O GRANDE E PESADO EQUÍVOCO…

E não choveu nem trovejou, mas antes tivesse caído um temporal daqueles levando a rede elétrica abaixo, pois me pouparia de assistir um dos piores jogos de uma equipe que vinha progressivamente se incluindo em um novo tempo técnico tático, o nosso rubro negro de tantas glórias, mas que resolveu voltar no tempo contratando um pivô de choque, com um currículo internacional de seguidos equívocos, fraco tecnicamente e incrivelmente ingênuo na doce pretensão de se considerar um astro internacional. E deve ter custado caro seu contrato, haja vista o longo impasse para sua contratação. Resultado? A equipe deu marcha à ré no seu evolutivo modo de jogar, abandonou a vitoriosa e convincente dupla armação, e voltou-se para o jogo estratificado e centrado na força e no duelo de massas dentro do garrafão.

Perdeu o Flamengo a grande chance de classificação ao enfrentar uma equipe desgastada pela contundente derrota de véspera contra Brasília, e com a necessidade de alcançar difíceis 35 pontos de vantagem, necessários à sua classificação no tríplice empate. Preso a um esquema com finalidade de otimizar o pivozão, abdicou da velocidade em prol de uma nulidade técnica que eclodiu na sua última participação ao final de uma partida que ainda poderia ter sido ganha, ao perder uma bola dominada em sua defesa para um dos armadores argentinos, e ainda cometendo a sua quinta falta. Realmente constrangedor.

Nosso basquete está tão pobre de valores, que se dá ao luxo inconcebível de retroceder nos poucos e sacrificados avanços técnico táticos conseguidos, para promover um certo tipo de jogador que está em processo de extinção, inclusive na própria NBA e no basquete internacional, substituído por outros mais velozes e ágeis, vide a recuperação física do Nenê, evidentemente mais esguio, e por conseguinte mais rápido e flexível.

E o mais incrível é o apoio emanado de uma certa critica desportiva, incentivadora e promotora deste tipo de performance técnica (?), demonstrando profunda ignorância do que venha a ser um basquetebol adequado às nossas qualidades e habilidades, que passam a quilômetros de distância deste modelo anacrônico impingido e falseado de conteúdos confiáveis.

Ai estão Franca, Limeira, Minas e agora Brasília na comprovação de que a época dos dinossauros vem acabando entre nós, com uma década de atraso se comparado aos europeus e aos nossos hermanos do sul, e inclusive, pasmem, nas terras do basqueteiro Obama, com seu perfil atlético e longilíneo.

Torço para que a equipe da Gávea reencontre seu eficiente basquete dos últimos dois anos, a fim de que se destaque no NBB que se avizinha.

Amém.



10 comentários

  1. Alfredo Lauria 17.01.2009

    Caro prof. Pauro Murilo,

    Foi abordada uma questão bem interessante no seu texto e vou ousar discordar um pouco do seu ponto de vista.

    A contratação do Baby realmente pode ter sido “cara” para os padrões nacionais, mas não acredito que seja um “retrocesso” nem para o basquete do Flamengo, muito menos para o basquete brasileiro.

    Quem acompanhou a carreira de Baby sabe que ele não é, nunca foi e nunca será um jogador genial.

    Aliás, convenhamos, qual é o jogador genial atuando no Brasil? Alex? Marcelinho Machado? Nezinho?

    Contudo, Baby é sim um jogador que pode fazer a diferença quando enfrentar os geralmente fracos garrafões que encontrará no NBB.

    Sobre o jogo de ontem, há uns aspectos a serem considerados. Ele estava sem jogar há meses e entrou logo num torneio de tiro curto com 3 jogos seguidos. Aguentou bem as duas primeiras partidas, mas estava visivelmente arruinado fisicamente no último jogo, exatamente aquele mais difícil pelas características dos jogadores de Sunchales (jogadores de garrafão leves, ágeis e com tiro de longa distância). A maioria das faltas bobas que cometeu foi justamente por chegar atrasado na marcação/bloqueio. As outras foram pela frustração que acometeu o grupo inteiro.

    Não bastasse, a equipe titular pouco treinou ao lado de Baby, que vinha atuando com os reservas, em virtude da indefinição contratual. É difícil tirar definições táticas nessa situação ou poderíamos chegar a equivocadas conclusões como a de que o Minas Tênis Clube piorou com a chegada do Ricardo Probst (comparando a atuação anterior, na Liga da Américas, com a atuação posterior, na “Copa Sudeste”)

    Já sobre o lance específico do rebote, se por um lado, o erro foi realmente bobo, por outro, ele não pode ser crucificado pela derrota. Na jogadas anteriores, Baby deu um bom toco e deu um tapinha/rebote ofensivo que colocaram o Flamengo na partida.

    A verdade é que o time inteiro perdeu a partida. Aliás, quantos não foram os arremessos de longa distância sem marcação alguma desperdiçados pelos rubro-negros nos minutos derradeiros, principalmente nas mãos de Hélio, Jefferson e Duda? Para não falar da forma desastrosa que Marcelinho Machado atuou nos 3 primeiros períodos.

