EM DEBATE-O EQUILÍBRIO

Atendendo a algumas sugestões de jovens técnicos, inicio hoje um debate e troca de idéias sobre os fundamentos do jogo. A cada quinzena um fundamento será proposto, discutido, exemplificado, comentado em seus detalhes, e, principalmente, será tema de uma compilação de experiências práticas vividas pelos técnicos e professores envolvidos nos debates.

Inicio propondo o fundamento do equilíbrio, republicando o artigo “O que todo jogador deveria saber 1/10” de 20/4/2006.

12 Abril 2006

O QUE TODO JOGADOR DEVERIA SABER 1/10.

Independendo se armador, ala ou pivô, publico à partir de agora uma série de 10 artigos sobre alguns aspectos dos fundamentos, aqueles detalhes que passam muitas vezes desapercebidos, tanto por iniciantes, como muitos dos considerados craques, que erram muitas vezes mais do que aqueles. E inicio com um tema que a maioria minimiza, ou simplesmente desconhece- O EQUILÍBRIO- Para que fique claro e bem visualizado o que proponho, sugiro inicialmente que tentem o seguinte: amarre na ponta de um barbante, ou algo similar (um dos cadarços do tênis já serve) um pequeno peso, uma pedrinha por exemplo, tal como um fio de prumo daqueles utilizados pelos mestres de obras para aferir o alinhamento dos tijolos. Na outra ponta do fio, que deverá ter aproximadamente uns 60cm, fixe um pregador de roupa, ou um alfinete de segurança daqueles usados em fraldas. Fixe o fio no cós entre as pernas do calção ou de um short curto (os calções tipo fraldões utilizados por muitos jogadores não se prestam, pois têm o seu cós próximo ao meio das coxas). Feito isso, coloque-se em posição defensiva e com um giz desenhe a área que está ocupando no solo, marcando duas linhas retas que unirão as pontas dos pés e seus calcanhares. Terá então um retângulo desenhado no solo, tendo como limite os próprios pés. Agora, tente movimentar os quadris de tal forma que o peso do fio de prumo percorra toda a área delimitada pelas linhas de giz e pelos pés. Enquanto o peso se mantiver dentro da área você estará em equilíbrio estável, já que o fio de prumo projeta seu centro de gravidade, que se situa na zona pubiana, para dentro daquela. Aos poucos você compreenderá o porque de se manter em equilíbrio estável, e que este será tanto maior, quanto maior for a área da base que venha a ocupar. A seguir, tente colocar o fio de prumo sobre qualquer ponto que limite a área da base, e constatará o que vem a ser estar em equilíbrio instável. Exercite-se transferindo os equilíbrios, ao mesmo tempo que altera a área da base, preparando-se para passar ao terceiro estágio, ou seja, transferindo o prumo para fora da área que ocupa, entrando em desequilíbrio. Todo jogador tem a obrigação de conhecer os princípios que regem o equilíbrio, pois a compreensão e o conseqüente domínio do mesmo pautará sua performance na utilização de todos os fundamentos do jogo, à começar pelas partidas e paradas, ou seja, as ações mais comuns ao jogador de basquete: ir de encontro à bola; parar equilibrado seja qual for a velocidade que esteja exercendo na quadra; as mudanças de direção, tanto no ataque, e principalmente no ato defensivo; nas fintas com e sem a bola; no drible progressivo ou regressivo; nos arremessos; nos saltos e basicamente na preparação dos rebotes. Vejamos no caso das paradas. Todo iniciante tende ao desequilíbrio no ato de parar em velocidade de deslocamento. Se tiver conhecimento dos princípios que regem seu centro de gravidade, ele saberá manter o mesmo projetado dentro da área que ocupa mantendo-o em equilíbrio estável, assim como saberá deslocá-lo para equilíbrio instável e conseqüente desequilíbrio quando quiser partir em maior velocidade que seu oponente. Todo bom fintador levará maior vantagem sobre o defensor se souber se manter em equilíbrio instável no momento da finta, pois sempre sairá em maior velocidade, tanto sem a bola, como, e principalmente se estiver no ato do drible. O manejo do corpo sofrerá menor desgaste se for acionado dentro destes princípios, pois o fator inercial poupa energia e necessita de menor força para desencadeá-lo. Defendendo-se de um driblador, ou de um atacante sem a bola, entenderá o porque da importância de estar sobre uma ampla e equilibrada base, e como ganhará em eficiência nas anteposições ao saber deslocar com eficiência e presteza seu centro de gravidade. Voltando ao exercício inicial, perca-se por uns momentos nos deslocamentos do CG, para os lados, para frente, em bases amplas ou menores, entrando e saindo dos estados de equilíbrio, com os olhos abertos e fechados, para aos poucos, sem pressa, entender, sentir e empregar toda uma gama de possibilidades que um bom jogador, independendo de sua posição poderá utilizar para a melhoria de sua performance nos fundamentos, já que o equilíbrio é a base de todos eles.Vamos ao trabalho!

