QUANDO OS BRAÇOS SE CRUZAM…

Tempos atrás ainda lecionando didática e prática de ensino para alunos da EEFD na Praia Vermelha, via com curiosidade ex jogadores profissionais de futebol, que se licenciavam em Ed.Física, sempre de braços cruzados sobre o peito quando falavam aos seus alunos, e nas discussões de pós aulas com seus colegas estagiários como eles. Observando melhor, constatava que em todas as reuniões que antecediam e encerravam treinos em equipes de futebol, a maioria quase absoluta de todos os participantes mantinham seus braços cruzados, o que denotava um enorme sentido de auto censura nos participantes das reuniões, fossem eles jogadores, técnicos e até dirigentes, como se o ambiente e o momento em que se encontravam parecesse mais um campo minado do que um espaço esportivo.

Foi com muito empenho e insistência que consegui fazer com que aqueles profissionais ali estagiando se libertassem daquela amarra psicológica, e que na soltura e envolvimento de seus braços nas discussões acadêmicas se livrassem daquele sentimento restritor. Essa experiência me alertou para o fato de que sob intensa contenção de sentimentos, e pressão exógena, a tendência de cruzar defensivamente os braços flagrava um momento, ou situação de instabilidade do indivíduo inserido num contexto em que se sentia indefeso e fragilizado.

Por que toquei neste assunto? Por que foi o que vimos no limiar do terceiro quarto por parte do técnico de Brasília, que ao se negar em dar continuidade a uma tentativa utilizada com sucesso em jogos anteriores, a da dupla armação, que inclusive se impunha naquele momento para fazer frente à dupla Helio e Fred, que ante uma equipe pesada e consequentemente mais lenta, a destruía pelas ações em alta velocidade, tanto no ataque, e mais ainda na defesa, onde o brilhante Valter dos dois primeiros quartos se viu fortemente pressionado sem a ajuda de um outro armador.

E de braços inconscientemente cruzados, mas ostensivamente demonstrando sua perplexidade ante a avalanche rubro negra, viu-se obliterado por alguns minutos frente à uma tomada de decisão que veio tardiamente, provando inquestionavelmente que a utilização tática de uma dupla armação ainda não consta de seu arsenal de convicções técnico táticas, profundamente enraizadas no sistema único de jogo, ontem vencedor nas equipes que dirigiu, inclusive seleções nacionais, mas hoje contestado ante a evolução consciente de seus adversários.

A equipe do Flamengo sob o comando e organização de dois armadores puros, com os restantes e razoavelmente competentes jogadores que possui, se torna uma equipe dificilmente derrotada dentro da atual realidade do nosso basquete, onde o pouco domínio dos fundamentos é uma triste realidade, o que ficou perfeitamente demonstrado no jogo de hoje, mas que deveria manter tal atitude tática no quarto jogo em Brasília, aproveitando tecnicamente a indecisão estratégica de um técnico que se descobre de braços cruzados num momento crucial, e de uma equipe que se comporta à imagem e semelhança de seu comandante, vide o descontrole emocional de alguns de seus jogadores, naqueles momentos decisivos do terceiro quarto.

Para o jogo final algumas e importantes atitudes deverão ser assumidas, em todos os aspectos técnicos do jogo, mas uma de transcendental importância, o descruzamento de braços naqueles momentos em que a mente tem de estar liberta e solta, base fundamental para a tomada das grandes decisões, por parte de um ou de outro.

Amém.




2 comentários

  1. Idevan Gonçalves 15.06.2009

    Caro professor, lembro de entrevistas de jogadores de futebol do Flamengo da década de 80 falando do professor Claudio Coutinho que despontou como técnico de futebol, porém transmitia aos atletas sistemas de jogo do basquete e que esse era o diferencial daquela equipe.

    Acredito que o Lula tenha sido o técnico que melhor pode rever seus conceitos ao longo desse campeonato nacional. Antes sempre amarrado ao “padrão nacional”, hoje já se permite uma maior variação de jogo, inclusive com dupla armação e uma defesa implacável em determinados momentos das partidas. Pena que seus ayletas ainda estão presos aos velhos conceitos…

    Qunato ao Flamengo, nos momentos em que o Duda sai para a entrada do Fred e, de fato, utilizar dupla armação é uma equipe muito difícil de ser vencida no âmbito doméstico.

  2. Basquete Brasil 15.06.2009

    Corretíssimo Idevan. Somente lamento, como mencionei no artigo,que o técnico de Brasilia não se sinta seguro com a dupla armação, ainda, mas que se tiver interesse em aprofundar os estudos sobre a mesma, inclusive preparando armadores mais altos, ou pelo menos um deles,dará um salto qualitativo ao nosso basquete, enquanto não priorizamos o ensino dos fundamentos,quando alas e pivôs possam usufruir de um treinamento tão, ou mais proximo dos armadores.Em tese,os funadamentos tem de ser aprendidos por todos, independendo de posições, idade ou status. Quando esse dia chegar reencontraremos nosso caminho,pois talento temos de sobra, mas não é o suficiente. Um abraço, Paulo Murilo.

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