A NCAA E O CONGRESSO…

Passo a tarde e a noite enfurnado no March Madness, agora em HDTV via Internet, numa qualidade espantosa para os nossos padrões, quando para vermos um jogo televisado contamos com os benfazejos e aleatórios fluidos da SPORTV. As finais da NCAA é uma experiência fascinante para quem ama o grande jogo, pois envolve jogadores, ex jogadores de todas as épocas e idades, famílias inteiras, imprensa farta e monumentais doses de emoção e suspense.

Mais uma vez atestamos a enorme capacidade evolutiva daquele basquete magistral, que sob o manto inspirador de um Coach K tenta soerguer sua hegemonia perdida no plano internacional, atitude esta iniciada na reconquista olímpica na Grécia, e agora continuada na verdadeira revolução técnico tática desencadeada pelos técnicos universitários junto à suas equipes.

Vemos o quanto evoluíram no jogo interior contando com jogadores muito altos, porém ágeis e atléticos, onde os poucos mastodontes remanescentes em pouquíssimas equipes do conjunto de 64 universidades, destoavam e se viam subjugados ante uma velocidade de ações que não possuíam, aspecto este desejado e divulgado pelo técnico de Duke, como um dos fatores primordiais aos futuros embates no plano internacional, cujas equipes os ultrapassaram na última década, assim como o aparecimento maciço de grandes arremessadores de três pontos, sem a volúpia dos nossos, pois somente aqueles realmente especialistas os executam.

Mas, justiça seja mais do que feita, continuam imbatíveis nos fundamentos, onde a totalidade de seus jogadores praticam um basquete solidário e corajoso, ofensiva e defensivamente falando, na afirmação da grande escola onde são mestres.

No entanto, ainda pecam na maneira extremamente física de atuar, principalmente na defesa, fator este que sob uma arbitragem nas regras internacionais poucos ou quase nenhum dos jogadores chegariam ao final dos jogos, eliminados pelo limite das cinco faltas pessoais. É uma situação delicada se observada pela ótica de um basquetebol que luta pela inserção no plano das competições internacionais, exatamente o que preconiza o Coach K.

Grande festa por lá, e por aqui um I Congresso Técnico do NBB, onde os participantes foram os 15 técnicos da liga e mais três convidados, o técnico Ary Vidal, e os comentaristas e também professores, Wlamir Marques e Bira Bello, e só.

E quando digo só, é porque em nenhum dos veículos de mídia em que o tal congresso foi veiculado foi incluído um convite aos demais técnicos, simpatizantes e jornalistas, o que me deixou frustrado, pois jamais compareceria em um congresso, reunião, colóquio, palestra ou conferência sem pelo menos ser convidado, mesmo que através uma comunicação generalista pela mídia.

E como prezo acima de tudo a seriedade em ações deste tipo, começo com uma definição do Dicionário Aurélio:

Congresso sm. 1. Reunião, encontro, de cientistas, de membros de uma classe, etc (…)

Como vemos, um congresso também pode ser definido como a reunião de uma classe, no caso os técnicos, e não somente quinze deles e três convidados, os quais foram perfeitamente definidos por um deles, o Prof.Wlamir Marques, quando concordaram unanimemente que a formação de novos valores no basquete brasileiro está deficitária – “O trabalho na base precisa ser melhorado. Esses são técnicos de produto final; não são eles os técnicos para desenvolver os jogadores. Os atletas têm de chegar nas mãos deles com certo trabalho e, às vezes, eles estão se desgastando muito para ensinar algumas coisas que já deveriam saber quando vão à categoria adulto”

Discordo do Prof.Wlamir, que com sua notória boa vontade e política apaziguadora retira muito da responsabilidade corretiva de técnicos que define como de produto final, quando a maioria deles é inabilitada na formação por onde nunca passaram ou mesmo se interessaram de verdade, num mercado restrito onde uma combinação de jogadores, sistema único de jogo e rodízio entre equipes os tornam agora, e por vontade exclusiva deles e não de uma classe, os porta vozes de uma reforma unilateral, inclusive quando afirmam que para mudar o atual panorama concordam que é necessário uma reciclagem dos técnicos de formação, e que ficou acertada uma reunião no final do campeonato para troca de experiências. “Nós faremos uma clinica de credenciamento dos treinadores, onde cada um deles terá um tema a desenvolver. Nós ainda estamos estudando a possibilidade de ter algum convidado, para dar palestra e auxiliar na clínica”, contou Lula Ferreira, técnico de Brasília.

Formidável, fantástico, inenarrável, quinze técnicos de produto final, segundo O Prof. Wlamir, credenciarão técnicos de formação em uma clinica ao final do campeonato, e ainda estudarão a possibilidade, ou não de convidarem um palestrante para auxiliar na mesma, sem que os mesmos tenham sido escolhidos democraticamente por seus pares, os professores e técnicos do país, através uma associação de técnicos legalizada e séria, única entidade com capacitação dessa ordem, e não um grupo auto eleito por participarem de um campeonato autônomo e agora ensaiando uma escola nacional de treinadores, que ao nascer sob a égide desse autêntico clube do bolinha, perpetrará uma das mais absurdas e constrangedoras ações unilaterais, impositivas e coercitivas de que tivemos noticia no âmago do grande jogo entre nós.

