CONSUMATUS EST…
Meu velho e inesquecível pai, grande causídico uma vez me disse: “Podem enterrar a verdade, matá-la, nunca, pois por mais fundo que a enterrem, mais cedo ou mais tarde aflorará em busca de sua redenção”. E fiz destas simples palavras um relicário comportamental, que me acompanhou pela vida acadêmica e desportiva, e me acompanhará até o fim de meus dias. São como alicerces dos princípios éticos que devem balizar e orientar todo relacionamento humano, naqueles momentos em que a sinceridade, o objetivo comum, a busca da superação, o esforço irmanado, a honestidade absoluta, o irretocável juramento, a luta impessoal em função do todo, o sacrifício voluntario, a renuncia às vaidades, o bem comum, o amor espontâneo, o orgulho participativo, a alegria da vitoria, o embalo na derrota, o compromisso inalienável com a verdade, somente a verdade, pautarão e indicarão o caminho a ser seguido por um grupamento humano, uma equipe, sob o comando do eleito aceito por todos no inicio da jornada, qualificando-o no posto até que ela seja percorrida por completo. O preceito de hierarquia ao ser estabelecido e aceito por todos, jamais poderá ser rompido, sob pena de se instalar o caos pela perda da autoridade e da responsabilidade participativa e honesta. Trair tais preceitos, acordados no inicio da caminhada, é o erro mais torpe e abjeto que pode ser cometido por um grupamento, por uma equipe que almeje e se sinta merecedora de respeito e consideração, que almeje a vitoria, mesmo que manchada pela perfídia da traição. Decididamente não é esse tipo de vitoria que almejamos e desejamos para o nosso tão combalido, massacrado, injustiçado e agora traído basquetebol.
A reportagem de David Abramvezt do site Lancenet, com o jogador Marquinhos, desligado da seleção brasileira por contusão, é estarrecedora, inacreditável, e põe um ponto final em toda e qualquer especulação, que possa vir a ser estabelecida, sobre o verdadeiro teor da reunião secreta que os jogadores organizaram logo após a derrota para a equipe de Porto Rico. Nego-me a transcrever qualquer afirmativa exposta na reportagem, mas convido o público leitor a tomar conhecimento da mesma, e não as transcrevo por se tratar de um testemunho pusilânime, covarde, ignorante, que só poderia ser originado de um traidor, em concluio com os demais traidores, figuras abjetas e absurdas, e que bem representam o retrato fiel da improbidade e delinqüência que se instaurou na CBB, com sua absoluta falta de autoridade, competência e legitimidade. O Grego melhor do que um presente, deveria estar envergonhado em participar de tamanha fraude, de tamanha vilania. Se comandante fosse, um basta deveria ter sido dado ante tanta baixeza. Sua permanente ausência ao que o rodeia é a prova inconteste de sua nulidade.
Não estou aqui defendendo a comissão técnica, muitas vezes criticada por mim em artigos aqui publicados sobre seu trabalho. Defendo, isto sim, o primado da autoridade, o cumprimento do estabelecido e aceito por todos, incondicionalmente. Defendo a existência de uma unidade de objetivos e de comportamentos compatíveis visando alcançá-los. Defendo o respeito aos mais experientes, aos mais velhos, mesmo que alguns não concordem com determinados conceitos emanados pelos mesmos, pois existem caminhos e até atalhos que podem ser utilizados na busca do entendimento respeitoso e responsável. Mas, caminhos há que não devem ser trilhados, principalmente aqueles que levam à perfídia, ao hermetismo interesseiro, às sombras que ocultam os traidores, as resoluções que visam interesses próprios, na maioria das vezes escusos, e que em muitos casos vêm envolvidos em falsos pacotes patrióticos, que visam o sucesso nem sempre, ou quase sempre imerecido.
Agora podemos entender perfeitamente certas declarações de jogadores, olhando a câmera diretamente, como passando um recado a todos aqueles que não seguirem suas cartilhas, do alto de seus contratos vultosos no exterior, onde não têm peito nem coragem de se insurgirem contra seus patrões e empresários, escravos que são, da forma como se insurgem e agem covardemente entre nós. Podemos entender a recusa deprimente de se negar a defender a equipe brasileira quando solicitado a fazê-lo em pleno jogo. Podemos entender a agressividade chula e infantilóide contra uma imprensa que, por obrigação e direito expõe suas mazelas. Infelizmente, podemos agora entender o que vem a significar ter um grupo”fechado”, já que composto de desqualificados e indignos de vestir a camiseta de uma seleção que conquistou o mundo com lealdade, técnica e acima de tudo honra.
Amanhã, esta equipe tentará uma classificação olímpica, renegando seus técnicos, renegando suas tradições de lisura e dignidade. Amanhã, esse grupelho, comandado técnicamente por não sei quem, já que decidiram omitir e desconhecer as determinações dos técnicos, enfrentarão a equipe argentina, que torço para que vença, pela força de sua equipe, de seus técnicos e dirigentes, pela força de sua organização desportiva, pelo orgulho patriótico, pela limpidez de seu trabalho. Caso percam, subsistirá entre nós o agora primado da traição, a inversão definitiva de valores, a instauração do caos, que nem uma taça e uma vaga olímpica perdoará, e nos fará esquecer. Estou envergonhado e profundamente triste. O basquetebol brasileiro não merecia, e não merece passar por tal constrangimento. Consumatus est.