SHAZAN!!

Na casa dos campeões olímpicos e mundiais, com alguns jogadores consagrados na NBA, mostramos que também estamos lá, na meca do basquete mundial, mesmo que para isso tenhamos escalado formações inadequadas e conflitantes. É inadimissível postar em uma seleção brasileira um armador que dribla com dificuldade, e que tem como prioridade o seu próprio arremesso, fazendo dupla com um outro, habilidoso por sinal, mas que também capitaliza para si as glórias auferidas por penetrações cinematográficas. A tal ponto ficaram os pivôs orfãos de passes que tivemos a volta dos arremessos de três pontos executados pelos mesmos. Mesmo assim, por conta de uma luta descomunal dos jovens e talentosos pivôs nos rebotes, conseguimos de alguma forma equilibrar o jogo. Em momento algum tivemos na quadra dois armadores ambidestros juntos, a não ser no último quarto, quando o Huertas fez dupla com o Nezinho, e por muito pouco tempo, mas o suficiente para atestarmos o enorme e qualitativo talento de que é possuidor. As formações com dois armadores, constituidas num rodizio entre o Marcelo, Alex e Leandro, careceu de total qualidade nos dribles e passes, mesmo que enganosamente ofuscados por arremessos de três pontos, profusamente utilizados pelos três. Marcelo, Alex e Guilherme são alas e não armadores, pois nenhum dos três tem qualidade nos dribles. São jogadores que complementam jogadas, e não articuladores das mesmas. Nessa seleção somente três são armadores, Huertas, Nezinho e Leandro, sendo que esse último se sente mais útil penetrando do que construindo jogadas. Os homens altos, mesmo abandonados pela carência de criatividade dos pseudo armadores escalados, por sua força, velocidade e agilidade, foram páreo para os consagrados argentinos, tendo em muitas ocasiões dominado os rebotes ofensivos com maestria e grande determinação. Pena que o sistema ofensivo utilizado seja tão ingrato para com eles, que mereciam melhores e maiores oportunidades para desenvolverem suas habilidades incontestes. Mas foi defensivamente que a seleção se deu realmente muito mal. Marcelo e Guilerme simplesmente nunca ouviram falar em posicionamento defensivo no um contra um. Um passe ou outro interceptado, dão a impressão de qualidade defensiva, qualidade esta que se desnuda quando o confronto é individual. Alex é o único que tem razoável postura defensiva, somada a uma grande agressividade que algumas vezes o levam a cometer faltas desnecessárias.Mas pelo menos tenta defender com raça e brio. Huertas e Nezinho ficam num meio termo, onde conjugam o verbo cercar com alguma competência. Os homens altos, obstados e proibidos de exercerem a marcação frontal sistemática, perdem, talvez, a maior oportunidade de se imporem através suas qualidades intrinsicas de velocidade e flexibilidade, ante pivôs mais pesados. No caso argentino, estes também são ágeis e rápidos, e exercem a marcação frontal em muitas etapas do jogo, provando a exequibilidade da ação. Faltou-nos a coragem de fazer jogar os jovens armadores, que cederam seus lugares a falsos armadores, mas possuidores de um tipo de experiência que não denota aos mesmos habilidades básicas de um verdadeiro. Numa fase de treinamento e afirmação do grupo, perdemos uma excepcional oportunidade de testá-los contra a equipe campeã mundial e olímpica, em nome de um princípio cardinalício, tão em voga entre nós, e que só promove nomes em lugar de qualidade técnica. Nessa fase da preparação não se justifica”esconder o jogo”, ou adiar soluções, ou mesmo designar donos de posições. Urge sedimentar a equipe com o que de melhor ela pode apresentar, sempre perseguindo a qualidade técnica, e não o princípio de que antiguidade é posto. Este foi um jogo decidido nos arremessos de três pontos, onde os argentinos obtiveram um altíssimo índice motivado pela ausência de marcação por parte de nossa equipe, ao passo em que falhamos muito nesse tipo de arremesso, que será, sem dúvida nenhuma, fortemente marcado no mundial que se avizinha, e para o qual não temos nos preparado como deveríamos. Mas não devemos nos preocupar, pois a Super Prancheta virá em nosso socorro. Shazan!



2 comentários

  1. Reny Simão 03.08.2006

    Caro Prof. P. Murilo

    Há algum tempo tenho lido suas crônicas, no Clipping do nosso amigo Hélio, e concordado com a maior parte das considerações que apresenta.

    Porém, estas últimas (sobre a nossa Seleção) estão muito bem colocadas, principalmente as relativas ao jogo com dois armadores. A equipe tem rendido muito mais quando usa dois deles.

    Gostaria de saber a sua opinião sobre o fato de usar 4 técnicos. Não acha que em vez de somar está descaracterizando o time, que fica sem um estilo? Pergunto isto sem querer fazer crítica a nenhum deles, pois os considero bons profissionais. Haverá mesmo a necessidade de usar tanta gente?

    Outra dúvida que me surge é: M. Huertas foi considerado, com justiça, o melhor jogador do Campeonato Sul Americano, mas não está tendo oportunidade real de jogar nestes amistosos. Estará com alguma contusão?

    Um abraço

    R. Simão – Uberlândia – MG

  2. Basquete Brasil 04.08.2006

    Reny,tenho colocado minhas opiniões a respeito dessa comissão através uma série de artigos no blog.Dê uma olhada retrospectiva e tire suas conclusões.Só tenho a acrescentar o fato de todos eles estarem,com seus clubes,ao lado do grego melhor que um presente.Ter a chave do cofre,ou estar junto ao mesmo,dá certas prerrogativas.Repare que somente os técnicos das seleções nacionais integram o naipe de conferencistas para o Congresso Internacional de Ciência do Basquetebol,a ser realizado durante o próximo mundial feminino em SP.Ou seja,fora eles nada mais existe no país.”Pretensão e água benta” é isso aí.Quanto ao Huertas,sua auteticidade e coragem em criar, é serissimo obstáculo aos “comandos” de fora da quadra,e olhe que são 4!Por isso, banco nêle! Um abraço,Paulo Murilo.

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