A FAIXA DA ESPERANÇA

Sexta-feira chuvosa,e lá vou no meio da tarde em direção à Ilha do Fundão para inscrever minha filha no concurso de substitutos da EEFD/UFRJ.Enquanto ela ultimava os trâmites da inscrição,comecei a percorrer os enormes corredores da escola que um dia no passado testemunhei,como um dos acessores da direção,sua construção,e as discussões travadas com os arquitetos alemães sobre detalhes das plantas,que eram cópias da escola de Colônia,e cujas verbas para a construção vinham da Fundação Konrad Adenauer.Foram inflexiveis quanto ao detalhamento,mesmo contra a argumentação de que os ginasios desportivos estavam planejados para o clima alemão,e que se não houvesse maior aeração dos mesmos,se tornariam impraticáveis no verão carioca.Não abriram mão,e os ginásios se tornaram fornos panificadores até os dias de hoje.Como a área do Fundão foi criada com atêrros unindo onze ilhotas,muitos pontos tinham permealidade bastante comprometida,e a turma alemã não considerou muito tais nuances do terreno.Construiu os pisos inferiores abaixo do nivel do mar,e a piscina olímpica entre duas ilhotas aterradas.Resultado?Pisos inferiores sempre inundados e a piscina rachada ao meio.Os consertos encareceram a obra, e têm problemas até hoje.Mas tudo é passado.No presente,caminhava pelos longos corredores vazios e silenciosos,lembrando
1971,quando a EEFD guinou do Centro de Filosofia de Ciências Humanas para o Centro de
Ciências da Saúde,com o argumento pífio de que a Educação Física teria maior status
ao fazê-lo.Simplesmente ditou sua sentença de morte ao ser subjugada pelo poder
branco da medicina,que cirurgicamente esvaziou a formação humanista da mesma,fator
básico do processo educativo,principalmente nas escolas,lançando-a ao pragmatismo
desvairado do hoje estabelecido”culto ao corpo”,que foi sedimentado pela criação de
um conselho autocrata e regulador,em tudo semelhante ao de medicina.Sem contar com o
esvaziamento criminoso das linhas de pesquisa,que naquela época espocavam no seio da
Educação Física.Hoje,98% das pesquisas na área são de fundamentação médica,
erradicando quase totalmente as do movimento desportivo.Mas lá estava eu imerso nas
lembranças do passado,relembrando as lutas titânicas travadas na Praia Vermelha,onde
o Departamento de Metodologia da Ed.Fisica se refugiou ao se negar participar da aventura suicida do CCS,e se manteve no CFCH,mas na Faculdade de Educação,e que por
30 anos se manteve impávido e muitas vezer solitário,na luta pela preservação da
amada Ed.Fisica como um dos fundamentos da educação integral a que todo cidadão
brasileiro tem direito constitucional de obter.Já havia percorrido muito dos corredores,quando ao final do último,lá no finzinho,vislumbrei uma enorme faixa presa
na parede,onde se lia-“FORA CREF”! Não acreditei, e me aproximei rapidamente,para
constatar que se tratava da sede da associação de alunos da EEFD.Estava fechada,assim
como parecia toda a escola em sua imensidão silenciosa.Mas lá estava,nas palavras de
sua representação estudantil,a palavra de ordem que emanava de um movimento nacional
contestatório do absurdo que representa um CREF no âmbito da educação em todos os seus níveis,nos quais o livre pensamento não pode em hipótese alguma conviver com
orgãos reguladores e restritores,antíteses do mesmo.Fiquei esperançoso de que,finalmente encontrara algum eco na luta que travo há muito tempo pela volta dos
cursos de formação de professores de Educação Fisica para o âmbito das Ciências Humanas,e não das Biomédicas com seu pragmatismo devastador.Ao sair da EEFD,ainda
vislumbrei uma outra faixa na entrada da escola,atentando para o fato de que estava
comemorando 66 anos de existência,minha idade,e que por todo esse tempo ainda se
mantinha de pé,altaneira,apesar de subjugada em sua finalidade humanística.Jovens
estudantes,nesses ajustes históricos,empunham a bandeira da redenção de uma profissão
que ainda voltará a ser uma das bases da educação integral e democratica dos cidadãos
deste país,e não instrumento de um bando de aventureiros que se apropriou de uma das
mais efetivas ferramentas na orientação de jovens,a Ed.Fisica e os Desportos,para
enriquecerem deslavadamente numa espiral pragmatica de cultuação fisica, dissociada
dos principios didáticos e pedagógicos somente encontrados em seu estado puro no seio
das escolas,a reserva intelectual de qualquer nação que se preze.Bendita faixa no final daquele quilométrico corredor,que me encheu de esperanças,e que me fez esquecer
a impiedosa chuva que caia,como lágrimas pelo tempo perdido,mas não definitivamente
perdido.Dias melhores ainda virão.



1 comentário

  1. Anonymous 13.01.2006

    Paulo:
    O que faze ao profesor sao bases psicopedagogicas fortes.Nos somos educadores.
    Paravenes pra voce.

    Gil

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