E como complemento, um belo exemplo de equilíbrio dinâmico, onde o seu final nos leva à compreensão do quanto se torna importante a manutenção do centro de gravidade dentro da área ocupada pelo corpo, mesmo sob a forte influência de uma força centrípeda, após saltos e giros no ar, movimentos tão peculiares aos jogadores de basquetebol.

https://www.nytimes.com/video/arts/1194817094693/in-slow-motion.html



12 comentários

  1. Jalber Rodrigues 03.10.2007

    A localização e o entendimento do centro de gravidade facilita muito o trabalho do equilibro!!! Eu já havia lido lido este artigo do professor e achai muito interessante. ainda não o apliquei com meus alunos, mas em breve estarei usando!!! o trabalho do professor Fábio também e muito interessante!!!
    Aqui usei uma cadeira para facilitar o posicionamento do centro de gravidade sem que os quadris fossem para frente, ( o que é muito comum entre os alunos)depois retirava a cadeira e pedia aos garotos que se mantivessem em equilíbrio sentido o peso do corpo nos pés todos, nem nas pontas nem nos calcanhares.
    O maior problema dos meus alunos era a postura de defesa e os os deslocamentos mantendo a postura defensiva, desta forma consegui uma melhora nessas movimentações.
    Uso sempre o trabalho de manejo de corpo como aquecimento e agora estamos trabalhando as paradas e partidas bruscas, e mudanças de direção.
    Vejo depois de escrever essa experiência e de ler a dos outros professores a necessidade de explicar e mostrar efetivamente aos alunos o que é, onde se localiza e como funciona o centro de gravidade, assim eles podem se auto corrigir e buscar soluções para aquelas dificuldades que são particulares!!
    espero ver novas experiências e criticas à minha experiência!!!!
    um abraço Professor Paulo.

  2. William 03.10.2007

    Professor, apenas um comentário. O seleção brasileira cadete, que está jogando o sul-americano, levou 5 armadores> e o time titular eh formado por 2 armadores 2 alas grandes, um deles inclusive eu conheço, e um pivô que nao é muito grande. Neto parece ter se ligado no que de melhor podia fazer.

    Abraço

  3. Bill 04.10.2007

    Procuro utilizar bastante a queda com pés quase que paralelos (o pé da mão do arremesso ligeiramente à frente) num afastamento mediano que termine com ambos os pés apontados para a frente e o pé todo tocando o solo, reforçando que a semiflexão doa joelhos aliada a postura mais ereta possível evitará sobrecarga nas articulações. Uma questão que tenho, é: nesse caso do equilíbrio, do centro de gravidade e tudo mais, como traduzir isso de forma palatável para alunos de iniciação, com 10,11,12anos? Visto que nessa idade o tempo de atenção e concentração das crianças é pouco e a hiperatividade impera na maioria, que conceitos visuais, ou mesmo exemplos práticos servem como “linha-mestra” pra repassar aos alunos? Como você fazia, Prof. Paulo? Você passa isso como Prof. Jalber? abços

