DISCURSOS…
“Viemos para cá para vencer, por baixo, por 30 pontos. Pela estrutura e organização, a tradição e o apôio dado por Rio Claro, a vitória por larga margem era o obrigatória. Faltou qualidade, vontade de fazer melhor”. Com estas palavras o técnico de Rio Claro definiu, para ele, o que ocorreu no jogo com a equipe de Nova Iguaçu, mesmo optando em deixar seus dois melhores jogadores no banco, descansando-os para o jogo de quarta-feira, depois de uma viagem rodoviária de 12 horas. O técnico da casa, que no minuto final do jogo, estando 4 pontos atrás, pede um tempo e esclarece sua posição:”Querem ganhar o jogo? Então eu só peço que façam cestas.Vão lá e façam!”. Mas não disse como e de que forma. Os jogadores voltaram à quadra discutindo como fazê-las, e não conseguiram. Ao final, o repórter entrevistando o veterano pivô de Nova Iguaçu, pergunta:“A sua experiência faz com que atue como um técnico dentro da quadra?”. “A equipe é toda de jovens, exceto eu e o Marcionilio, e como a finalidade nesse ano é conhecer como se joga uma liga nacional, trago minha experiência, ajudando o técnico que também é estreante num campeonato de tal envergadura”. Mais explícito, impossível. Mas dois pequenos comentários antes da partida, feitos pelos dois técnicos, foram lapidares. O do Nova Iguaçu afirmou que o cansaço da equipe paulista seria determinante em sua produção técnica, o que realmente aconteceu. O técnico de Rio Claro afirmou que a sua equipe vivia na estrada, estando mais do que acostumados, e que esse fator não resultava em maus resultados, e se enganou redondamente.
Dois fatores pesaram determinantemente para a péssima atuação paulista. Primeiro o fato inconteste de ter viajado 12 horas chegando direto para o jogo. Em se tratando de homens altos, a posição de flexão forçada dos membros inferiores nas estreitas poltronas do ônibus provocam inchaços articulares, que impactados ao piso taqueado, e por isso, extremamente duro da quadra iguaçuana, aceleraram o processo de estafa, perfeitamente visível na perda dos rebotes, principalmente para o pivô adversário, um veterano de 36 anos.Uma coisa é jogar no piso flutuante da maioria dos ginásios paulistas, outro é ter de enfrentar o piso extra duro do ginásio de Nova Iguaçu. O técnico, em seu discurso de supremacia técnica, e com sua larga experiência em seleções nacionais, perdeu uma grande oportunidade de ficar calado, ante a evidência primária de que após 12 horas de viagem, sob um grau de umidade perto dos 95% e saltando e correndo em um piso duro, por pouco se livrou de um vexame, ainda mais quando esnobou o adversário deixando no banco seus dois melhores jogadores. O iniciante técnico em competições nacionais pouco falou, inclusive nos pedidos de tempo, mas foi mais lúcido que seu festejado adversário.
O jogo em si foi tétrico, e mais uma vez o piso duro provocou erros de dribles, principalmente por parte dos armadores, pois o ricochete nesse tipo de piso é muito mais acentuado do que no piso flutuante, ou assoalhado, além da sudorese intensa causada pelo alto nível de umidade, dificultando o controle da bola. E como as equipes atuavam com sistema ofensivo idêntico, que é o mesmo implantado e praticado em todo o país, venceria aquela que tivesse os melhores jogadores nas posições padronizadas pelo mesmo, e nesse ponto os paulistas eram superiores, mesmo inferiorizados fisicamente. O festival de arremessos de três pontos também se fez presente, assim como, e surpreendentemente, a ausência de enterradas também, testemunho evidente da auto-preservação presente nos jogadores perante o perigo em saltar num piso tão inadequado.
Em ambos os lados da quadra falou-se pouco e falou-se muito, atitudes que em nada ajudaram para a efetivação de um bom espetáculo desportivo, pobre na concepção e mais pobre ainda na direção das equipes. Temos muito ainda o que aprender, muito mesmo.