A PRAGA DOS 3.

Campeonato Nacional na reta final,somente as melhores equipes disputando vagas duas a duas,representando o que há de melhor entre nós.Hoje assisto duas delas,a de Brasilia e a do Flamengo.E o que vejo de novo? Sim,acreditem,tem algo de novíssimo em nosso panorama basquetebolístico.Como num personagem antigo do Jô Soares que bradava aos seus asseclas “que entre nós até a mafia se avacalhava”,vemos os tão disciplinados jogadores americanos arremessarem dos 3 pontos de todas as formas possiveis e impossiveis,indo em direção contrária dos esquemas traçados nas pranchetas de seus técnicos,isso quando entendem o que falam,pois suas atitudes em nada se coadunam com as instruções que recebem.No caso dos patrícios esse comportamento já se tornou praxe,e já faz parte do anedotário local.Nesse jogo tivemos a oportunidade de assistir incrédulo a uma sucessão de 6 ataques,3 de cada equipe,nos quais somente arremessos de 3 foram efetuados,todos falhos,através armadores,alas e pivôs,numa competição absurda de inabilidade,falta de técnica,e total ausência de comando.Instaurou-se entre nós o reinado dos 3 pontos,no qual todo e qualquer jogador se comporta como expert nesse dificilimo e extremamente elitista fundamento.Em 1952 uma pesquisadora americana,Mortimer,publicou um trabalho,dos primeiros em basquete
onde provava que da distância do lance-livre bastava um desvio de 2 graus para que a
bola sequer tocasse no aro.Calcula-se que no arremesso de 3 pontos bastam 0,5 graus
e até menos para que a bola também saia fora do aro.Por isso,somente muitos poucos
podem ser considerados especialistas nesse tipo de arremêsso.Mas não entre nós,isso
porque nossos jogadores em sua maioria”se acham”os maiorais dos 3 pontos,e claro,nas
enterradas.Só que enterram duas ou tres bolas para o delirio da platéia,e enterram
suas equipes nas bisonhas e irresponsaveis tentativas dos 3 pontos.Mas algo mascara
diabólicamente esse comportamento,a ação globalizada de todas as equipes envolvidas na competição.Se todas agem técnica e táticamente da mesma forma,disputa-se um competição de compadres,vencendo aquele que errar menos.Mas caro Paulo,não será essa
uma fórmula ideal,com jogos “decididos”no final,emocionantes,apaixonantes,etc,etc?
Para o consumo interno,onde a mediocridade se torna apavorante a cada jogo que passa,
concordo pela forma existente,discordando perante o que poderiamos fazer de melhor. Mas quando em forma de seleção,onde enfrentaremos adversários que de forma alguma permitirão essa hemorragia de 3 pontos e de enterradas,ai me sinto realmente temeroso
sobre nossas possibilidades.Na temporada da NCAA encerrada à pouco,toda a imprensa
americana saudou o ressurgimento dos arremessos de 2 pontos,com suas porcentagens de
acerto bem maiores que dos 3 pontos,como a volta do arremesso padrão a TODOS os jogadores,independendo da posição que se situe na equipe.É preocupante constatar entre nós o baixíssimo aproveitamento dos 2 pontos,com sua produtividade que poderia
se aproximar dos 70%,se treinados para tal,dando a equipe o justo premio por seus esforços técnicos e táticos.Mas entre nós,até os estrangeiros ensaiam aderir ao festival dos 3,em conjunto com seus colegas nativos,numa repulsa aos rabiscos estabelecidos por seus técnicos em suas pranchetas do nada.E o pior,não são coibidos
em fazê-lo,vide os pulos de contentamento dos técnicos quando uma ou outra tentativa
acerta o alvo.O jogo transformou-se numa roleta de inominável e preocupante perspectiva futura,pois até as categorias de base já ensaiam entrar de vez no seleto
clube dos ‘especialistas”,aderindo perigosamente à essa praga que retira de todos eles o desenvolvimento nos dribles,nas fintas,nos rebotes,e nos arremessos de 2 pontos.Para que todos esses fundamentos se posso arremessar dos 3 ou enterrar em um
contra-ataque? Essa é a regra que uma turma de estrategistas travestidos de técnicos
implantaram entre nossos jogadores,e o que é pior,não são obedecidos por eles em suas
divagações pranchetadas,e não são,ao menos,instruidos ou ensinados a arremessarem com precisão e bom senso.E pensar que toda essa aberração poderia ser sanada se,ao menos,
ensinassem seus jogadores simplesmente a marcar.”Vamos combinar o seguinte:ninguém
marca ninguém,chuta-se à vontade dos 3 pontos,enterra-se o que se puder para gáudio
da midia e do público,e no final vence quem cansar por último”.Corretíssimo galera, mas estupidez também cansa.E como esse é o panorama que se faz presente em nosso basquetebol,é claro que nossas seleções o espelharão nas importantes e fundamentais competições mundiais que se aproximam,e ai é que mora o perigo.Se nossas seleções refletirem essa realidade duvido que obtenham sucesso,pois não acredito que nossos adversários aceitem a mesma combinação vigente entre nós.Se não mudarmos profundamente essas chamadas “filosofias de jogo”nos daremos muito mal.Mas mesmo assim torço para estar errado,e que consigamos algo melhor.Mas…Que os deuses nos
ajudem,amén.



2 comentários

  1. fernando 25.04.2006

    Olá Paulo! Parabéns de novo.
    Mas gostaria de lembrá-lo que quem ensinou que muitos chutes de três, sejam eles marcados, livres ou em contra-ataques, foi a seleção campeã há duas décadas que você exaltou no outro texto. O que foi aquele panamericano, o que foi aquela final senão um dia de sorte em que todas as bolas de marcel e oscar (e todos os outros que se vissem a mãe vestida de laranja, iam para a linha dos três e arremessavam a progenitora) caíram. Aquilo é exemplo de basquete? não, creio que não.

  2. Basquete Brasil 25.04.2006

    Prezado Fernando,mais uma vez obrigado por sua audiência.Um reparo-Nunca,nos mais de 160 artigos exaltei a equipe do Pan 87,e sim as dos dois campeonatos mundiais e as tres vezes olímpicas.Muito teria a dizer sobre aquela conquista do Ary Vidal e sua equipe,mas tudo ao seu tempo.Somente dois detalhes sobre a mesma:Oscar e Marcel foram ao seu tempo,junto ao verdadeiro ‘mão santa” o Guerrero do Mexico,verdadeiros especialistas dos 3 pontos.Some-se a isto o não preparo defensivo dos americanos perante a nova arma,eles que somente jogavam embaixo da cesta,e é claro,o dia da mais absoluta boa sorte nos lançamentos.O erro que cometi foi não ter incluido no texto “a mais de duas
    décadas…”.É isso ai Fernando,desculpe a falha.Um abraço,Paulo.

Deixe seu comentário