DETALHES…

Um pouco mais ambientados, do fuso horário à alimentação, por que não, ao clima atípico para essa época do ano, com seu melhor jogador mais descansado, a ponto de liderar a raka tradicional de seu povo, a equipe neozelandeza deu um trabalhão à nossa seleção neste quarto jogo. Com a ausência do Leandro, teria a comissão técnica a enorme oportunidade de testar com eficiência o jogo de dois armadores puros e três homens altos e rápidos. Mas não foi o que ocorreu. Conceituaram o Alex e o Marcelo como armadores, o que não são, fazendo-os atuar com o Huertas e o Nezinho separadamente. Deu no que deu, grande dominio dos neozelandezes com seu jogo rápido e envolvente, composto de seis armadores de grande técnica, e seis homens altos, mas não tão altos como os nossos, porém infinitamente mais rápidos quando de encontro aos passes, e que só raramente os recebiam estaticamente. Perderam, como poderiam ter ganho. Nos poucos momentos que nossos dois armadores puros atuaram juntos, viu-se uma equipe mais incisiva, eficiente nos dribles e nos passes, mais forte na defesa e veloz nos contra-ataques. Mas tal comportamento técnico tende a fugir do rígido controle vindo de fora da quadra, que insiste em administrar toda e qualquer movimentação que diga respeito a jogadas e comportamentos táticos,que não aqueles rabiscados na prancheta que tudo prevê, que tudo determina, numa coreografia de passos marcados, que bitolam e emburrece, e que cruelmente responsabiliza aqueles que não trilham os caminhos pré-determinados na mesma. Armadores puros e habilidosos, por serem criativos e corajosos, desbravadores de atalhos imprevistos, são temidos por quebrarem conceitos e determinismos apriorísticos, pois têm a qualidade maior de ser alcançada ,a grande arma do improviso, aquela que não é prevista, mas aquela que é sentida e exequibilizada. O Leandro que é um armador quase puro, tendo ao lado um Huertas, criativo e corajoso, só aumentará sua eficiência ofensiva, revezados pelo Nezinho e um outro armador…Mas quem? Quem? Com técnica ambidestra, dominio das fintas em tênue espaço, eficiente arremesso alternativo, e postura defensiva. Quem? Guilherme, Alex e Marcelo são eficientes alas, bons arremessadores, armadores nunca, pelo menos à nivel de seleções em um mundial. Se a douta comissão tiver peito e coragem de atuar com dois armadores e três homens altos, rápidos e eficientes, tem de contar com mais um armador puro em suas hostes, para que não haja defasagens no rítmo de jogo, e que possa garantir a qualidade dos passes e dos dribles por todo o tempo das partidas. Se optarem por sistemas defensivos antecipativos e pressionados, defendendo os pivôs adversários pela frente, em constante velocidade, terão de fazer constar na equipe de mais um armador puro e bom marcador. Fred e Fúlvio seriam boas opções, além de serem jovens e de grande e comprovada técnica. O que não pode acontecer é essa indefinição do que pretendem estabelecer como sistema de jogo para essa seleção. Se repetirem os conceitos que vêm empregando nos últimos anos, a utilização corajosa de dois armadores se torna inexequivel, pois anularia as maiores qualidades de jogo dos mesmos. Iniciar uma jogada e correr sem nexo para o fundo da quadra, ou cruzá-la lateralmente, retira o armador do fóco da ação, tornando-o mero assistente, e não epicêntro da mesma. A efetiva proximidade dos dois armadores tem a vantagem de dotar a equipe de uma atitude continua de possibilidades ofensivas, e não esporádicas como ocorre no sistema até agora estabelecido. Mas para estabelecer tal mudança, que é tímida e tênuamente tentada, pois a carapaça do passing game se amalgamou de tal forma nas personalidades da maioria dos técnicos brasileiros, tornando-os imunes a novidades, que faz-se necessária uma revolução evolutiva, lastreada de muita coragem e desprendimento, de uma enorme e colossal vontade de transpor as barreiras de seus próprios eus. A ausência de nossos dois tanques de guerra, deu-nos a oportunidade de ousar, de quebrar conceitos e amarras, deu-nos também a oportunidade única e irrecusável de voltarmos às nossas origens, de um basquete rápido, incisivo, corajoso, e por que não, vitorioso. Mas, terá a comissão quadrupla a coragem de realizá-la? Houve um técnico que acreditou na técnica, na velocidade, na voluntariedade, e na coragem de inovar, e por isso venceu tudo que jogou. E o fazia sem comissões e aspones. Pena que o esqueceram como um simples detalhe. Ao grande Kanela, meu respeito e admiração. E aos que aí estão, meus votos de que decidam e definam o que querem para a seleção, pois essa indefinição técnico-tática tenderá somente à responsabilizar os jogadores pelos eventuais insucessos, o que seria lastimável em todos os aspectos. Se é para atuar com dois armadores, que o façam com quem de direito, os especialistas, e não os que se “acham”, tendo antiguidade,ou não. Quanto aos homens altos, meu Deus, nunca os tivemos tão rápidos e ágeis.Só falta saber aproveitá-los no que têm de melhor, atacando e defendendo. Ainda temos tempo para prepará-los, e só temo pela competência em fazê-lo.



Deixe seu comentário