DISCURSOS…

“Viemos para cá para vencer, por baixo, por 30 pontos. Pela estrutura e organização, a tradição e o apôio dado por Rio Claro, a vitória por larga margem era o obrigatória. Faltou qualidade, vontade de fazer melhor”. Com estas palavras o técnico de Rio Claro definiu, para ele, o que ocorreu no jogo com a equipe de Nova Iguaçu, mesmo optando em deixar seus dois melhores jogadores no banco, descansando-os para o jogo de quarta-feira, depois de uma viagem rodoviária de 12 horas. O técnico da casa, que no minuto final do jogo, estando 4 pontos atrás, pede um tempo e esclarece sua posição:”Querem ganhar o jogo? Então eu só peço que façam cestas.Vão lá e façam!”. Mas não disse como e de que forma. Os jogadores voltaram à quadra discutindo como fazê-las, e não conseguiram. Ao final, o repórter entrevistando o veterano pivô de Nova Iguaçu, pergunta:“A sua experiência faz com que atue como um técnico dentro da quadra?”. “A equipe é toda de jovens, exceto eu e o Marcionilio, e como a finalidade nesse ano é conhecer como se joga uma liga nacional, trago minha experiência, ajudando o técnico que também é estreante num campeonato de tal envergadura”. Mais explícito, impossível. Mas dois pequenos comentários antes da partida, feitos pelos dois técnicos, foram lapidares. O do Nova Iguaçu afirmou que o cansaço da equipe paulista seria determinante em sua produção técnica, o que realmente aconteceu. O técnico de Rio Claro afirmou que a sua equipe vivia na estrada, estando mais do que acostumados, e que esse fator não resultava em maus resultados, e se enganou redondamente.
Dois fatores pesaram determinantemente para a péssima atuação paulista. Primeiro o fato inconteste de ter viajado 12 horas chegando direto para o jogo. Em se tratando de homens altos, a posição de flexão forçada dos membros inferiores nas estreitas poltronas do ônibus provocam inchaços articulares, que impactados ao piso taqueado, e por isso, extremamente duro da quadra iguaçuana, aceleraram o processo de estafa, perfeitamente visível na perda dos rebotes, principalmente para o pivô adversário, um veterano de 36 anos.Uma coisa é jogar no piso flutuante da maioria dos ginásios paulistas, outro é ter de enfrentar o piso extra duro do ginásio de Nova Iguaçu. O técnico, em seu discurso de supremacia técnica, e com sua larga experiência em seleções nacionais, perdeu uma grande oportunidade de ficar calado, ante a evidência primária de que após 12 horas de viagem, sob um grau de umidade perto dos 95% e saltando e correndo em um piso duro, por pouco se livrou de um vexame, ainda mais quando esnobou o adversário deixando no banco seus dois melhores jogadores. O iniciante técnico em competições nacionais pouco falou, inclusive nos pedidos de tempo, mas foi mais lúcido que seu festejado adversário.
O jogo em si foi tétrico, e mais uma vez o piso duro provocou erros de dribles, principalmente por parte dos armadores, pois o ricochete nesse tipo de piso é muito mais acentuado do que no piso flutuante, ou assoalhado, além da sudorese intensa causada pelo alto nível de umidade, dificultando o controle da bola. E como as equipes atuavam com sistema ofensivo idêntico, que é o mesmo implantado e praticado em todo o país, venceria aquela que tivesse os melhores jogadores nas posições padronizadas pelo mesmo, e nesse ponto os paulistas eram superiores, mesmo inferiorizados fisicamente. O festival de arremessos de três pontos também se fez presente, assim como, e surpreendentemente, a ausência de enterradas também, testemunho evidente da auto-preservação presente nos jogadores perante o perigo em saltar num piso tão inadequado.
Em ambos os lados da quadra falou-se pouco e falou-se muito, atitudes que em nada ajudaram para a efetivação de um bom espetáculo desportivo, pobre na concepção e mais pobre ainda na direção das equipes. Temos muito ainda o que aprender, muito mesmo.

