O ÓTIMO BLOG DO CRUZ…
O grande amigo Pedro Rodrigues de Brasília, me envia regularmente ótimos artigos sobre os mais variados assuntos, sempre de bons autores, que nos propiciam oportunos e sempre atualizados debates. Ontem, um dos artigos enviados, o do jornalista José Cruz, do Correio Braziliense, publicado no passado dia 24, em seu Blog do Cruz, despertou em mim uma saudável inveja, por não ter sido o autor, sobre um assunto que sempre discuto aqui no blog. Em poucos parágrafos o Cruz disseca uma dolorosa realidade do nosso desporto, que como mencionei antes não tive a oportunidade de publicar, mas uma oportunidade muito maior em lê-lo, oportunidade esta que passo a dividir com os leitores, sendo esta a segunda vez que o faço neste blog.
DISCURSO E REALIDADE DO ESPORTE OLÍMPICO
A duas semanas dos Jogos de Pequim, há bons temas para análise.
Por exemplo, o crescimento da delegação brasileira, a maior até aqui, com 278 competidores, e o aporte de verbas para a preparação dos atletas, em torno de R$ 500 milhões nos últimos quatro anos.
Começo pela parte burocrática: os discursos, excelentes sinalizadores.
Poucos prestaram atenção sobre o que significa uma ou outra manifestação que, muitas vezes, abrange um contexto mais amplo.
Recentemente, quando recebeu no Palácio do Planalto parte da delegação que vai a Pequim, o presidente Lula não cobrou resultados.
Mesmo sendo o governo federal o principal financiador do esporte olímpico, seria antipático se fizesse isso publicamente.
Lula apenas desejou que os atletas ganhassem os pódios possíveis.
Na mesma solenidade palaciana, a cobrança veio do ministro do Esporte,
Orlando Silva: “O Brasil, em função da melhor preparação da sua delegação, que é a maior da história, pode ter o melhor desempenho até agora. Nunca tivemos tão bons profissionais e tanto apoio”.
Sem ser direto, Orlando Silva diz aos dirigentes do olimpismo nacional que o governo espera, sim, mais medalhas.
Porque de seis estatais — Banco do Brasil, Petrobras, Caixa, Correios,
Infraero e Eletrobrás —, das loterias federais e da Lei de Incentivo ao Esporte, o olimpismo recebeu em média R$ 125 milhões por ano durante o atual ciclo olímpico.
Há bom tempo o ministro do Esporte tem insistido nesse assunto, pois sabe muito bem sobre o volume de dinheiro disponível, um contraste espetacular com os orçamentos miseráveis de 10 anos atrás.
Nessa realidade, seria oportuno que Orlando Silva pedisse que as estatais divulgassem os contratos com seus patrocinados. Por exemplo, ao liberar R$12 milhões anuais para o atletismo, que metas são fixadas?
E a natação, quantos atletas deve colocar anualmente entre os 15 do ranking mundial, em resposta aos recursos que recebe dos Correios? Existem exigências para a revelação de talentos? Extra-oficialmente não, o que é uma falha espetacular nessa parceria. Doa-se o dinheiro sob a ótica do marketing esportivo, exclusivamente.
Assim agindo, o governo comporta-se apenas como um doador sem limites.
Na prática, é o Estado financiando o esporte, mas sem participar ou opinar sobre as decisões de como e onde aplicar o dinheiro. Essa é uma relação difícil e nada amistosa, sabe-se bem, pois o doador é um ente político — de interesses partidários e de ocasião —, enquanto o gestor é uma entidade civil, que foge da burocracia e do controle governamental.
Mas porque o vôlei recebe mais recursos das loterias federais, mesmo tendo expressivo patrocínio do Banco do Brasil? Qual a prioridade no ciclo olímpico: o remo ou a canoagem? O atletismo ou a natação? O judô ou o taekwondo?
São decisões, enfim, tomadas por uma elite, a portas fechadas, sem dar
satisfações à comunidade esportiva que, efetivamente, é quem financia todos esses esportes.
Enquanto isso…
Por conta dessas dúvidas e indefinições, passou despercebido de muitos que, para aumentar a equipe olímpica, os índices de algumas modalidades foram facilitados. No atletismo, por exemplo, muitas provas tiveram seus tempos ou marcas iguais aos exigidos para os Jogos de Sydney, em 2000, conforme estudo do professor Fernando Franco, do Centro de Estudos de Atletismo. Ou seja, a delegação cresceu, mas a qualidade é a mesma de dois ciclos olímpicos atrás.
É por isso que Franco avalia que, sem contar com os maratonistas, temos apenas quatro atletas com chances de chegar ao pódio em Pequim: Maurren Maggi (salto em distância), Jadel Gregório (triplo), Fabiana Murer (salto com vara) e Jessé de Lima (salto em altura). De que vale a quantidade se nos falta a qualidade, já que a maioria não está entre os 30 melhores do mundo?
Essa realidade demonstra como estamos atrasados na revelação de valores, o mesmo ocorrendo com a natação.
Isso confirma o que já discutimos neste espaço: apesar do dinheiro
disponível, pouquíssimas confederações aplicam na base, na iniciação. É um trabalho que o Comitê Olímpico Brasileiro nem quer ouvir falar.
Diz que compete ao governo, via desporto escolar. Nesse aspecto o governo é omisso, porque nem sequer tem política para tanto.
Há evoluções, claro, como o judô, rigoroso na formação e na seleção de seus atletas. Mas ainda sem a participação significativa das federações, que continuam alijadas do sistema. Ou seja, o dinheiro é muito, mas com concentração na cúpula, na elite. É nesse aspecto que o ministro Orlando Silva poderia ser bem mais exigente. Afinal, é a autoridade máxima do ESPORTE NACIONAL.
O site do Blog do Cruz – http://www.eunaotenhonome.com.br/blog/blogdocruz
Que artigo maravilhoso!!!! Esclarece bem, o quanto estamos atrasados ainda!!!!
Incrível… Não sabia que os índices olímpicos são os mesmos de 2000!!!! Que vergonha… Estou envergonhado do meu país e da mídia nacional que sabe e não comenta isso ao vivo!!!! Enquanto isso o governo federal e o COB ficam se gabando que os esportes olímpicos estão crescendo e tal… Mas tudo não passa de ilusão!!!!!
Só sinto prezado Clóvis,que verdades como estas, chocantes,comprometedoras e vergonhosas tenham um alcance tão limitado em sua divulgação.Por isso o publiquei.Bem sei que o blog não tem o alcance desejado, mas ao fazê-lo fiz justiça a um dos artigos mais instigantes que li nos últimos tempos.Um abraço,
Paulo Murilo.