A MATRIZ…
Entrei relutante, mas precisava atestar todo aquele poderio, que depois de uma maratona entre corredores de artigos, uniformes, vídeos, DVD’s, tênis, bolas, livros e outros mais acessórios úteis e inúteis, me fez cair numa realidade incontestável e indiscutível, a de que, depois de mais de 50 anos militando no basquetebol e no esporte em geral, aquela não era definitivamente a minha praia, pois se trata, e disso jamais duvidei, de um jogo aparentado com o basquetebol, sem o ser de verdade, pelo menos no que diz respeito ao restante do mundo, que o pratica sob normas e regras diametralmente opostas.
E hoje fui à matriz, imponente, devastadora em sua riqueza, com uma multidão em seu interior de fazer inveja à Torre de Babel, tantas as línguas e dialetos que se misturavam naquele templo de consumismo explicito e absolutamente irracional, e tudo isso na emblemática Quinta Avenida.
E no interior daquela basílica tentei estabelecer alguma ponte, ou mesmo uma tênue trilha que nos ligasse a um mundo nada parecido com o nosso, ao menos no basquetebol, mesmo diferente, desigual econômica e tecnicamente, começando com a procura de qualquer vestígio lingüístico, gráfico, ou até mesmo oral, sobre a ligação e a intimidade que muitos ostentam na divulgação de sobejos conhecimentos sobre aquela cultura que, e ai o contraditório humilhante, sequer sabem de nossa existência, como povo, como nação, e muito menos como praticantes do outro jogo, inferior e desconsiderado por eles.
Mas investem pesado no futuro, que mesmo um tanto abalado pela crise recente, ainda se mantêm perfeitamente alinhado ao seu objetivo primordial, o de domínio total sobre o grandioso negocio do esporte espetáculo, do esporte empresarial, do esporte globalizado.
E para tanto, no nosso e em muitos outros países, alimentam jovens talentos jornalísticos com a missão do estabelecimento desse poderio, desse monopólio do mais alto interesse de seu governo e seus projetos hegemônicos, de uma maneira quase subliminar, pois tão massiva divulgação e consequente adesão de cada vez mais jovens leitores e tele espectadores, se faz de forma pseudamente expontânea e natural, como se fosse a extensão de sua cultura e de sua influência redentora.
Então procurei notícias, publicações, comentários, qualquer coisa que lembrasse o nosso país, nossa língua, nosso basquete. Afinal, temos especialistas em NBA em nossa imprensa que nada devem a seus equivalentes americanos, tanto no conhecimento técnico tático, como na vida profissional e até pessoal das grandes estrelas e dos endeusados técnicos, e que diária, semanal e mensalmente divulgam de tudo sobre todos eles, para, e posso garantir com a mais absoluta certeza, sequer saberem de suas existências, quiçá suas opiniões e comentários,numa lastimável perda de tempo, de conteúdo, de talento.
Talento este que tanta falta nos faz, num momento em que nos debatemos dentro de uma corrente continuísta, que nos afogará a todos se não nadarmos e remarmos contra a mesma, com todas as forças que pudermos amealhar, para enfrentar principalmente aquela intimamente ligada a interesses exógenos, que já se manifestam num absurdo projeto NBA-CBB, quando tanto temos a fazer no cenário interno, começando nas divisões de base, hoje totalmente envenenada pela influência do norte.
E nada, absolutamente nada achei ou encontrei, o que me fez lépido e convicto na decisão de lá sair o mais rápido possível, o que fiz com alivio e com a nítida sensação de que jamais tornarei a cruzar aquelas portas giratórias.
Seria interessante que nossa imprensa especializada fizesse uma romaria a esse templo da mais exclusiva modalidade existente no mundo, para decidirem se devem continuar em seu apoio unilateral, já que não levados à serio pela matriz, ou reverter seu talento à filial, abandonada e carente que clama por divulgação, estudo, pesquisa e dedicação.
Amém.
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Muito interessante este post, Professor. É uma reflexão muito importante mesmo. Por várias vezes, tive pensamentos nessa corrente, e ainda tenho. Não acho que possamos ser radicais e abandonar completamente a NBA; afinal, há brasileiros lá, há lições a serem tiradas de lá tanto em quadra (mesmo que vc discorde, hahaha) quanto, principalmente fora; e natural ou não, ela tem uma gama de seguidores muito grande.
