se até a um número final,mais ou menos assim: NBA-227,Europeus-132 e os demais-105.E segundo o estudo os”demais”estão encurtando a diferença para os da NBA,graças ao grande número deles jogando naquela liga.Indo um pouco mais fundo nos critérios do estudo observamos que contabilizam exclusivamente os acêrtos nos arremêssos,nos rebotes,nas assistências, nos roubos de bola,nos tocos(?),numa pouco clara eficiência técnica, tudo somado a dados antropométricos,idade,temporadas.Tiram as médias dos acêrtos,classificam os jogadores nas indefectíveis posições 1,2,3,4 e 5 do “basquete internacional”,não explicam bem o que fazem com os dados pessoais compilados,e ZAP,temos os números mágicos que pretendem definir o Quem é Quem do basquetebol no mundo.É inacreditável que tal estudo possa acontecer sem que em momento algum sejam alocados no mesmo aquelas variáveis que permitiriam tais comparações,os êrros técnicos,as violações às regras,as faltas pessoais e técnicas, dados esses que devidamente contabilizados,listados e classificados gerariam números que comparados
entre si poderiam ser positivos ou negativos,para serem divididos pelo tempo jogado
por cada um.Aí sim,teriamos dados efetivos e muito próximos da realidade técnica,e que realmente definiriam os melhores.São os coeficiêntes de produção individual os mais justos critérios para comparações desta magnitude.Publiquei neste blog em 20 de
outubro de 2004 um artigo que exemplifica uma experiência realizada em uma equipe do
Rio de Janeiro nos anos setenta(Scautings,Stats,Dados não tão verdadeiros),com inegável correção em sua proposta experimental.Uma proposta semelhante foi extensamente aplicada na antiga Iugoslávia tendo o técnico Novosel como mentor e incentivador,com excelentes resultados. Países europeus tendem a esse tipo de trabalho comparativo,ao contrário dos americanos,para os quais as valências devem se concentrar nos acêrtos,mais fáceis de manipular e comparar,mesmo com índices não muito precisos e confiáveis.Para uma nação que tem na massificação desportiva um vasto manancial de talentos,pouco importa maiores precisões estatísticas,ao contrário
daquelas nações com muito menos praticantes.Duvido que a China,com seu bilhão e meio
de habitantes,e com uma política de massificação desportiva vá perder tempo com comparações estatísticas,pescam os melhores e pronto.Dão relêvo à base e à melhoria
de seus professores e técnicos,deixando as estatísticas para os gastos dispendidos no processo.No nosso caso seriam importantes os dados,mas de forma confiável,a fim de podermos comparar o efetivo progresso dos não muitos praticantes da modalidade.Mas
até chegarmos aos estágios próximos dos coeficiêntes de produção técnica,teríamos
inicialmente de nos livrarmos dos métodos percentuais que teimam em implantar uma
pseudo realidade de eficiência técnica, mentirosa e irresponsável. Em um artigo dessa
semana,o comentarista Fabio Balassiano aborda com boa margem de confiabilidade uma relação entre jogadores da NBA e de nosso Campeonato Nacional,onde compara acêrtos e
êrros nas performances dos mesmos,colocando em linguagem real o que realizaram efetivamente em quadra. Se tais comparações fossem tabuladas em um processo que auferissem pontos àquelas ações e relacionadas com o tempo de participação nas partidas,obteriamos um coeficiênte de produção para comparações entre as performances
apresentadas,muito mais precisas e justas.As mesmas analisadas pelo prisma percentual
somente beneficiam os acêrtos,com resultados facilmente manipuláveis.Seria de importância capital que pudéssemos ir um pouco mais a fundo nessa questão,pois muito
de tempo e verbas poderiam ser melhor distribuídos e aproveitados.Quem sabe atingiremos esse patamar,pois já se faz tarde tal progresso.