    No mais, não vejo como a substituição de um jogador pobre tecnicamente como o Maicon pelo Baby podem ter causado um retrocesso no elenco rubro-negro. O time que perdeu ontem para os campeões argentinos basicamente foi o mesmo que perdeu para o Regatas Corrientes em 2008 e talvez até melhor do que aquele que foi surrado na Liga das Américas de 2007/08.

    Se o Flamengo foi um “time de ponta em 2008”, tal fato se deveu muito mais pelo baixo nível técnico das competições que disputou do que propriamente por uma super virtude do rubro-negro.

    A competição nacional de 2009 terá um nível mais elevado do que as edições anteriores, principalmente em virtude da presença das equipes paulistas (Limeira e Franca, em destaque) e de alguns outros reforços (Ricardo Probst em Minas e Alex no Universo, apenas para citar alguns exemplos).

    O Flamengo, na minha opinião, fez bem em se reforçar, até para depender cada vez menos dos famigerados arremessos de 3 pontos dos irmãos Machados.

    E, honestamente, já na temporada passada eu não via qualquer padrão técnico na equipe rubro-negra que, na minha opinião, é dirigida por um treinador medíocre até para o nosso nível.

    De uma forma ou de outra, a contratação de Baby serve de uma “pequena atração” para o nosso campeonato, recentemente caracterizado pela absoluta falta de atrações.

    Abraços,

    Alfredo

  2. Basquete Brasil 17.01.2009

    Muito bom,muito bom mesmo seu comentário Alfredo,e com argumentação forte e dificil de ser contestada, mas não impossível. Vejamos- até a vinda do Baby,a equipe usava com sucesso a dupla armação,com Fred e Helio,o que obrigava o técnico a utilizar somente um dos irmãos de cada vez, atenuando em muito as aventuras de três pontos. E mesmo quando o Marcelo agia de segundo armador no impedimento de um dos efetivos, o fazia com mais parcimônia nos arremessos,substituindo muitos deles por assistências de bom nivel técnico.E por isso a equipe se firmou e pode duelar em boas condições com as demais equipes brasileiras, inclusive as paulistas.Com o pesado e lento pivô,o retrocesso apontado por mim foi exatamente o abandono da dupla armação pela forma tradicional de jogar, onde a dupla Machado teria lugar garantido no quinteto base,já que não são armadores nem em pensamento.Por outro lado, o pivozão necessitaria de um apoio nas tabelas, o que grantia a escalação de um outro pivô, ou ala pivô,para exequibilizar o sistema tradicional. O rompimento evolutivo foi exatamente este, voltar a jogar em torno de um pivô de choque, imparável como muitos disgnosticam, mas na contra mão dos preceitos de velocidade, agilidade e jogo inteligente. A atração como argumento de marketing,num basquete carente de estrelas, soa,para mim, discutivel,já que o jogador em questão é reconhecidamente fraco tecnicamente e muitissimo limitado em criatividade,fator fundamental na posição em que atua.Quanto ao padrão técnico,no momento em que começava a se firmar,vê-se rompido pela volúpia de contar com um jogador egresso da liga maior,embora desprezado pela mesma.A volta às origens técnico táticas, infelizmente, contribuiu para que seu técnico se colocasse numa situação contestatória à sua liderança,já que aceitou,ou mesmo contribuiu para a duvidosa contratação.O impasse na escolha entre a tradicional e limitada forma de jogar,aceita pela maioria dos técnicos e jogadores,com algo de novo e nada garantido sucesso, determinou a opção do técnico pelo tradicional, o que foi realmente uma pena. Em tempo, o Libertad Sunchales jogou todo o tempo com dois armadores,municiando a trinca de ágeis, rápidos e decisivos americanos. Um abraço Alfredo,e obrigado pelos inteligentes e fundamentados comentários. Paulo Murilo.

  3. Glauco nascimento 19.01.2009

    Ao meu ver a contratação de Baby é interessante como opção tática. Acredito eu que ele vai ser bem util para o Flamengo em muitos jogos na NBB. A questão é que no jogo contra o LIbertad Sunchales o Flamengo deveria ter usado o estilo de jogo que o consagrou em 2008. Concordo com Alfredo quando diz que as competições que o Flamengo participou ano passado não foram de alto nível. Vejo também que o Flamengo sofre com a pressão quando joga com times internacionais. A derrota para o Regatas foi muito difícil para eu como torcedor do Flamengo e adorador do basquete. Agora essa derrota para o Libertad. Depois de ver o dois primeiros jogos do Flamengo e a vitória do Minas sobre o Libertad já dava como certa classificação do Flamengo. Espero que o Flamengo se foque agora na NBB porque vai ser uma competição que terá times realmente fortes como os já citados Franca e Limeira. Vamos ver ser Paulo Chupeta faz melhores escolhas nos jogos, os irmãos Machado se controlem na linha de 3 pontos e que Baby consiga fazer o seu papel e até melhore procurando se adequar melhor ao time do Flamengo!

