REPLAY( MESMO SEM PEDIDOS…)

Em 12 de setembro de 2004 publiquei um artigo, que como a maioria, não foi alvo de um comentário sequer, mas, que teimosamente republico, como um alerta a certos maneirismos que insistem em impor ao nosso combalido basquetebol, principalmente em seu futuro técnico-tático.

Triângulos, Passing game, Pick and Roll e outras bobagens afins…

Peguemos um pedaço de giz e desenhemos na lousa as figuras geométricas de um círculo, de um quadrado, de um pentágono, de um triângulo e uma reta. Em cada uma das figuras tentemos distribuir os cinco jogadores de uma equipe. Em duas delas é possível distribuir igualmente os cinco jogadores, o circulo e o pentágono. No quadrado somente quatro jogadores, na reta, dois, e no triângulo, três. Tanto ofensiva quanto defensivamente, a distribuição no círculo e no pentágono mantém os jogadores distantes entre si, propiciando grandes espaços ao domínio dos jogadores oponentes. No quadrado também se formam esses distanciamentos com menos um jogador. Na reta só é possível a participação de dois jogadores, tornando a ação dos oponentes majoritária. Somente na forma do triângulo podemos exercer superioridade numérica, tanto pela proximidade física quanto pela abrangência visual. Por essa singularidade as formações triangulares sempre foram objeto de estudo pelos grandes técnicos, a partir de Clair Bee, no longínquo ano de 1932, quando da publicação de sua coleção clássica de livros voltados para o estudo do basquetebol. Recentemente alguns técnicos norte-americanos redescobriram a roda, tentando convencer o mundo da criação do sistema mágico dos triângulos. Aqui no Brasil, nos anos sessenta quando as marcações por zona reinavam absolutas, sugeri ao técnico Paulo Cesar do Grajaú T.C., que decidia com o Botafogo o campeonato carioca juvenil, que utilizasse uma movimentação fundamentada em triângulos móveis dentro da defesa por zona, o que resultou em total domínio ofensivo.Um pouco mais adiante utilizei a mesma movimentação no Campeonato Brasileiro Feminino em Recife, quando vencemos a grande equipe paulista, magnificamente treinada pelo mítico Campineiro. A movimentação dos triângulos móveis é utilizada até os dias atuais por alguns técnicos que não se deixaram enfeitiçar pelo modelo NBA de passes quilométricos em contorno do perímetro da cesta. Há de se convir que para um limite de 24 segundos, o excesso de passes torna os arremessos precipitados e, por conseguinte, desequilibrados. A figura da reta somente propicia uma ação ofensiva, que é o “Dá e Segue” (Pick and Roll?), que muitos narradores teimam em rotular como uma ação triangular, pelo fato de um dos jogadores se deslocar de um ponto para outro para conseguir a posse da bola.Toda ação ofensiva visando a supremacia numérica em uma determinada área da quadra é fundamentalmente triangular, fator descrito desde os anos trinta pelos autores clássicos do jogo como Nat Holman, Clair Bee, John Bunn e Forrest Allen, nenhum deles mencionados pelos descobridores do Sistema dos Triângulos. Oportunistas também existem pela terra de Tio Sam, ainda mais pelo peso dos dólares do profissionalismo desenfreado.

Gostaria de tentar explicar o que vem a ser e o porquê da existência do Sistema de Passing Game, tão apaixonadamente adotado pela maioria dos técnicos brasileiros, e de tão funesta influência sobre o nosso modo de jogar. Como é do conhecimento de todos, até os anos sessenta vigorava no basquetebol universitário americano o tempo ilimitado de posse de bola após a ultrapassagem do meio da quadra. Essa característica dava aos técnicos o tempo que quisessem para fazer com que suas equipes utilizassem não uma, mas quantas movimentações fossem necessárias para suplantar a defesa. Com o advento dos 45 segundos tornou-se necessária a adoção de uma movimentação que mantivesse os jogadores presos ao comando tático exercido pelos técnicos de fora das quadras. A troca seqüencial de passes propiciava esse comando, e mesmo quando da diminuição de 45 para 35 segundos de posse de bola ele foi mantido.O jogo baseado no drible determinava ações que fugiam do rigor tático e, por conseguinte, do controle das ações pelos técnicos. O Passing Game preenchia essa necessidade de controle das ações ofensivas por parte dos técnicos, dando aos mesmos todo e qualquer poder decisório.Transformaram as ações ofensivas em coreografias, onde quase todos os movimentos eram determinados pela vontade deles, mesmo não participando das ações diretas. Nascia também a influência das pranchetas, até hoje presente na maioria esmagadora dos jogos. O jogo com a limitação de posse de bola nos 24 segundos só é utilizado nos Estados Unidos entre os profissionais, mas a utilização do Passing Game ainda é mantida, graças a um estratagema inteligente, a obrigatoriedade das defesas individuais ou por zona não se beneficiarem das flutuações, fator que inviabiliza o confronto de um contra um. No caso do basquetebol jogado pelas regras internacionais, com a permissão de flutuações laterais ou longitudinais à cesta, o Passing Game como o empregado pelos profissionais americanos transformou-se em um festival de erros e precipitações nos arremessos ocasionados pela premência de tempo, pois 24 segundos sob as ações permitidas às defesas pelas regras internacionais limitam criticamente as liberdades que as mesmas detêm sob as regras da NBA. Esses fatores só se tornam visíveis quando os profissionais jogam sob as regras internacionais, e mesmo seus fracassos recentes não fazem com que nossos técnicos reconheçam o quanto estão enganados ao adotarem tal sistema. O poder da propaganda, com uma mídia bem direcionada e mundialmente divulgada obliterou em muito a capacidade de pensar e de analisar de técnicos, críticos e jornalistas envolvidos com os fundamentos do jogo, quando para a maioria as “enterradas”, os “double-doubles” e os “triples-triples” passaram a ser a essência do jogo. Alguns países já tentam superar essa globalização do “basquete internacional” e o resultado das últimas olimpíadas atesta bem isto. Só espero que os técnicos brasileiros acordem de seus berços esplêndidos e voltem a estudar e a soerguer nossa verdadeira maneira de jogar, pois não foi jogando como jogamos hoje que conquistamos dois campeonatos mundiais e três medalhas olímpicas entre os homens, e um campeonato do mundo e duas medalhas olímpicas entre as mulheres. Muito trabalho temos pela frente, e podemos começar pelas atitudes mais básicas em qualquer manifestação humana, humildade e muito estudo.

