A DICOTOMIA DO ÓBVIO…
Numa excelente entrevista com o técnico Bernardo Resende, logo após a publicação do post 1000 de seu blog Bala na Cesta, o jornalista Fabio Balassiano, a quem parabenizo efusivamente, não só pelo milésimo post, mas principalmente pelo belo trabalho que vem desenvolvendo pelo soerguimento do basquetebol em nosso país, pudemos atestar o quanto de competência e profissionalismo emolduram uma carreira brilhante e vencedora de um dos maiores técnicos desportivos do país, legítimo herdeiro de um Paulo Matta, Bebeto de Freitas, em sua modalidade, assim como um Togo Renan Soares, Moacyr Daiuto, Renato Brito Cunha, Ângelo da Luz, no Basquetebol, e alguns outros, também brilhantes nestas e em outras modalidades.
Lendo a entrevista com o máximo de atenção, podemos de pronto estabelecer um ponto fulcral a toda uma discussão que vem se estabelecendo no seio da inteligência desportiva brasileira, o fator técnico formador, ou seja, a diferença, ou mesmo o vão aleatóriamente estabelecido entre as funções de técnicos formadores e técnicos estrategistas, numa dicotomia absurda em se tratando de modalidades coletivas, como se estanques fossem tais funções, como o conhecimento dos fundamentos independessem dos sistemas técnico táticos, como se fossem duas funções flutuando ao bel prazer de oportunistas e aventureiros.
De saída o Bernardo estabelece um vínculo indissociável entre fundamentos e sistemas de jogo, onde a evolução destes depende do domínio intrínseco daqueles, sem os quais nenhuma alquimia se torna possível dentro dos campos de jogo. E muitas referências bibliográficas são lembradas, inclusive de modalidades que não a sua, como exemplos da concomitância indivisível que une fundamentos a sistemas de jogo.
Sem dúvida alguma o Bernardo é um mestre no ensino dos fundamentos, pièce de resistance de seus inovadores e revolucionários movimentos técnico táticos que vem enriquecendo um repertório único no mundo da bola percutida. E não poderia ser de outra maneira, pois os mesmos estão diretamente proporcionais ao maior ou menor domínio dos fundamentos que seus jogadores expõem na prática de cunho altamente perfeccionista exigida por ele.
Se precisa de um centro bloqueador, fundamentos específicos são desenvolvidos e treinados, o mesmo para ponteiros, sacadores e líberos. Somente o domínio dos básicos fundamentos propiciam vôos mais altos e sofisticados nos movimentos de ataque e de defesa desenvolvidos pelo excelente treinador, sendo esta dualidade, formador e estrategista a mola mestra de seu sucesso inegável.
Então, quais motivos entravam esta discussão no mundo da bola laranja, colocando em campos opostos formadores e estrategistas, quando deveriam ser partes inalienáveis de um processo?
Venho afirmando, escrevendo e publicando nos últimos anos os reais motivos dessa lastimável e trágica dicotomia, propositalmente imposta por uma geração de técnicos compromissados com o prêt a porter vindo do norte, com seu sistema (e jogadas estereotipadas, marcadas e convencionadas…) único de jogo, que de tão difundido alinhou nos mesmos níveis de divulgação, execução, e crítica, jogadores, dirigentes, jornalistas e eles mesmos, os técnicos, muitos advindos de equipes praticantes do sistema, e que de repente, e sem preparo anterior e técnico, se viram à frente das equipes mais representativas do país e das faixas de formação, e ai sim, descompromissados com o ensino paciente, demorado e altamente técnico dos reais fundamentos do jogo, e não aqueles mínimos necessários( na ótica dos mesmos…) para praticá-lo.
E quando esse processo foi, e vem sendo difundido por todo o país, na forma de clinicas e cursos de atualização, formando jovens técnicos sob conceitos tão equivocados, podemos prever o futuro que nos aguarda.
Todo esse equivocado cenário, onde estrategistas se dizem os lançadores de futuros craques, emoldurando-os com padronizações técnico táticas independentes de suas formações básicas e fundamentais, foi, continua e continuará sendo nosso tendão de Aquiles, se profundas e urgentes modificações não forem tomadas pelos departamentos técnico da CBB e demais federações, onde o processo dicotômico seja defenestrado, levando de volta aos velhos preceitos do conhecimento, do estudo e da pesquisa, frutos do mérito, e não dos apadrinhamentos e escalações políticas, os verdadeiros técnicos que existem em nosso país, inseridos que sempre estiveram nos preceitos divulgados, provados e vencedores do ilustre entrevistado.
No dia em que voltarmos a valorizar o ensino dos fundamentos, e por conseguinte, desenvolvermos profunda e técnicamente as qualidades dos jovens jogadores, potencializando-os com sistemas que os completem, e não os subjugando através coreografias pranchetadas, como os punem atualmente, teremos dado um passo gigantesco no resgate de nossos valores, de nossa real posição no concerto internacional.
