NIVELANDO POR…
“Estamos aqui presentes fazendo a história do basquete nacional” (Diego Jeleilate, na inauguração da ENTB/CBB, como seu coordenador, mesmo não sendo técnico, e sim preparador físico).
“Esse é o inicio de um trabalho que será importante para nivelar o nível dos treinadores aqui no Brasil. Isso nos dá uma tranquilidade, pois sabemos que todos os técnicos terão que passar por esse curso, desde os mais experientes até os que estão começando agora”, afirmou o técnico do Assis Basket, Carlão.
NIVELAR, v. tr. dir. Medir com o nível a diferença de elevação que existe entre (dois ou mais pontos); tornar horizontal; aplainar; (fig.) igualar: a morte nivela ricos e pobres; destruir; arrasar; tr. dir. e ind. pôr ao mesmo nível; igualar; nivelar um terreno com outro; (fig.) graduar; proporcionar; equiparar; tr. ind. igualar-se em nível; ficar no mesmo plano; pr. Igualar-se; equiparar-se.
( Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa).
“O que falta para os técnicos brasileiros é a capacitação. Não são todos que têm condições de ir para o exterior para fazer cursos e clínicas internacionais. Acho que esse é o primeiro passo para o aperfeiçoamento e nivelamento dos nossos treinadores”, afirmou o técnico do Paulistano/Amil, Gustavo De Conti. ( Depoimentos constantes de matéria publicada no site da LNB em 7/7/2010).
Ou seja, nivelamento é a palavra de ordem para os técnicos da categoria adulta, aspecto gerador de tranqüilidade, pelo fato de que todos, experientes ou iniciantes, estarão num mesmo plano técnico existencial, fator que para outros capacita o treinador para o exercício de suas funções, independendo de currículo, graduação, pós-graduação, estudo, pesquisa, e longa estrada teórico prática percorrida, como numa pré justificativa de que tais variáveis temporais passem a inexistir quando o interesse único é o do nivelamento puro e simples, este sim, justificando a oficialização profissional dissociada de tão incômodos detalhes “acadêmicos”.
ESCOLA (ó), s. f. Casa ou estabelecimento, onde se recebe ensino de ciências, letras ou artes; conjunto de professores e alunos desse estabelecimento; método e estilo de um autor ou artista; processo seguido pelos grandes mestres; doutrina de algum filósofo ou homem célebre; sistema; seita; (fig.) aprendizagem; experiência; exemplo. (Do lat. Schola.) (Do mesmo dicionário)
E a história está sendo feita, mas por quem, de que forma, com que objetivos?
Ensinar a ensinar o grande jogo, ou nivelar técnicos, aspirantes a técnicos, ou pseudo técnicos num mesmo e absurdo patamar, como se tal nivelamento fosse exequível, ou mesmo aceitável ante a cronologia do processo didático pedagógico indissociável do fator tempo, responsável pela maturação do saber?
Ou simplesmente o nivelamento cúmplice e conivente no nascedouro de um corporativismo garantidor de um nicho profissional, onde vivências, experiências curtas e longas, ou mesmo inexperiências, se tornam caldo de um mesmo tacho, à sombra de um nivelamento lastreado numa “certificação” adquirida em quatro dias de palestras?
E por onde se perdeu a meada do processo seguido pelos grandes mestres, aqueles poucos e esquecidos que justificariam e endossariam uma verdadeira escola, todos técnicos, um dos quais poderia estar proferindo as palavras do inicio desse artigo, substituido injustamente por um profissional de outra área, e que nunca privou da arte de ensinar o grande jogo?
Finalmente, como entender uma escola que começa sua caminhada na contra mão de sua função básica, a de preparar jovens que iniciam suas carreiras, e não certificar e nivelar técnicos, que acima de tudo e de todos deveriam propugnar a diversidade, o livre pensar, a democratização sistêmica, fatores que geram as discussões, as contradições, a busca da verdade, a criatividade, a eterna aventura ao desconhecido, molas impulsionadoras do progresso humano?
Pensei e repensei ir à escola, mas me deparei com uma verdade inquestionável, a coerência de toda uma vida voltada ao estudo, à pesquisa e a transmissão do pouco que amealhei e aprendi nesta já longa jornada, de muitos sacrifícios e renúncias, mas plena da maior das satisfações, a do dever cumprido, com firmeza e dedicação, onde a hierarquia e o mérito sempre se antepuseram ao nivelamento escuso e político.