OS ÓRFÃOS DA ENTERRADA.

É disso que o povo gosta! Enterradas que levantam a galera! Enterradas que intimidam os adversários! É o espetáculo máximo do jogo! Viva a enterrada! São narradores, comentarístas e até alguns técnicos, os cultores desse absurdo importado de um basquete totalmente voltado ao espetáculo, que quanto mais circense melhor. No entanto, de muito já não vencem nada, mas é claro, são referenciais pelos salários astronômicos que ganham, e pela arrogância com que olham o restante do mundo, a serem enterrados de preferência. No entanto, ao vermos pela TV os jogos femininos universitários e profissionais americanos, não testemunhamos essa preocupação quase que ritual do masculino, a volúpia das enterradas, que despertam um misto de prazer e poder no seio da audiência. E continuam perdendo os torneios internacionais, principalmente quando a eles não são facilitadas,ou mesmo permitidas as enterradas. E de repente, surge uma jovem universitária que, pasmem os deslumbrados de plantão, ENTERRA! E ela aqui aporta como uma das estrêlas da seleção de seu país, e desde sempre estabelece-se o suspense hitchcoquiano:
“Quando será que nos deslumbraremos com tal façanha?” E jogo após jogo, a Candice Parker se esmera nos arremessos de 2 e 3 pontos, nos potentes e técnicos rebotes, na primorosa marcação,
no jogo tático, e na exibição de sua técnica refinada. Mas, e a enterrada? Por que não a tenta,
já que autorizada pela técnica Donovan, ela mesma, que do alto de seus 2 metros jamais teve potência para enterrar? Que tristeza pessoal, vai ficar devendo… E ela se foi com sua medalha de bronze, e sem enterrar, deixando para trás um hiato indesculpável naqueles nichos que tanto empobrecem o basquete brasileiro, o dos órfãos das enterradas. No entanto, levaram os premios
de maior pontuadora de 3 pontos, a Diana Turasi, e de maior passadora, a Sue Bird, numa prova
inconteste de que a qualidade de um arremesso passa inexoravelmente por um belo e decisivo passe, e uma apuradíssima técnica de lançamento, que são valores não muito apreciados pelos
admiradores, e pelos praticantes do grande jogo, adeptos das enterradas. E a excelente Parker,
em nenhum momento se deixou levar pela doentia expectativa de sua redentora enterrada,pois
aqui veio jogar basquetebol, e não se exibir para uma platéia que ignora os verdadeiros preceitos
do jogo, e que, infelizmente, são os responsáveis na divulgação e formação opinativa dos jovens,
voltando-os para o culto às enterradas, em vez das muito e mais complexas técnicas dos arremessos. Nesse mundial não foram vistas enterradas, mas uma quantidade incrivel de bem lançados arremessos de todas as distâncias possíveis e imagináveis, provando definitivamente
que enterradas é terreno de quem não sabe e não domina a arte dos arremessos. O dia que nossos jogadores substituirem o tempo que perdem nos treinamentos com as enterradas pelos lançamentos de 2 e 3 pontos, alcançaremos melhores performances, seguro caminho para as tão
sonhadas vitórias. As mulheres, por mais uma vez, e não só as americanas, já descobriram a muito tempo que enterradas não ganham jogos, e sim muito, muito treinamento daqueles quase
simplórios, para os homens, arremessos de 2 e 3 pontos. Benditas e sábias mulheres.

