E O MONCHO VIU…

E o Moncho deu o ar da graça assistindo jogos do NBB em quatro estados, e tendo ao lado seu escudeiro e assistente pode anotar (se não o fez, deveria…) a quantidade incrível de erros de fundamentos que foram perpetrados pela maioria dos jogadores que atuaram, sem contar, é claro, com a enxurrada de arremessos de três, que já é um fato hors concurs em todos os nossos campeonatos, de todas as categorias, sem distinção.

Para quem tem em mente uma disciplina técnico tática ibérica, a ser implantada na seleção, que já foi ensaiada no Pré Olímpico de triste memória, a qual depende intrinsecamente do mais correto domínio dos fundamentos de ataque e de defesa, deve o ter colocado com as barbas de molho, e profundamente dependente dos três jogadores que atuam na NBA, a fim de manter sua fé numa classificação na Copa America, pré requisito para o próximo Mundial, e quando muito, estabelecer um belo álibi para um possível insucesso se os mesmos fizerem forfait mais uma vez.

E se os altos padrões de professor que é, no ensino dos futuros técnicos espanhóis, principalmente quanto aos fundamentos, se chocarem com a nossa realidade, de jogadores talentosos e dinâmicos, mas profundamente falhos nos movimentos básicos do jogo, muito de sua vontade de acertar arrefecerá perante a dura realidade colocada em suas mãos, de que sistema nenhum de jogo, tanto ofensivo, como defensivo, conseguirá superar tão precária falta de domínio e conhecimento do grande jogo.

E deve ter ficado pasmo com a inabilidade ofensiva de todas as equipes quando confrontadas com defesas zonais, tendo inclusive revisto movimentações de “oito” fora do perímetro que o fizeram voltar no tempo de quando ainda era jogador, quarenta ou mais anos atrás, quando tal movimentação somente era usada contra defesas individuais, jamais contra zona.

Deve estar se perguntando de que forma foram ensinados os bloqueios nos corta luzes, sempre faltosos e mal executados, assim como o total desconhecimento dos armadores, quando fortemente pressionados, das técnicas de drible, principalmente quando forçados a criarem espaços de fuga onde os mesmos inexistem.

Deve estar coçando a cabeça ante a constatação da extrema deficiência defensiva de nossos jogadores, principalmente no sentido de cobertura e interceptação de passes e anteposição de arremessos de três pontos.

E mais preocupado ainda sendo testemunha ocular do desvario orgástico que se apossou dos jogadores para os arremessos de três, sejam eles armadores, alas e mesmo pivôs, desencadeando um completo caos em todo e qualquer sistema de jogo que pretensamente façam parte.

E se não bastasse, ao rever vídeos dos jogos, se defrontar com os rogos enfáticos de narradores e comentaristas com mensagens tais como-“Os jogadores brasileiros precisam aprender a receber a bola embaixo e ir para a enterrada, para levantar a torcida, para valorizar o espetáculo”, quando deveriam valorizar e incentivar os arremessos de curta e media distâncias, que são aqueles que vencem jogos, que suplantam defesas fechadas, as mesmas que nas regras da FIBA invibializam as enterradas “a la NBA”, onde outras regras facilitam as penetrações, e consequentemente as enterradas cinematográficas.

E no fim do périplo, talvez seja assombrado por estatísticas oriundas do lapitopi caipira, tentando provar que nossos craques independem de reles e desprezíveis fundamentos, quando estão perfeitamente enquadrados no espírito do basquete internacional e seu sistema único, fator reconhecido por todos os envolvidos no processo, fajuto por sinal.

E se na experiência anterior o afável Moncho entrou numa fria descomunal, é bem provável que adentre desta vez numa gelada, pois já tomam formas no horizonte brumas de dispensas por variados motivos, da contusão crônica ao contrato litigioso, assim como ao descanso do delfim. E órfão das estrelas, se verá diante de nossa precária realidade técnica, aquela que é oriunda de uma péssima formação de base, ontem esquecida, omitida no hoje, e projetando um amanhã sombrio e devastador.

E se pudéssemos perguntar ao Moncho que sugestões ele poderia oferecer à imagem de seu notório conhecimento, talvez uma só fosse mencionada, a do investimento maciço na formação de base, e a conseqüente especialização e valorização dos técnicos responsáveis pela implementação da mesma, único caminho que a médio e longo prazo nos erradicará do limbo a que fomos lançados.

E quantos mais jogos vier a assistir, mais reforçará sua certeza de que mudanças terão de ser feitas com urgência, pois se sobram talentos, faltam os requisitos estruturais do jogo, seus fundamentos.

Amém



3 comentários

  1. Glauco Nascimento 18.05.2009

    Olá Paulo. Realmente Moncho deve estar pasmo com o que anda vendo no Playoff brasileiro. Quinta-feira sai a lista dos convocados por ele. Quero muito ver quais os nomes dos atletas que jogam no Brasil estarão presentes. Essa questão da deficiência das categorias de base no Brasil é sempre levantada e com muita razão. Tenho que produzir um artigo científico para a conclusão de minha graduação e creio que irei fazer sobre esse tema e gostaria de sua ajuda, além de todo o material que você coloca aqui!
    Grande abraço!

  2. […] Sexta: Vale a leitura do artigo de Paulo Murilo sobre o que Moncho viu neste final de semana. […]

  3. Basquete Brasil 19.05.2009

    Esperemos a lista, pena que seja pela observação de tão poucos jogos,o que certamente o levará a lapsos e indicações oriundas de seu escudeiro altamente qualificado e com uma experiencia de quadra inigualavel no país.Quanto à sua graduação Glauco, o que eu puder fazer para enriquecer seus conhecimentos o farei com o maximo prazer.
    Um abraço, Paulo Murilo.

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