E LA PRANCHETA VÀ…

Recentemente, o comentarista-técnico,ou técnico-comentarista(dúvida cruel…)do canal ESPN, declarou que o basquete jogado no mundo, principalmente na NBA, prima pela adoção de um sistema de jogo padronizado, e o fator que determinava a superioridade de uma equipe sobre outra se restringia à qualidade de determinados jogadores. Bem, para ele e todos os subservientes seguidores da cartilha pasteurizada instalada a peso de ouro pelo mundo, pode parecer “natural” tal concepção e aceitação. Mas, para quem vê e entende o jogo como um desafio evolutivo, inteligente e nacessariamente corajoso, claro que inaceitável. Os europeus, de algum tempo já dão mostras de que esse monopólio injusto e colonizador, deve ser contraposto, e até mesmo excluído de seus projetos futuros, vide a série de vitórias internacionais que vêm obtendo nos últimos 10 anos.

Infelizmente isso não ocorre em nosso país, escravo histórico de influências modais, e subserviência em interesses excusos. O reinado do sistema padronizado, que já se estende por 20 anos, ainda se manterá por longo tempo entre nós, graças a um punhado de “técnicos de elite” que se mantêm fiel ao modelo made NBA, alguns deles sócios proprietários de nossas seleções nacionais, e especializados em cursos de atualização pelos estados, onde perpetuam suas convicções padronizadas.

Agora mesmo, um técnico americano que se encontra entre nós a um ano, que não se expressa em nossa língua, e que já se candidatou à seleção brasileira, vem do alto de seus 10 anos como técnico, nos quais dirigiu três equipes do pior basquete europeu, o inglês, estagiou como assistente técnico por duas temporadas num dos piores times da NBA na época, e afirma ter treinado o grande jogador americano LeBron James para as Olimpíadas, assim como o Marquinhos para o draft desse ano, e que atualmente dirige a equipe do Guarujá, que apresenta uma performance técnica e de fundamentos com pobreza franciscana, promove uma clinica para técnicos nacionais, onde ensinará sistemas de ataque e defesa, culminando com uma apresentação de sua equipe em um jogo do campeonato paulista. E tudo isso sem cobranças de qualquer taxa, o que seria não só impossível, como inaceitável por qualquer candidato a receber informações de alta técnica, se o curso fosse dado em seu país, no qual ensinamentos de tal monta custam caro, muito caro. Mas em terra de cego quem…

O que vai se tornando bem claro é que o reinado da prancheta deslancha cada vez mais entre nós, e já está se diversificando, vide sua quase nova utilidade que foi apresentada no jogo de hoje entre Londrina e Joinvile, quando o técnico deste, enraivecido com a pressão de alguns torcedores ensaiou arremessá-la nos mesmos, sendo contido por seus jogadores ante o iminente desfecho. Que aliás conotaria alguma, mesmo reprovável, utilidade, a de servir como elemento dissuasório em potenciais agressores, já que, como elemento de técnica desportiva so tem mostrado quão lastimável e pobre tem sido sua influência ao nosso também lastimável momento basquetebolistico.

Quanto ao jogo, meu Deus, nunca tantos erros de fundamentos foram cometidos, de todos os tipos conhecidos, e até alguns desconhecidos, pelo menos por mim nestes anos todos de quadra. Se os mesmos tivessem sido anotados na prancheta, aí sim, ao ser lançada aos insurgentes torcedores, poderia ficar caracterizada uma tentativa de homicídio, pelo peso adquirido pela mesma ante o brutal numero de erros técnicos e fundamentais.

Mas como o testemunho do comentarista-técnico, ou técnico-comentarista(outra vez a dúvida…) esclareceu de uma vez por todas a nossa consentida padronização, avalizada pelos “técnicos de elite”, e agora sacramentada pelo americanocandidatoaselecionadornacional @ cbb.com, em sua salvadora e redentora clínica, nada temos a temer por nosso futuro em competições internacionais, a não ser por uma pequena e vital dúvida, VAMOS DEIXAR? Se consentirmos, só nos resta afirmar( com licença de Fellini), E LA PRANCHETA VÀ…

ALENTOS E DESALENTOS.

Foi um jogo surpreendente pelo campeonato paulista. Assis e Rio Claro apresentaram algumas boas e bem-vindas novidades, principalmente no aspecto de direção de equipe. Para começar, a utilização de dois armadores já vem se tornando rotina em algumas equipes, o que tem melhorado bastante o jogo, tanto na velocidade, como na precisão de passes e dribles. Mas o simples fato dessa utililização não impede que a grande maioria dos armadores ainda careçam de um domínio mais apurado dos fundamentos, que ainda empregam de forma errada e desequilibrada. No entanto, a continuação dessa tendência auferirá à estas equipes um substancial acréscimo de qualidade no futuro, bastando que se ofereça aos jogadores apreciáveis doses de treinamento nos fundamentos, independente de serem adultos ou de categorias de base.

