E NÃO DEU OUTRA…
E não deu outra, infelizmente. Bastou uma equipe pressionar de verdade nossos jogadores, em especial o Huertas e o Spliter, e pronto, o coletivismo quase desmoronou de todo.Passamos ao individualismo recalcitrante, para desespero do Moncho, que pela primeira vez esbravejou do banco, emitindo um eco que reverberou no ginásio praticamente vazio. Não fosse a qualidade incontestável do nosso armador, e da pujança reboteira na defesa, e a vaca teria ido pro brejo de vez. E de repente,um estafado Huertas praticamente tropeça na bola, sendo por uns pouquíssimos minutos( salvo engano, 3 ou 4 ) substituido pelo Fulvio que de cara, cercado por dois australianos perde a bola e a tranqüilidade por não agüentar o tranco, forçando a volta rápida do Huertas numa hora de decisão. E tudo isso lá pelos idos do segundo tempo.
Quanto ao Spliter, toda a carga possível dos pivôs australianas foi tentada sobre ele, que se eximindo de esgotar seu estoque de faltas propiciou um mar de rebotes ofensivos australianos. Com a possibilidade de um segundo ataque, o jogo pendeu para eles de forma natural e óbvia. Os outros pivôs até que não foram mal, mas como enfrentavam uma defesa poderosa e bem distribuída, poucas oportunidades tiveram de sucesso
Para variar, nossos alas falhavam seguidamente na defesa, permitindo infiltrações frontais e laterais, que em algumas e importantes fases do jogo forçaram os pivôs a cometerem faltas nas tentativas de cobertura, fator este que se não for urgentemente corrigido, será fatal contra gregos e alemães nos jogos decisivos da semana que vem.
Sob tal pressão, é que pudemos aquilatar as deficiências gritantes nos fundamentos do jogo, principalmente nos dribles e nos passes incisivos para o miolo da defesa australiana, o que ocasionou uma distribuição aleatória dos mesmos, sem a precisão dos jogos anteriores, onde a flacidez defensiva propiciava a enganosa sensação de coletivismo tático. Como a função primordial de uma boa e severa defesa é a de “dividir para destruir”, bastou os australianos interromperem pela anteposição as linhas de passe da nossa equipe, para determinarem os rumos da partida. Além do mais, tal posicionamento defensivo expôs a instabilidade de nossos “especialistas” nos três pontos, fato que já havia sido mencionado pelo próprio Moncho. E mais ainda, desnudou a premissa defendida por muitos, de que experiência se ganha jogando, quando na verdade ela é mais produto de muito treino, aprendizagem técnica e específica, culminando com os jogos. Para quem duvida, espelhem-se no exemplo do vôlei, que treina, inclusive, em dias de jogo.
Uma seleção para disputar um torneio de vida ou morte como esse Pré-Olímpico, não pode prescindir de jogadores testados, experientes, treinados e calejados pelo processo de maturação vivencial, que são os pré-requisitos para enfrentarem equipes que possuem este perfil. Ao olharmos o banco de nossa equipe no jogo de hoje, percebemos que se antes um dos jogadores não participava dos jogos anteriores, hoje já eram dois, e a continuarem as dificuldades e deficiências, logo logo, serão quatro. E nesse momento, lastimaremos a imprevidência e falta de planejamento adequado à importância da competição, planejamento este eivado de atitudes politiqueiras e projeções de fictícia realidade, como se tapar o sol com uma peneira fosse algo a ser admitido como natural e sem remédio.
Teremos à partir da semana que vem dois grandíssimos problemas, já que nossos adversários, pelo favor prestado pelos já classificados australianos, puderam captar preciosas informações a nosso respeito, a começar pela impossibilidade da seleção manter um determinado nível de atuação na ausência, mesmo momentânea do Huertas, o que os levarão a exercer uma fortíssima carga defensiva sobre o mesmo, sabedores que são da improvável capacidade de seu substituto, quando atua sozinho na armação. O mesmo processo será exercido sobre o Spliter, quebrando nossas mais atuantes referências. Com estas ações provocarão a atitude que sempre esperam de nós nos últimos tempos, a de partirmos para o individualismo irresponsável e previsível.
Como poderá o técnico espanhol enfrentar tal evidência? Só vejo uma solução, que já tentou tímida ou de forma disfarçada em alguns momentos, a de atuar com os dois armadores que possui ao mesmo tempo, pois desta forma, e contando com uma melhora na auto-estima do Fulvio, possam os dois multiplicarem também por dois as dificuldades dos adversários ao pressioná-los, e propiciarem mais espaços para os arremessos de media e longa distâncias, somente possíveis com o substancial aumento de velocidade nas infiltrações e nos passes . Assim como, dotar o Spliter de um companheiro que o cubra e bloqueie os pivôs adversários, ajudando-o a não cometer faltas pessoais, habilidade esta que somente o Probst possui nesta seleção.
Ou pode deixar tudo como está, agindo e jogando como vem fazendo, torcendo para que nossos adversários não atuem melhor do que já atuaram até agora, partindo do principio globalizado, de que sendo idêntica a forma de jogar entre todos os participantes, vencerá aquele que no dia decisivo possuir nas padronizadas posições jogadores que se sobressaiam sobre os adversários, numa roleta de improvável perspectiva, contudo com “um passe a mais”.
Que não nos enganemos, e os australianos já nos avisaram, que quando a bola subir na próxima terça-feira, independendo de que adversário for, teremos de nos conscientizar de que, por melhor que seja um técnico, por melhor que seja um sistema de jogo, por melhor que esteja nosso estado de espírito, uma seleção não muda em 20 dias, nem em 200, se não estiver lastreada em um planejamento a longo prazo, que priorize a base e a especialização de seus técnicos, assim como na qualidade de seus dirigentes, o que, infelizmente, ainda não é o caso.
Que os deuses nos ajudem se merecermos a classificação, que nos ajudem mais um pouco, nos mostrando e iluminando a trilha perdida pelam omissão….de nos todos.
Amém.
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