VELADAS VERDADES…

Aconteceu em um dos muitos mundiais de que participamos, mais propriamente durante a era de Oscar e companhia, quando tínhamos uma brilhante equipe, mas, nem sempre bem dirigida e orientada. O jogo era contra uma Lituânia com três formidáveis jogadores, um deles o inesquecível Arvidas Sabonis, e uma plêiade de jovens inexperientes que submetiam sua seleção a uma forçada, porém necessária renovação. Sabedores de que somente venceriam a equipe brasileira se chegassem no momento da decisão com os três grandes jogadores em quadra, o que fez o técnico lituano? Isso, acertou bem na mosca caro leitor, orientou seus craques a não cometerem faltas pessoais, no momento em que constatou que a equipe brasileira não abrandaria de forma alguma sua voracidade pelos arremessos de três pontos, sua marca registrada. Pratica e sutilmente “propôs” ao técnico brasileiro um trato de cavalheiros, ao afrouxar sua defesa aos arremessos curtos, em contrapartida à notória e histórica inapetência em defender da equipe brasileira, para, nos momentos finais da partida decidirem o vencedor. Claro, que em se tratando de uma proposta velada, e que propiciaria à equipe lituana sua única chance de vitória, apostou seu técnico que os brasileiros, por hábito e excesso de confiança, não abririam mão de seus arremessos de três em função de meros dois pontos. Outrossim, através seus três formidáveis e únicos jogadores experientes ia minando os pivôs brasileiros no jogo interior, de dois em dois pontos, pacientemente mantendo um razoável equilíbrio no placar. No entanto, tal equilíbrio se tornou permanente no momento que os arremessos de três teimavam em não cair numa proporção inferior aos de dois dos lituanos, e assim chegaram aos minutos finais. O quadro de faltas quanto aos três experientes lituanos era ridículo, pois somente cometeram três, uma para cada, ao passo que os brasileiros já começavam a sentir o peso das muitas faltas acumuladas na tentativa de segurarem os curtos arremessos lituanos. Note-se que em momento algum a equipe brasileira se deu conta de que os lituanos, por força de sua limitação de jogadores experientes, jamais oporiam forte marcação aos arremessos curtos, os de dois pontos, tão desprezados pelos brasileiros, atrelados à sua volúpia pelos de três. O que ocorreu então nos minutos finais? Na mosca de novo, caro leitor. Os lituanos apertaram na marcação, pois tinham 12 faltas para gastar naqueles decisivos momentos, nos quais os brasileiros resolveram apelar para as penetrações ante o decréscimo de acerto nos arremessos de três, fator este que definitivamente equilibrou um jogo, que pela análise comparativa entre as equipes, pendia claramente para o lado brasileiro, dada a qualidade e experiência de seus jogadores, ao contrario dos lituanos com seu juvenis reforçada de três excelentes veteranos. A equipe do Báltico nos venceu de 10 ou 12 pontos, não me recordo o placar, e despachou nossas chances naquele mundial.

E porque essa reminiscência tirada lá do fundo do baú? Perfeito, caro leitor, acertou mais uma vez. O jogo de ontem, e alguns outros que temos perdido pela manutenção daquela volúpia que persiste entre alguns de nossos jogadores, viúvas inconsoláveis e eternos candidatos ao trono do mítico Oscar. Numa partida, talvez a única até o presente momento em que tínhamos alguma supremacia no jogo interior, tanto pelo Spliter e o Murilo, como pelo delfin, resolveram alguns de nossos mais do que experientes jogadores, abandonarem o óbvio pelo arriscado e até certo ponto aventureiro arremesso de três pontos, aquele mesmo que em muitas ocasiões enterraram justas e oportunas chances de resultados positivos para nossa seleção, assim como pela imperícia e passividade da comissão técnica para simplesmente exigir que o jogo interior tivesse prioridade absoluta, pois, com uma vantagem de 17 pontos ao inicio do quarto final, bastariam jogarem e pontuarem de dois em dois pontos, permitindo aos argentinos tão somente a mesmas pontuação, para que a administração da vantagem fosse mantida.

Mas não, o que é isso, cara? Duvidar de nossa capacidade pontuadora, mortal e decisiva? Nem pensar, nos garantimos ! E tanto se garantiram que ante uma preguiçosa seleção argentina, pascáciamente descansada em sua garantida classificação, se viu forçada a assumir um pequeno esforço, que não custava nada ante tanta permissividade de nossa equipe, e foi de encontro a uma vitória renunciada por uma grupo que não se une, e que é dirigido sobre a égide da “coisa planejada”, que de tão pretensamente imaginada, sequer tem o apoio da equipe e o respeito de seus perdidos jogadores. Lastimável e preocupante, muito mais do que preocupante, trágico, simplesmente isto, trágico.