Outro fator positivo, foi a corretíssima direção da equipe de Assis, onde seu técnico somente se utilizou da prancheta em seu último tempo pedido no final do jogo, e que seria perfeitamente dispensável àquela altura da partida. Orientou seus jogadores olhando-os nos olhos, com parcimoniosa divisão entre exigências e pouquíssimas estridências, o que levou os atletas a uma participação coletivista elogiável. Inovou seu estilo agressivo e ligado a esquemas de última hora grafados na prancheta, e por isso mesmo deu um salto qualitativo digno de nota. O basquete agradece, e espero que continue a provar que uma prancheta jamais substituirá uma equipe bem treinada.

No banco do adversário, um talentoso técnico ainda se deixa levar pela inversa magia de uma inefável prancheta, que mais confunde do que ajuda os jogadores, pois, na maioria das vezes refletem táticas de última hora, e que pouca ligação têm com o que foi realmente treinado durante a semana. O maior erro que um técnico pode cometer durante uma partida é pretender projetar, e desenhar, uma movimentação que pouco, ou nenhum treinamento tenha sido exaustivamente realizado. No calor do jogo, pouquíssimos jogadores têm tal capacidade de assimilação ante movimentos que não praticaram e treinaram. Esse é o grande mal das pranchetas, que prometem mais do que exeqüibilizam soluções. Na maioria das vezes enganam e levam a derrotas.

Num artigo publicado no site Rebote, o articulista Fábio Balassiano comenta a surpreendente campanha da equipe de São João da Boa Vista no campeonato paulista, como o resultado de uma preparação fortemente amparada pela prática dos fundamentos individuais e de defesa, ao contrário das maioria das demais equipes que se concentram mais nos sistemas táticos. É outra bela e saudável noticia, e que deveria ser estendida aos demais participantes, o que seria um passo decisivo para a melhoria do nosso basquetebol. Se todos os técnicos assim pensassem estaríamos em situação muito melhor daquela que hoje vivenciamos.

Nesse mesmo artigo, pude conhecer o grande astro Adonis, fotografado diante de um pôster profissionalmente produzido, retratando as bandeiras do Brasil e da Grécia, e que nos informa o grande erro cometido pela CBB ao convocá-lo para a seleção brasileira de cadetes, desconhecendo o fato de que o astro já havia optado pela cidadania grega. O astro em questão, de dois anos para cá vem sendo divulgado pela mídia, através um esquema promocional profissional, que de forma alguma pode ser considerado acessível ao bolso dos muitos praticantes do grande jogo, se transferiu para uma equipe grega, onde tem seus jogos e atuações relatadas em sites e blogs tupiniquins, tendo colocado seus préstimos de craque ao serviço daquele país que melhor o recompensasse, e que se tratando de um adolescente de 15 anos, torna-o vítima de um esquema absurdo e criminoso, perpetrado por quem, de forma alguma, percebe o enorme mal que faz a este jovem, desconhecendo o fato de não existirem, pelo menos para a ciência dos desportos, fatores que determinem capacitações de tal magnitude em atletas adolescentes. Profissionalizar nessa faixa etária é perigoso e contraproducente, e que rarissimamente aufere bons resultados.

Foi uma semana pródiga em novidades, e espero que aos poucos possamos evoluir e sair do fundo do poço em que nos metemos. A mudança dos dirigentes da entidade mater auxiliaria sobremaneira no soerguimento do basquetebol, mas isso é outra história.

