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O jogo estava duro, disputado e imprevisível, quando num minuto determinante do terceiro quarto um bom jogador argentino da equipe de S.Bernardo converte dois arremessos sem qualquer oposição defensiva. O técnico de Assis pede um tempo, e mesmo sabedor , por consentimento, da existência de um microfone em sua lapela, profere um discurso que vai da “p… daquele argentino”, até um “vai se f…”, dirigido ao seu jogador destacado para a marcação do habilidoso portenho, num destempero condenável pela forma e pelo desrespeito, não só a um de seus comandados, como ao telespectador sintonizado na transmissão. E tudo isso contando com o beneplácito do comentarista da ESPN Brasil, para o qual o desabafo era natural e até necessário naquela circunstância de jogo, palavrões e ofensas inclusas.

Coincidentemente, à partir daquela descarga biliosa a equipe de Assis não mais se encontrou na quadra, num momento em que a intervenção mais determinante por parte de seu comandante teria sido o da procura da calma e da introspecção coletiva, na busca de soluções práticas, e não cobranças e agressões gratuitas e despropositadas bradadas em um microfone em rede nacional. E o narrador televisivo ainda se sai com a didática explicação de que aquela reação se justificava, pois “estava sendo jogada a sobrevivência da equipe, a última chance do ano…”, como se esses fatores comuns a qualquer competição desportiva, justificassem os atos cometidos e discursados. É realmente doloroso que pensem dessa forma distorcida e irreal.

Ao final do jogo, o técnico vencedor ao afagar um jogador adversário comenta coloquialmente que o mesmo tinha jogado “pra c….”, e numa ação rápida tenta encobrir com a mão o microfone em sua também autorizada lapela, sabedor no entanto que o dano já havia sido transmitido em rede nacional.

Dois profissionais, dois professores, que ainda não entenderam serem possuidores de um poder quintuplicado de influência e poder de formação opinativa, principalmente entre os mais jovens, quando têm conectadas suas reações, truculências e atitudes coercitivas a um sistema televisivo e radiofônico de altíssima sensibilidade, que não deixam tais comportamentos se perderem em seus mais ínfimos pormenores, nos mais crus dos detalhes, e na mais absoluta imposição unilateral, aquela que destina ao ouvinte tão somente a constatação do quanto ainda teremos de evoluir para galgarmos os degraus da desportividade, da educação e da cultura.

Preocupa-me o fato inconteste de que esses comportamentos vêm sendo impostos gradativamente, numa aceitação não muito velada por parte de alguns técnicos em concluio com emissoras de televisão, focando e difundindo a idéia de que se trata de um comportamento comum e natural, e que deve ser aceito como tal. Protesto veementemente contra essa pretensa realidade, que somente espessará a já densa cortina de estupidez e baixo nível em que se encontra o basquetebol em nosso país. Pensem bem, avaliem sua importância, e julguem com isenção seus atos, atitudes e influências a toda uma geração de jovens que nunca deveriam se defrontar com um “vai se f…”, toda vez que cometerem um erro técnico, uma falha humana, uma ausência de experiência, fatores inerentes a quem pratica o jogo, e que mereceriam um “vamos conversar”, simples e óbvio para quem se predispôs a orientar,treinar e educar através do esporte.

Amém.



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