ILUSÕES…
Quando num pedido de tempo, com o placar já bem negativo, o armador Facundo questiona aos brados a eficiência do americano recém contratado, mencionando o fato de já ter se passado um mês sem que o mesmo aprendesse uma jogada sequer, tendo como resposta, em inglês, claro, que o respeitasse para ser respeitado, configurou-se em todas as dimensões quão alto pode ser o preço a ser pago por uma equipe, até recentemente tida e havida como a mais equilibrada no parco cenário técnico brasileiro, pela ilusão de ter em suas fileiras um representante do imaginário técnico-tático, aquele fator transcendental às grandes conquistas, e que mesmo no desconhecimento da língua portuguesa, propicia à direção técnica da equipe a suprema benesse de fazer passar suas magnas instruções em dois idiomas simultaneamente, numa ilusória demonstração de poder e cultura. E o mais irônico, foi o fato de tal admoestação publica ter sido feita no mais puro espanhol, sem um único ranço de portunhol.
Na véspera, a equipe mineira já apontava falhas na antes bem equacionada coordenação tática, já que a base de sete bons jogadores, teve de ser refeita para o aproveitamento do gigante americano, misto de pivô de choque, com ala de decisão, numa aproximação canhestra das características do pivô argentino Gonzales, mas sem o entrosamento e qualidade deste junto a equipe. Notou-se claramente a insatisfação e incômodo de alguns jogadores à sua presença e insistência nos arremessos de três, e conseqüente afastamento dos rebotes ofensivos, fragilizando em muito a luta isolada e corajosa do pivô Maozão. Some-se a isto, a tendência altamente competitiva entre jogadores americanos, que tanto na equipe mexicana, como na argentina, são mais qualificados do que o da equipe mineira, no entendimento do quanto isso influiu na volúpia em que se entregou aos arremessos para provar seu valor, mas sem levar em conta o pouco ou quase nenhum entrosamento coletivo, e a má forma física e técnica ostentada no presente. Sem dúvida nenhuma, a quebra na homogeneização duramente conquistada em treinos e jogos com uma escalação movida pela ilusão do americano, certamente pago acima de muitos jogadores, que garantiria os rebotes preciosos, esbarrou na anulação de seu esforço reboteiro pela enxurrada de arremessos de três, despropositados e falhos na maioria das vezes.
E mais uma vez, a ilusão do fator americano fez desvanecer o sonho perfeitamente viável de uma conquista a muito esperada pelo basquetebol brasileiro, que com um pouco mais de trabalho na melhoria dos fundamentos do jogo, poderá provar que podemos competir de igual para igual com qualquer equipe, mesmo que um bom argentino seja o porta-voz dessa verdade, explanada a viva voz e em bom espanhol, na presença de um complacente e calado técnico brasileiro.
Mas não só de ilusões brasileiras vive o basquetebol, temos também as ilusões espanholas, bastando acessar o site Draft Brasil, onde podemos acompanhar uma entrevista radiofônica dada à jornalistas espanhóis pelo técnico nomeado para dirigir a seleção brasileira no próximo Pré-Olímpico, Moncho Gonsalve. Nessa entrevista, nada transcende mais do que o seu estado permanente de ilusão ante a oportunidade jamais prevista de aos 63 anos, e já aposentado, ver-se diante de tal desafio. Vale à pena ir ao site, e constatar a verdadeira e monumental dimensão do que venha representar o termo ilusão.
Para facilitar a compreensão de todos, eis a definição de ilusão contida no Dicionário Espanhol – Português Michaelis-
Ilusión , [ Ilus’jon ] sf ilusão ; engano ; fantasia . Harcerse = es. Criar expectativas.
Que os deuses nos ajudem, pois até o sentido etimológico conspira contra nosotros.
Amém.
Ola Professor,
Mais uma vez podemos constatar a falta de planejamento de nossos dirigentes durante uma competicao internacional. Fico triste, pois estes estao acabando com o nosso basquetebol, e provavelmente liquidando as “ultimas” verbas de patrocinadores que ainda tentam prestigiar o esporte. Em relacao, a entrevista do “Salvador” – eu acredito que os tecnicos brasileiros e administradores sao culpados disso tudo, pois nunca foram unidos, e que, agora, em entrevistas prestadas a imprensa continuam em cima do muro mostrando uma falsa etica. Hoje eles dizem que estao torcendo, pelo sucesso do tecnico espanhol, etc.. E uma vergonha! lembro-me que alguns tecnicos, comentaristas da ESPN e Sport TV nunca tiveram este tipo de etica quando a selecao era dirigida por Brasileiros em campeonatos mundiais e Olimpiadas. E tudo uma vergonha! – Nosso momento atual e resultado e fruto desta mesquinharia e falsidade aparente no nosso esporte. A organizacao ou a falta dela esta diretamente relacionada com a falta de uniao dos tecnicos brasileiros e cartolas que em sua grande maioria nunca se valorizaram e respeitaram o trabalho do companheiro de profissao e profissional! Desculpe o desabafo! Mas e tudo muito triste!
Caro Walter,faço meu o seu desabafo,complementando-o com o artigo que publico hoje.Sempre bati na tecla de que os grandes culpados pela pobreza técnico-tática que ora ostentamos são os técnicos,principalmente aqueles que no comando quase perpétuo das seleções nacionais, jamais movimentaram uma palha sequer no sentido de unir a categoria em torno de um movimento associativo, que lastreasse o desenvolvimento da modalidade como um todo,inclusive e principalmente, investindo na formação de novos técnicos,instruindo-os e ajudando-os, com seus exemplos e experiências no arduo e complexo caminho a seguir.Esse,para mim,é o grande óbice que caracteriza e define o estado deplorável em que nos encontramos perante o concerto internacional.Um abração,
Paulo Murilo.
Caro Professor, o que não é a experiência ( do senhor ) e a teimosia ( da minha parte )daquele artigo anterior em que discutiamos a utilização ou não do americano do Minas.
Visto hoje, com a eliminação da Liga das Américas, podemos ter claramente que o americano não aprendeu com mais de 1 mês jogadas simples e que o time em quadra, parece se não precisar, não gostar da presença do mesmo, pelo que senhor relatou, com os excessivos chutes de três pontos e outras jogadas individuais quando companheiros estão em melhor posição para o chute e penetrações.
É, o senhor tinha razão !! 🙂
E como vamos ter a melhora de fundamentos básicos, os mesmos que compoe os jogos dos alto-nivel se cadetes, infato, juvenis não treinam os fundamentos ?!?!
Como basquete de algum lugar evolui assim ?!?! Sem treinar fundamentos e somente com treinos táticos e físicos ?
Um pena Professor. Estamos num barco meio sem saída.
Fora o que o Professor Walter relatou no seu comentário.
O Brasil não revê no basquetebol seus metodos e estamos ficando cada dia mais para trás.
Um abraçao para o senhor.
Prezado Henrique,você não avalia o peso que nos subjuga pela constante razão em determinadas e repetitivas análises técnico-táticas.Muitos e muitos artigos que publiquei ficaram expostos solitariamente aos meus únicos depoimentos, como se representassem a verdade inquestionavel,como se toda a razão pendesse para o meu lado.Sabemos de muito quais os verdadeiros motivos de tanta omissão,de tanto desprezo pelo debate e pelas ansiadas divergências,lastimáveis ausências alimentadoras insaciáveis do retrocesso cultural que antecede ao cáos.Mas apesar de tudo,mantenho as esperanças em uma retomada no soerguimento do grande jogo.Um abraço,Paulo Murilo.