A SAGA DE UMA TOALHA E OUTRAS…

Que não era grande, de rosto e outrora branca, amarfalhada pelas centenas de rotações a que foi submetida nos rompantes patrióticos de seu mentor, e que recolheu em suas malhas as lágrimas da Iziane, o suor do rosto da Janeth, e, a glória suprema, foi emprestada à grande Laura Jackson
para mais uma rodada de suor e maquilagem em verde e amarelo, enxugadas de seu rosto. Ao se retirar da entrevista Laura esquece de devolver o pano sagrado, desencadeando no técnico- comentarista-torcedor e tiéte, uma inenarrável corrida ante as cameras de tv na busca de seu precioso troféu, para o espanto de quantos ali estavam. Volta triunfante com sua toalha, que será enquadrada, sem lavar, é claro, para ser colocada na parede de sua sala, em companhia da tiara
esportiva usada pela Janeth, e pedida no ar, sendo atendido pela grande atleta. Pena que não coloque ao lado do quadro uma foto de seu beijo reverente na mão da Alessandra, também ao vivo e à cores. Um pouco antes, durante os comentários revela estar maravilhado com a descoberta do basquete feminino, e que já pensava em dirigir uma equipe da modalidade, o que suscitou uma intervenção da Maria Helena: “Você está chegando agora, está deslumbrado, e precisa saber que nosso trabalho no feminino vem de muitos anos, 50 anos, e que tem filosofia própria, que é passada de geração a geração, entre jogadoras e técnicos”. Estranha afirmativa do técnico-comentarista de estar descobrindo o basquete feminino, logo ele que em 1997 estava na Hebraica do RJ assistindo jogar na decisão do campeonato feminino infanto-juvenil, sua filha, jogadora do CR Flamengo, contra a equipe do B.da Tijuca. Ou será que a grandiosidade de uma competição mundial, e toda sua exposição de midia televisiva, patrocinada em canais abertos e fechados pela holding onde seu irmão é, merecidamente, um dos expoentes do jornalismo brasileiro, o fez redescobrir o que já conhecia, mas nunca promoveu e se interessou anteriormente? E para culminar seus fundamentados pontos de vista, afirma que os técnicos brasileiros estão completamente desatualizados, sendo contestado pelo técnico da seleção brasileira: “Não, não estão. O que falta é uma “liga”, união, trabalho em conjunto de todos os técnicos”, bandeira levantada pelos dois, propondo, inclusive, um seminário de técnicos para discutirem os problemas que afligem o nosso basquete, bandeira essa que nunca, em tempo algum, pensaram em hastear. Ao final do programa, numa bela e sensível iniciativa, o estúdio foi
preenchido por um sem número de verdadeiros batalhadores do basquete feminino, que foram apresentados pela Maria Helena, desde a Noca ao Rosa Branca, passando par Elzinha e Heleninha, que sempre preparou novas jogadoras, e que teve da Maria Helena um contundente
desabafo: “Trabalhamos há muitos anos, e ela nunca quis o meu lugar”! Algumas carapuças foram imperceptivelmente encabeçadas, e captadas por quem conhece profundamente o meio, e que através dos inúmeros programas durante todo o mundial, sutil ou declaradamente se tornaram presentes ante aos “prestigiados” técnicos, e seus respectivos cargos, nas seleções brasileiras. Foram travados discursos dialéticos, conceituais, filosóficos, políticos, sociais, psicológicos, e eventualmente técnico-táticos. Porém, todos, tendo como fundo, a premente necessidade de parecerem os únicos capazes de salvarem o basquete nacional. Hoje mesmo, o técnico da seleção feminina se queixava dos técnicos-comentaristas, aos quais definiu como antiéticos em suas análises, com o qual concordo, excetuando-se os ligados à modalidade, como a Maria Helena, o Vendramini e a Hortência, que em nenhum momento o responsabilizou pelas derrotas, bem ao contrário dos técnicos ligados ao basquete masculino, numa prova cabal da inadequação de suas escolhas para comentar o que pouco,ou quase nada conhecem de uma modalidade na contra-mão do fracassado basquete masculino. E na quadra, onde as verdades verdadeiras acontecem e fazem história, venceram aquelas equipes que melhor se apresentaram, as mais organizadas, as lastreadas por políticas desportivas eficientes e sempre presentes em seus países ao contrário do nosso, que mesmo assim, como um pequeno grande milagre, realizado por um punhado de idealistas, conseguem alçar uma equipe a uma quarta colocação no cenário mundial.Formidável basquete feminino brasileiro. Parabéns e vida longa, ao largo de oportunos, injustos e idesejáveis descobridores de última hora, com seus discursos, conceitos modernos e inefáveis toalhas.

