E LA PRANCHETA VÀ…

Recentemente, o comentarista-técnico,ou técnico-comentarista(dúvida cruel…)do canal ESPN, declarou que o basquete jogado no mundo, principalmente na NBA, prima pela adoção de um sistema de jogo padronizado, e o fator que determinava a superioridade de uma equipe sobre outra se restringia à qualidade de determinados jogadores. Bem, para ele e todos os subservientes seguidores da cartilha pasteurizada instalada a peso de ouro pelo mundo, pode parecer “natural” tal concepção e aceitação. Mas, para quem vê e entende o jogo como um desafio evolutivo, inteligente e nacessariamente corajoso, claro que inaceitável. Os europeus, de algum tempo já dão mostras de que esse monopólio injusto e colonizador, deve ser contraposto, e até mesmo excluído de seus projetos futuros, vide a série de vitórias internacionais que vêm obtendo nos últimos 10 anos.

Infelizmente isso não ocorre em nosso país, escravo histórico de influências modais, e subserviência em interesses excusos. O reinado do sistema padronizado, que já se estende por 20 anos, ainda se manterá por longo tempo entre nós, graças a um punhado de “técnicos de elite” que se mantêm fiel ao modelo made NBA, alguns deles sócios proprietários de nossas seleções nacionais, e especializados em cursos de atualização pelos estados, onde perpetuam suas convicções padronizadas.

Agora mesmo, um técnico americano que se encontra entre nós a um ano, que não se expressa em nossa língua, e que já se candidatou à seleção brasileira, vem do alto de seus 10 anos como técnico, nos quais dirigiu três equipes do pior basquete europeu, o inglês, estagiou como assistente técnico por duas temporadas num dos piores times da NBA na época, e afirma ter treinado o grande jogador americano LeBron James para as Olimpíadas, assim como o Marquinhos para o draft desse ano, e que atualmente dirige a equipe do Guarujá, que apresenta uma performance técnica e de fundamentos com pobreza franciscana, promove uma clinica para técnicos nacionais, onde ensinará sistemas de ataque e defesa, culminando com uma apresentação de sua equipe em um jogo do campeonato paulista. E tudo isso sem cobranças de qualquer taxa, o que seria não só impossível, como inaceitável por qualquer candidato a receber informações de alta técnica, se o curso fosse dado em seu país, no qual ensinamentos de tal monta custam caro, muito caro. Mas em terra de cego quem…

O que vai se tornando bem claro é que o reinado da prancheta deslancha cada vez mais entre nós, e já está se diversificando, vide sua quase nova utilidade que foi apresentada no jogo de hoje entre Londrina e Joinvile, quando o técnico deste, enraivecido com a pressão de alguns torcedores ensaiou arremessá-la nos mesmos, sendo contido por seus jogadores ante o iminente desfecho. Que aliás conotaria alguma, mesmo reprovável, utilidade, a de servir como elemento dissuasório em potenciais agressores, já que, como elemento de técnica desportiva so tem mostrado quão lastimável e pobre tem sido sua influência ao nosso também lastimável momento basquetebolistico.

Quanto ao jogo, meu Deus, nunca tantos erros de fundamentos foram cometidos, de todos os tipos conhecidos, e até alguns desconhecidos, pelo menos por mim nestes anos todos de quadra. Se os mesmos tivessem sido anotados na prancheta, aí sim, ao ser lançada aos insurgentes torcedores, poderia ficar caracterizada uma tentativa de homicídio, pelo peso adquirido pela mesma ante o brutal numero de erros técnicos e fundamentais.

Mas como o testemunho do comentarista-técnico, ou técnico-comentarista(outra vez a dúvida…) esclareceu de uma vez por todas a nossa consentida padronização, avalizada pelos “técnicos de elite”, e agora sacramentada pelo americanocandidatoaselecionadornacional @ cbb.com, em sua salvadora e redentora clínica, nada temos a temer por nosso futuro em competições internacionais, a não ser por uma pequena e vital dúvida, VAMOS DEIXAR? Se consentirmos, só nos resta afirmar( com licença de Fellini), E LA PRANCHETA VÀ…



2 comentários

  1. Henrique Lima 01.12.2006

    Caro Professor,
    sou Henrique Lima Gonçalves,
    leitor do senhor sempre que possivel.

    Estudo Educação Física na Universidade Federal de Viçosa.

    Basquete é o esporte que mais gosto de ver,ao lado do futebol,porém queria viver de basquete.

    Ser técnico seria até uma forma nobre de viver.
    Ensinar o jogo,as regras,os fundamentos.

    E os fundamentos,novamente professor.

    É o mais importante.Afinal,o jogo é somente a repetição dos mesmos ?!

    Faz quase dois anos que estou na equipe universitária da UFV(pausa neste ponto Professor,sim existe uma equipe universitária aqui).

    Nestes dois anos ja disputei alguns torneios,de nivel estudual.
    Ainda nao tenho a minha prancheta.
    Prefiro usar os treinos para que se precisar usarmos jogadas em momentos propicios,os jogadores ja saibam.

    E são poucas jogadas.Não um caminhao delas.

    Se for para usa-la como ameaças aos ateltas,é melhor nem ter.

    E volto a minha duvida,ainda tem como viver como técnico em um país que o basquetebol respira por aparelhos ?

    Aqui em Minas Gerais terá em dezembro clinicas de graça para aperfeiçoamento de técnicos.
    Pensei que seria uma boa ir.

    Fui ao Congresso Mundial de Basquetebol em Sao Paulo.
    Foi uma boa experiencia.
    Mesmo achando o melhor palestrante de todos um professor frances,que é preparador físico da seleção chinesa de Basquetebol e que tem uma proposta,que acredite …
    é reijeitada no Brasil.

    Sinal da nova colonização ?!?!

    Abraçao Professor,desculpe o texto longo.

    email: thierryhenry1308@hotmail.com

  2. Basquete Brasil 02.12.2006

    Caro Henrique,grandes dúvidas as suas,e que de certa forma espelham às de todos aqueles que desejam enveredar pelo caminho da técnica desportiva,no basquete como é sua vocação.São caminhos difíceis em nosso injusto país, mas, como no seu caso, por residir no interior, por mais incrível que pareça,as oportunidades tenderão a ser melhores no futuro.O futebol esmagou as demais modalidades nos grandes centros, e não é coincidência o fato dos demais desportos terem maior cobertura e apôio em cidades interioranas, onde a participação comunitária se faz mais presente em seus cotidianos.Insista em seus sonhos, estude e procure aperfeiçoamento junto aos bons,estejam onde estiverem,leia,
    produza e não se afaste deles.Acredito firmemente que o incentivo à educação,e por conseguinte,aos desportos,serão prioritários daqui para diante, por necessidade de sobrevivência nacional,inclusive dos políticos,que apoiarão as políticas educacionais,não que as considerem básicas,mas que os manterão vivos,e,infelizmente atuantes.Quem viver verá.Prepare-se para esse salto,sonhe mais ainda,e nunca deixe de se indignar quando necessário.Bola pra cesta! Um abraço,Paulo Murilo.

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