  4. Jalber Rodrigues 04.10.2007

    Caro bill nessa idade trabalho muito com jogos lúdicos de manejo de corpo, brincar de estátua e bem divertido!!! ponha um “modelo” e peça, por exemplo quando vc der um comando que eles copiem aquela posição( os alunos podem estar parados ou em movimento antes do seu sinal). Pra mim o segredo para essa idade e trabalhar com o lúdico.
    Você pode também fazer o trabalho de pés que ajuda muito a garotada no equilíbrio.( procure por basketball drills footwork no you tube e achara coisas bem interessantes de trabalho de pés), amarelinha pique pega americano também são ótimos!!!
    espero que tenha ajudado e se tiver mais alguma coisa que possa ajudar?!!! sempre a disposição.
    abraço!!!

  5. Basquete Brasil 05.10.2007

    Prezado William,que ótimo a utilização de 2 armadores pela seleção de cadetes.É uma formação que teremos muito para discutir,estudar,treinar e aplicar no dia a dia.Como a utilizo por mais de 40 anos terei o máximo de prazer em expor brevemente tudo que aprendi e desenvolvi nestes longos anos.Será tema de dois artigos da serie Sistemas.Um abraço,Paulo Murilo.

  6. Basquete Brasil 05.10.2007

    Participando da discussão sobre equilibrio,gostaria de salientar dois pontos abordados pelo Jalber e pelo Bill.O treinamento visando o controle do equilibrio corporal,passa obrigatoriamente pelo auto conhecimento e a vivência de experiências diretas,pois o sentir-se equilibrado ou não,lança o jogador para dentro de si mesmo,obrigando-o ao controle mental responsável por suas ações fisicas.Exercicios com olhos fechados funcionam muito bem,pois introspecta o jovem, fazendo-o participante integral de seu todo,sem interferências externas.
    Quanto à experiência do Bill nos arremessos,lembro com propriedade que na faixa etária mais tenra detalhes técnicos devem dar lugar a ações lúdicas,preferencialmente utilizando bolas menores e mais leves,cestas mais baixas (mini-basquete),que se adequam às valencias físicas dos jovens.É o mesmo que uma criança que ao ganhar uma bicicleta aro 20 encontre dificuldades e quedas na aprendizagem.Mais tarde,quando mais crescido,ganha uma aro 28,e simplesmente se adapta à mesma,sem os percalços da aprendizagem,às vezes custosa e difícil.Não esquecer jamais que a técnica somente se torna factível na medida que os equipamentos e materiais sejam adequados às etapas do desenvolvimento fisico e mental dos jogadores.E que a base de toda a técnica dos fundamentos gira em torno do conhecimento,da aprendizagem e do dominio do equilibrio.Espero que mais técnicos venham participar dos debates, o que seria formidável para todos.Abraços
    Paulo Murilo.

  7. Fábio 05.10.2007

    Olá Professores

    Parece que há um consenso em utilizar brincadeiras e ações mais lúdicas para desenvolver o equilíbrio na iniciação em basquetebol. Jogos de pega-pega, competições de velocidade e parada brusca (com e sem bola), etc… Um dos pontos que gosto é elevar o centro de gravidade usando bancos para isso, com os alunos caminhando por cima deles com e sem bola. Um dos principais problemas na iniciação, quando se fala em equilíbrio, é que os alunos tendem a saltar “se jogando” para frente, o salto acaba sendo, portanto, parcialmente diagonal e não vertical, acredito que o treinamento de parada antero-posterior ajude a diminuir esta incidência. Por mais lúdicas que sejam as atividades, no momento de ensinar a arremessar em movimento (jump shoot) o domínio do equilíbrio é essencial e a subida verticalizada também. Gostaria de colocar em pauta uma questão: qual é o limite entre equilíbrio e coordenação motora? equilíbrio ainda pode ser considerado como uma capacidade e não uma habilidade? abços, Fábio/SP

