PSICOLOGIA NA FORMAÇÃO?
Num ótimo artigo, do Fabio Balassiano, Dor de cabeça, o pedido urgente de psicólogos para atender as seleções de base é feito de forma emergencial, numa cruzada do articulista para ver sanada, segundo ele, um dos aspectos restritivos na preparação das mesmas, nunca atendidas pelos préstimos daqueles profissionais.
É um pormenor que nos dias de hoje, onde em comissões técnicas recheadas de especialistas, viria a somar mais um fator opinativo, e por que não, decisório na formulação e formação de uma equipe de jovens que se iniciam no árduo caminho da competição, muitas, e na maioria das vezes, desobedecendo a maturação individual de cada um de seus componentes.
Não se trata de contrariarmos a adoção de um especialista em psicologia junto às equipes, e sim adiarmos a intronização destes profissionais no cerne da formação técnico fundamental, sem a qualificação e o pleno conhecimento daquelas variáveis intervenientes no processo didático pedagógico, para uma etapa na fase adulta, quando problemas emocionais e comportamentais se fizerem presentes além das etapas naturais de aprendizagem e execução das técnicas propostas.
Um verdadeiro e muito bem formado técnico desportivo, tem como bagagem primordial o pleno conhecimento de técnicas cognitivas, de psicomotricidade e afetivas, para instruir, ensinar, controlar, desenvolver e avaliar o processo evolutivo de todos os participantes de um bem planejado projeto formativo, e se não possuir estas fundamentais qualificações se torna indigno de dirigir quaisquer equipes, não só de formação, como adultas também.
Vai virando moda, e que moda lamentável, a presença de pseudos especialistas em táticas, com um repertório de jogadas pré estabelecidas, num restrito e copiado clube de auto ajuda, onde a padronização técnico tática os garantem em seus empregos com a conivência e cumplicidade de uma plêiade de jogadores veteranos, que têm em comum a repetição sistemática de uma forma única de jogar, e que foi aos poucos, e inexoravelmente sendo estendida na formação de base, fator que explica nosso fracasso, já endêmico, nas competições internacionais.
E dentro deste quadro aterrador, onde a incompetência profissional viceja como erva daninha, se estabelecem elementos fora do pleno conhecimento desporto educativo, em atividades para as quais não têm vivência, aptidão e discernimento para planejá-lo, desenvolvê-lo e avaliá-lo, sob a ótica do desporto educativo, e competitivo, pois sejam eles administradores, supervisores, psicólogos ou assistentes sociais, jamais poderiam se envolver no processo sem a coordenação e o comando daquele que verdadeiramente é o responsável pela formação de base, pela direção de equipes de alta competição, ou mesmo, pela direção setorial e técnica da modalidade, os professores e técnicos de basquetebol.
Ao abandonar sua formação generalista, em nome de uma equivocada cadeia de comando, pulverizada em pequenas, porém influentes ingerências no trabalho formativo de uma equipe, o técnico abre mão de um preceito clássico de comando, a de que o mesmo não é dividido, e sim, na medida do necessário, delegado em uma de suas atribuições a quem escolhido e designado pelo mesmo, no âmago do processo, e jamais por ingerência e decisão externa de caráter político, e até mesmo técnico, sem a plena aprovação daquele profissional.
Mas para que isto se torne factível, o comando deverá estar sendo exercido por quem de direito, por mérito e por larga e indiscutível experiência no difícil e altamente especializado campo da formação de base, e não entregue irresponsavelmente a neófitos, apaniguados e protegidos, todos pertencentes ao fechadíssimo clube do Q.I.
Orientar, formar e educar jovens é função professoral desde os tempos imemoriais, e não campo de experiências existenciais, que deveriam ser aplicadas em casos especiais de desvios comportamentais, e não como parte integrante da formação fundamental e técnica dos mesmos.
