ALENTOS E DESALENTOS.

Foi um jogo surpreendente pelo campeonato paulista. Assis e Rio Claro apresentaram algumas boas e bem-vindas novidades, principalmente no aspecto de direção de equipe. Para começar, a utilização de dois armadores já vem se tornando rotina em algumas equipes, o que tem melhorado bastante o jogo, tanto na velocidade, como na precisão de passes e dribles. Mas o simples fato dessa utililização não impede que a grande maioria dos armadores ainda careçam de um domínio mais apurado dos fundamentos, que ainda empregam de forma errada e desequilibrada. No entanto, a continuação dessa tendência auferirá à estas equipes um substancial acréscimo de qualidade no futuro, bastando que se ofereça aos jogadores apreciáveis doses de treinamento nos fundamentos, independente de serem adultos ou de categorias de base.

Outro fator positivo, foi a corretíssima direção da equipe de Assis, onde seu técnico somente se utilizou da prancheta em seu último tempo pedido no final do jogo, e que seria perfeitamente dispensável àquela altura da partida. Orientou seus jogadores olhando-os nos olhos, com parcimoniosa divisão entre exigências e pouquíssimas estridências, o que levou os atletas a uma participação coletivista elogiável. Inovou seu estilo agressivo e ligado a esquemas de última hora grafados na prancheta, e por isso mesmo deu um salto qualitativo digno de nota. O basquete agradece, e espero que continue a provar que uma prancheta jamais substituirá uma equipe bem treinada.

No banco do adversário, um talentoso técnico ainda se deixa levar pela inversa magia de uma inefável prancheta, que mais confunde do que ajuda os jogadores, pois, na maioria das vezes refletem táticas de última hora, e que pouca ligação têm com o que foi realmente treinado durante a semana. O maior erro que um técnico pode cometer durante uma partida é pretender projetar, e desenhar, uma movimentação que pouco, ou nenhum treinamento tenha sido exaustivamente realizado. No calor do jogo, pouquíssimos jogadores têm tal capacidade de assimilação ante movimentos que não praticaram e treinaram. Esse é o grande mal das pranchetas, que prometem mais do que exeqüibilizam soluções. Na maioria das vezes enganam e levam a derrotas.

Num artigo publicado no site Rebote, o articulista Fábio Balassiano comenta a surpreendente campanha da equipe de São João da Boa Vista no campeonato paulista, como o resultado de uma preparação fortemente amparada pela prática dos fundamentos individuais e de defesa, ao contrário das maioria das demais equipes que se concentram mais nos sistemas táticos. É outra bela e saudável noticia, e que deveria ser estendida aos demais participantes, o que seria um passo decisivo para a melhoria do nosso basquetebol. Se todos os técnicos assim pensassem estaríamos em situação muito melhor daquela que hoje vivenciamos.

Nesse mesmo artigo, pude conhecer o grande astro Adonis, fotografado diante de um pôster profissionalmente produzido, retratando as bandeiras do Brasil e da Grécia, e que nos informa o grande erro cometido pela CBB ao convocá-lo para a seleção brasileira de cadetes, desconhecendo o fato de que o astro já havia optado pela cidadania grega. O astro em questão, de dois anos para cá vem sendo divulgado pela mídia, através um esquema promocional profissional, que de forma alguma pode ser considerado acessível ao bolso dos muitos praticantes do grande jogo, se transferiu para uma equipe grega, onde tem seus jogos e atuações relatadas em sites e blogs tupiniquins, tendo colocado seus préstimos de craque ao serviço daquele país que melhor o recompensasse, e que se tratando de um adolescente de 15 anos, torna-o vítima de um esquema absurdo e criminoso, perpetrado por quem, de forma alguma, percebe o enorme mal que faz a este jovem, desconhecendo o fato de não existirem, pelo menos para a ciência dos desportos, fatores que determinem capacitações de tal magnitude em atletas adolescentes. Profissionalizar nessa faixa etária é perigoso e contraproducente, e que rarissimamente aufere bons resultados.

Foi uma semana pródiga em novidades, e espero que aos poucos possamos evoluir e sair do fundo do poço em que nos metemos. A mudança dos dirigentes da entidade mater auxiliaria sobremaneira no soerguimento do basquetebol, mas isso é outra história.



2 comentários

  1. Reny Simão 19.11.2006

    Caro Professor P. Murilo

    Mais uma vez considero muito precisas as observações desta sua última crônica. Aliás, procuro me conter e escrever-lhe apenas de vez em quando para não ficar muito repetitivo, pois acompanho tudo que a TV apresenta de basquete e acesso o seu site diariamente.

    A forma como os promotores deste jovem Adonis vem extrapolando na mídia, também sempre me incomodou pelo exagero. Podem, mesmo, estar fazendo muito mal ao garoto. Acredito ainda, que a sua convocação foi feita para “lavar as mãos” dos responsáveis da CBB, após terem sido criticados por não convocarem o Marquinhos, na última seleção adulta.

    Cordiais Saudações

    Reny Simão
    Uberlândia – MG

  2. Basquete Brasil 19.11.2006

    Prezado Reny,não se contenha para comentar qualquer das crônicas aqui publicadas, pois considero de grande importância para o momento do nosso basquete a livre e democrática discussão envolvendo o maior número possível de leitores.Quanto ao Adonis,ficou bem claro,desde o começo,que se tratava de um marqueting voltado à profissionalização prematura, onde uma convocação nacional valorizaria o “produto”.Nesse leilão venceram os gregos,numa situação constrangedora em se tratando de um adolescente.Lastimável sob todo e qualquer aspecto que se queira analizar.Um abraço, Paulo Murilo.

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