DIA DO PROFESSOR…MAS QUE DIA?

Hoje, Dia do Professor, estando de algum tempo aposentado da UFRJ, mas jamais afastado dos livros, dos estudos e do blog que me mantêm ativo, me sinto apreensivo, preocupado com os rumos que estão dando à educação em nosso país, relegando-a ao nível de bolsas disso e bolsas daquilo, numa volúpia de interesses eleitoreiros abominável, e suicida. Lembro-me que em varias ocasiões no contato direto com meus alunos na Praia Vermelha, lembrava-os que nosso país era o único que conhecia no concerto das nações democráticas, no qual nem as correntes de direita, nem as de esquerda desejavam um povo educado. A direita queria-o ignorante para se manter no poder, e a esquerda, desejava-o mais ignorante ainda, para poder usá-lo como massa de manobra para assumir o poder. E isso ficou provado com a ascensão da esquerda nas duas últimas eleições, nas quais, a esquerda emergente passou, no caso da educação, a se utilizar da falência educacional do povo para, a exemplo da direita que o antecedeu, se manter no poder, o que vem conseguindo exemplarmente. Em nenhum de seus programas de governo, aborda o cerne do problema, a valorização e o respeito pela carreira do magistério, único caminho a ser seguido para a qualificação da educação no país. Salas de aula computadorizadas, climatizadas e forradas de veludo, jamais se rivalizarão com boas bibliotecas, enxutos laboratórios, quadras, piscinas e pistas, assim como pequenas salas de musica, de teatro, de dança, e, principal e decisivamente, professores bem formados, bem pagos, e por isso mesmo, voltados à carreira, fundamentada na vocação, substituída nas últimas duas décadas por uma progressiva tendência em torná-la um simples bico, um quebra-galho, inclusive por muitos profissionais liberais.

Acredito, no entanto, que melhor exporia um ponto de vista voltado ao valor do desporto escolar, republicando um artigo que escrevi em 14/11/06, não só como uma homenagem ao professor, mas como um lembrete oportuno sobre sua transcendental importância na educação de nossos jovens.