ESCOLA, ESCola, Escola, escola…

A Rêde Globo, através seu Jornal Nacional, iniciou ontem uma série de reportagens sobre a importância da Educação Física no sistema escolar em vários países. O primeiro país focado foi a China, e hoje foi a vez dos Estados Unidos. Em ambos, o que não será muito diferente nas demais reportagens, a importância da escola, como fator irradiador de progresso para qualquer país que se julgue merecedor de um lugar destacado no concêrto das nações, principalmente para seu próprio povo. A Educação Física sempre estará associada a este progresso, assim como as Artes Plásticas, a Dança, o Teatro e a Música. Estas atividades estarão sempre , e indissolúvelmente ligadas às demais disciplinas de um sério curriculo escolar, como base da educação plena e incluída nos direitos constitucionais básicos dos cidadãos de qualquer nação séria, justa e igualitária. Seus professores são universalmente licenciados por Universidades, Faculdades de Educação, submetidos a rígidos padrões de comportamento em estágios probatórios supervisionados por professores experientes e dedicados. Assim também o é em nosso país, onde podemos encontrar cursos formadores de professores de alta qualidade, e onde a tradição de ensino é mantida.Se os poderes públicos subestimam e desvalorizam os formandos
com baixos salários e propositais ausências de políticas educacionais, não podemos negar que a base existe, porém não coexiste com tais políticas de depreciação do ensino público gratúito e de boa qualidade. Esse é o pungente drama da educação no país. As licenciaturas, que atendem a todas as disciplinas, inclusive a Educação Física, são a função básica de nossos cursos superiores qualificados pelo MEC, mas que sofreram um processo dicotômico na Educação Física com a implantação dos bacharelatos, porta de entrada para o desenvolvimento das atividades desportivas fora do âmbito escolar, dando início à formidável indústria do culto ao corpo, e que
originou os ambigüos e políticos conselhos de ed.física, os famigerados cref’s. Escudados em uma lei que foi implantada obscuramente, estão de algum tempo se entronizando no campo escolar,
fator altamente comprometedor e abusivo. Sua massa crítica e coercitiva de associados foi formada pelos inúmeros cursos de atualização realizados pelo país, “autorizando” todos aqueles que exerciam atividades de ensino desportivo, sem que tivessem formação acadêmica regular.
Milhares foram autorizados, voltando-se agora para os egressos das Escolas de Educação Fisica, e, inclusive se imisqüindo nos concursos públicos em autarquias municipais e estaduais, e já pretendem estabelecer provas de suficiência aos formandos do ensino superior. Esquecem, que não possuem autoridade moral e formal para tal pretenção, pois confrontarão os cursos superiores formadores dos licenciados em todas as disciplinas do curriculo educacional do país.
O Professor de Educação Física não é um profissional bacharel de educação física, ele é um Professor, que atende as exigências de uma licenciatura plena, passaporte inalienável ao magistério de todos os graus de ensino, como é regra geral em todas as nações sérias deste planeta, e que, em hipótese alguma deva se submeter a conselhos normativos à serviço da grande e poderosa indústria do culto ao corpo, seletiva e elitizada, totalmente à margem das necessidades da juventude brasileira. Os próximos programas evidenciarão o supremo papel da Educação Física no âmbito escolar, juntamente com as demais disciplinas, num mutirão qualitativo, que toda nação séria promove para o desenvolvimento de seus jovens. Mostrarão,sem dúvida, que a educação física é parte integrante da formação dos jovens, não só para forjar futuros campeões, mas, e principalmente, para ajudar decisivamente na preparação de cidadãos produtivos e sociabilizados. A Escola é o cerne do processo de cidadania, e não é lugar para orgãos e setores normativos fora de seu âmbito. Nos dois programas até agora apresentados não vimos o envolvimento de profissionais, e sim de Professores de Educação Física, dentro de suas escolas, e não em caras e exclusivas academias, nem sob a batuta de personal trainers, atividades endossadas e controladas pelos cref’s tupiniquins. Que fiquem por aí, e deixem a Escola, a sagrada Escola em paz.