Ainda tenho uma tarefa a cumprir nessa liga, a de sedimentar um sistema de jogo iniciado no Saldanha da Gama, antagônico e diferenciado, mas jamais nivelado, produto do grande esforço de uma equipe humilde e lutadora, que espero seja mantida, para uma tarefa que poderá ser de grande importância para o nosso basquete, a de provar que podemos jogar o grande jogo de formas diferentes, com atitudes e posicionamentos diferentes, como diferentes têm de ser as capacitações e níveis dentro de uma modalidade que pretenda tornar a ser vencedora.
Poderei fazê-lo, e me deixarão realizá-la? Honesta e sinceramente não sei responder. Mas sei, bem sei da minha competência, do meu espírito sempre em busca do novo, e de minha inesgotável competividade. Amo o basquete, o grande jogo de minha vida, ao qual jamais cometerei o erro de nivelá-lo… por baixo.
Amém.
Prezado Professor Paulo Murilo, só por curiosidade, gostaria de perguntar:
Como é o relacionamento com outros tecnicos e eles compartilham da mesma opinião sua a respeito desse curso de 4 dias?
O pessoal não questionou no curso esse “abuso” da CBB/ENBT?
Esse pessoal da ENBT não fica constrangido ou talvez com muita raiva sei lá, devido ao seu posicionamento, pois não há como contestar tamanha experiência…
Nenhum relacionamento, prezado Clayton. No Congresso ainda conversei amistosamente com o Enio, o Claudio, o Rossi, o Marcio e o Paulo Ribeiro, também alguns poucos assistentes técnicos. Com os demais somente o estritamente social, mas sempre num clima respeitoso. Parece óbvio que não compartilham minha posição sobre o curso, e a prova é que estão quase todos lá. A turma da ENTB professa a seguinte politica-deixa ele falando sozinho, pois nada mudará…
Constrangimento ou raiva se fundem ao corporativismo que tudo permite, já que absolutamente majoritário. Mas prefiro minha solidão despida de vaidades e rancores. Durmo melhor assim, pois não devo absolutamente nada a nenhum deles, e o que possam representar.
professor alguma novidade sobre o saldanha,pelo que li hoje nao se chama mas saldanha e sim CECRE/Vitoria
o senhor sabe alguma coisa?
Prezado Vinicius, assim como você, soube hoje dessa mudança lendo as noticias sobre a assembléia da LNB. Creio que somente o Alarico tenha a resposta, já que um caso exclusivamente administrativo.Um abraço, Paulo Murilo.
Olá Professor Paulo, tudo bem?
Gostaria de fazer algumas perguntas sobre o planejamento do senhor em relação à base, já que tanto trabalhou em equipes formativas ao longo de mais de 40 anos:
1) como o senhor organiza a sequência pedagógica a ser ensinada ás crianças? É encadeada ou aleatória?
2) O senhor utiliza o trabalho coletivo buscando a rotação constante e vivência exploratória de ocupação de espaços diferentes na iniciação? A partir de qual faixa etária ou categoria o senhor insere o seu sistema de 2 armadores e 3 pivôs móveis?
3) o senhor trabalha com exercícios que realçam o gesto técnico? ou prefere dar a livre opção da criança resolver as situações através da adaptabilidade -situações problema?
4) Quando assumiu o Saldanha para o NBB, o senhor teve alguma interferência no trabalho dos técnicos da base? Como o senhor acredita que deva ser organzado um planejamento de equipes de base?
Pra finalizar, como o senhor vê esta questão da entrada das novas equipes para o próximo NBB? Há alguma novidade em relação ao Saldanha? Estou na torcida para que continue, seu trabalho é referência a quem está começando igual eu, abraços,
professor,acho interessante deixar o senhor informado das coisas que estao acontecendo aqui em vitória,o saldanha da gama acabou para o basquete,alarico é dono da franquia e resolveu de vez se desvincular do clube que em nada o apoiava
sobre a proxima temporada estamos inscritos parece que ja tem um patrocinio certo,o senhor é prioridade para proxima temporada assim como manter o plantel,mas ja tem uma baixa o Rafinha esta fora ja esta apalavrado com o Iguaçu clube que ele defendia antes de vim pra ca.E é provavel que teremos outras Roberto e Munoz parecem ja ter propostas do cetaf/vila velha,andre esta ja esta jogando em sp mas deve voltar.