14 Novembro 2006

ESCOLA, ESCola, Escola, escola…

A Rêde Globo, através seu Jornal Nacional, iniciou ontem uma série de reportagens sobre a importância da Educação Física no sistema escolar em vários países. O primeiro país focado foi a China, e hoje foi a vez dos Estados Unidos. Em ambos, o que não será muito diferente nas demais reportagens, a importância da escola, como fator irradiador de progresso para qualquer país que se julgue merecedor de um lugar destacado no concerto das nações, principalmente para seu próprio povo. A Educação Física sempre estará associada a este progresso, assim como as Artes Plásticas, a Dança, o Teatro e a Música. Estas atividades estarão sempre , e indissolúvelmente ligadas às demais disciplinas de um sério currículo escolar, como base da educação plena e incluída nos direitos constitucionais básicos dos cidadãos de qualquer nação séria, justa e igualitária. Seus professores são universalmente licenciados por Universidades, Faculdades de Educação, submetidos a rígidos padrões de comportamento em estágios probatórios supervisionados por professores experientes e dedicados. Assim também o é em nosso país, onde podemos encontrar cursos formadores de professores de alta qualidade, e onde a tradição de ensino é mantida.Se os poderes públicos subestimam e desvalorizam os formandos com baixos salários e propositais ausências de políticas educacionais, não podemos negar que a base existe, porém não coexiste com tais políticas de depreciação do ensino público gratuito e de boa qualidade. Esse é o pungente drama da educação no país. As licenciaturas, que atendem a todas as disciplinas, inclusive a Educação Física, são a função básica de nossos cursos superiores qualificados pelo MEC, mas que sofreram um processo dicotômico na Educação Física com a implantação dos bacharelatos, porta de entrada para o desenvolvimento das atividades desportivas fora do âmbito escolar, dando início à formidável indústria do culto ao corpo, e que originou os ambíguos e políticos conselhos de ed.física, os famigerados cref’s. Escudados em uma lei que foi implantada obscuramente, estão de algum tempo se entronizando no campo escolar, fator altamente comprometedor e abusivo. Sua massa crítica e coercitiva de associados foi formada pelos inúmeros cursos de atualização realizados pelo país, “autorizando” todos aqueles que exerciam atividades de ensino desportivo, sem que tivessem formação acadêmica regular. Milhares foram autorizados, voltando-se agora para os egressos das Escolas de Educação Física, e, inclusive se imiscuindo nos concursos públicos em autarquias municipais e estaduais, e já pretendem estabelecer provas de suficiência aos formandos do ensino superior. Esquecem, que não possuem autoridade moral e formal para tal pretensão, pois confrontarão os cursos superiores formadores dos licenciados em todas as disciplinas do currículo educacional do país. O Professor de Educação Física não é um profissional bacharel de educação física, ele é um Professor, que atende as exigências de uma licenciatura plena, passaporte inalienável ao magistério de todos os graus de ensino, como é regra geral em todas as nações sérias deste planeta, e que, em hipótese alguma deva se submeter a conselhos normativos à serviço da grande e poderosa indústria do culto ao corpo, seletiva e elitizada, totalmente à margem das necessidades da juventude brasileira. Os próximos programas evidenciarão o supremo papel da Educação Física no âmbito escolar, juntamente com as demais disciplinas, num mutirão qualitativo, que toda nação séria promove para o desenvolvimento de seus jovens. Mostrarão,sem dúvida, que a educação física é parte integrante da formação dos jovens, não só para forjar futuros campeões, mas, e principalmente, para ajudar decisivamente na preparação de cidadãos produtivos e sociabilizados. A Escola é o cerne do processo de cidadania, e não é lugar para órgãos e setores normativos fora de seu âmbito. Nos dois programas até agora apresentados não vimos o envolvimento de profissionais, e sim de Professores de Educação Física, dentro de suas escolas, e não em caras e exclusivas academias, nem sob a batuta de personal trainers, atividades endossadas e controladas pelos cref’s tupiniquins. Que fiquem por aí, e deixem a Escola, a sagrada Escola em paz.

posted by Basquete Brasil @ 11/14/2006 01:36:00 PM 4 comments

4 Comments:

At 7:09 AM, Alexandre Rocha said…

Caro professor. Sou defensor de um modelo de esporte na escola no Brasil. Mas decisões como esta, creio, vem de cima. Assim toco na questão da nossa venerada UFRJ e as demais universidades publicas, que a despeito de possuírem estruturas nunca de fato procuraram estabelecer um modelo esportivo similar às universidades norte-americanas ou européias. Atletas como Fernando Scherer se queixaram entre outras coisas da dificuldade de conciliar estudo e treinos pela inflexibilidade dos professores e coordenadores de curso.Quais são as barreiras para a mudança?

At 11:34 PM, Basquete Brasil said…

Caro Alexandre, a maior barreira é aquela que mais cedo ou mais tarde será superada
pela necessidade vital de investimento em educação no país.Não que os políticos assim o desejem, mas é, inclusive para eles, uma questão de sobrevivência.Nosso país só conseguirá ultrapassar a barreira
terceiro-mundista pelo investimento maciço em educação,beneficiando a todos os segmentos da sociedade, inclusive o desporto,aspecto indissociável do processo.Será um processo lento e gradual, mas inadiável, caso contrário nos lançaremos no atraso irremediável.
Não há outro caminho.Um abraço,
Paulo Murilo.

