O PRIMADO DO COMANDO…
“Olá Prof. sou completamente apaixonado pela modalidade, sou ex-atleta do Club Municipal do RJ, sou formado em Ed. Física e agora estou atuando como técnico de Basquetebol, sempre procurei por aqui no Rio de Janeiro, e infelizmente não encontrei nenhum grupo de estudo cientifico sobre a modalidade, inclusive poucas publicações e pesquisas dentro deste maravilhoso esporte, gostaria de saber se o senhor conhece algum grupo de estudo, pois tenho lido muitos artigos e a maioria são de Universidades de SP, desejo muito que esta cidade maravilhosa produza mais pesquisas dentro da modalidade, e gostaria de acompanhar e se puder participar de grupos de estudos sobre o Basquetebol,
Agradeço desde já,
Abraços”.(……)
Recebi esse email hoje,e vou respondê-lo afirmativamente ou seja, orientado-o a um grupo de estudos que eu já estava planejando a tempos, exatamente pelos muitos pedidos que tenho recebido de jovens técnicos que anseiam estudar com mais profundidade o basquetebol.
Mas o preocupante será colocá-los de frente a uma realidade atroz, a de que pouco ou nada representarão seus esforços ante uma evidência que transcende seus sonhos, de um dia serem reconhecidos e premiados como técnicos de uma seleção, mesmo municipal, ou até estadual, quando confrontados com a cada vez maior incidência de ex jogadores e jogadoras, sem qualquer formação didático pedagógica, técnica e científica, mesmo que brilhantes em suas carreiras atléticas, que são designados para dirigir equipes adultas e mesmo seleções nacionais, numa inversão absoluta de valores, onde o estudo, a capacitação, a longa experiência e o reconhecimento de seus pares se tornam valores desprovidos de apoio e reconhecimento, dando lugar às indicações políticas e apadrinhadas.
De princípio, as valências que regem e determinam o amadurecimento físico, mental e técnico dos jovens aspirantes na pratica do grande jogo, exigem um acompanhamento de altíssima qualidade técnica, de um profundo conhecimento dos fundamentos do jogo e de uma vasta experiência técnico prática, que quanto maior for, menos erros incidirão no processo educativo e formativo dos mesmos.
E todas essas valências que se revelam de fundamental importância nos âmbitos escolares e clubísticos, atingem o limite do conhecimento quando se tratam de seleções nacionais, independendo de que categoria e nível de idade.
E na constituição de comissões técnicas, um fator administrativo jamais poderá ser relevado, o de que cabe a um assistente substituir no treinamento e na competição o técnico titular impossibilitado de atuar, por motivos de saúde ou penalização técnica, logo, tão qualificado quanto ele.
Como os conceitos de alta prestação técnica e de experiência comprovada na direção de equipes são os elementos básicos e fundamentais que qualificam um técnico de seleção, torna-se inadmissível que uma jogadora recém afastada das quadras, e brilhante por sinal, seja guindada a assistente de uma seleção adulta e técnica de uma de base, num momento em que se busca a melhoria substancial na formação e desenvolvimento da base estrutural do nosso claudicante basquetebol, por se tratar de uma decisão que fere de morte os esforços de muitos anos de uma classe profissional que se mantêm atuante mesmo sendo preterida pelos poderes desportivos do país, e agora pela direção técnica da CBB.
Mas algo de especial conota essa indicação, que com um pouco de esforço investigativo lança uma tênue luz sobre um fato lastimável que poderá manchar de vez, e definitivamente, a seriedade e intocabilidade da camisa da seleção brasileira, ou seja, a volta triunfal de quem a renegou publicamente em um pré olímpico de triste memória, em uma imperdoável e definitiva atitude.
“(…)A Janeth será a responsável para fazer a ponte entre o treinador e as jogadoras.(…) A partir de agora, só vai jogar pela seleção quem tiver vontade e saber que isso é o ponto máximo na carreira de uma jogadora. Quem não se enquadrar, está fora-afirmou Hortência”.(Marcelo Prado/Globoesporte.com)
Ou seja, assistente agora é a responsável pela ponte entre jogadoras e o técnico, a que dirimirá os choques e atenuará os egos, a que alinhará a bem possível reconvocada Iziane com as exigências do mantido e agora benevolente Bassul.
“(…)Sobre a Iziane, prefiro não comentar nada de maneira específica, mas todas as melhores atletas do país serão convocadas, desde que compactuem da filosofia de trabalho e de planejamento também. E a Iziane está entre as melhores”, afirmou Bassul.( Entrevista telefônica ao Rodrigo Alves do Rebote).
Mais sugestivo do que isso impossível…e inacreditável!
“Eu já tenho um auxiliar que é ótimo na parte de vídeo e de conhecer os detalhes do adversário. Eu precisava de alguém que pudesse fazer a comunicação com as jogadoras(…)”.
Meus deuses, um técnico de seleção brasileira que transforma um assistente em olheiro e cameraman, e que precisa de ajuda para se relacionar com suas comandadas!! Realmente inédito, comprometedor e absurdo.
A que ponto chegamos para a garantia de um emprego, de um status, situações que dependem de tantas e indesculpáveis concessões, entre as quais aquela que designa e caracteriza o verdadeiro técnico e líder de uma equipe, o primado do comando, aquele que define não uma filosofia de jogo, e sim uma filosofia de vida, que nutre e abastece de esperança e trabalho a geração sob sua responsabilidade, essa mesma geração que tem por obrigação e dever honrar a camisa nacional que jamais poderá ser renegada e traída, e cuja guarda e proteção é dever de quem comanda, e de mais ninguém, seja quem for, sob pena do descrédito e do inexorável esquecimento.
Por mais quanto tempo nosso basquete passará por tanta provação e primarismo técnico, ético e administrativo? Por quanto tempo mais?
Que os deuses nos ajudem e iluminem.
Amém.