LEMBRANDO O MELHOR
Sintonizo a TV para o jogo Assis e Araraquara, que como todos os outros que acontecem em nosso país nos oferecem um espetáculo padronizado e previsível. Mas, no primeiro pedido de tempo feito por um dos técnicos, ouve-se a voz do comentarista Wlamir Marques, e como que impulsionado por uma potente mola vou aos controles da TV e mudo de canal, pois naquele momento se iniciava o programa de entrevistas do Juca Kfuri na ESPN, justamente com o Wlamir, e que eu havia indesculpavelmente esquecido. E valeu à pena, pois mesmo com uma pequena duração, dada à importância do entrevistado, algumas jóias puderam ser pinçadas, à começar pelo testemunho do grande jogador de que na sua época(e que época!) não existia essa classificação de jogador 1, 2, 3, 4 e 5, como são rotulados hoje em dia. “Todos nós fazíamos de tudo, e a única posição com certa especificidade era a de pivô”. A uma pergunta sobre os técnicos daquela época, comparando-os com os de hoje, respondeu-“ A grande diferença está no aspecto profissional que impera nos dias atuais, o que retira das mãos dos técnicos os longos períodos de treinamento que antecedem os grandes torneios internacionais, já que os atletas convocados têm de cumprir suas agendas com os clubes. Afora este pormenor, não vejo grandes diferenças”. Instado pelo entrevistador à falar sobre sua atuação como jogador decisivo e genial que foi, mencionou como exemplo o grande jogo contra o Real Madrid em 74, quando atuava pelo Corinthians, como tendo sido a maior partida acontecida em território brasileiro, com o placard final de 118 a 114 para sua equipe, numa época onde ainda não tinha sido implantado os arremessos de três pontos. Nesse jogo marcou 53 pontos. Mencionou ainda a beleza do basquetebol que era jogado, com os contra-ataques em linha de três, as pontes aéreas entre ele e Ubiratan, e a característica mais marcante, a do jogo aéreo, originado pela grande impulsão dos jogadores aliada à grande velocidade de que eram possuídos. Ou seja, a grande e hoje esquecida identidade do basquete brasileiro, bicampeão mundial e duas vezes medalhista olímpico. Infelizmente, apesar de mencionado, não comentou o célebre jogo contra o St,Joseph College, dirigido pelo célebre Jack Ramsey, que invicto por um giro pelas Américas, perdeu para sua equipe em uma de suas maiores atuações como jogador. Deve-se mencionar, que Jack Ramsey se notabilizou no basquete universitário como o introdutor de sistemas defensivos revolucionários, como o principio de Defesa Linha da Bola, e autor de um dos dez maiores livros de fundamentos em todos os tempos. Foi o primeiro técnico vindo dos Colleges a assumir uma equipe da NBA, os Blazers. Mas no jogo contra o Corinthians, não encontrou meios e recursos para se defender de atacantes como Wlamir, Amauri, Rosa Branca, Ubiratan, entre tantos outros.
O grande jogador ainda fez um pequeno relato de sua vida profissional, que sucedeu ao seu tempo de atleta, quando cursou Educação Física,tendo trabalhado em escolas, e também de sua função de técnico, que só abandonou por problemas de saúde, mas que ainda hoje leciona basquetebol em uma Faculdade de Educação Física. Teve tempo ainda de cursar jornalismo áudio-visual, o que o qualificou para a carreira que hoje exerce, a de comentarista. Uma trajetória perfeita, segmentada pela experiência, e fundamentada no estudo e pelo seu grande carisma. Pena que toda essa bagagem e reconhecimento público restrinja um pouco o teor de seus comentários, como se temesse ferir suscetibilidades ante o rigor do que realmente ocorre nas quadras, mundo este que ninguém conhece melhor do que ele nesse país. Se seus mais diretos comentários seguissem o extremo rigor de seu comportamento técnico enquanto jogador, seria imbatível, e forçaria poderosas reflexões daqueles que hoje dirigem nossas equipes. A experiência válida é a experiência vivida, e essa ele tem como ninguém. Fiquei emocionado com a entrevista, e advogo para mim, que desculpe o Juca Kfuri, também o título de maior fã deste formidável jogador, professor e técnico, Wlamir Marques
Depois da entrevista não tive a menor vontade de retornar ao jogo que via no inicio, e sequer sei o placard final. Me desculpem, mas aprecio acima de qualquer coisa as grandes lições que o basquete nos proporciona, principalmente vindo de quem realmente conhece.
Ola Professor, Tudo bem? Concordo com a sua nostalgia de um basquetebol de outrora magnifico! Infelizmente nao tive a oportunidade de ver o Wlamir, Rosa Branca, Bira, etc jogando mas deve ter sido fantastico! Eu quando infanto tive a oportunidade de ir ao maracanazinho ou assistir pela televisao as selecoes do Brasil a comecar com Adilson, Menon, Helio Rubens, Marquinhos e depois Marcel, Oscar, Gerson, etc. participando de torneios Internacionais. Ainda me lembro como se fosse hoje. Como garoto e apaixonado pelo esporte estar ali nas cadeiras do Maracanazinho era um Sonho – assistir com orgulho os jogos do Brasil contra selecoes brilhantes como as da Russia (Belov), Iugoslavia (Kikanovic, Kosic, Dalipagic e cia.), Mexico (Guerrero), Argentina, Uruguai, e universidades americanas como Marquette, etc. era algo de outro mundo! Que maravilha! Gracas a Deus tive a oportunidade de viver tal momento – fico triste que os garotos de hoje nao tenham tal oportunidade e os idolos brasileiros de outrora para se espelhar! O nosso basquetebol perdeu a identidade! E uma pena!
Caro, professor. Fantástica a sua crônica (não posso chamar de post). Loas ao jornalista Juca Kfouri que ajudou a nos lembrar que, sim, temos tradição no basquete.
Caro Walter(por favor,assine o comentário que sei ser seu,senão serei vitima de outros,não tão amistosos,protegidos pelo anonimato,obrigado),tabém lastimo profundamente a nossa perda de identidade desportiva,mas é o preço que pagamos pela triste omissão aos verdadeiros objetivos que deveriamos estar trilhando pelo bem do basquetebol.Mas jamais perderei as esperanças de que dias melhores estarão por vir,aguardando-os com persistente e coerente luta, day by day.Um abraço,
Paulo Murilo.
Prezado Idevan,obrigado pelo amável comentário, lembrando sempre que não se omite o passado impunemente.A nossa realidade é a prova disso.Um abraço,
Paulo Murilo.