  8. Basquete Brasil 09.10.2007

    Prezado Fabio,como a turma ainda não respondeu as suas colocações,arrisco algumas ponderações.Publiquei uma pequena serie sobre a arte do arremesso,na qual tentei desmistificar o esteticismo vinculado ao ensino dos mesmos,deslocando o foco do aprendizado para o direcionamento e posterior comportamento da bola,antes,durante e após seu lançamento,num conjunto de fatores que põem de lado alguns principios,que provo errôneos,que entravam,e até evitam que os jovens se desenvolvam efetivamente na arte do arremesso.Quanto à sua colocação sobre qual o limite entre equilibrio e coordenação motora,capacidade e habilidade,coloco o seguinte:”Fulano será capaz de,com sua habilidade coordenativa, equilibrar todos aqueles objetos com mãos e pés?Eis uma boa pergunta sobre um candidato a uma escola circense,não? E por que não a um jogador de basquete na execução dos fundamentos? Equilibrio exige coordenação motora,que é a hábil capacidade para exercê-lo.Um abraço
    Paulo Murilo.

  9. Marival Junior 11.10.2007

    Prof. Paulo Murilo

    LIVROS SOBRE BASQUETEBOL
    Nesta 2ª semana, apresentarei mais dois livros sobre basquetebol. Com já escrevi anteriormente, não é uma coleção muito grande (são 31 títulos) mas eu penso que dá para encontrar alguns deles em livrarias ou em sebos. Alguns livros podem não ser bons para a sua realidade ou pode ser muito importante para que está começando a trabalhar com basquetebol. Apresentarei apenas as capas, o título do livro e o autor, sem a sinopse, resumos ou comentários pois não é a minha preocupação em falar qual livro pode ser sofrível, ruim, bom, ótimo ou excelente, este comentário eu deixo para você leitor. Bom divertimento!!
    Prof.Marival Junior – basquetelondrina.blogspot.com
    blog.educacional.com.br/marival2480911

    Basquetebol técnicas e táticas uma abordagem didático pedagógica Autores: Aluísio Elias Xavier Ferreira (Lula); Dante de Rose Junior
    Basquetebol : autor – Wolfgang Hercher

  10. Basquete Brasil 11.10.2007

    Prezado Marival,este espaço está à sua disposição para divulgar a bibliografia que quiser sobre basquetebol.Um abraço,Paulo Murilo.

  11. Anonymous 16.10.2007

    Respetado Paulo :
    El basquetbol es un juego de balance y rapidez ,y la llamada posicion del basquetbolista ( rodillas flexionadas, espalda recta, pies separados ligeramente mas anchos que los hombros etc.) debe de ser practicada en union de los demas componentes del llamado juego de piernas (posicion, arrancadas,paradas, giros, deslizamientos etc. ) en situaciones lo mas cercanas como sea posible a la realidad del partido ejm. en la defensa, de marcar al poseedor de la pelota, a defender en ayuda. En el ataque, de la posicion de triple amenaza a un drible de penetracion y dar un pase, al estar sin la pelota y desplazarse para una “puerta trasera”, o colocar una “pantalla”, pues la concepcion tactica debe estar presente. De esta manera los ejercicios tienen “sentido” y, se esta en concordancia con el enfoque pedagogico del –constructivismo– ( aprendizaje significativo ).El balance, entonces pasa a ser parte del contexto del partido.
    Gil Guadron
    ex-bolsista da UFRJ

  12. Basquete Brasil 16.10.2007

    Prezado Gil,considero seu comentário como o ato conclusivo de todas as opiniões manifestadas pelos técnicos e professores,nas discussões aqui publicadas.Como propus ao início do artigo,tentaríamos elaborar um texto que sintetizasse as discussões propostas e expostas.Sua síntese atende a proposta sugerida.Um abraço do amigo de sempre,Paulo Murilo.

Deixe seu comentário