DIA DA EDUCAÇÃO…DE QUEM?
Dia da Educação, lançamento do PDE para o setor pelo Presidente do país, entrevistas dadas por ministros e especialistas sobre o avançado e mirabolante plano de ação para os próximos dez anos, artigos, colunas e muitas paginas de jornais e preciosos minutos na TV, e muita, muita discussão. Mas, o que de importância realmente representa tanta exposição a um tema de tal relevância para qualquer nação que se pretenda importante no cenário internacional? Para nós, muito pouco, ou quase nada. Quando uma das vozes relevantes é a de um antigo ministro que desfez de seus pares como velhos retrógrados, e que deveriam ser excluídos das universidades federais, não fosse ele próprio um velho politiqueiro e profundamente ligado a interesses contrários às mesmas, assim como de outros próceres do atual governo, que sugerem aumento de verbas para aquelas universidades que admitirem decisivas e contundentes intromissões em suas auto-gestões, numa manobra de cunho chantagista inadmissível, devemos por as barbas de molho pelo que advirá de tal projeto, não só pelo terceiro grau, mas principalmente pela base do sistema educacional como um todo.
O fator primordial e prioritário para o sucesso de tal projeto, fatalmente teria de passar pelo ponto crucial, a remuneração condigna do grupamento que é responsável pelo mesmo, os professores. Nos quatro últimos anos que lecionei na FE da UFRJ, quando tive turmas da Pedagogia, além das que sempre tive da complementação pedagógica dos alunos da Educação Física, pude atestar que a grande maioria do alunado era formada de jovens que não conseguiram ingresso nos cursos tradicionais, como medicina, direito, ciências exatas e da natureza, economia, comunicação, entre muitas outras, ou seja, a pedagogia era o último bastião no cenário universitário para a maioria deles. Obviamente, o fator vocacional passava bem longe dessa realidade, o que de saída comprometia a necessária e estratégica qualificação para o magistério. Muitos cursos de complementação pedagógica, principalmente nas universidades particulares se viram repletos de profissionais liberais mal sucedidos, que com tal qualificação se propunham complementar salários como professores de segundo grau, numa manifesta tendência do quanto decaiu o ensino no país. E mesmo assim, milhares de alunos se vêem sem aulas por falta até mesmo desse maléfico tipo de profissional, principalmente nas ciências exatas.
Três décadas atrás, fui ao Palácio Capanema para falar com um amigo, que na ocasião fazia parte da equipe do Ministro da Educação. Fui convidado para na condição de ouvinte participar de uma reunião de trabalho, com a presença do Ministro. Ao termino da mesma, vendo-me calado e distante o assessor meu amigo pediu-me uma sugestão sobre o assunto debatido-a formação e a qualificação do professor-. Disse somente que só haveria desenvolvimento e qualificação do professor no país, no dia que houvesse um piso salarial comum a todos, da escola primaria até a universidade, e que a melhoria salarial estivesse ligada aos cursos pós-graduados que os mesmos fizessem em suas carreiras, qualificando-os academicamente. No atual PDE falam em piso salarial de 850 reais, quantia absurda em se tratando de remunerar a reserva intelectual da nação, aquela que pretende se lançar na vanguarda da ciência mundial. É de morrer de rir, para não chorar. Continuaremos a ter as salas de complementação pedagógica entulhada de profissionais liberais… Bem, já falei sobre isso.
E ao término dessa semana monumental, recebo um e-mail do amigo Luis dos Santos, professor e médico dos melhores, mas, que me perdoe ele, tenho de transcrevê-lo pela importância do assunto, a formação do professor de Educação Física, ao qual dediquei 40 anos de minha vida, defendendo sempre a sua reinclusão na área de ciências da educação, e não da área da saúde, onde alguns a introduziram com a desculpa de que a mesma se beneficiaria de maior status e conseqüente progresso profissional, quando no fundo, o projeto, bem sucedido aliás, era o de canalizar tal força de trabalho para a grande industria do culto ao corpo, magistralmente estabelecida em nosso país, e nas mãos de uma casta de poderosos empresários, garantidos por um CREF que respalda toda a iniciativa.
No Globo de 25/04/07, na reportagem sobre o PED, uma tirinha lateral da pagina enumera o que prevê o plano. Na penúltima inferência- Mais Educação- descreve: “Ações conjuntas dos Ministérios da Educação, Esporte, Cultura e Desenvolvimento Social para estimular a oferta de atividades escolares no contra turno das aulas. O governo vai financiar a construção de quadras esportivas nas escolas”. Ou seja, a integra do processo não pertence ao ministério de direito, e sim a um “pool” de interesses políticos, onde as verbas podem, e sabemos que serão, pulverizadas entre os diversos interesses partidários. Em um só ministério seria praticamente impossível, com verbas repassadas às escolas. Não foi atoa que o novo Secretário de Esportes é um estudante de medicina e ex-líder da UNE, e claro, do PCdoB. Este deveria ser, num país sério, um cargo técnico.