Hoje, contra o Uruguai, que não se descuidem, pois é uma equipe, que apesar de limitações e até uma certa indisciplina por parte de um jogador, é valente e com uma concepção de jogo coletivo apreciável e profundamente perigoso. Se não mudarmos certos comportamentos, não só técnicos, mas de relacionamentos inter pessoais, poderemos amargar um resultado em nada conveniente ao nosso combalido, mal administrado e pessimamente dirigido basquetebol.

Torço honestamente para que a equipe supere suas barreiras coletivas e inter pessoais, e que conquiste aquele lugar compatível às suas qualidades e ao seu justo merecimento.

Amém.



9 comentários

  1. Idevan G. 30.08.2007

    Bem lembrado, professor. Aliás, como perdíamos para equipes do leste europeu nesta época.

    Apesar da equipe uruguaia carecer de talentos individuas (excetuando o Mazzarino e o Esteban Bautista), a equipe tem um senso coletivo impressionante. Chego a afirmar que seja a equipe que mais prioriza o jogo coletivo.

    Bom, esse é um dos nossos maiores defeitos (apesar do Valtinho e do Splitter)…

  2. Anonymous 30.08.2007

    Disse tudo… Brasil complica que é simples… a comissão técnica devia ser demitida só por uma atuação dessa contra a Argentina… Deixou Marcelinho cometer 3 turnovers que empataram o jogo, usando de firulas ainda… depois ainda precipitou ataques… essa comissão técnica devia ser demitida!!!

  3. Basquete Brasil 30.08.2007

    Prezado Idevan,concordo com você.Temos de tomar um cuidado enorme com a equipe uruguaia,pois toda equipe que não atua em conjunto tende a se complicar ante uma que jogue dessa maneira, e a equipe brasileira de forma alguma joga em conjunto.
    Aliás,desconhece tal função.Um abraço,Paulo Murilo

  4. william 30.08.2007

    Professor, porque quando o leandrinho toma posse da bola o time para completamente esperando que ele faça algo de milagroso?
    Porque o nosso íncrivel técnico deixa um jogador entregar o jogo, o marcelinho?

    São perguntas fáceis de responder, como o senhor bem sabe. abraços

  5. Anonymous 31.08.2007

    Acho que todos somos de “lua”. Quando o time vai bem todo mundo ufana, só quando vêem as mazelas é que começam a cornetar.

    Era clara a forma comoo Brazil iria jogar e era claro que iríamos sofrer mais que “bode embarcado”.

    Se não formos humildes o suficiente para entender que é necessário importarmos uma comissão técnica de respeito, sempre será assim.

    Peladeiros somos nós, mas poupemos os jogadores, sem direção, nemmesmo um trem, que anda nos trilhos, chega a lugar algum.

  6. Basquete Brasil 31.08.2007

    Prezado William,no artigo de hoje creio que você terá as respostas que pede.Num ambiente dividido sobram dúvidas e desconfianças,pré-requisitos para desditas e traições.Pensemos positivamente, e que todo esse imbroglio desaparecerá.Um abraço,
    Paulo Murilo.

  7. Basquete Brasil 31.08.2007

    Prezado anônimo,tenho por norma desde a criação deste blog 3 anos atrás,não responder a Anônimos, apesar de considerar suas colocações educadas e pertinentes.Reenvie seus comentários assinados que responderei com satisfação.Obrigado e um abraço,
    Paulo Murilo.

  8. Marcelo Irineu 31.08.2007

    Realmente, grandes observações. Parabéns! Porque não carregamos os dois pivôs argentinos com faltas? Acho que eles não têm reservas à altura. Temos excelentes pivôs: Nene e Spliter mais Murilo e JPBatista. Não dá pra entender! Não adianta ficar só fazendo contra-ataque e arremesando de três e não forçar as faltas dos adversários. A Argentina consegue ganhar do Brasil com três jogadores: Delfino, Prigione e Scola. O técnico brasileiro usa a prancheta pra criar joagadas mirabolantes mas às vezes falta apenas estratégia para ganhar um jogo, acredito que se o Brasil usar da estratégia, de carregar os principais jogadores da Argentina de falta, ganhará com facilidade. O problema é que não estamos acostumados a fazer isso. Boa sorte Brasil.

    Abraço

    Marcelo

  9. Basquete Brasil 31.08.2007

    Prezado Marcelo, você tem razão nas suas observações.Infelizmente,não creio que nossa equipe mereça a classificação,pelo menos nesse Pré.Meu artigo de hoje explica o porque dessa minha afirmação.Desculpe,mas pouco mais tenho a dizer.Um abraço,Paulo Murilo.

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