Numa ação dessa magnitude muitos professores e técnicos que passaram verdadeiramente pela formação, ou que ainda lá se encontram, têm de participar obrigatoriamente no processo de reciclagem dos mais novos, e mesmo dos mais veteranos, obedecendo nossas regionalidades, nossas tradições, nossa história, onde a diversificação é ponto crucial em qualquer estudo de organização, fundamentação, princípios didáticos pedagógicos e técnico táticos, além de toda uma estrutura de preparação física e psicológica, e não ser desenvolvida por um grupo de quinze técnicos não avalizados por seus pares, como de direito, e razão lógica.

Mesmo assim, algo foi bem dito – “Como será que nós estaremos daqui a seis anos? Hoje, os maiores jogadores do Brasil estão acima de 30 anos. Lamentavelmente, hoje, nas categorias de base no Brasil, visando o resultado, pega-se garotos de 1,90m e os colocam jogando de pivô por três ou quatro anos. De repente, ele v ai para o adulto e não pode jogar nessa posição. É um erro, nos temos que saber que, nas categorias de base, o principal trabalho tem de ser do domínio dos fundamentos. O garoto de 13 anos, não importa a altura dele, tem de saber jogar de costas, de frente, carregar a bola, a leitura do jogo, os movimentos, os passes. Porque esse jogador, ninguém sabe, com 19 anos, em qual posição vai estar jogando. A definição da posição vai ser quando ele estiver adulto, e até lá, ele precisa dominar todos os fundamentos”, disse Helio Rubens, técnico de Franca.

Essa é a visão do formador, do professor e técnico compromissado com a realidade do basquete, aquela que vemos cristalizada na grande competição da NCAA, nos torneios europeus, nas equipes argentinas, e que já possuímos num passado não tão distante assim, através o trabalho magnífico de grandes técnicos, de magistrais professores, muitos dos quais ainda se encontram no batente, ansiosos de serem convidados a manifestarem suas experiências, suas qualidades formadoras, de jogadores e cidadãos, e não serem mais uma vez marginalizados por uma falsa elite, que está pensando se convidam, ou não, um deles para uma palestra e possível ajuda na clinica recicladora, como os donos da voz universal e livre, a do bom senso e do conhecimento que não é propriedade de alguns poucos, e sim de todos.

Amém.

Em tempo- Dados coletados na reportagem de Adriano Albuquerque para o Basket Brasil( WWW.basketbrasil.com.br ).



2 comentários

  1. Adriano 22.03.2009

    Mestre,
    agradeço o crédito dado à nossa reportagem. Deixe-me acrescentar algumas coisas que o Wlamir e o Hélio disseram e não couberam na matéria publicada no nosso site, e podem enriquecer seu post: Wlamir acha que essa parte de capacitação de técnicos, da formação nacional de treinadores, não é responsabilidade da liga, é da CBB. Ele reclamou do fato de a entidade máxima do nosso basquetebol não ter nenhum representante na reunião de sábado, e ficou a dúvida no ar: não houve porque não foram convidados (falha da liga), ou não houve porque a CBB não quis mandar ninguém (falha da CBB)? Não apurei isto (falha minha), mas como Grego estava neste domingo no Jogo das Estrelas e tem bom relacionamento com a liga, suponho que houve o convite.

    O Hélio disse que foram discutidas iniciativas de trazer técnicos e equipes do Norte/Nordeste para o Sudeste para experiências de intercâmbio e, ao falar dos problemas da base que citamos, acrescentou que tem vontade de enviar alguns técnicos de base “para aquele lugar”, por ter treinado mal os garotos por tantos anos e eles chegarem ao nível adulto sem a instrução necessária. Ele disse que precisa ser repensado e bem definido o que deve ser ensinado para atletas entre 10 e 12 anos, entre 13 e 15 anos, entre 16 e 18.

    E quanto a NCAA online, realmente é um espetáculo. A qualidade da imagem é excelente e os jogos estão cheios de emoção e técnica. Agora, é uma prova da evolução mundial do basquete que os universitários tenham evoluído e, mesmo assim, sejam presas fáceis quando participam de competições internacionais.

    Grande abraço!

  2. Basquete Brasil 22.03.2009

    Obrigado pela materia Adriano.Fico pensando o tempo enorme que o Helio Rubens esteve no comando do basquete brasileiro e nada fez pela união dos técnicos em uma associação ou congenere.Agora,não sendo em absoluto tarde demais, critica a má formação de nossos jovens nos fundamentos, quando teve em mãos todo o poder para corrigir e liderar novas e eficientes formas de preparo, começando pela reciclagem tão mencionada no congresso.Espero que suas criticas cedam espaço a ações efetivas, é o que espero de tão importante personalidade.Mais uma vez parabéns pelas matérias.Um abraço,Paulo Murilo.

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