LIDER E COMANDANTE

Se auto-assumindo como tal, o técnico-comentarista, ou comentarista-técnico, divulga que estava organizando com os técnicos participantes do programa, e outros que compareceram ao mundial, um encontro para discutirem e divulgarem novos paradígmas para o basquete nacional, e que já havia escolhido o tema de sua palestra- Sistemas e situações de jogo-Questionado pelo
jornalista mediador do programa Basquetemania qual a diferença entre sistema e situações de jogo, para o esclarecimento do público telespectador, esclareceu o lider e comandante que, sistema era uma ação de 5 x 5, e situações de jogo eram ações de 2 x 3, 3 x 4 ou 4 x 5. Acredito que os telespectadores devem ter ficado confusos, pois pelo Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, Sistema é o conjunto de partes coordenadas entre si; conjunto de partes similares; (…) método; processo;(…) , e que dessa forma poderiamos determiná-lo como um Método de jogo, e não um 5 x 5! Mais adiante, depois de conseguir uma foto ao lado da Laura Jackson, entoou uma óde à jogadora Micaela, enaltecendo suas qualidades de futura craque, e sua maravilhosa humildade, e tudo ao vivo, com a presença da própria Micaela, fazendo com que a técnica Maria Helena interviesse, afirmando que a mesma somente atingiria o status de grande atleta no dia que trocasse o excesso de humildade por um posicionamento mais vaidoso, necessário para sua afirmação estelar. Finalmente, como grande coroamento estende suas mãos ao congraçamento de todos os técnicos, para o futuro do basquetebol nacional, como determinam os principios básicos de um lider e comandante. Discursos à parte, pouco, ou quase nada foi discutido sobre a derrota da equipe brasileira, pois diante da grande performance da comissão técnica na vitoria de ontem contra a equipe tcheca, os técnicos presentes se sentiram tolhidos a uma critica mais profunda e contundente. Sobrou para os comentaristas fixos do programa, que pouco puderam acrescentar, a não ser a frieza das análises estatísticas. No entanto, existiu um ponto fulcral justificando a derrota, o gravissimo erro técnico cometido no início do 4º quarto da partida, a quebra de uma estratégia bem montada e melhor executada nos três quartos anteriores, que deu à equipe uma vantagem de 7 pontos, logo aumentada para 9 no limiar do quarto final. Mas a estratégia de concentrar o jogo ofensivo no miolo do garrafão adversário, alimentado pelas duas armadoras, e do enérgico posicionamento nos rebotes defensivos, foi quebrada com a entrada da jogadora Cintia no lugar da Ega, pois a mesma praticamente atuou ofensivamente, no limite do perimetro externo, pelo tempo em que ficou na quadra, deixando a luta pelos rebotes ofensivos nas mãos da Erica, assim como em duas trocas defensivas deixou a Adriana no combate da temível e mais alta Snell, grande pontuadora do jogo. A equipe, deveria ter sido mantida dentro do estratagema de maciça participação dentro dos garrafões, e anteposição aos tiros de três pontos, e por isso, a entrada da Alessandra em dupla com a Erica, daria ao quarto final todo o poderio reboteiro possivel, retardando ao máximo uma reação das australianas. Quando somente nos 2:30min finais a Alessandra entrou no jogo, a diferença de 11 pontos já era intransponível. Some-se a esta falha na estratégia, o fato do não pedido de tempo quando a equipe perdeu a vantagem dos 7 pontos levando 11 sucessivamente. Toda montagem estratégica deve se basear em ações que preencham todo o tempo de duração de um jogo, bastando uma omissão, por menor que seja,para derrubar inexoravelmente o sucesso da mesma. Mas são águas passadas, pois no sábado a equipe terá de disputar a medalha de prata com as americanas, sim senhor, AS AMERICANAS, que para desilusão da maioria dos lideres e comandantes, fãns de carteirinha do basquete modelo NBA/WNBA, se viram pendurados na brocha com a descoberta inimaginável pela grande maioria deles, a de que existe basquetebol fora das fronteiras do Uncle Sam.E que basquetebol senhores, que basquetebol! Russas e australianas demonstraram o que vem a ser coletivismo e dominio dos fundamentos do jogo, estratégia e táticas contundentes, que são produtos de sistemas de treinamento e fortissimo
trabalho de base, com o emprego de métodos técnicos e pedagógicos que valeriam à pena aprendermos e apreendermos. Cairam por terra os esteriótipos massivos das pivôs, pelas presenças longilíneas, ágeis e flexiveis de russas, australianas, lituanas, thecas, assim como o banimento pela maioria das equipes, a brasileira inclusive, de jogadoras abaixo dos 1,70m, vide
as formidáveis armadoras australianas, baixas e potentes. Vimos técnicos sessentões darem aulas de conhecimento técnico e sábia experiência, na contra-mão de certos setores brasileiros
que defendem a nova geração para nossas equipes nacionais, esquecendo que liderança e conhecimento técnico-tático somente se aprimora ao longo dos anos, e não através de lobbies,
politicagem e oportunismo, sem contar o poder dos Q.I’s. de midia e de outros interesses que não os desportivos. Neste sábado apreciaremos as finais, esperando que sejam compreendidas como
lições de padrões duramente alcançados, pelo trabalho, pela pesquisa e pela união daqueles que são os responsáveis desde sempre, pelo progresso de qualquer modalidade desportiva, os técnicos, cujos líderes são escolhidos por seus pares, democraticamente, e sempre pelo critério do mérito, e jamais permitindo, ou se deixando levar por oportunistas, auto-proclamados lideres e comandantes. Que assim seja, e nos permitam os deuses, amém.

A VITORIA DO MÉRITO.

Foi sem dúvida nenhuma um grande jogo. Nossa seleção de guerreiras atuou com magistral precisão, principalmente naquele setor em que mais vinha falhando, o defensivo. Com um forte rebote defensivo, marcação antecipada, e pressão nas arremessadoras tchecas de três pontos, tiveram todo um respaldo para se lançarem em contra-ataques efetivos, assim como, dada à desestabilização emocional das adversárias, puderam evoluir com segurança no ataque armado, onde, repetindo o setor defensivo, souberam explorar ao máximo o jogo pesado no interior do garrafão. As pivôs foram formidáveis, como também as armadoras, pois jogamos com duas por todo o tempo, onde a Helen em dupla com a Janeth( Repetindo suas atuações de armadora da equipe do Houston), e depois Adriana com a mesma Janeth, deram uma aula de como municiar as pivôs no miolo do garrafão, encontrando-as sempre em movimento com passes antecipativos e por cobertura, além de pontuarem sempre que preciso. As duas alas, Iziane e Micaela, se revezaram com alto grau de eficiência e devastadora velocidade. Todas foram brilhantes, assim como seu técnico, que foi extremamente feliz na armação técnico-tática, e no transcorrer de toda a partida. Por mérito, a seleção se coloca como uma das sérias pretendentes ao título, bastando que agregue ao precioso arsenal hoje apresentado, mais um componente, que de certa forma contradiz sua vencedora performance. A equipe australiana tem jogado exatamente dessa forma por todo o campeonato, e sem dúvida tentará dar continuidade à fórmula vencedora. Ora, se as duas equipes tenderão a se apresentar com tal similitude técnico -tática, que estratégia poderia ser montada para que nossa seleção, não só surpreendesse a fortísssima equipe australiana,como pudesse manter uma performance estável sem resposta contundente? Analizando bem essas variáveis, destaca-se uma, que por ser comum às duas equipes, é a que poderia definir o resultado da partida, a velocidade. Aquela que pudesse quebrar o rítmo imposto por suas armadoras nas jogadas de velocidade, principalmente nas passagens da defesa para o ataque, obrigando-as a um rítmo menos frenético, levaria substancial vantagem ao fim do jogo. Uma marcação implacável, porém exaustiva nas armadoras, o que exigiria um rodízio defensivo frequente, além de diminuir substancialmente o ritmo, prejudicaria passes precisos e calculados para as duas principais jogadoras e pontuadoras australianas, a Jackson e a Taylor, responsáveis a cada partida de praticamente 50% dos pontos da equipe. Essa é a variável que poderia desestabilizar uma ou outra equipe, vencendo aquela que a controlasse primeiro. Mas isto é um mero exercício de quem sempre procurou estudar estratégias, sistemas e táticas, mas que na situação atual somente deve ser considerado como uma sugestão a mais, e somente isto. Torço
para que esta valorosa equipe vença, e vá para a final pelos méritos que ostenta, e somente lastimo que suas emocionantes partidas sejam analisadas por técnicos que nada tem a ver com o basquete feminino, tirando dos verdadeiros batalhadores da modalidade a oportunidade de virem a público mostrarem porque fazem parte da elite mundial. Maria Helena, Vendramini, Lais, Heleninha, Bassul, Hortência, Paula, Norminha, e tantos e tantos outros que fazem do basquete feminino ser o que ostenta hoje, é que lá deveriam estar, para que o país os conhecesse e homenageasse, ao contrário do masculino, cujos técnicos tem a petulância de retirar do podium televisivo quem de direito, e o pior, ousando dar aulas de sapiência num desporto onde, em sua categoria só acumulam fracassos e baixarias. Que vão rodar toalhinhas nas arquibancadas, que são os seus lugares, pagando ingressos de preferência.