Mas concordo que o foco deve ser no Brasil, na cobertura do basquete brasileiro, e esse é o meu objetivo pessoal para o futuro, pelo menos no tocante ao BasketBrasil. É algo gradual, que não vai acontecer tão cedo, por questões tanto de criação e educação de um público, de uma audiência, como também da cultura dos anunciantes, da viabilização do projeto. Por enquanto, pelo menos no meu lado, estamos batalhando para sobreviver, sem nenhuma receita, e enquanto não tivermos receita, não dá para botar em prática um projeto jornalístico completo e sério, podemos apenas fazer o que nossas realidades permitem.
Mas com fé, tudo há de melhorar, estamos lutando. Já melhorou, houve uma época em que sequer noticiávamos o basquete brasileiro, e nesse último ano posso dizer que pelo menos 40% do nosso conteúdo foi nacional. Um dia, acho que mais próximo do que pensamos, esse seu desejo vai se tornar realidade. Grande abraço.
Que grande alento esse seu apoio e compreensão a uma luta que travo permanentemente. Concordo com seus argumentos quanto à dificil,mas não impossivel mudança do foco jornalístico, que são fortes e bem fundamentados, ainda mais vindos de um jovem como você.E exatamente confiando nos jovens é que permaneço na lide, sem pestanejar. Continue seu belo trabalho. Um abração, Paulo.
Caro Professor Paulo, tudo bom ?
Eu gosto muito de NBA. Muito mesmo. Foi ali que vi os primeiros jogos de basquetebol ao lado dos jogos olimpicos de 1992.
A diferença, o senhor diz: marketing pesado.
Porém, quem gosta de basquetebol tem que ver tudo e saber diferenciar o jogo NBA, mais espetaculo, que o jogo-FIBA, que é o basquetebol que deviamos seguir.
Mas, como tudo tem seu lado ruim, a cultura NBA é muito facil de ser assimilada, assim como a cultura fast-food, etc. Ou seja, a cultura americana de forma geral, que é cheia de futilidades e banalidades.
Para aplicação de jogo, ensinamento, a NBA também tem seus valores.
Michael Jordan, Magic Johnson, Larry Bird, John Stockton, Karl Malone, Tim Duncan, enfim, vários outros, são atletas que todas as gerações tem o direito de saber e verem jogar.
Porém os europeus também e claro, nossa historia interna. Alem da “eterna” NCAA.
O problema é que os tecnicos da base só tem olhos para NBA e sem a menor reflexão de como é feito o jogo-NBA.
Aí claro, como tudo que é feito dequalquer jeito, temos o nosso produto final que conhecemos.
A NBA tem lições importantes. E o jogo deles também !
Acho válido sabermos tirar o bom deles para nós.
Um abração para o senhor !
Prezado Henrique,concordo com você sobre os pontos positivos da NBA,sua organização, suas equipes, seus grandes jogadores, sua pujança econômica, ou seja, concordo com tudo…menos num detalhe,a irrealidade do processo quando perante à nossa realidade. Chega a ser brutal e destituida de qualquer tentativa de semelhança, que muitos teimam em aplicar no nosso meio. Da base nas escolas, do desenvolvimento técnico nas universidades e da lapidação no meio profissional, todos os caminhos levam ao sucesso mercadológico, onde as grandes quantias envolvidas garantem a presença dos grandes nomes locais, até mesmo dos internacionais. E onde ficamos no meio desta cornucópia de poder? Nos iludindo com as quimeras alheias, ou admitindo o quanto de trabalho nos defronta? Mas quem admite arregaçar as mangas para o labor exaustivo e anônimo junto aos jovens, quando é bem mais fácil e recompensador emitir apoios e chulos conhecimentos de uma cultura que não nos diz respeito, mesmo conscientes de seu desprezo e histórico alheiamento? Torno a dizer, e repetir sempre, que ao tomarmos vergonha na cara, soergueremos o nosso basquete, apesar de tudo. Um abraço, Paulo Murilo.