O TRIGÉSIMO PRIMEIRO DIA – A REGRA OMITIDA…

Nesta manhã fizemos um bom treino de fundamentos e arremessos, visando primordialmente uma execução mais objetiva do drible e conseqüente mudança de direção, a fim de que a organização do nosso sistema  de jogo pudesse fluir mais naturalmente e com alguma dose de liberdade no permanente combate com a defesa contraria, principalmente por parte dos armadores, numa antevisão da única forma possível de evitá-lo, a anulação da conexão entre os armadores e os pivôs dentro do perímetro interno.

E fomos para o jogo à noite, planejando forçar as ações internas, com deslocamentos permanentes de todos os pivôs móveis, e consequente ligação com os armadores. Na defesa, o abandono da dobra interna, a fim de serem evitados os passes para as laterais onde arremessadores de três pontos costumam atingir bons índices de acerto pela total liberdade presenteada pela referida dobra que tenta em ajuda evitar finalizações de curta distância, cedendo no entanto o espaço mais do que confortável para o arremesso de três pontos. Minha proposta aos jogadores foi a de trocarmos 3 por 2, ao permitir o corte em direção à cesta, em vez de deixá-los à vontade para o arremesso de três, onde são realmente poderosos.

Mas desde os primeiros minutos de bola em jogo, testemunhando a poucos metros de distância os verdadeiros atentados cometidos sobre meus armadores, através uma marcação faltosa todo o tempo, onde a carga ilegal ao corpo dos mesmos era constante e violenta, sob os olhares complacentes e absolutamente ignorantes quanto à interpretação das regras elaboradas e emitidas pela FIBA, mas perfeitamente alinhados aos critérios utilizados na NBA, que percebi de pronto a quase impossibilidade de fazer chegar nossos passes com precisão aos nossos pivôs na zona interna, numa cristalina constatação do formidável equivoco em que vem se transformando a arbitragem brasileira, principalmente quanto às cargas faltosas e ilegais sobre os armadores e demais jogadores. Mais tarde no hotel, aquela visão inicial que tive sobre o jogo era confirmada a cada ação pelo irrefutável vídeo que assistia, incrédulo e inconformado, inconformismo este que não manifestei durante todo o jogo por não considerar válidas intervenções coercitivas aos árbitros,atitude incompatível  a minha função de técnico de uma equipe que deveria estar disputando um jogo de alta competição, arbitrado por juízes preparados para a mesma.

Quebrado o sincronismo entre armadores e pivôs, nos restou as tentativas individuais que tanto treinei para que não acontecessem dentro do sistema adotado, numa clara demonstração do quanto de poder negativo uma arbitragem omissa pode desencadear no âmago de uma equipe. No nosso banco os auxiliares e jogadores ensaiavam protestos contra critérios tão desiguais, os quais procurei conter para que não perdêssemos as poucas oportunidades que nos restaram para buscarmos um equilíbrio minimamente possível.

Nos terceiro e quarto quartos conseguimos a duras penas e muita insistência de minha parte evitarmos as dobras nas penetrações do adversário, mantendo por conseguinte os arremessadores sob um maior controle defensivo, mas a diferença passando dos 20 pontos inviabilizava uma reação.

Lições foram listadas para posteriores correções, onde duas variáveis sobressaem, a reestruturação defensiva de alguns jogadores, habituados a não contestarem tentativas de três pontos dentro do sistema único de jogo que praticaram desde sempre, e o reestudo de uma formula que tornem os armadores capazes de atuar e alimentar seus pivôs embaixo de pancada, isso mesmo, na acepção do termo, pancada, numa constatação lamentável e constrangedora, e que infelizmente vai se impondo ao nosso basquetebol.

O jogo eminentemente físico mascara e até anula em alguns casos a técnica e a habilidade de muitos jogadores, numa perigosa e irresponsável emulação do que ocorre com o futebol, onde jogadores de alta técnica sofrem coerção aberta por parte de jogadores inábeis e violentos, como se fosse um pecado original o exercício da arte de jogar. O basquete corre sério perigo de se ver no mesmo caminho do futebol, sob o beneplácito de uma arbitragem equivocada e pessimamente formada. Urgem discussões de técnicas de jogo com os conselhos de arbitragens em todo o país, a fim de que a essência do jogo não descambe para o âmbito de um prosaico circo romano.

Mas verdade seja dita que perdemos para uma equipe melhor, com bons arremessadores, e extremamente rápida, mas que teve facilitada sua vitoria pela quase impossibilidade de nossos armadores jogarem dentro das regras, caçados que foram por toda a partida, numa claríssima constatação de que seus defensores estavam orientados a não permitirem que a bola chegasse ao perímetro interno em boas condições, mas que infelizmente para o correto e legal desenvolvimento do jogo faltou a correta aplicação das regras, onde a violência deliberada deve ser coibida permanentemente.