INADVERTIDAMENTE…

“Caras, agora estamos f……., eles ganharam moral!”, esbraveja o técnico(?) de Araraquara. Do outro lado, um americano, empunhando a prancheta tão familiar e conhecida por nós, ao mesmo tempo em que a rabisca, pronuncia um discurso ininteligível para a equipe, mas com uma tradução simultânea medíocre por parte de um dos jogadores, que mais confunde do que esclarece a turma do Guarujá. Inadvertidamente tropecei neste pavoroso espetáculo de como não se deve jogar basquetebol. Mas, com uma boa dose de coragem fui até o final da transmissão, não acreditando, até agora, como foi possível assisti-la. E de repente, um dos jogadores da equipe da casa tenta um arremesso e a bola escapa de suas mãos, caindo aos seus pés, o que provocou um irado e violento soco do técnico isolando a bola para além da linha final, demonstrando todo o equilíbrio próprio a um líder, ausente de sua pessoa. E os pedidos de tempo se sucederam sem que as equipes, nem de longe, acompanhassem o raciocínio de seus formidáveis técnicos. Até o comentarista bonachão da TV começou a perder a paciência ante o espetáculo grotesco que se obrigava a comentar. A quantidade de arremessos de três pontos era espantosa, de todos os lados e distâncias, perpetrados por todos os jogadores (?) envolvidos na pelada de compadres de fim de semana. E de tal maneira se esmeravam na tarefa de “arma que eu chuto”, que me convenci de que os mesmos estavam cumprindo determinações de seus técnicos, pois se assim não fosse, estaria assistindo uma exibição explícita de como dois grupos de jogadores pouco, ou nenhum caso faziam pela presença de dois indivíduos travestidos de técnicos no recinto de jogo. No jargão de minha época, tratava-se de um autêntico e legítimo “barata voa” esportivo.E o mais espantoso, o americano, em uma entrevista no meio tempo, expunha sua pretensão de ser lembrado para dirigir a seleção brasileira, projetando com seriedade sua abalizada consideração de que se não houvesse um bom e avançado preparo, frente ao fato de que americanos, argentinos e canadenses, estariam na corrida pela vaga olímpica a seleção brasileira não se classificaria. Deixou no ar a suposição de que nossa única chance estaria presente em sua atuação à frente da mesma. Um absurdo, ainda mais quando via incrédulo a atuação pífia e ridícula de sua equipe na quadra. É isso que acontece quando se chega ao estágio que chegamos, ao ponto de merecermos que um aventureiro qualquer venha até nós ensinar o que não sabe. Caramba cara, mas ele foi assistente no Charlotte e no Cavaliers! E de tão bom veio parar no Guarujá. E o pior, nem o tradicional ”vamos lá” aprendeu em nossa língua, e parece nem um pouco interessado em fazê-lo, afinal, ele é americano, o máximo para nossos sonhos caipiras.

E para finalizar, o comentarista amigo de todo mundo, num velado, porém intrigante comentário conclama o quarteto de técnicos da seleção nacional, dos quais gosta muito, mas que os considera muito”focados” em si mesmos, imunes à criticas e opiniões, que se permitam ouvir outros técnicos, outras pessoas, mesmo que não gostem, para que haja uma abertura que melhore o nosso basquete. Talvez, o triste espetáculo que presenciava, o tenha induzido no entendimento que tudo aquilo que se desenrolava sob suas vistas, bem, ou mal representava a dura realidade por que passamos, muito, ou totalmente contrária á sua outrora e brilhante realidade de anos atrás, quando foi um lídimo representante do que tivemos de melhor em nossas quadras. Creio, que no seu íntimo de grande vencedor, como atleta e cidadão, uma grande dose de tristeza exista ante tanta mediocridade que presencia nos dias atuais, e que faria um bem enorme se a expusesse com veemência e decisão. Mas sinto que sua enorme amizade por todos o impeça de prestar esse inestimável serviço à modalidade. Sua indignação seria um sopro que nos ajudaria a emergir desse lodaçal de vaidades e egos criminosos. Ainda em tempo, apesar do técnico achar que estavam todos f………, Araraquara ganhou por 85×80. A juventude do país agradece penhorada os exemplos educativos que testemunharam ao vivo e à cores, e prometem aplicá-los ad perpetuum.

CAMINHOS À SEGUIR

http://www.nytimes.com/2006/11/04/sports/ncaafootball/04ncaa.html?_r=2&th=&adxnnl=1&oref=slogin&emc=th&adxnnlx=1162783056-3rUr1xQQiN7y5hyoSUyoCA