At 2:11 AM, Gil Guadron said…

Respetado paulo:
Com o devido respeito a seus lectores e voce por meu mal Portuguez, desejo expresar a cita de John Wooden, ele es professor de ingles e ex-basketball coach de “UCLA”
O antropologista foi pra o mato pra estudiar uma primitiva sociedade e falo pra o curandero y le pregunto si ele , o antropologista poderia falar com la mais importante pessoa na region.o curandero lo guio por o mato e se detuvo no claro e, exactamente no frente deles estaba o velhinho, canoso, fraco, rodeado de garotos.
O antropologista pergunto si isse cara era o rei. Nosso Rei pergunto sorprendiso o curandero?
Voce pergunto por a mais importante pessoa?o presento ao nosso professor.
Obviamente a tribu nao era tan atrazada. Elos estaban tao avanzados pra conhecer que nao a otra pesoa mais importante em uma sociedade que o profesor.

At 12:09 AM, Basquete Brasil said…

Prezado Gil,na constituição mexicana pós-revolução zapatista,tem um pequeno artigo que registra:Mesmo nas cidades mais pobres e longínquas,os professores terão direito a um par de sapatos.Infeliz da nação que minimizar o papel do professor em sua formação, o que,infelizmente,ocorre em grande parte do Brasil.Mas acredito que dias melhores virão.Sou um eterno e incorrigível otimista.Um abração, Paulo Murilo.

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2 comentários

  1. Jalber Rodrigues 16.10.2007

    Bom Professor Paulo,
    Sou de Minas Gerais, e além de ser coordenador de um projeto social esportivo, “Assistência Basquetebol Cataguases” ( onde trabalho sempre lembrando que antes de técnico sou um professor ) dou aulas em uma escola estadual e uma particular. Bom ai já vem o primeiro problema tenho que me desdobrar e manter uma carga horária muito grande para manter um salário “melhorzinho”.
    Mas, o mais grave e que vem comprovar o que foi tão bem escrito no seu artigo é que o governo de minas lançou um projeto que se chama Minas Olímpica, que engloba todos os eventos esportivos de estado, inclusive os jogos escolares estaduais. Fez muita “propaganda” destacou a importância do esporte escolar como lazer, competitivo e tudo mais. Mas por traz desta manobra política tentou primeiro passar a responsabilidade das aulas de educação física dos alunos dos ciclos iniciais ( aqui o fundamental começa com 6 anos, até a antiga 4ª série )para as professoras regentes de turma, e como não conseguiu reduziu a carga horária da educação física para uma aula semanal de 50 minutos.
    Por traz de toda a “propaganda” de incentivo ao esporte o nosso governador conseguiu reduzir o quadro de funcionários (objetivo maior) e privou as crianças de uma fase importante onde elas tem que adquirir muita experiência motora para que possam ser não somente bons atletas, mas um ser uno que possa, e saiba usar sua mais preciosa ferramenta.
    Bom se os professores são desvalorizados, nos, os de educação física muitas vezes vivemos no “limbo”, mas ainda acredito que o passo maior e mais importante tenha que ser dado por nos professores, principalmente de educação física para mostrarmos nossa importância na formação do cidadão.
    Parabéns Professores e lembrem se sempre que também ajudamos a formar opiniões!!! Então formemos!!!! Abraços!!!!

  2. Basquete Brasil 16.10.2007

    Prezado Jalber,a tentativa de transformar as professoras regentes também foi tentada por aqui,e pelo que sei cref’s e congêneres ficaram calados.Mas como aí,a tentativa não prosperou por absoluta falta de conhecimento das professoras sobre mecanismos corporais.Brinca-se com coisa séria nesse país, e fica tudo por isso mesmo.Enquanto isso,posam em primeiras páginas dos grandes jornais indivíduos sem a menor qualificação acadêmica em Ed.Física e Desportos, como técnicos de seleções nacionais e dos maiores clubes do país.E mais uma vez por onde andam os cref’s da vida,provando suas inutilidades? Nunca se picareteou tanto em nome dos esportes e da cultura em geral.Mas tudo isso terá que ter um fim,pois ao contrário,desceremos velozes pela ribanceira da insanidade social,com resultados irrecuperáveis num prazo de tempo que estamos bem próximos de alcançar.Rezemos pois por dias melhores.Um abraço,Paulo Murilo.

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