VITRINE DE LUXO

Pera lá, vai tudo mundo prá frente das cameras destilar erudição basquetebolística, vender o peixe de ocasião, fazer um marketing maneiro, me sentar o pau velada ou escancaradamente, e vou ficar sem meus 15 minutos de fama? De jeito nenhum! Palmas pra mim, que aqui ficarei olhando fixamente para a objetiva, como todo bom político aprende a fazer, e como quem não quer nada, querendo, vou apagando da curta memória brasileira o vexame de Tóquio. Afinal, não é qualquer um que aparece por horas em um tela de TV para provar o quanto entende e domina os meandros que envolvem aquele que deveria ser o grande jogo, mas, infelizmente não o é, se depender do triste espetáculo de self-promotion que assistimos constrangidos. São apresentados espetáculos de espetadelas sutís, entremeados de concordâncias hipócritas e arroubos patrióticos, endeusamentos, tietagens esplícitas, e delirantes projeções. Apostas de jantares, e desafios técnicos, enfeitam(?), ou enfeiam o que poderia ter sido uma rara e excelente oportunidade de se discutir a realidade do basquete brasileiro, e não o triste show que ora assistimos. Justiça seja feita a três dos participantes, que profundamente envolvidos e arraigados ao basquete feminino, comentam com isenção e pleno conhecimento o que realmente ocorre no seio daquela sempre esquecida modalidade, e que mesmo estando em plena atividade técnica,
procuram se ater aos fatos, e somente a eles. Maria Helena, Vendramini e Hortência, são as únicas pessoas, além dos locutores e comentaristas fixos, que deveriam lá estar, apesar dos dois primeiros estarem vinculados a equipes, assim como seus colegas da comissão técnica. Os demais
aproveitam a demorada e bem-vinda exposição televisiva para promoverem discordantes opiniões, achismos desqualificados, críticas a um técnico sem imediato direito de resposta, e um aberto e direto propósito de se auto qualificarem ao posto, ou a acessoria do”prestigiado” técnico
da seleção masculina. Daqui a uma semana terminará o mundial, e com o seu término cessarão os arroubos ufanistas e as juras de amor eterno ao basquete feminino, já que também cessarão os mágicos minutos televisivos, que será a senha para fazer voltar a modalidade ao seu devido lugar, de mero coadjuvante no ambiente desportivo nacional. Uma afirmativa feita no dia de hoje espelha essa lastimável realidade, quando aquele delirante técnico-comentarista, ou comentarista-técnico, descreve a jogadora Iziane como uma atleta que joga igual a um homem, o que segundo seu abalizado ponto de vista, a torna diferenciada entre as demais. Isso é o que acontece quando se promove quem não de direito a um posto que influi decisivamente no imaginário popular, principalmente na audiência dos jovens. Por sorte as transmissões massivas ocorrem em circuito a cabo, já que a TV aberta somente transmite os jogos da seleção brasileira, pois se assim não fosse o desastre seria descomunal, com, segundo palavras do grego melhor que um presente, 15 milhões de telespectadores assimilando e digerindo um FeBeApá que envergonharia o saudoso Stanislaw Ponte Preta. Seria preferivel termos os ginásios repletos de jovens em todas as rodadas do que suas arquibancadas tão vazias quanto o conteúdo oportunista da turma dos jantares. Já imaginaram esse pessoal sob a influência de um código de ética profissional emanado por uma associação de técnicos? Não? Nem imaginem, pois se depender deles jamais ocorrerá, como não ocorreu nos últimos e dolorosos 20 anos de seus reinados. Mas,
como nem tudo está perdido, ainda temos na luta a brava equipe brasileira, que apesar dos pesares aí está se superando ante equipes poderosas e eficientes, como legitimas guerreiras que são e sempre foram. A equipe tcheca tentará atuar como fizeram com as americanas, ou seja, levando o jogo com lentidão, para frear nossa velocidade e rítmo de jogo. Por essa razão, mais do que nunca precisariamos jogar com duas armadoras puras e três das mais altas jogadoras que pudessemos escalar, o que propiciaria uma efetiva luta pelos rebotes, um forte jogo interior, a garantia de velozes contra-ataques, e, principalmente, uma vigilância mais próxima nas tentativas dos arremessos de três pontos, arma letal da equipe tcheca, e que foi exatamente a atitude tomada pela equipe americana para sobrepujar a tática de frenagem da mesma. Quando as americanas escalaram no inicio do 3º quarto suas duas mais efetivas armadoras, deslancharam e se impuseram ao jogo amarrado e pausado da equipe tcheca, levando-a de vencida. Essa deveria ser, também, nossa estratégia de jogo. Quarta-feira veremos quem tem laranja para vender.
PS.-Para os mais jovens – FeBeApá – Festival de besteiras que assolam o país. Criação imortal do Sergio Porto,ou Stanislaw Ponte Preta.

