RESCALDOS DE UMA CONQUISTA…

Terminada a Copa, dou uma relida nos blogs, nos comentários e principalmente nos articulistas e comentaristas da mídia em geral. E uma unanimidade é pacífica, o Moncho fez a seleção jogar como nunca jogou, e mais, classificou-a para o Mundial, e de quebra abiscoitou o titulo.

Consagração e reconhecimento unânime, irretocável, indiscutível. Mas o inesquecível Nelson Rodrigues ainda nos lembra do alto de sua sabedoria –“Toda unanimidade é burra”, no que ouso acrescentar – Sem dúvida alguma.

A unanimidade absoluta restringe o raciocínio do contraditório, aquele que busca as verdades contidas no âmago de duas, várias, muitas verdades conflitantes, cujas vertentes, se discutidas, confrontadas e analisadas à luz da razão e do bom senso levará ao conhecimento da verdade verdadeira, ou bem próxima da mesma.

Ao precisarmos de forma urgente de resultados internacionais, colocamo-nos sob o domínio de tal sentimento de urgência, que tudo mais de falho que possa vir a ocorrer durante o processo de conquista é dirimido e até esquecido na presença do titulo e da classificação ansiada. Esse fator humano, e por isso naturalmente falível, é que deve ser conveniente e coerentemente considerado à luz da razão, à luz da humilde, porém cristalina verdade.

Neste processo, incorporo o contraditório, não para abjurar ou negar o valor da equipe, suas conquistas, e sua liderança na figura emblemática do Moncho, mais sim para situar alguns pormenores agora esquecidos, afogados pela conquista brilhante, mas que estarão presentes daqui para diante, quando outra verdade terá de ser encarada de frente, a qualificação de nossa seleção perante os obstáculos contidos dentro de uma competição de nível mundial, para a qual muito teremos de trabalhar, estudar e nos conscientizar de sua grandiosidade.

Nessa Copa América, mais uma vez, todas as equipes apresentaram sistemas técnico táticos semelhantes, com uma ou outra adaptação, mas estruturalmente iguais. Uns, como a Argentina, o Canadá, Porto Rico e a Republica Dominicana utilizando dois armadores de formação, e os demais somente um. Mas todos com as mesmas movimentações, jogadas, esquemas, onde até certas sinalizações eram idênticas. E mais, com algumas trazendo seus pivôs para fora do perímetro para bloqueios e corta luzes, principalmente nossa seleção, que ao contar com dois pivôs velozes e ágeis abusou desse estratagema confiando em suas recolocações dentro do perímetro após as ações blocantes de fora.

No entanto, tanta similitude de sistemas elevou ao máximo o grau de previsibilidade das ações ofensivas, o que levou naturalmente certas e atentas defesas, como a nossa, ao uso de ações antecipativas, desencadeando um festival de interceptações que culminavam em contra ataques decisivos. Temos de fugir dessa coisificação ofensiva, desse alto grau de previsibilidade, pois ante defesas de equipes de ponta estaremos correndo graves riscos e sem volta.

Quando advoguei, e ainda advogo a utilização de dois armadores, parto de pressuposto de ser esta a única maneira plausível de variar e criar opções de jogadas partindo da extensão de todo o perímetro externo, e não de um único setor por vez, quando uma equipe conta com uma armação simples.

E mais, com a presença deles, a defesa ganha em combatividade e, no caso de retomadas de bola, com uma saída em contra ataques mais técnicos, seguros e melhor finalizados.

E não podemos omitir a nossa grande falha, aquela que não será perdoada numa competição do mais alto nível como o próximo Mundial, uma convocação equivocada e profundamente política. Naquele encontro das melhores equipes mundiais temos de estar representados com o nosso melhor dentre aqueles que realmente querem participar de uma seleção nacional, lastreados pelo mérito, independendo de idades e gerações, pois estarão defendendo seu país, e não concepções falseadas de renovações fora de hora e de rumo, mas de interesse de alguns grupos corporativos. Seleção para um Mundial tem de ser formada pelos melhores, e somente por eles. Promessas são clientes de seleções subs , de 21 para baixo.