  4. Basquete Brasil 19.01.2009

    Prezado Glauco,num momento de graves limitações econômicas por que todos nós passamos, contratar um jogador polêmico e que terá enormes dificuldades de entrosamento com o modus operandi da equipe do Flamengo,e a peso de muitos reais,bem que os mesmos poderiam ter sido investidos em um ou dois bons pivôs da nova geração, rápidos e mais leves,que se adequariam como luvas dentro do sistema que a equipe adotou com sucesso de dois anos para cá. Nem sempre o peso de marketing em torno de um nome se transforma em eficiência técnica,o que foi e está sendo comprovado pelo retrocesso técnico tático apresentado nos últimos jogos pela equipe carioca. Bem,esse é o meu ponto de vista, dentro do que concebo como basquetebol adquado às nossas habilidades e destrezas. Um abraço, Paulo Murilo.

  5. Glauco Nascimento 19.01.2009

    Concordo plenamente com o que você disse, o Flamengo poderia ter gasto o dinheiro em um ou dois pivôs da nova geração, apenas falo que o Flamengo, assim como a maioria dos “clubes de futebol” pensa mais no marketing. Sou um fanático pelo basquete e procuro ler tudo sobre até pelo fato de eu querer trabalhar com o desenvolvimento de jogadores. O que você friza no seu blog é muito importante, o esquema de 2 armadores e 3 pivôs moveis. Espero aprender mais e mais sobre esse estilo de jogo! Abraço e parabéns por esse trabalho que enriquece tantos outros amantes desse esporte!

  6. Basquete Brasil 20.01.2009

    Prezado Glauco,uma das capacitações mais valorizadas para um técnico da liga universitária americana,a NCAA, é a de selecionar e escolher talentos para suas equipes.Aqui entre nós o mais importante é selecioná-los e contratá-los pelo nome e prestígio que ostentam,na maioria das vezes produtos de autopromoções e marketing pago.Infelizmente essa é a dura realidade.Quanto ao sistema de jogo que advogo,nos próximos dias darei continuidade aos artigos técnicos sobre o mesmo, com muitas e diversificadas informações e imagens.Um abraço, Paulo Murilo.

  7. Alfredo Lauria 22.01.2009

    Prezado Paulo Murilo,

    A sua resposta me fez compreender melhor a sua opinião, com a qual compartilho na maior parte.

    A parte tática do jogo, devo admitir, não é nem nunca será o meu ponto forte no basquete. Sobre esse aspecto, acho que ninguém melhor que o professor para dissertar.

    Agora, por ter acompanhado de muito perto a temporada 2008 do Flamengo, levanto um outro tema a debate: seria Baby o responsável pelo time abdicar da “dupla armação” ou seria culpa do Duda?

    Pergunto isso porque o Duda, que vinha sendo utilizado com MUITA EFICIÊNCIA vindo do banco de reservas perdeu a paciência com o seu “status de reserva de luxo” nas finais do Campeonato Nacional, chegando a demonstrar irritação com o técnico Chupeta.

    Depois, veio a convocação para a seleção brasileira principal e, numa espécie de movimento automático, o técnico Paulo Chupeta passou a usar Duda no quinteto inicial.

    Isso, ao meu ver, impossibilitou a “dupla armação”, pois como você disse, nenhum dos Machados tem a habilidade para armar o jogo. Além disso, seria completamente temerário escalar Hélio, Fred, Marcelinho e Duda juntos, por causa da estatura da equipe.

    Não bastasse, o time perdeu demais com a falta da energia que Duda trazia do banco.

    Abraços,

    Alfredo

  8. Basquete Brasil 23.01.2009

    Prezado Alfredo, eis outra colocação bem posta por você, e que reforça em mim a convicção de que a vinda do Baby desconcertou uma equipe razoavelmente composta, tendo como vetor principal a velocidade de ações. As opções de seu técnico agora esbarram na manutenção titular de um jogador antítese do sistema que havia implantado, provocando outras titularidades decorrentes. Acredito que a situação venha a se tornar de dificil administração, pois egos irão se sobrepor aos interesses do grupo.Enfim, não se quebra um sistema longamente desenvolvido e treinado impunemente. Espero que saibam levar o barco a bom porto. Um abraço, Paulo Murilo.

  9. Alfredo Lauria 26.01.2009

    Prezado professor, para alimentar ainda mais a boa discussão.

    Hoje, publicamos a notícia de que o bom pivô uruguaio Esteban Batista foi contratado por 15 mil dólares mensais pelo Libertad Sunchales.

    O salário é pouco menos do que ganha o Machado no Flamengo e certamente bem parecido do valor que pagam ao Baby.

    Há alguma dúvida de que o Esteban seria uma contratação muito melhor do que o Rafael?

    Grande abraço,

    Alfredo

  10. Basquete Brasil 27.01.2009

    Sem dúvida nenhuma Alfredo,mas como o mercado de um Mercosul qualquer pode rivalizar com NBA, como? Quando menciono sistematicamente nossa herança colonial, situo uma realidade incontestável.O Esteban é muitissimo superior tecnicamente ao Baby,e mesmo tendo atuado na grande Liga comete um pecado, é uruguaio.Bom para o Sunchales, pior para nós.Um abraço, Paulo.

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