REALIDADE CONSTRANGEDORA
Recebo o telefonema de um técnico amigo de longa data, e que hoje se dedica à administração de uma grande equipe que disputa o Campeonato Nacional. A conversa aborda a temática de sempre, que vai da nossa triste realidade aos esforços que uns poucos insistem na tentativa de soerguer a modalidade. Lá pelas tantas, nosso amigo descreve o esforço que seu técnico, da novíssima geração que ai está, despende no planejamento da equipe, nos acurados treinamentos, no estudo de soluções para o enfrentamento desgastante de jogos em diversos locais do país, e que sistematicamente é ignorado pelos jogadores de sua equipe, quando exigidos no cumprimento das táticas previamente treinadas e acordadas.
Jogadores que integraram e integram a seleção nacional se dão ao direito de ignorarem o estabelecido, tomando em mãos decisões que deveriam, por direito, serem tomadas pelo técnico, numa verdadeira prática de lesa direitos. Esse é o preço que a grande maioria dos técnicos tem pago pela adoção insensata do sistema único de jogo.A dedução atinge uma obviedade assustadora, pois, se todos, jogadores e técnicos, comungam os mesmos princípios e regras do jogo a ser desenvolvido, nada impede os jogadores de se acharem merecedores de exercerem o mando das decisões,já que calejados pelas repetições sistemáticas das mesmas,ano após ano,
independendo que técnico esteja no comando. É o preço que os mesmos pagam pela mesmice de suas orientações e pseudo-lideranças. É uma realidade que tem se avultado de forma tão contundente, que nos pedidos de tempo alguns jogadores falam e orientam mais do que alguns técnicos de elite. Claro, que se existissem opções técnicas como marca pessoal dos técnicos, muito desse nefasto processo de interferência seria anulado. No entanto, como num clube do bolinha, onde todos, técnicos, jogadores, dirigentes, e até jornalistas, estão engajados sob a égide de um basquete globalizado e prêt-à-porter, onde a fatia do bolo é dividida de acordo com o status de cada participante, manda mais quem cobra e ganha mais, quase sempre os jogadores, antepondo-se aos meios salários que muitos técnicos admitem receber. E aí de algum deles se resistir ao processo, pois entre um “jogador vencedor” e um técnico de ocasião, o dirigente nem pestaneja, sobra quem?
Recentemente assistia eu um dos jogos do campeonato em uma Tv portátil na varanda, quando nos segundos finais do jogo o técnico da equipe que estava atrás no marcador por dois pontos pede um tempo com a posse de bola. Sentou-se impoluto, empunhou a prancheta e iniciou a construção da jogada do jogo, aquela que levaria a equipe à vitória consagradora. Ávido para testemunhar em tela de 29 polegadas tão formidável e transcendental jogada, corri para a sala, troquei o canal onde minha filha assistia um filme, claro, sem antes me desculpar pela intromissão ( ela já está acostumada com os rompantes basquetebolísticos do pai), e assisti lívido, mas não decepcionado, a uma demonstração do que são capazes jogadores em não levar, nem em pensamento, à serio, determinações de seu técnico. Fizeram o que quiseram e perderam o jogo, assim como perderiam se tivessem seguido os rabiscos de seu técnico na prancheta. Uma prova inequívoca de insensatez coletiva, que é aceita e tolerada como norma comum, e que vem destruindo os poucos alicerces dos que restaram do nosso brilhante e saudoso basquetebol, dos grandes e inteligentes técnicos, dos grandes e verdadeiramente jogadores deste país.
Voltei ao canal original, onde ainda pude ver as cenas finais do filme em cartaz, A gaiola das loucas. Tudo à ver.
Caro professor, o relato do dirigente é estarrecedor. Primeiro pq ele mesmo deveria tomar uma atitude, segundo pela passividade do treinador e terceiro pela pusilanimidade dos jogadores.
E meu caro Idevan,você ainda não viu nada,como por exemplo,a trinca de seleção brasileira que ficou conhecida como “a derrubadora de técnicos”.Nesse ambiente deturpado, o que comanda é o money,que por ser contado é disputado a tapa.A reserva técnica guardada nos cofres,e que garante a continuidade do que ai está é outra história, que somente o grego melhor que um presente poderia elucidar,mas… Um abraço,Paulo Murilo.