Finalmente, que façamos subsistir a esperança nascida destas conquistas, que tentaremos manter no próximo Mundial, dando tempo ao tempo que necessitamos para a formação das novas gerações de técnicos e jogadores, mudando o que temos urgência em mudar, sem contemplações, virando o leme para um outro destino, que certamente não é este que ai está, pétreo, ciclópico, inamovível em seu percurso de derrotas, na quadra e na formação de seus jovens e incautos aspirantes.

Conclamo a todos, como desde sempre conclamei aqui deste humilde blog, e bem antes dele quando, estudando, ensinando, pesquisando e trabalhando o grande jogo junto a equipes, seleções e uma juventude ávida de conhecimentos, que ajudem no efetivo soerguimento do mesmo entre nós, sugerindo para começar tão necessária caminhada a consecução de dois objetivos cruciais, a efetiva criação das associações de técnicos regionais, e a implantação de uma escola de treinadores, liderada por técnicos e professores experientes e calejados pelas vicissitudes da profissão, estudiosos e competentes, todos na contra mão da triste realidade didático pedagógica e técnico tática encastelada de forma coercitiva nas sombras de uma CBB que precisa emergir deste limbo constrangedor. Que a visão presente de uma Copa América a inspire.

Amém.



6 comentários

  1. Walter Carvalho 09.09.2009

    Professor Paulo Murilo,

    Em relacao aos comentarios dos blogistas gostaria de lembrar que ao Moncho nao podem ser negados meritos pela conquista – que por sinal muito importante para o Brasil –

    Porem gostaria de lembrar que o Moncho foi o primeiro tecnico a ter a oportunidade de dirigir os jogadores brasileiros que jogam na NBA e da Europa ja com um certo grau de experiencia e amadurecimento tecnico e profissional – me refiro ao Varejao, Leandrinho, Splitter, Huertas, Alex e o Marcelinho. Estes jogadores melhoraram muito tecnicamente durante este periodo no exterior. Ainda me recordo que o Leandrinho um ano antes de ir para a NBA era banco do helinho e jogava 4 a 5 minutos por jogo especialmente no mundial nos eua. O huertas era o terceiro ou quarto armador e hoje e imprescendivel na equipe. Poderia continuar com exemplos dos outros jogadores mas nao quero me alongar muito no meu comentario. O ponto importante e que – esta melhora tecnica, especialmente defundamentos e jogo, aconteceu no exterior e nao no Brasil – Porque sera?

    Ate breve.

  2. ALEXANDRE MIRANDA 09.09.2009

    PROFESSOR SE ME PERMITE UMA COLOCAÇÃO – QUE POR VENTURA O SENHOR JÁ TENHA RESPONDIDO A OUTROS, MAS SINCERAMENTE A FILOSOFIA DE DOIS ARMADORES É MUITO INTERESSANTE E EU CONFIO..MAS NO PANORAMA DO BRASIL, EM QUE OS ARMADORES EXISTENTES NÃO SE DISPÕES A MUDANÇAS DE FILOSOFIA OU NÃO SUAM A CAMISA POR MUDANÇAS OU ATÉ MESMO – E ISTO FOGE AO CONTROLE, NÃO TEM POTENCIAL PARA TRABALHO DE DIVISÃO DE ARMAÇÃO. COMO IMPLEMENTAR DE FORMA EFETIVA? SERIA UM CASO PARA ANOS DE CATEGORIA DE BASE..OU NESTE MOMENTO JÁ PODDEMOS CONTAR COM DOIS ARMADORES REALMENTE SOLIDÁRIOS UM COM O OUTRO (COMO ARROYO E RUBIO DA ESPANHA)?
    ABRAÇOS..E AGUARDANDO NOVOS CONCEITOS TÉCNICOS-TÁTICOS NO BLOG..JÁ PASSOU A COPA AMÉRICA, VOLTEMO-NOS AOS NOSSOS ESTUDOS. GRATO.

