O NONO DIA…

P1010245

Numa reunião de trabalho da comissão técnica, e com um representante dos jogadores participando, um dos temas abordados foi o da folga nos dias carnavalescos, onde o argumento dos jogadores era o da enorme fadiga causada por 19 dias de quatro jogos e treinos intensos, e tudo sem um dia sequer de descanso. Aceitei em acordo com os demais componentes da CT, e pararemos três dias, recomeçando na próxima terça feira.

E fomos para os dois treinos do dia, o nono dia de um projeto desafiador em toda sua conformação técnico tática. Combinamos mudar o modo e a maneira de jogar, e estamos conseguindo levar a razoável termo essa pretensão, que vem exigindo o máximo de esforços da grande maioria da equipe, que só não atinge o total pelas contusões e decorrentes recuperações.

Pela manhã praticamos de forma liberta de cadeiras e obstáculos, e em formação de duplas, toda uma gama de fundamentos previamente treinados, e cujo teor abrangia todos que compõe o grande jogo em seu desenvolvimento.

À tarde, onde por força de algumas forçadas e justificadas ausências só pude contar com nove jogadores, o que forçou uma mudança, e conseqüente adaptação à programada inclusão dos dois fragmentos que faltavam para a complementação do sistema proposto. Mesmo assim o apresentamos em meia quadra e sem marcação, tão somente as poucas regras que o compõe  para o entendimento setorizado do mesmo, e para que durante a folga os jogadores estudem sugestões e plausíveis adaptações baseadas em suas experiências de muitos anos no sistema único de jogo, agora confrontado com um outro de concepção  diametralmente oposta  a ele. Esta confrontação teórico pratica é que definirá os movimentos básicos do novo sistema, que sendo aceito por todos o tornarão factível e democraticamente reconhecido.

Quando um técnico propõe uma ruptura técnico tática a uma equipe adulta contrapondo a um novo sistema os hábitos profundamente adquiridos pela longa pratica de execução de um outro, jamais deverá impor tal mudança sem o desvinculamento de seus jogadores daqueles hábitos, pois corre o risco de ver ruírem ambas as experiências. Cabe então usar o processo de substituição progressiva, lenta e pausadamente, de um habito por outro, mantendo sempre os pontos concordantes, basicamente os fundamentos comuns a ambos, mas diferenciados em sua aplicabilidade especifica.

Ao se atingir tal objetivo, a equipe se situará em um novo patamar técnico tático, sem perder o sentido básico do controle dos fundamentos, mesmo sob a influencia de um novo sistema e os diferenciados hábitos a serem adquiridos.

Trata-se de uma troca sutil e particularíssima, que exige um bom planejamento e aferições e avaliações constantes e detalhadas, e que por certo, auferirão a equipe uma nova postura, um novo recomeço, novas e plausíveis esperanças.

Voltaremos na próxima terça feira.

Amém.



2 comentários

  1. Henrique Lima 20.02.2010

    Professor, o sistema único que você critica cria nos jogadores quais atrofias técnico-táticas ? Em qual fundamento ou em qual caracteristica o atleta fica mais à segundo plano dentro deste sistema ?

    Questiono porque assistindo os jogos com o sistema citado, os atletas por vezes ficam tão previsivéis e a equipe em um ciclo tão mecânico, que a cararacteristica que mais sinto falta nos jogos é a inteligência para o jogo, a leitura da partida, o entendimento do que deve ser feito e porque ser feito de tal forma. Seria muito mais a substituição do pensamento do atleta pela mecanização dos fundamentos.

    É o mesmo que saber ler porém sem compreender um texto.

    Não sei se ficou claro para o senhor a discussão aqui !

    Um abraço, bons treinamentos, Henrique.

  2. Basquete Brasil 20.02.2010

    Prezado Henrique, certamente eu não exporia tais definições melhor do que as feitas por você. Perfeito. E é exatamente o que tento reverter nessa nova investida, talvez a última, dirigindo o Saldanha, tão minimizado e criticado por muitos. Sei, e tenho certeza de que valerá a pena, orientando-me na contra mão da mesmice enraizada no nosso querido basquetebol. Coerência ao que defendo é o objetivo a ser alcançado, e lutarei junto aos jogadores para colimar tal objetivo. Parabéns pelas corretas analises e observações. Um abraço, Paulo Murilo.

Deixe seu comentário