O ATLAS MARAVILHOSO

“Atlas mostra que o esporte gera US$12 bilhões no Brasil”, é o título de uma anuncio de universidade particular, que logo abaixo complementa:”Numa hora dessas, você sente vontade de fazer Educação Física?” Meu Deus, a quanto chegamos! Pelo que me consta deveria tal quantia implementar Educação Física nas escolas, e não ser gerada por nossa juventude para saciar o apetite dos empresários e dos profissionais da Educação Física, denominação que foi criminosamente imposta aos que deveriam ser formados como PROFESSORES, e não paramédicos. Doze bilhões de dólares é dinheiro para máfia nenhuma botar defeito. Escola? Quantos mil dólares ela pode gerar? Como faturar com tal miséria?Afinal de contas pra que escola? Segundo o autor responsável pelo Atlas, o comandante Lamartine P.da Costa, com a publicação do mesmo as empresas  passariam a saber quando e onde investir nos patrocínios, com boas probabilidades de seguros retornos, e consequentes aumentos nos lucros pela exposição na mídia. Com a anuência do Conselho Federal de Educação Física,  um dos patrocinadores do tal Atlas, conselho este que através um nebuloso trâmite pelo Congresso Nacional conseguiu manietar a Educação Física em uma estrutura controladora e coercitiva, propiciou e sedimentou os rumos da mesma fora da esfera educacional, levando-a para a área comercial e empresarial, dando substrato ao que passou a se denominar “culto ao corpo” em nosso país. E para sedimentar tal ingerência desandou a patrocinar cursos de emergência e baixíssima qualidade por todo o país, no afâ de capitalizar para si a massa crítica formada por leigos que exerciam atividades desportivas sem as devidas qualificações acadêmicas. Os cursos superiores de Ed.Física, que histórica e coerentemente sempre pertenceram à área das Ciências Humanas, responsáveis pela formação dos professores, foram absorvidos pela área das Ciências Médicas, ocasionando nos últimos 30 anos o cada vez maior distanciamento da Ed.Física do âmago da Escola.Esse foi o campo fértil criado pela mudança na formação do que hoje são denominados “Profissionais da Educação Física”, monitorados pelo Conselho, e postos à serviço da indústria do esporte. Quando em 1962 me formei pela EEFD da UFRJ, na sacristia da Capela da Reitoria da UFRJ, o padre celebrante da missa comemorativa, Pe.Argemiro, dirigiu-se a minha mãe, conterrânea e amiga de infância do mesmo, e que chorava. Perguntou porque ela chorava, e se era de alegria. Escutou de minha saudosa mãe que estava chorando de tristeza, pois era o primeiro vagabundo de uma família composta de médicos e advogados. Anos mais tarde enchia-a de orgulho pela carreira correta e vitoriosa que estabeleci, como professor nos três níveis de escolaridade. Não fui, não sou e nunca serei um Profissional da Educação Física, pois sempre me orgulhei de ter sido, de ser e chegar ao fim como Professor, simples e humilde Professor, engajado na perene busca pela melhoria de nossa juventude, nas escolas, nas quadras, nos caminhos da vida, já que é uma profissão sem retorno imediato, pois talvez lá na frente, bem a frente seus alunos se reportem a seus ensinamentos em situações que estarão enfrentando, as quais você nunca testemunhará. Muito ao contrário dos ditos profissionais que ao auferirem cada vez mais lucros contabilizam de imediato investimentos sem as responsabilidades inerentes ao processo educativo. É sem dúvida nenhuma um “big business”, o qual deveria constar em destaque no prólogo do maravilhoso atlas de 12 bilhões de dólares.



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