DESFILANDO A ILUSÃO…
Daqui a dois dias estaremos sôfregos na frente da TV apreciando de longe a festança de abertura de mais uma Olimpíada. Cores, muito brilho e pompa descomunal, marcarão, como sempre marcaram, o inicio da mais importante efeméride do esporte mundial.
Veremos delegações minúsculas, até de um único participante, contrastando com o gigantismo das grandes potências, plenas de campeões, super treinamento, performances mais do que anunciadas e esperadas, graças ao milagre da informação tecnológica, distribuída pelos satélites globalizados. Constataremos daí para diante, os resultados de políticas educacionais e conseqüentemente desportivas, através recordes batidos e medalhas conquistadas, numa demonstração cabal de competência e fundamentação administrativa.
Também veremos nossa delegação gigante, “como nunca na historia desse país”, recheada e inchada de atletas que lá estarão “para aprender”, e cujas possibilidades de medalhas se perdem no caudal de vaidades da grossa tropa de dirigentes, escudada na dinheirama alocada nessa tresloucada exibição de falso poder, de falsa capacitação, reflexos da brutal insensibilidade às verdadeiras necessidades de nossa juventude, para a qual esses milhões jogados de encontro ao nada, ou ao muito pouco, tanto poderiam exeqüibilizar bons e efetivos projetos de desenvolvimento e implemento desportivo que realmente a auxiliasse.Se um pacote de baixo custo(se isso fosse possível…) para que um cidadão comum fosse á China assistir algumas poucas competições, beira aos 10-12 mil reais, multipliquem pela totalidade da delegação recordista, e verão como se joga dinheiro publico pela janela da historia, sem contar as verbas para uma preparação com índices classificatórios ridículos.
Se mandássemos aqueles atletas e aquelas equipes com reais possibilidades de medalhas, que é o certo em se tratando da maior competição mundial, talvez não passássemos dos 70 atletas e 10-15 dirigentes.
Mas não, um pais continental, instruído, educado, culturalmente sedimentado, com IDH a caminho do primeiro mundo, com índice de analfabetismo nos 1,5%, com fome zero autenticada, baixo índice de criminalidade, altos padrões de saúde, e que além destas qualificações elegem representantes do mais alto nível para liderá-lo, não pode se furtar na exibição explicita de toda esta grandeza, de toda esta demonstração de poder, que na triste realidade trata-se de um poder fictício, enganoso, criminoso.
E toda esta farsa para vender a imagem de um país olímpico, que se candidata à prova definitiva de capacitação social, educacional, econômica e de liderança e influencia política na promoção, organização e patrocínio de uma Olimpiada em 2016, numa insana inversão de valores, de prioridades, de objetivos e determinismos. Sonham e projetam um clímax, antes de merecer sonhá-lo, colhem os frutos antes de plantarem as arvores, buscam notoriedade e reconhecimento sem sequer serem conhecidas e aceitas suas mais básicas condições de cidadania, ponto de partida de uma grande nação, aquela para quem uma Olimpíada representa e autentica seu sucesso e pleno valor democrático.
No entanto, o interesse maior de empreiteiras, construtoras, industrias de marketing, falsas promessas de empregos permanentes, pseudas benfeitorias pós competições, com seus esquecidos transportes de massa, suas continuadas mazelas e esgotos á céu aberto, suas sempre abençoadas verbas superfaturadas, suas dragagens abandonadas e mal cheirosas, emulando a catinga que emerge do cérebro de um certo tipo de gente que só vive, planeja e aceita a convivência com a riqueza fácil e acessível, propiciada pela ignorância e pobreza de um povo que nada representa para sua desmedida ambição. Educá-lo seria a morte da galinha dos ovos de ouro dessa gente insensível e profundamente mafiosa.
O desfile gigante dos iludidos representantes de nossa sofrida gente, a par de seus coloridos uniformes e a costumeira e pasteurizada alegria, pouco terá a ver com a verdadeira destinação de uma competição olímpica, salvo aqueles que lá merecem estar, mostrará uma falsa realidade, uma mentira descomunal, uma encenação de poder e capacitação longe, muito longe de representar o que realmente somos, e em que estagio de desenvolvimento estamos.
Uma garbosa bandeira e uma pequena delegação de verdadeiros aspirantes às medalhas, demonstraria mais seriedade e respeito, que o carnaval fora de época que apresentaremos a um nada iludido e desinformado mundo globalizado, que lá no fundo esfregará com satisfação suas mãos, na constatação que o grande gigante ainda ficará adormecido por um longo tempo, pelo menos enquanto tiver em sua liderança esse odioso tipo de gente, que antes do amor ao seu povo e sua nação, ama o que pode auferir e tomar dela.
Amém.