MOMENTOS MÁGICOS

Tenho de confessar não ter mais o menor resquício de paciência para assistir, sequer comentar os jogos desse desértico, de público e de técnica, Campeonato Nacional. Mesmo assim, encarei o jogo de Franca e Flamengo, com até razoável público, bom ginásio e boa arbitragem. O que se viu e testemunhei não difere muito das análises dos jogos em que a equipe de Franca atuou, ou seja, com três habilidosos armadores, um ala rejuvenescido e veloz, e um pivô recuperado de contusão, poucas chances tiveram os limitados jogadores do Flamengo para o enfrentamento, ainda mais com a decisiva ausência de seu muito bom armador, Fred. Franca segue inovando com seu jogo aberto e instigante, e que se tornará melhor quando puder contar com seu outro pivô, o Estevan.

Mas o que me chamou mais a atenção foi a participação, nada inédita do comentarista da Tv, principalmente quando afirmou com todas as letras que”os momentos mágicos do basquete eram o toco e a enterrada”, e que “os analistas e cronistas deveriam dar realce aos pontos positivos do jogo, e não os negativos”.

Pelo que sabemos, e é de conhecimento público, o comentarista em questão é professor de basquete em vários cursos superiores, e técnico em compasso de espera, sendo reconhecido como um bom profissional em ambas as funções. Exatamente por estas qualificações, e por ter em mãos um instrumento poderoso na formação de opiniões públicas, o que sempre referencia ao lembrar o que transmite a seus alunos e atletas, é que fico em dúvida ante o teor de suas afirmativas. Sempre acreditei que os grandes momentos mágicos do basquetebol fossem todos aqueles que esprimissem a excelência da utilização inteligente e altamente técnica dos fundamentos do jogo, assim como a precisão e eficiência dos sistemas ofensivos e defensivos, dos contra-ataques magistrais, das improvisações de quem sabe o que faz no seio de suas equipes. Mas pela opinião do comentarista, restringindo os tocos e as enterradas como os momentos mágicos do jogo, e a influência capital que suas opiniões despertam nos jovens tele-ouvintes

podemos avaliar quais os movimentos que os mesmos conotarão como os de real valor, principalmente para “o delírio das torcidas”.

Outrossim, me preocupa mais sua opinião quanto aos comentários negativos expressos pela maioria da crônica blogueira em detrimento dos fatores positivos ocorridos nos jogos. E aí cabe uma pergunta ao preclaro jornalista- Quais fatores positivos? Enterradas e tocos? Cornuópia de arremessos de três? Perdas bisonhas de bola nos dribles e nas fintas? Posturas comprometedoras nos posicionamentos defensivos? Total ausência de conhecimento do que venha a ser um simples e corriqueiro corta-luz? Andadas e conduções de bola absolutamente primárias? Rabiscos desconexos em prosaicas pranchetas? Pedidos de tempo eivados de palavrões e expressões chulas? Pressões descabidas em arbitragens? Embates jogador versus técnico de amiúde constância? Embates técnico versus técnico em um ambiente no qual o cavalheirismo e os exemplos deveriam coexistir? Enfim? Que aspectos positivos deveriam ser ressaltados pelos cronistas? Há, descobri um, a grande e infindável esperança que torcedores, bons técnicos e alguns desportistas em funções diretivas, têm em dias melhores, aqueles que o amor pelo basquete não permitirão que morram jamais. Amém.



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