Sem dúvida estudaremos maneiras de contornar tal comportamento agressivo, sem que o imitemos jamais, pelo bem do grande jogo.

Domingo teremos mais um jogo aqui em São Paulo, contra a equipe de Assis, esperando, no mínimo desejável uma arbitragem condizente com o espírito das regras da FIBA, e não dentro do espírito agressivo e ilegal preconizado pela NBA.

E aos problemas que temos enfrentado, que não se some mais este, para o qual não existem treinamentos imediatos que o anulem.

Conseguimos manter nossos valores estatísticos bem próximos aos que vínhamos obtendo nos jogos anteriores, com uma pequena queda nos lances livres e números de rebotes, o que demonstra o acerto do sistema adotado, cuja tendência de se firmar aumenta a cada dia, a cada treino, a cada competição. Muito trabalho temos pela frente, e é para lá que vamos, todos.

Amém.



3 comentários

  1. ALEXANDRE MIRANDA 13.03.2010

    OLÁ PROFESSOR..PRIMEIRAMENTE PARABÉNS PELO SEU ESFORÇO NO COMANDO DA EQUIPE. SEMEANDO ASSIM OS FRUTOS SERÃO SABOROSOS!

    MAS PROFESSOR, MINHA MENSAGEM NA VERDADE É PARA QUESTIONAR ALGO QUE TENHO PENSADO..

    EU E MUITOS AMANTES DO BASQUETE QUE AGORA COMEÇA A TRABALHAR NOSSOS JOVENS – DIGO ISTO POR QUE SOU PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA, ADORAMOS SEUS POSTS, MAS ESTES COMENTÁRIOS DIÁRIOS NÃO PODEM ESTAR SERVINDO DE ALERTA PARA OS ADVERSÁRIOS? LEIO NESTE ÚLTIMO COMENTÁRIO QUE A DEFESA ADVERSÁRIA FEZ TODO O POSSÍVEL PARA TIRAR DE SEUS PIVÔS MÓVEIS AS POSSIBILIDADES DE RECEPÇÃO E FINALIZAÇÃO, ME PARECE QUE OS TÉCNICOS ADVERSÁRIOS JÁ ESTÃO POR DENTRO DE SEUS ESQUEMAS (QUE AUDIÊNCIA PRIVILEGIADA HEIN?)

    DIGO QUE É UMA FELICIDADE PARA MIM..MAS PODE SER ALGO NEGATIVO PARA O SENHOR..O INTERESSANTE SERIA O SENHOR EXPRESSAR SUAS IDÉIAS APÓS A TEMPORADA, OU APENAS EXPRESSAR IDÉIAS GERAIS DE SEU TRABALHO DIÁRIO..MAS MINUNCIOSAMENTE SERIA PREJUDICIAL.

    ABRAÇOS..PERDÃO SE ESTAS IDÉIAS PARECEREM CRÍTICAS..

  2. Rodrigo 13.03.2010

    Olá Coach!É meu primeiro comentário aqui no seu blog e pra mim que iniciando uma possível carreira como treinador é um tesouro de conhecimento e experiência que pelo visto não somente minha pessoa tem usufruido.Em primeiro lugar, concordo com o Alexandre acima e se eu fosse treinador de um equipe de outra franquia da NBB com certeza estaria bem atento no seu blog pois sabendo da experiencia e do “perigo” que o time pormoveria como adversário certamente usaria seu blog como uma arma poderosa pra me precaver das ações táticas de sua equipe.
    Mas já deixo aqui os meus parabens pelo blog e falo pelo bem de ver um treinador no minimo “ousado” bem na NBB para que possa inspirar outros profissionais a se premitirem serem ousados também.
    Abraços daqui de Minas Gerais.

  3. Basquete Brasil 14.03.2010

    Prezados Alexandre e Rodrigo, sempre nos meus treinos exijo mais da defesa do que o ataque, inclusive e prioritariamente quando faço uso do sistema de ataque que acabo de introduzir na equipe, isto porque deveria ser esta a preocupação de nossos adversários, e seria exatamente o que faria se adversário fosse.Agindo dessa forma ponho o sistema em permanente processo de evolução, já que o mesmo não possui jogadas pré-determinadas, funcionando pura e exclusuvamente através soluções encontradas pelos próprios jogadores.Logo, quanto mais defensivas forem as ações contrárias, mais o sistema se expande, oportunizando soluções vindas e criadas pelos próprios jogadores. Simples não? mas ao mesmo tempo complexas e dependentes de um grande controle dos fundamentos do jogo, sem os quais este, ou qualquer outro sistema sequer sai do papel. Creio ter respondido suas dúvidas. Um abraço,
    Paulo Murilo.

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