DRIBLANDO NO PASSADO.
Nos últimos anos, desde a implantação do sistema único de ataque em nosso país, baseado no indefectível passing game, que nossos armadores vêm percorrendo uma via-crúcis digna dos dramalhões televisivos mexicanos. A cada reposição de bola em seu campo defensivo, recebendo o passe de um de seus pivôs, o que desde já se revela uma falha grotesca,pois pesadões que são se desgastam sem necessidade para ultrapassarem o veloz armador, em tempo de se posicionar no ataque. Este, no trajeto para o campo ofensivo, já perdeu uns 2 segundos freando suas passadas para permitir a ultrapassagem de seu colega bem mais lento. Ultrapassando a linha central, trava sua caminhada para sinalizar qual coreografia, digo, qual jogada pretende iniciar, e lá se vão mais uns 3 segundos, que somados aos 6-7 no campo defensivo e mais 2 que perdeu na ultrapassagem do pivô, completam 10-11 segundos dos 24 que sua equipe tem direito para o ataque. E nesse estágio ofensivo se inicia o mais perverso capítulo de incúria tático–ofensiva por que temos passado nos últimos anos. Duas são as atitudes do infausto armador, sozinho com sua parca habilidade dribladora, a saber: A- Na ânsia de ver seus atacantes perfeitamente posicionados, como numa formação de parada militar, dribla no mesmo lugar por uns 3-4, e até mais segundos, muitas vezes exercendo o drible mais absurdo de que temos notícia, aquele de bater repetidamente a bola entre as pernas, no mesmo lugar,até que seu colega pesadão saia do garrafão, que é seu devido lugar, e venha para fora do perímetro para promover um arremedo de bloqueio, geralmente faltoso, no intuito de dar segmento à coreografia exigida pelas pranchetas.A essa altura já temos 15-16 segundos de um balé de segunda categoria, cujo segmento é o de um passe lateral, seguido de outro, e mais outro, numa ciranda que leva a equipe ao limiar dos 24 segundos, e aí, aí tome de arremessos desequilibrados e distantes. B- Nosso armador, dá as costas para o marcador na tentativa de criar um tempo necessário para a competente armação de sua equipe, e após constatar que muito tempo já foi perdido, executa um passe lateral e vai se esconder atrás da última linha defensiva do adversário, na esperança de surgir num repente para o salvador e altamente especializado “chute de três”. Quando sua equipe escala um outro armador para lhe fazer companhia, a qualidade dos passes, e por que não, dos dribles melhoram muito, mas pouco somam de eficiência ante a obrigatoriedade das tramas coreográficas a que têm de se sujeitarem. E segue o jogo, como seguem os sinais de mãos, de cabeça, tirando do mesmo a necessária concentração na arte de superar e ultrapassar seu marcador. Mas, pecado dos pecados, quando consegue uma ultrapassagem, como se tocado por um freio invisível, retrocede à sua posição, dando mais uma chance ao defensor que havia sido vencido, para rearmar a jogada obrigatória. E como o cronômetro não retrocede como ele, lá se vão mais e mais preciosos segundos dentre os 24 previstos pela regra. E tudo isso motivado por um sistema de ataque absurdo, por irreal, já que planejado para um sistema de jogo que privilegia o 1 x 1, pois as coberturas e flutuações são bastante restritas pela NBA. Dificilmente se observa a quebra dos 24 segundos nos jogos daquela liga, exatamente pela proibição das coberturas, mesmo em marcações por zona. E nós aqui, macaqueando servilmente, como bons e apaixonados colonos, o que de pior poderia ser copiado daquele magnífico basquetebol, sim, porque existem ótimos exemplos no basquete americano, à começar por sua excelente escola de dribladores, cujo ápice foi um jogador a muito falecido, Pete Maravich, e que o blog Cestas de Ontem(www.cestasdeontem.blogspot.com), do jornalista Rodrigo Alves publicou um artigo e vídeos definitivos sobre a arte do drible, simples, objetivo, sofisticado, e totalmente voltado à equipe, numa época sem arremessos de três pontos, mas empregado no que poderemos determinar como a perfeita maneira de se jogar basquetebol com arte e com a mais pura e decisiva técnica. E lá se vão 30 anos, numa época em que nós também sabíamos jogar, inovar e vencer. Vão até o blog, e se deliciem com quem realmente soube jogar para sempre. Amém.