JÁ VÍ ESSE FILME…
Passadas as emoções dos mundiais, volto à realidade do nosso basquete. Pela TV assisto ao jogo das equipes invíctas do campeonato paulista, considerado o melhor do país, entre Franca e Limeira. Escolho uma boa poltrona, um café bem quente, e estou pronto para o espetáculo.De saída um tremendo passeio de Limeira ante uma inexistente defesa de Franca.Um primeiro quarto em que só uma equipe atuou.Dai para diante as situações de jogo primaram pelo equilibrio, com diferenças nunca superiores a 10 pontos. No entanto, ambas as equipes primavam em um aspecto, os contundentes erros nos fundamentos. Atuando com idênticos sistemas de jogo, até nos sinais que os armadores usavam para definir as jogadas, como espelhos frontais, somente uma ou outra tentativa esporádica de utilização de defesas, ora individual, ora por zona, alteravam um pouco a mesmice tática na quadra. Numa situação de tal similitude tática, somente aqueles poucos jogadores que se encontrassem em melhor momento físico, seriam capazes de buscar resultados benéficos à sua equipe. E esse pormenor é que fez a diferença, para pior, pelos seguidos e constrangedores erros de fundamentos que cometeram assiduamente. Muitos foram cometidos, sendo que alguns deles primários, à saber: Armadores
contra-atacando pelas laterais da quadra; armadores executando sistematicamente o passe paralelo à linha final, inclusive em progressão à cesta(um passe desses retirou da equipe de Limeira a possibilidade de vitória ao final do tempo normal de jogo, assim como num momento crucial da prorrogação) ; alas trombando com a bola em tentativas de penetração driblando em
direção à cesta ; arremessos precipitados e desequilibrados da zona dos três pontos, numa quantidade inimaginável, executados por armadores, alas, e até pivôs! ; posicionamentos defensivos absolutamente equivocados, principalmente pelos alas; ausência absoluta de posicionamento defensivo à frente, na marcação dos pivôs; quando acionados ofensivamente, os
pivôs agiam solitariamente, ficando seus companheiros estáticos, somente observando sua ação;
o total desconhecimento dos jogadores no posicionamento corporal nos corta-luzes ; o total
desconhecimento dos posicionamentos corporais nos rebotes, defensivos e ofensivos. Enfim, um
corolário de erros dos fundamentos básicos do jogo, cometidos ano após ano, numa repetição
monocórdica lamentável. E se não bastasse tal panorama, fomos todos brindados com algo que vem se tornando corriqueiro entre nós, as mudanças comportamentais dos sempre disciplinados
jogadores americanos, quando em seu país, e que aqui começam a adquirir o hábito tupiniquim
de se insurgirem ostensivamente contra atitudes e decisões de alguns técnicos, useiros e veseiros
em discutirem e até xingarem seus jogadores, numa demonstração nada educativa para os jovens que assistem os jogos. A desculpa é que na divisão de elite essas atitudes “fazem parte” do
jogo, o que caracterizo de absolutamente reprovável e inverídico. Porém, verdade seja dita, a utilização de dois armadores conotam novos e benvindos ares ao nosso combalido basquete, mas que pouco virão a somar se não acontecerem profundas mudanças técnico-táticas que possam
vir a dinamizar a produção dos mesmos, pois na atual situação de utilização de um único sistema
de jogo, o passig game, pouco ou quase nada poderão produzir de evolutivo para o aperfeiçoamento do basquete entre nós. Voltando ao jogo, por causa do entrevero entre o americano e o técnico, a equipe de Limeira se desarvorou na prorrogação, e perdeu um jogo que deveria ter vencido no tempo normal, não fosse também os sucessivos erros de fundamentos da
equipe, e que culminou no último tempo pedido por seu técnico, onde o maior de todos os erros foi cometido, quando ante o baloiçar negativo de cabeça do americano, motivado pela instrução
de quantas faltas fossem necessárias( na terra dele geralmente os jogadores são exaustivamente
treinados para tenterem a posse de bola, sem faltas…) para ganho de tempo, recebeu como ríspida resposta, ao vivo e à cores -“tem de ser assim mesmo, para ganhar o jogo”. Desliguei a TV, e fui lavar a chícara de café, pois, e por muitas vezes, já ví esse filme…
Caro Mestre;
A “DIREÇÃO DA EQUIPE” em um jogo também é um ponto ainda muito pouco estudado pelos treinadores brasileiros.
E isto vem em sequencia de uma época que gritar e gesticular era sinonimo de ser bom treinador.
Os treinadores que não tiveram a oportunidade de estudar, ou não se interessam por isto continuam atuando da mesma forma, ou seja, se impondo pela “FORÇA” de sua ira ou até mesmo porque conseguem o patrocinador e tem a “FORÇA” de poder admitir ou demitir quem quer que seja no elenco. A melhor forma de se ter “RESPEITO” dos atletas é pelo “CONHECIMENTO” . Na verdade; QUEM AVALIA O TRABALHO DO TREINADOR? No entanto também não podemos deixar de colocar que uma boa chamada aos brios de um jogador ou uma equipe tem sempre o seu lugar, não necessáriamente tem-se que ser “PROFESSORAL” todo o tempo.
Há também os que deixam a camiseta em um dia e no outro assumen a direção de equipe, e acham que é o suficiente.
Bem tentando dar algumas dicas, transcrevo um trecho de uma apostila do treinador LEON NAJNUDEL; “ORGANIZACIÓN DEL TRABAJO, EL LIDERAZGO DEL EQUIPO Y LA FORMA DE RELACIONARSE CON JUGADORES, ÁRBITROS Y DIRETIVOS.”
Diz ele, e nesta ordem:
“A-El domador
B-El dictador
C-El seductor
D-El crack”.
Deixo para reflexão daqueles que virão a ler os comentários. Uma última coisa: Ele diz ainda, que quanto mais conhecimento o treinador adquire, vai gualgando níveis, até ser “EL CRACK”.
Prezado Miguel,excelente enfoque o seu,
igual a muitos técnicos por esse nosso país, mas que poucas oportunidades têm de evoluir, estudar e divulgar suas experiências.Falta-nos intercâmbio e mais e maiores discussões, assim como canais de expressão à disposição dos mesmos.Em muito breve, com o meu site,destinarei um bom espaço para estas manifestações, que tanta falta faz entre nós.Se possivel Miguel, forneça o enderêço onde os técnicos interessados possam ter acesso à matéria proposta por você, e pode usar este espaço para divulgá-lo.Um abraço, Paulo Murilo.