Esse endereço acima deveria ser acessado por todo aquele que queira entender o que venha a ser desporto de ponta, onde o atleta, apesar de algumas deficiências e limitações, recebe educação e segurança para exercer seu talento, para mais tarde, ao sobressair-se sobre os muitos milhares de concorrentes, ter alguma chance no mundo do esporte profissional. Mas, se não tiver a tão sonhada oportunidade, uma graduação universitária abrirá oportunidades futuras para que exerça uma profissão. O exemplo do futebol americano universitário, vale para as demais modalidades esportivas, pois fazem parte de um contexto tradicional nas universidades americanas.O exemplo mostrando um dia de vida do estudante-atleta, vem corroborar o fato de que ambas as atividades podem ser conciliadas, apesar das grandes dificuldades que se apresentam na rotina de um jovem atleta. Entre nós, tornou-se quase regra geral o entendimento de que as duas atividades não se coadunam, em nome de uma pseudo-especialização esportiva que exige tempo integral. No entanto, algumas parcerias com universidades particulares vem tentando demonstrar que algo pode ser mudado, e deveria ser mudado para o bem e o progresso do desporto nacional, mesmo que somente no âmbito do 3º grau, já que ainda demorará algumas décadas o mesmo entendimento para o 2º grau de escolaridade. Se nas grandes cidades do país, parcerias com as universidades, mesmo com clubes de tradição, e apoio logístico das municipalidades, e que envolvesse seriedade e exigências escolares dos atletas envolvidos com os programas acadêmicos e desportivos, daríamos um grande passo para o futuro desportivo do país, e serviria de exemplo para que projetos semelhantes pudessem ser desenvolvidos no 2º grau, ainda mais quando tais atividades desportivas, ao fazerem parte do currículo escolar, garantiriam sua continuidade, sem as exigências de títulos e alta performance. Sua função básica seria de formação, tanto do atleta, como do cidadão. No caso do Rio de Janeiro, bastaria que quatro ou cinco clubes de tradição no basquetebol, desenvolvessem parcerias com um igual número de universidades, das muitas existentes, obedecendo um critério de bolsas de estudo com rigoroso acompanhamento, e uma cota de manutenção que poderia vir do comércio ou indústria, para que déssemos um enorme salto qualitativo. Ademais, provar-se-ia o quanto seria possível aliar estudo e esporte, ocupando a faixa etária dos 18 aos 24 anos, na qual as formações acadêmica e desportiva mais se desenvolvem. Os grandes talentos, que serviriam as seleções nacionais, ao estarem de posse de um grau acadêmico e situados na faixa dos 25 anos, quando começa a maturação esportiva, estariam prontos para seguirem o caminho da alta performance, ou, se assim optarem, prontos para iniciarem sua caminhada no campo profissional que escolheram. Por outro lado, a renovação permanente estaria garantida, gerando o fator competitivo, salutar, e desejável, para a formação de nossas seleções. Jogadores educados e esclarecidos, substituiriam jogos virtuais, vestimentas e penteados tribais, leituras inconseqüentes, badalações contraproducentes e outras atividades fúteis, por objetivos que visassem seu futuro nas quadras ou fora delas, e com a garantia de que ao se afastarem do esporte competitivo, teriam um razoável suporte profissional para mantê-los condignamente na luta pela vida.

Mas para que isso fosse possível, seria de fundamental importância o estabelecimento de regras e conceitos a serem seguidos por todos os envolvidos no projeto, principalmente os técnicos, que teriam, de uma vez por todas, de se afastarem do terrível princípio que propugna o treinamento em tempo integral, como ponto de honra em suas lideranças. Sem dúvida nenhuma, um jogador envolvido em ambiente universitário, com todas as suas conotações sócio-politicas, além das exigências curriculares, dificilmente aceitariam certos ditames absolutistas, comuns a muitos técnicos. Quanto à formação de base, escolas e clubes, manteriam suas funções de a muito implantadas, mas que ainda carecem de um apoio mais objetivo e determinante, principalmente na manutenção de bons professores e técnicos junto à nossa ávida e talentosa juventude. Um programa que os patrocinassem, e associações regionais de técnicos, organizadas dentro das necessidades locais, e coordenadas por uma associação nacional, seriam as armas vitais para o soerguimento do basquete em nosso país. E o primeiro passo é exatamente aquele que estabeleceria a fundação e organização das associações estaduais, que em conjunto com as respectivas federações dariam partida à grande reforma pedagógica e técnico-tática, que nos alavancaria do fundo do poço em que nos encontramos. É trabalhoso? Sem dúvida nenhuma, mas é o único caminho viável para alcançarmos um patamar compatível com as nossas tradições vencedoras.

Sair do limbo em que nos encontramos é fator de sobrevivência para o basquete brasileiro, e que passa muito ao largo do verdadeiro inferno astral que uma maligna turma nos lançou nos últimos vinte anos. Já se faz urgente tal mudança, antes que nos lancem num caminho sem volta.