Eis o e-mail do amigo Luis:
Pseudo-Medicina ou Medicalização da Educação Física.
Na década de 60, dois Educadores, formados em Licenciatura de Educação Física, foram terminantemente contra a Educação Física ser incluída na área de Saúde: Paulo Murilo Alves Iracema e Mário Ribeiro Cantarino Filho.
Tendo formação dupla, como Licenciado em Educação Física e Bacharel em Medicina achei que ambos estavam errados, pois a Ed.Física cresceria como profissão ligada à Saúde, podendo se converter em uma das alavancas para a melhoria da Saúde, como se dizia à época e hoje se denomina como Promoção de Saúde, ou como aventavam Herodicus e seu influenciado, Hipócrates, em Prevenção de Doenças e Melhoria da Saúde.
Errado eu estava, o que reconheço com décadas de atraso.
Ambos previram que os LEF deixariam de ser Educadores e se tornariam auxiliares dos Médicos.
Mas tal fato também não ocorreu.
Ocorre pior.
Os Licenciados em Ed.Física embarafustaram no caminho evanescente e enganador do Metabolismo Energético baseado no enfoque restringente do VO2 e se autodenominam Fisiologistas sem terem experiência laboratorial em Bioquímica e Biofísica e tampouco em Fisiologia ou Metabolismo.
O que são, portanto?
Não dominando ou sequer conhecendo a alternância biológica da Fisiologia, a Patologia e a Etiopatogenicidade, não podem ser diagnósticadores, pois tampouco conhecem a Semiótica, realizam”AVALIAÇÕES FUNCIONAIS”, mas sem o caráter pragmático de avaliação de desempenho e com estas avaliações funcionais, baseadas em mensurações indiretas mediante parâmetros indiretos se propõem a avaliar o VO2 Máximo(ou o sub-máximo, vá lá)através da Freqüência Cardíaca-FC- apenas um referencial indireto- conseqüência de variações indiossincrásicas, sujeita a FC a fatores e influências biopsíquicas e sociais
e deste dado isolado e solto, se lançam em fazer diagnósticos clínicos, principalmente nas áreas das dislipidemias e patologias relacionadas a distúrbios metabólicos, tais como HipertensãoArterial e o Diabetes, cujos portadores não rotulam como doentes, mas sim portadores de condições específicas ou especiais…
Os LEF viraram pois praticantes de uma pseudo-medicina, pois não possuem formação médica, obviamente só conferida nas Escolas de Medicina e só faltam- talvez a maioria, deixo o benefício da dúvida, prescrever medicação aos indivíduos especiais. Alguns mais afoitos(ambiciosos, superficiais?)prescrevem medicação, sem nunca terem estudado Farmacologia.
Eis, pois que alguns se DOUTORAM, e aí usam indiscriminadamente o título de DOUTOR, na Sociedade, um título apenas ACADÊMICO E UNIVERSITÁRIO, esquecendo que quem chama os Médicos de Doutores. É a Sociedade, há algumas centenas de anos, em todas as Sociedades, talvez desde que o primeiro XAMÃ cuidou de um paciente, doente, alguém com alguma manifestação patológica.
Em frente. Pseudo-médicos,
MEDICALIZEM A EDUCAÇÃO FÍSICA, COMO NUNCA O FIZERAM OS MÉDICOS QUE CRIARAM A METODOLOGIA E A FILOSOFIA DE EDUCAÇÃO FÍSICA, mormente entre nós, nascido da Missão Militar de Joinvilleole-Point.
PS- Esse é o enfoque pelo lado médico da questão. O lado da educação física tenho manifestado em um sem número de artigos aqui publicados. A concordância de ambos os lados, de que a setorização da educação física na área da saúde prejudicou o aspecto educacional é inequívoco, ainda mais quando assistimos constrangidos o esvaziamento escolar, e o conseqüente aumento da juventude ociosa no país, e o pior, desprovida de saúde e de educação. Afirmo e reafirmo, o professor não pode ser formado como um paramédico. Educação é coisa bem mais séria. As grandes nações sabem muito bem disso.
A questão do piso salarial unificado é o que existe na Suécia. Entretanto isso encontra resistência principalmente entre a elite catedrática (UFRJ no meio). Que constróem um modelo, infelizmente, excludente de ensino.
Prezado Alexandre,concordo com você.Durante os muitos anos que lecionei na UFRJ lutei contra esse modelo.Creio que aos poucos a população brasileira irá se concientizando da necessidade da educação e toda a sua importância para o país.É uma quetão de sobrevivência.Um abraço,Paulo Murilo.