  3. Basquete Brasil 09.09.2009

    Ora Walter, sabemos nós os porques, e sabemos mais ainda o que poderia ser feito. Mas, como você disse anteriormente, não fazer parte da corriola tem seu preço, mesmo que os maiores prejudicados sejamos nós mesmos. Mas também existe o outro lado da moeda, e este nâo tem preço que pague, independência, liberdade de ações e pensamentos, e principalmente, paz absoluta de espírito, lastreada pelo dever sempre cumprido.
    Devemos sempre seguir em frente, já que nos freiar é impossivel. Um abração, Paulo.

  4. Basquete Brasil 09.09.2009

    Prezado Alexandre, tente acessar o site do Correio Braziliense de hoje para a matéria “Chegou a hora de testar”, que responderia a sua pergunta sobre a dupla armação. Ai vai um parágrafo da matéria:
    A opção virou regra

    Mais que entrar em jogo, na China, o Universo terá a oportunidade de pôr em prática o
    novo esquema tático: agora com dois armadores. Com a chegada de Nezinho, o técnico
    Lula Ferreira resolveu mudar o jeito de jogar do Universo: colocou-o ao lado de
    Valtinho. “Na verdade muda pouca coisa. É mais questão de treinar e acostumar com o
    novo esquema de jogo”, alega Valtinho. O ala Arthur concorda. “Não muda muito, já
    jogávamos com quatro abertos.”

    Só que o esquema a que o brasiliense se refere era a opção de Lula Ferreira. O
    Universo ficava apenas com um pivô quando o ala Diego entrava em quadra. Agora, essa
    situação será a predominante. Valtinho, que já jogou em outras equipes com dois
    armadores, confessa que já faz algum tempo que não atua como ala, e por isso, sofreu
    um estranhamento inicial. “O torneio da China vai ser fundamental para começarmos a
    pegar esse ritmo de jogo, conversarmos, sentir como o outro joga”, explica.

    Valtinho, entretanto, está animado. “Não é uma coisa que vai ser tão difícil de fazer
    e acho que vai ter bons resultados.” Nezinho também está otimista. “Vai ser difícil
    só quando pegarmos laterais mais altos. Mas isso é tudo que um técnico quer. O Lula
    tem uma boa gama de jogadores, dá para brincar bastante.”
    E como você bem exigiu, voltemo-nos aos nossos estudos. Um abraço,
    Paulo Murilo.

  5. Fernando 11.09.2009

    Prof. Paulo, primeiramente um abraço, e obrigado pela resposta a orientação que lhe pedi sobre armação, sobre a copa america, sinceramente o que vi não me animou, as equipes que foram ou estavam desfalcadas (caso de Argentina), ou eram na minha modesta opinião instaveis (Porto Rico e Republica Domenicana por exemplo), de bom o que vi foi um melhor esforço ofensivo de nossa equipe, embora alguns não consigam ser ¨defensores¨ mesmo estando na defesa, mas fiquei triste com a falta de opções taticas de nossa equipe, pois não havia no banco atletas que oferecessem alternativas em seus estilos, não tinhamos como colocar um segundo armador, que ja esta provado que tem que utilizar este espediente durante o jogo, não vi aquela transição para o ataque com jogadores se movimentando em grupo sufocando o adversário e tendo um percentual alto de aproveitamento ofensivo.
    Fiquei logico contentissimo com o resultado, mas com um pe atrás na realidade.
    No mais continuo lendo e aprendendo, nas categorias de base aqui de santo andré, costumo passar seus artigos para os meninos lerem, e eles apreciam muito, um abraçoi,

  6. Basquete Brasil 12.09.2009

    Agora imagine como me encontro com os dois pés bem mais atrás ainda. Vitórias tendem a encobrir certas verdades, e ai é que mora o perigo.Minha vivência e experiência aconselham a introspecção e o bom senso, sempre. Obrigado pela divulgação dos textos junto à meninada, o que me deixa muito feliz. Um abração, Paulo Murilo.

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