FINAL DE JOGO.

De todos os debates que aconteceram após os jogos do Brasil, o que mais suscitou dúvidas e opiniões de diversos calibres foi o dos segundos finais contra a Espanha, quando a equipe brasileira se queixou da não marcação de uma falta que a Alessandra teria sofrido na última tentativa de um curto arremesso, o que levou a equipe a uma derrota bastante contestada. O mínimo que se ouviu foram afirmativas de que os três juízes empurraram a decisão de um para o outro, e como nenhum deles assumiu uma posição, a falta deixou de ser marcada. Mas, em nenhum momento os analistas envolvidos na discussão, mencionaram o fato, de que a nossa grande pivô perdeu o arremesso final por ter adquirido um vício de fundamento, que a faz ineficaz em um grande número de finalizações embaixo da cesta, quando postada do lado esquerdo da mesma. Nesse posicionamento, ela finaliza sistematicamente o lançamento com a mão direita, dando larga margem a bloqueios defensivos que tiram dela muito de sua eficiência. Caso finalizasse com a mão esquerda, não só conseguiria os pontos, como grande seria a possibilidade de sofrer uma falta pessoal. Se todos os técnicos envolvidos na discussão observassem com atenção o tape daquela última tentativa, constatariam que a bola toca o aro por baixo, exatamente na direção de sua mão direita, estando sua mão esquerda muito ao lado do mesmo, em um ângulo mais do que propicio a uma conclusão exitosa. Alessandra, com sua envergadura, sua enorme experiência, adquirida em muitos embates internacionais, jamais, e em tempo algum teve corrigido esse erro de fundamento, que se fosse conseguido, aumentaria de maneira determinante sua produtividade em quadra. De forma alguma conoto a ela a perda do jogo, assim como não menciono os inúmeros erros de dribles, fintas, passes e arremessos, cometidos, em grande quantidade pelas demais integrantes da equipe. O que vaticino, é a grande perda qualitativa da equipe, ao cometerem muitos erros de fundamentos, pelo simples fato dos mesmos não serem corrigidos pelos responsáveis dos treinamentos. Centrar a preparação em movimentos táticos, visando um sistema de jogo, por si só se tornam ineficientes se não forem realizados por jogadoras com pleno domínio dos fundamentos. Todos tecem loas à equipes, como a norte-americana, a australiana, e as demais européias, mas esquecem que, a maioria delas são compostas de jogadoras plenas de habilidades técnicas, baseadas no grande domínio que possuem dos fundamentos do jogo, sejam ofensivos, como defensivos. Pecamos demais nesse preparo, e por isso colhemos resultados nem sempre positivos. Alessandra teria sua eficiência pontuadora enormemente aumentada, se fosse orientada e corrigida na conclusão de seus curtos arremessos do lado esquerdo da cesta, com sua mão esquerda. Simples assim, mas que desde
1994, quando foi lançada na seleção campeã do mundo, não teve corrigida a sua maior deficiência
técnica, e que agora, em um final de jogo duríssimo, ainda desperta discussões e dúvidas. Infelizmente, espalhou-se, de forma lastimável, a idéia de que jogadores adultos não podem ser corrigidos, o que, no ponto de vista dos verdadeiros técnicos não tem qualquer fundamentação defensável. Conto uma singela passagem que vivenciei. Em 1967, quando dirigí a seleção carioca que venceu o campeonato brasileiro feminino em Recife, tive a oportunidade de ensinar a grande jogadora Luci Borges a arremessar em elevação, ou o jump shoot. Ela se ressentia de não ser convocada para as seleções brasileiras por não saber executar aquele tipo de arremesso. Durante uma semana, já em Recife, e num horário nada usual, 7 hs da manhã, submeti-a a um intenso programa de educativos para o aprendizado daquele tão desejado arremesso. E a Luci, não só o dominou, como foi convocada para a seleção que venceu os Jogos Panamericanos daquele ano.
Era uma jogadora adulta e experiente, mas que pode adquirir novas técnicas que jamais a tinham ensinado. Cara Alessandra, procure alguém que a ensine, e cobre, esse tipo de conclusão, para que duplique sua já considerável eficiência. E se nenhum de seus técnicos se interessarem, como constatamos que jamais o fizeram, reveja seus jogos, com calma e parcimônia, e tente por si mesma tal correção. No jogo de hoje, contra a Australia, foram os erros de fundamentos que nos levaram à derrota, pois num campeonato em que TODAS as equipes se utilizam de um mesmo sistema de jogo, serão aquelas equipes que dominam mais profundamente os fundamentos, as que chegarão às finais. Fico imaginando uma equipe bem treinada nos fundamentos, e possuidora de um sistema que diferisse dessa mesmice que vem assolando o mundo do basquetebol. Seria muito difícil derrotá-la. Mas esses diferentes sistemas existem? Claro, mas não é facil encontra-los, pois é matéria de quem realmente estuda, ama e entende o espirito do grande jogo,
e que se negam a aceitar essa imposição neo-colonialista apelidada de”basquete internacional”.
Mas nossa maioria de técnicos preferem aceitá-lo, por comodismo e economia, pois já vem pronto para o vasto consumo, por pior que seja.