um abraço
Prezado Fabio, já faz algum tempo que não treino os muito jovens, mas não creio ter perdido o manejo sutil necessário para iniciá-los e treiná-los. Sempre encadeei o processo, numa progressão didático pedagógica uniforme e natural. Por exemplo, jamais ensinei de saída a famigerada bandeja, com suas filas de caixas de banco. A bandeja, pode não parecer aos menos informados, mas é uma ação de coordenações múltiplas e dificeis de serem entendidas e captadas pelos jovens. sempre preferi os arremessos de quadra, com as duas mãos, para que descobrissem o prazer da cesta, assim como os dribles e os passes antecedendo aos deslocamentos e paradas sem a bola. Tudo voltado ao manejo, contato com a bola, atração maior e magica para todos eles. Competições, em forma de contestes, somente meia quadra e no maximo 3 x 3. Aos poucos a introdução gestual, mecanica e de elementos ritmicos eram administrados em doses, senão homeopaticas, mas sempre respeitando a maturação particular e unica de cada um deles.Coim jeito e muita observação iamos corrigindo os fundamentos, levando-os sem sentir ao espirito coletivista particular do grande jogo.Ensinar devagar e com paciência, afastando de forma bastante eficiente erros e vicios, que se adquiridos e estabelecidos, muito trabalho à frente para serem corrigidos.Esse era o método Fabio.
Movimentar-se sempre, partindo de um principio básico-Passou a bola siga em movimento, no sentido da bola, ou contrario à mesma.Sem a bola, desloque-se buscando angulois de recepção, sempre. Esse principio de movimentação de ataque é semelhante ao de defesa, a busca antecipativa de espaços, atacando e principalmente, defendendo.O uso da dupla armação e triplo pivô, como todo sistema de jogo organizado, mesmo de forma aleatória, só deve ser incluido após os 14 anos, quando a maturação psiquica se encaminha para o âmbito da adolesc6encia, fase crucial no preparo técnico.
Todos os exercicios de fundamentos, os individuais e os coletivos objetivam o gesto técnico, mas ai entra o fator crucial, o pulo do gato, a individualização do mesmo, que varia com os fatores de assimilação, coordenação, velocidade e estabilização comportamental, açoes estas que definem o progresso dos jovens, em obediência aos seus ritmos psico mecânicos.É nesse momento que a atuação do professor e do técnico se faz presente, quando sua capacidade de diagnose se aproxima da correção. Quanto menor for essa distância-Diagnose-Correção, maior sua influência educativa.
Muito pelo contrario Fabio, meu assistente Washington, responsavel pelas divisões de base do Saldanha foi o primeiro a incluir em seus treinamentos a sistematica técnico fundamental que levei à divisão adulta, guardando as devidas diferenças e proporções entre as gerações.Um projeto de divisões de base sempre terá de ser desenvolvido nesse espelho, quanto aos fundamentos, jamais quanto aos sistemas de jogo. Estes têm de se adequar às faixas etárias dos jovens iniciantes.Os jovens têm de se referenciar à maneira como os adultos executam os fundamentos, nunca as táticas.
Vejo que as novas equipes ampliam os horizontes a mais jogadores e técnicos, mas infelizmente, prevejo que serão mais equipes a utilizarem o sistema único, basta ver no mercado de aquisições os mesmos vicios nas buscas de jogadores 1, 2, 3, 4 e 5. Acredito que ainda continuarei a ser o único técnico “diferente’na liga, o que é simplesmente lamentável.
Espero ter respondido à contento Fabio. Um abraço, Paulo.
Obrigado pelas informações prezado Juliano, mas as contatei a algum tempo, pois não me desvinculo de me manter antenado, jornalista que também sou. Mas acredito que apesar das dificuldades o Alarico saberá encontrar as soluções devidas. Um abraço, Paulo Murilo.
Parabens pelo texto!
O ponto principal está, a meu ver, muito bem colocado pois “nivelamento” não é o que está faltando para os técnicos nacionais. Está faltando qualificação, idéias novas e até intercambio internacional.
Mas esse nivelamento é o que pretendem os arautos da ENTB/CBB, e estão a caminho de conseguir com cursos crefianos, não só curtos em duração, como, e principalmente, em conteúdos. Inversão de valores e poder é isso ai, prezado Ricardo. Um abraço, Paulo Murilo.