Um técnico de verdade, antes de ser, ou se considerar um estrategista, tem de ser senhor das bases do grande jogo, de seus fundamentos, pois somente desta forma poderá projetar e exequibilizar tal conhecimento técnico táticamente, e nunca ao contrário. E nas entrelinhas mais do que claras e objetivas, foi essa a mensagem legada pelo grande treinador a quem interessar possa e compreenda, ou que tenha percepção e condições de entender.
Parabéns, mais uma vez ao milésimo Balassiano, e ao Bernardo por seu inegável talento.
Amém.
Professor Paulo Murilo,
Feijoada sem tempero e igual a Basquetebol sem fundamentos.
Estava aqui lembrando que na minha epoca de mirim, infanto e juvenil, tive a oportunidade, a felicidade e a honra de ser treinado por tecnicos como: Baroni, Gleck, Paulo Murilo, Guilherme do Mckenzie, Marcelo Cocada, Heleno, Chocolate, Ze Pereira, Ary Vidal, Tude Sobrinho, Emanuel Bonfim e Waldir Boccardo alem do Kanela.
Que maravilha! Que saudade!
Hoje o grande jogo, esta cheio de “achistas”, curiosos e apadrinhados que confundem filosofia de jogo com estrategia, etc. Estes estao literalmente assassinando o nosso esportes especialmente nas divisoes inferiores. Paralelamente o nivel dos tecnicos da 1a-divisao, com poucas execessoes, caiu bastante tambem.
Seja o que Deus quizer!
Olha Walter, acabo de ver trechos tremidos e travados da seleção em Porto Rico contra a Argentina no torneio que antecede a Copa America, onde venceu por 91 x 76. Já li relatos ufanistas sobre a grande vitória. Mas você pode acreditar num 27 x 4 de tiros de três de uma equipe argentina, de só ter um jogador desqualificado com 5 faltas, de ver seu segundo pivô, o pesadão Gonzales, forjar uma agressão gratúita no Varejão para ser excluido, de ver o técnico campeão olímpico assistir a derrocada na maior calma do mundo, de não ver o Prigioni participar do jogo,de não testemunhar em nenhum momento a notória agressividade defensiva portenha? Enfim, digo e afirmo o que já havia dito quando da participação uruguaia no torneio do Rio, que nossos vizinhos do Prata treinaram mais do que jogaram, pois estão curiosos como nossa seleção atuará sem pivôs pesados e um só armador puro, deslocando o Leandro e o Alex para a outra armação. Simples e objetivos, pois na Copa é que o caneco e as classificações estarão em disputa. Sou macaco velho demais para acreditar em brilharecos e vitórias que não significam absolutamente nada.Se jogando livre de marcação intensa nossos jogadores cometeram o numero usual de erros de fundamentos, tremo de medo quando enfrentarem defesas dispostas e agressivas, como vem acontecendo nos últimos 20 anos.Pode ser até que nos classifiquemos, mas é bom e saudável pormos as barbichas de molho, pois”nem tudo que brilha é ouro, nem tudo que balança cai”(Êta sabedoria popular porreta!), como diriam os velhos técnicos que sabiam tudo, e mais um pouco.
Um abração, Paulo.
Ola professor,
Agredeco a resposta. Estava lendo a performance individual de cada jogador contra a Argentina e notei que os nossos pivots moveis – so anotaram um total de 21 pontos do total de 91. Basedo somente nesses dados me parece que o Brasil ainda nao esta explorando muito a habilidade dos seus pivots no ataque, ou seja, o sistema utilizado me parece ser o mesmo de competicoes anteriores explorando, sem controle, os arremessos de 3 pontos, e dependendo muito e de uma forma perigosa e muito previsivel dos seus alas. Isto e um perigo quando a coisa for pra valer.
Ate breve.
Caro Prof.
Fiz a tradução e adaptação de um texto e
gostaria de envia-lo ao Sr. para que pudesse
dar a sua opinião.
Necessito do seu e-mail para enviá-lo.
Desde já muito obrigado.
Miguel Palmier
Acertou Walter, mas como viabilizar e acionar pivôs com somente um armador de ofício,como? Com o Leandro, Alex, Marcelo, Duda, voltados às finalizações? Basta rever o tape para sentir o quanto os pivôs rendem com o Huertas em quadra. Por isso, é que suas preocupações são as minhas quando a cobra fumar. A validade de uma torcida está diretamente proporcional à maior ou menor qualificação técnico tática e de dominio dos fundamentos de uma equipe.O resto é papo furado de quem afirma conhecer o grande jogo. Um abraço, Paulo.
Prezado Miguel, acesse meu email quando quiser, pois terei o máximo prazer em contatar com você – paulomurilo@infolink.com.br
Um abraço, Paulo.
Professor, obrigado pelos comentários elogiosos ao meu respeito.
sou meio tímido para comentar, mas nesse não poderia ficar de fora.
obrigado pela força de sempre.
é uma alegria imensa receber um elogio de uma pessoa que admiro.
abs, fábio balassiano
Pode estar certo de que a recíproca é verdadeira Fabio. Um abração,
Paulo.