A VERGONHA OLÍMPICA…
Houve uma época, 40 ou mais anos atrás, que a Escola Municipal República Argentina era um dos orgulhos da minha querida Vila Izabel, onde nasci, e que tinha como diretora minha tia, Professora Alba Iracema.
Hoje, ao ler a inacreditável reportagem sobre a falência do ensino publico do país, e a imagem do mesmo no município do Rio de Janeiro, publicado no O Globo, vi na última colocação do ranking a Escola República Argentina, com uma média total de 36,48 pontos. Com a exceção de poucas escolas federais e Colégios de Aplicação de universidades públicas, a esmagadora maioria das escolas particulares lideram o exame do ENEM.
Coincidentemente, ou não, este Retratos do Brasil, publicado em cinco paginas do conceituado jornal, num momento em que a comissão julgadora do COI nos visita para sabatinar nossas autoridades desportivas e governamentais, visando a aprovação da realização da Olimpíada de 2016 em nossa cidade, põe em cheque a capacidade da mesma e do país ante o fato inquestionável de sequer saberem cuidar da educação de seus jovens, mesmo que também coincidentemente, faz o governo federal publicar em paginas inteiras dos jornais o PDE, ambicioso e pouco crível projeto de educação em massa, com cunho muito mais eleitoreiro do que se propõe realizar.
Se PDEs e outros projetos educacionais transformassem a dura realidade atual, alcançaríamos em duas gerações um razoável patamar de desenvolvimento, através uma juventude bem formada e educada, participante e atuante do progresso nacional, forjando uma sociedade mais justa e participativa, e com perspectivas reais de se situarem positivamente nos campos desportivos, artísticos e sociais, fundamentos essenciais para enfrentarem as grandes competições do mundo moderno, inclusive uma Olimpíada.
Quando vemos um grupo de falsos desportistas e maus brasileiros serem aprovados por lideres governamentais em suas megalômanas aventuras orçadas em alguns bilhões de reais, ao mesmo tempo em que vem à publico a cruel e indescritível realidade da escola no país, em todos os seus segmentos básicos e na formação dos professores, não podemos conter a indignação e a raiva por tanta injustiça, por tanta sem vergonhice e pusilanimidade.
Porque destinar tantos e sacrificados recursos para que sejam embolsados por construtoras, empreiteiras, indústrias de negócios e administração, marketing e publicidade, segurança e hotelaria, a maioria de capitais estrangeiros e certamente superfaturados negócios, retirando deste mesmo governo subsídios que, com folga, gerenciariam seus próprios projetos? Será que temos tantos recursos para financiar a ambos, educação do povo e uma aventura olímpica?
Acredito, não, tenho certeza que se a Olimpíada, por um destes mistérios insondáveis, vier para nossa cidade, PDEs e congêneres vão para o espaço, assim como obras que reverteriam para o povo após os Jogos, vide o trágico exemplo do Pan, serão esquecidas ou terceirizadas para uso fruto de poucos apaniguados, e que mesmo que o transito triplique em frente do palácio da Av.das Américas, nada que um heliporto não resolva, transportando com liberdade o capi cobiano, que com sua turma embarcada no conforto refrigerado ofertará à massa ignara engarrafada abaixo uma bem nutrida e emblemática banana, análoga àquela do capitulo final da novela Vale Tudo, quando o personagem vivido magistralmente pelo ator Reginaldo Faria brinda o povo brasileiro ao fugir após suas falcatruas.
É uma pena que tão drástica e elucidativa matéria jornalística não faça parte do arsenal de perguntas para as sabatinas pré olímpicas, pois se fizesse não seria nem mesmo um presidente que se gaba de não ler jornais, capaz de explicar e justificar a inexplicável e injustificável pretensão olímpica à custa do covarde sacrifício de gerações de jovens brasileiros.
Que os deuses nos protejam e que a justiça e o bom senso prevaleçam.
Amém.