OLHANDO BEM A FRENTE…

“Só fizemos dois coletivos até agora, por isso o nosso desentrosamento, inclusive esse torneio servirá para que alcancemos ritmo de jogo para o NBB…”

Foram declarações de um jogador do Minas no intervalo do jogo com o Flamengo, ontem, no Torneio em Joinville.

Ainda sob o impacto da escolha do Rio para sede olímpica em 2016, que comentarei mais adiante, tentei dar uma espiada nesse jogo, um dos principais encontros do nosso basquete, agüentando até o final do segundo quarto, quando fui premiado com a jóia acima.

Ou seja, para o insigne jogador o preparo da equipe para o nacional se restringe básica e preferencialmente à quantidade de coletivos e jogos preparatórios, e claro, com a conivência dos técnicos envolvidos na competição, aja vista as declarações dos mesmos adotando o mesmo ponto de vista, comprovado com a atuação de suas equipes, todas, executando o sistema único de jogo, imutável, pétreo, dando seguimento ao estabelecido de longa data por técnicos e jogadores envolvidos nesse terrível processo  de homogeneização  técnico tática, que os tornam adaptáveis a trocas de equipes e de comandos com um mínimo de perdas técnico comportamentais, num circulo vicioso de interesses pretensamente profissionais, as quais são compensadas com a somatória de coletivos e jogos preparatórios, numa autêntica oficialização das “peladas” como preparo básico das equipes. Um bate bola, arremessos variados de livre escolha, distribuição de camisetas, e o racha redentor.

Não se escuta em tais declarações, sequer uma menção, por mais tênue que seja, sobre treinamento básico e preferencial sobre os fundamentos do jogo, como se todos os dominem integralmente, tornando-os figuras retóricas e ultrapassadas. E quando o jogo se inicia constatamos os mesmos erros de condução, domínio e conhecimento sobre a principal ferramenta do jogo, aquela que em muitíssimos casos atrapalha a performance de muitos pretensos craques, a teimosa e volúvel esfera flexível, somente dominada por quem a conhece profundamente, a inefável bola.

E por uma questão de bom gosto, de amor ao jogo bem jogado, de encanto pela habilidade no manuseio da bola, e por conseguinte dos dribles, passes, fintas, arremessos, cortes, bloqueios, rebotes e percepção defensiva pela simples e rápida observação de seu comportamento quando em mãos adversárias, é que desliguei a TV em respeito a um jogo que teima em não ser respeitado, ferido pela mediocridade e pela mesmice, ano após ano, refletindo o grande pecado mortal que aflige a modalidade, a péssima formação de base, que tem como parâmetro exemplificador a grande maioria de nossas equipes de ponta.

Que com a classificação automática para 2016, tenderá a ser mantida dentro dos princípios técnico táticos atuais, pois nem mesmo a possibilidade de não classificação para 2012, nem de leve afastará conceitos tão graniticamente arraigados, por uma geração de técnicos e jogadores profundamente unidos pelo sistema único, pelo padrão NBA, pelo nivelamento rasteiro.

E nossas seleções de base, reflexos desse posicionamento dogmático e oportunista, já que prét à porter, colonizado e de fácil acesso ( o que explica a mágica transformação de jogadores em técnicos, muitos dos quais abonados pelos crefs da vida…), sistematicamente serão enviadas ao matadouro internacional, frutos da primariedade nacional, sem chances, por menores que sejam, de desenvolverem algo de novo, algo com fundamentação didático pedagógica de peso, baseada em sérios estudos e pesquisas subjacentes, por pessoal preparado por quem sabe, e não nomeado por QIs políticos e continuistas.

2016, para grande parte dos envolvidos com o grande jogo é o sinal de uma redenção anunciada, pois independe de modificações nada desejadas e ansiadas, já que garantidora de participação olímpica, que nem mesmo a tentativa hercúlea para 2012, vencedora ou perdedora, tenderá a ser mudada.

Se o nosso basquete realmente quiser mudar seu destino, muita, mas muita coisa terá de ser mudada, a começar pelos dolorosos discursos como o que abre esse artigo, numa virada drástica de mesa, começando pela base, e somente por ela, já que sete anos correm céleres, e não temos mais o direito de perdê-los.

Querem vencer de verdade? Mudem tudo e muita gente, pois neste colossal país tem muita gente boa, ao contrário do que pensa a grande maioria da excelente imprensa e seus jovens redatores, que repito, conceituam seus nascimentos como o principio de tudo, o que mais do que um erro, é um pecado que não devem cometer.