ANATOMIA DE UM ARREMESSO

Fala-se muito na precisão nos arremessos de lance-livre, no de dois pontos, e principalmente nos de três pontos. Desde que Mortimer( 1951 ) provou em seu estudo clássico que um desvio de 2 º no momento de um lançamento de lance-livre fazia com que a bola sequer tocasse no aro, que técnicos e estudiosos do mundo inteiro fizessem pesquisas sobre o controle de direção de um arremesso à cesta, mas quase sempre focados nos movimentos, estilos, alavancas, força e equilíbrio por parte do jogador que lançava. Muitos raros são os estudos que analisam o comportamento da bola em sua trajetória após serem aplicados em sua superfície as variáveis acima enumeradas, e quase sempre sob um simples exercício de observação visual, sem correlações associadas ao desempenho do arremessador.

Em 1992, Iracema, em seu trabalho “Estudo sobre um efetivo controle da direção do lançamento com uma das mãos no basquetebol”, defendeu a tese de que o correto direcionamento da bola em sua trajetória à cesta, dependia basicamente das ações exercidas pela mão impulsionadora em sua superfície, no momento final da soltura, fazendo com que o giro inverso da mesma em torno de um eixo diametral determinado ao final do movimento impulsionador, o mantivesse o mais paralelo possível ao nível do aro, e o mais eqüidistante possível dos bordos externos do mesmo.

Claro que os tipos de “pegas” efetuados das mais diversas maneiras pelos jogadores, influenciariam decisivamente no direcionamento final da bola. Dedos, como o indicador, médio e anular, sozinhos ou agrupados, ao ser(em) o(s) último(s) a tocar(em) na superfície da bola determinaria sua direção final, tendo a complementariedade dos dedos polegar e mínimo, responsáveis pelo paralelismo do eixo diametral da bola gerado ao final do arremesso, com o nível do aro. Como vemos, o ato de arremessar vai muito além do aspecto estético e dos alinhamentos nos diversos segmentos de alavancas do corpo e dos membros, assim como o “instinto matador” que muitos se auto-determinam na arte de arremessar.

Para exemplificar reproduzo uma foto publicada no site Rebote do jogador Marcelinho, excelente arremessador de três pontos, mas que poderia ser bem melhor se fossem corrigidos alguns aspectos em sua empunhadura, principalmente no momento final da soltura da bola.

Nas imagens 1 e 2 abaixo, observemos que o posicionamento final dos dedos polegar e mínimo provocam um segmento de reta ( cd ) desalinhado com o eixo diametral ( ab ), o que provocou uma aplicação de força na aceleração da bola mais intensa no dedo indicador, mesmo que os outros dedos se mantivessem em contato com a bola, fato dedutível pela maior largura do ponto( e )com relação ao ponto( f ), provocado pela distorção de uma das ranhuras na superfície da bola naquele ponto em que a aceleração se fez mais presente. Certamente o direcionamento desse arremesso sofreu desvios consideráveis, o que não ocorreria se ambos os segmentos de reta estivessem em plano paralelo, fazendo com que os dedos impulsionadores aplicassem uma força conjunta e bem distribuídana superfície da bola., o que exigiria um estudo de caso aprimorado, provocando algumas mudanças anatômicas na pega costumeira.

Infelizmente, essas correções não são levadas em considerações mais profundas e detalhadas, provocando o sempre crescente aparecimento de “gênios dos arremessos de três pontos”, incluindo-se até mesmo os pivôs, como vem acontecendo ultimamente.

A precariedade técnico-tática de nosso basquetebol, preso na camisa de força de um único sistema de jogo, adiam os tão necessários estudos dos fundamentos, já que a panacéia do sistema padronizado e globalizado parece que satisfaz tanto a técnicos, como jogadores, lançando para trás as verdadeiras bases do jogo, os fundamentos.O que hoje aqui foi exposto, é uma mínima, porém importante, faceta desse apaixonante, difícil e extraordinário jogo, o grande jogo, e que exige muita dedicação e estudo. Então minha gente, estudem.

Bibliografia:

Mortimer, Elizabeth M., “Basketball Shooting”, Research Quarterly,XXII May, 1951.

Iracema, Paulo M.A., “Estudo sobre um efetivo controle da direção do Lançamento com uma das mãos no basquetebol”, Dissertação apresentada Com vista à obtenção do grau de Doutor em Ciências do Desporto, na Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa, Em 1992.