TROPICALISMO

Elas chegaram pelo norte do país, numa aventura digna de novela, detidas pela imigração por falta de vacinas, já que estiveram treinando e jogando na Martinica e na Guiana Francêsa, zonas com incidência da Febre Amarela. Perderam a primeira partida por ausência, mas chegaram poucas horas antes da segunda, quando venceram com folga e determinação. Observou-se que sua comissão técnica trajava bermudas, mas as jogadoras ainda ostentavam suas peles alvas como neve, o normal em seu país próximo ao círculo ártico. Ficou bem claro que mesmo estando no paraíso antilhano, não puderam se beneficiar das belas e ensolaradas praias do local. Mas, ontem não resistiram, e em pleno mundial se foram para o Guarujá de encontro ao que inexiste em seu país, o calor e o sal morno de uma praia tropical. Todo brasileiro praiero, principalmente os cariocas, conhecem bem o que venha a ser leseira, aquele estado semi-catatônico que se instala num corpo tostado pelo sol em início de temporada de férias. E se a pele estiver a longo tempo sem se expor ao sol, aí é que a leseira se instala com vontade. O processo de desidratação e queima epidérmica prosta e exige reparação demorada. E as lituanas,antes alvas, vão para o jogo bronzeadas e literalmente prostradas do 3º quarto em diante. Deu pena ver aquelas excelentes jogadoras se arrastando atrás das velozes brasileiras, que mesmo cometendo os erros contumazes, se viram livres da energia que suas adversárias esbanjaram nos jogos anteriores. E se não se cuidarem na reposição adequada dos eletrólitos perdidos, poderão sentir o peso de uma tentação irresponsável dentro de uma competição deste nível, e cujo culpado estava lá hoje dirigindo uma equipe travada, mas trajando seu referencial tropicalista numa exuberante bermuda verde, contrastando com seu newlook bronzeado. Engraçado, que somente ao faltarem
2 min. para o término da partida, é que um repórter de campo mencionou a farra da equipe lituana, fato rápidamente comentado pela Hortência no encontro dos comentaristas após o jogo, e que não suscitou de nenhum deles o mais leve comentário, numa atitude de minimizar, e mesmo negar que tal fator não tenha facilitado a vitória brasileira. Mas facilitou, e muito, pois nossa equipe apresentou as mesmas e já corriqueiras deficiências, principalmente defensivas, e que não foram aproveitadas pelas lituanas pelas razões omitidas pelos abalizados comentaristas. Por tudo isso, me preocupa o jogo de amanhã contra as australianas, que mesmo vindo de suas mundialmente famosas praias, aqui aportaram para competir à sério, sem se renderem aos encantos, nem sempre vantajosos de um éden tropical. E contestando aquele comentarista que perante à menção da farra lituana feita pela Hortência, respondeu dizendo-“Isso, foram à praia
no Guarujá e tomaram um chocolate aquí”, lastimo que tamanho erro da excelente equipe lituana, tenha privado a nossa equipe de realmente testar seu progresso e apuro, num jogo para valer, dentro de um campeonato que exige tais duelos, fundamentais para embates futuros e decisivos. Foi uma vitória que deve ser levada com reservas, já que técnicamente frágil, e em condições um tanto irreais, e que podem dar a falsa e perigosa idéia de que atingimos um patamar vencedor, o que não coresponde à verdade dos fatos. Se colocarem os pés realmente no chão, poderemos jogar bem próximo das fortes equipes que ainda teremos de enfrentar.