O grande jogo, como as demais modalidades coletivas, dependem de experiência, vivencia e bom senso, que somente os mais experientes possuem de verdade, pois a experiência válida é a experiência vivida.

Creio chegar o momento de diluirmos conversas fiadas de botequim, e partirmos para o que realmente interessa, o soerguimento do basquetebol para 2010, 2011…2016…

Amém.



4 comentários

  1. Adamastor 05.10.2009

    Vc é o cara mais chato do mundo, qual é time que vc comanda mesmo? Por que não tida a bunda da cadeira e vai dirigei um time na pratica, na teoria até eu.

  2. Basquete Brasil 05.10.2009

    Sabe Adamastor, você tem alguma razão, e eu tenho pensado bastante em retomar um caminho que trilhei por mais de 45 anos,nas quadras, nas salas de aula, nas incontáveia clinicas pelo país afora, nos estudos, nas pesquisas, na dupla formação universitária, nos aperfeiçoamentos, nas pós graduações, até mesmo um doutorado no exterior, e com tese de basquete! De uma prática intensa e incansável de sol a sol na busca de uma independência econômica razoável, e daquela independência que dignifica um profissional, a de ser dono de sua vida, seu destino, suas convicções, não devendo favores políticos, e sempre conquistando objetivos pelo mérito, única e exclusivamente pelo mérito, e na prática. Prática esta que me aufere o direito inalienável de valorizar a teoria que embasou meus trabalhos e meus sonhos, e da qual não abri, não abro e jamais abrirei mão, pois sem ela prática nenhuma tem sentido, já que desprovida de lógica e essência.
    Agora, no auge dos meus 70 anos, perigando ser assaltado no direito básico de ter minha casa, meu lar, penso seriamente em voltar a dirigir equipes, sem distinguir categorias e faixas etárias, pois o verdadeiro técnico, o verdadeiro professor exerce seu mister sem o vislumbre da glória, da ribalta gloriosa, da fama enganosa e superficial. Seu compromisso é com a educação, com a juventude.
    No entanto, um óbice se apresenta, minha condição alta e comprovadamente especializada e técnica, na contra mão da mediocridade reinante e do mercado eivado de estrategistas de ocasião, assim como de analistas e comentaristas desrespeitosos, ignorantes dos meandros do grande jogo, e agressivos como você, prezado Adamastor.
    Mas não retiro de você a boa sugestão de voltar ao batente, do qual nunca me afastei, haja vista os mais de 600 artigos técnicos aqui publicados, todos, rigorosamente todos lastreados na pratica intensa, pois a experiência válida é a experiência vivida.
    Só sinto que você, produto do consumismo rasteiro hodierno, não tenha a paciência de navegar pelos mesmos, pois, quem sabe, aprenderia algo sobre basquete, e se não, aprenderia a respeitar os mais velhos, principalmente aqueles que fizeram do trabalho, da pratica, sua meta de vida.
    Obrigado pela sugestão, e mais obrigado ainda pela oportunidade de dialogar com você.Do assumidamente chato,
    Paulo Murilo.

  3. Jalber 07.10.2009

    Bom primeiro devolvo a pergunta ao Adamastor? Qual sua história no basquete?
    Pelo que sei pelas leis do Brasil o trabalhador se aposenta aos 65 anos de idade, e por decisão propria, particular e infelizmente as vezes financeira volta para o trabalho. No caso de escolha propria muitas vezes vem pra contribuir com a sociedade, pois seu dever já foi cumprido!!!
    Aproveito o curriculum imenso do professor, e o infeliz comentario do Adamastor pra tratar de um assunto que e muito falado aqui pelo professor, que é a formação do atleta/cidadão. O jornalista Fábio Balassiano que mantém o Blog bala na cesta trata da convocação e permanência da seleção brasileira sub 15. clique aqui e veja a matéria e tire suas proprias conclusões.
    Também venho pedir a autorização do professor para externar aqui minha felicidade com o reconhecimento dos alunos do projeto Assistência Basquetebol Cataguases com relação ao trabalho de formação do cidadão atleta. clique aqui e vejam os comentarios no nosso blog.
    PS: Gostaria muito que o Professor desse uma olhada!!
    Abraço a todos

  4. Basquete Brasil 07.10.2009

    Não só dei uma olhada como li ele todo. Parabéns pelo trabalho Jalber, e pode contar comigo sempre que precisar de um pouco de minha experiência.Um abração, Paulo Murilo.

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