E como uma pergunta que jamais é formulada, quantos psicólogos seriam necessários para cada sala de aula de nossas escolas, em tudo similares aos campos esportivos onde atuam nossas crianças, e que teriam de ser mobilizados para atendê-las? E porque somente eles se acham preparados para atuarem, por exemplo, junto a equipes de basquetebol, sem o conhecimento e a vivência pratica de seu dia a dia? Desculpem ao responder, uns poucos, para atuarem onde são realmente necessários, e não como responsáveis pelas ações técnico educativas entregues a quem de direito, o professor, o técnico desportivo.
Tudo o mais que vem sendo especulado é o resultado das infelizes indicações de pessoal técnico desqualificado, dando margem a ingerências e intromissões de vários tipos de profissionais, quase sempre sem o mínimo de conhecimento do grande jogo, mas prontos a assumirem pretensa e demagogicamente posições que não lhes dizem respeito dentro do basquetebol, cujos resultados ai estão para provar o caudal de erros perpetrados e cometidos.
Nossa formação de base precisa voltar a ser entregue a quem conhece sua complexa didática, e não a dar continuidade a auto promoções injustas e descabidas, às quais necessitam, isto sim, atendimento e acompanhamento psicológico, a fim de não prejudicarem mais o soerguimento do grande jogo entre nós.
Amém.
PS- Escrevo este artigo de New York em transito para Lisboa, quando no dia 16 farei a palestra inaugural do Congresso de Treinadores da Língua Portuguesa, durante os Jogos Luso Brasileiros.
Uma professora disse em uma aula que muitas escolas colocam recém formados em Educação Física para dar aula para as primeiras séries e isso é um erro pois é nessas primeiras séries que as crianças têm a vivência muito importante para a sua formação e, as vezes, os recém formados não tem tanta estrutura para desenvolver. A aula de educação física nessas séries é para proporcionar às crianças um início no desenvovimento motor, psicológico e afetivo, coisas que as crianças tendem a levar por toda sua vida, pois já é sabido que é nessa fase que elas formam o seu ser e seguem desenvolvendo nessa direção. É a mesma coisa nos esportes. As categorias de base são as primeiras séries desses jovens atletas. Tem que se dar muita importância nessa fase, caso contrário será infinitamente mais difícil corrigir erros na fase adulta. A carga psicológica que os atletas carregam na fase adulta nada mais é o que foi vivido na base.
Obs.1: Parabéns e sucesso no Congresso.
Obs.2: Irei lhe enviar o artigo reescrito, espero que você possa dar uma olhada nele.
Seu posicionamento deveria ser o de todo professor e técnico com formação adequada. Mas a realidade é bem outra desde a pragmatização de uma profissão eminentemente humanista, caro Glauco.E a tendência é a de piorar cada vez mais. E é neste vácuo de lideranças que se intrometem aqueles “especialistas” sempre em busca de notoriedade, mais facilmente alcançada através o carisma dos esportes.Mas um dia, essas graves falhas serão aparadas pela lógica, pelo mérito. Um abraço, Paulo Murilo.
Gostaria muito de um dia conseguir conversar com você sobre esse assunto que tanto me cria tantas dúvidas!
Grande abraço!
Quando você dispuser de tempo é só comunicar que poderemos agendar uma reunião para discutirmos esse assunto e outros mais.Um abraço,
Paulo Murilo.
Professor Paulo,
Acho que precisamos mais do que psicologos….
Acabo de ler no O Globo que o O Brasil ganhou da Finlandia 95 a 89 e que perdeu o primeiro tempo por 50 a 49….
O que esta havendo?
Ate breve
“Pau que nasce torto não endireita mais”, diz o mote popular nordestino, e que bem se aplica à nossa “pré disposição defensiva” lá na base da formação, onde as defesas zonais se impõem para garantir brilharecos de pseudo técnicos no preenchimento de seus canhestros curriculos, não fossem eles mesmos tortos técnica, didático e éticamente.Se não criarmos verdadeiros educadores e técnicos nossa formação de base dará continuidade a esse desastre.É isso ai meu caro Walter.Muita saúde e paz, Paulo.