TELHADOS DE VIDRO

“Mas fulano, ele tem de substituir a fulana, que está mal!” “Concordo, e para isso é que existem os assistentes, para chamar a atenção dele…” ” Sei que sou técnico também, mas aqui minha função, sem faltar a ética(?), é de informar o público…” “Nesses momentos são empregadas as jogadas especiais, que devem ser treinadas(…), e ele deve ter treinado…”. “Não entendo essa jogadora com a experiência que tem não ter participado dos jogos, e que para mim deve haver algo mais sério entre ela e o técnico…”. E por aí vão os “abalizados comentários” dos técnicos atuantes convidados para comentar o trabalho de seus colegas, TODOS profundamente interessados em passar aos ouvintes o que deveria estar sendo feito na quadra, o mesmo que dissessem-“Faríamos melhor!”. E na quadra, sem direito de resposta, mesmo perante erros decisivos, a comissão técnica via ir ladeira abaixo seu conceito de jogo equivocado, mas teimosamente mantido. E na fala constrangida de quem realmente lá esteve e lutou a grande Hortência se esforçava em analisar o que via, e não conceituar o que não devia, numa atitude ética, contraditória com os demais analistas. Mas, qual minha opinião? Creio que, pelo posicionamento que venho mantendo nos inúmeros artigos publicados nesse blog, o que ocorreu
neste jogo contra a Espanha, reflete com absoluta precisão, quão absurdos tem sido os caminhos
trilhados pelo nosso basquetebol nos últimos 20 anos, escravo de administrações caóticas e desprovidas de um mínimo de competência, assim como, a omissão proposital e interesseira da grande maioria de nossos técnicos ditos como “de ponta”, em suas guerrinhas particulares, egoístas e desprovidas de inteligência, todos no afã da conquista do velocino de ouro, não importando os meios, desde que sejam bem sucedidos em suas pretenções. Pretenções estas que passam pelo ridículo de defenderem associações de técnicos e de jogadores, defenderem o diálogo interpares, cursos de aperfeiçoamento, bibliografia especializada, e um sem número de outras
“salvadoras” propostas, sem que nunca tenham sequer pensado em realizá-las, principalmente quando lá estiveram, no cimo deste monte de coisíssima nenhuma. Nossa seleção de guerreiras,
boicotadas e esquecidas em suas lutas para sobreviverem das parcas migalhas que lhes dirigem
todos estes”abnegados”, que se locupletam com suas glórias, voltando-lhes as costas a seguir,
num movimento cíclico que beira à insanidade, não tiveram hoje, em sua solitária luta contra as espanholas, a ajuda que deveriam, por suprema justiça, ter de uma comissão técnica defasada
e voltada para si mesma, assim como jamais tiveram efetiva ajuda e consideração por parte
daqueles outros , que sentados em seus gabinetes de aspones, ou empunhando microfones tecem loas aos seus conhecimentos,inóquos ante a realidade da quadra. Meu gurú de bons e pertinentes ensinamentos, meu pai, dizia do alto de sua encanecida vivência e sabedoria-“Filho, quem tem telhado de vidro, não joga pedras nos dos vizinhos”. Que os deuses o tenham.Amém.

ESTRÉIAS.

Tivemos hoje três estréias neste inusitado mundial, as equipes da Austrália, Lituânia e Brasil. As duas primeiras, com equipes fortíssimas e muitíssimo bem treinadas, não tomaram conhecimento das adversárias africanas, e demonstraram que vieram para o pódio. A do Brasil, depois da pífia avánt premiére de ontem, estreou seu poderio individual, e tão somente ele, para vencer com sobras as pequenas coreanas. Mas, continuou a apresentar uma defesa passiva e pouco técnica, haja visto os mais de 80 pontos que levou, entremeados de um sem número de arremessos de 3 pontos, o que gerará um desconforto enorme quando mais adiante se defrontar com as equipes mais fortes nesse fundamento, principalmente a americana, australiana e lituana. No aspecto tático somente a equipe lituana apresentou algo que difere da mesmice geral,com a utilização inteligente de duas armadoras evoluindo fora do perímetro, e três altas jogadoras se revezando dentro do mesmo, num estonteante carrocél de altíssima eficiência. Todas as outras equipes, utilizando o sistema americano do passing game, numa ladainha monocórdica, somente quebrada por um punhado de excelentes artistas e suas teimosas e personalíssimas improvisações, para desespêro de alguns técnicos, incluindo o nosso. Até nos gráficos de apresentação dos quintetos iniciais, mostrados pelas TV’s, vê-se um desenho posicional formado por uma armadora central, duas alas e duas pivôs ladeando o garrafão, numa imposição da famigerada e infundada conotação de jogadoras nas posições 1,2,3,4 e 5, onde fica faltando somente a 6 para se equiparar às posições do voleibol, como se o basquetebol fosse um jogo de ações posicionais como aquele. Mas sempre aparece alguém do contra, mesmo que não vença a competição, incutindo na cabeça de alguns, sei que poucos, uma sadia dúvida que contrapõe ao prét-a -porter em que transformaram esse belo jogo, o grande jogo. E a Lituânia, lá dos confins bálticos da extinta União Soviética, vem refrescar pétreos conceitos da turma que não se dá conta do quanto vale um conceito renovador, mesmo pagando o alto prêço de não vencer. São
formidáveis atacando e defendendo na “Linha da bola” mesmo, com flutuações lateralizadas, e não longitudinais à cesta, permitindo que suas altas, porém ésguias pivõs marquem pela frente, economizando faltas pessoais preciosas. Atacando, o fazem com precisão cirúrgica, em que todas se deslocam permanentemente utilizando com maestria e paciência seus 24 segundos de posse de bola. Podem até não vencer, mais deixam um recado arejado de que se pode(e deve-se)
sempre buscar o novo, mesmo que utópico para a medíocre maioria, americanos inclusive. Muita
competição ainda está por vir, e espero que nos confrontos de quartas e semi-finais possamos
testemunhar algo de muito novo, dentro do panorama pachorrento que nos impuseram com o sistema alcunhado de “basquete internacional”, ou “basquete moderno”, que de moderno mesmo
só desenvolve a idéia absolutista de um sistema único na forma de jogar e evoluir dentro de uma quadra de jogo, fator facilitador no intercâmbio de jogadores, que em suas padronizadas posições propiciam os duelos de 1 x 1, que é a variável de maior sucesso para o público americano, mas que não se coaduna com o basquete FIBA, mesmo que a maioria de seus técnicos sigam os conceitos técnico-táticos emanados da NBA e WNBA. Por isso, exemplos como os da Lituânia são bem-vindos para a evolução do basquete mundial, provando a existência qualitativa de sistemas de jogo fora do eldorado norte-americano.