MUNDIAL-PRIMEIRO DIA:OS FUNDAMENTOS…

Desativo o som da transmissão televisiva a fim de não sentir o desprazer de ouvir tantas imprecisões sobre o que de real interesse a equipe americana apresentava na quadra.

Glorificar ao êxtase enterradas, bloqueios e arremessos de três, dando continuidade ao que reputam serem tais aspectos a essência do jogo, induzindo os jovens telespectadores (claro, aqueles cujo poder econômico os tornam espectadores de um espetáculo via cabo…) a errônea idéia de que “aquilo” que está sendo glorificado é o exemplo a ser seguido, imitado, buscado e praticado, numa ótica absurda e irresponsável.

Técnicas apuradíssimas de drible, fintas, passes, mudanças de ritmo e de direção, posicionamento defensivo irretocável, leitura antecipativa, na defesa e, principalmente no ataque, posicionamento nos rebotes, corta-luzes, cruzamentos, contra-ataques, arremessos DPJ, paradas bruscas, e acima de tudo, todo esse arsenal de habilidades executado numa velocidade assombrosa.

Trocando em miúdos, uma exibição do mais alto nível de fundamentos do jogo, sua marca indelével desde as categorias de base, aprimorada no dia a dia em seus treinamentos, já que ferramenta indissociável para a pratica do grande jogo.

Armadores, alas e pivôs, irmanados ao principio básico do jogo, esteio de qualquer sistema que empreguem, ou mesmo, sem utilizarem sistema algum, pois uma equipe mestra nos fundamentos sempre estará apta a enfrentar qualquer outra que se baseie unicamente em táticas e sistemas, porém com fundamentos de menor qualidade.

Foi o que vimos no jogo de hoje, onde podemos acrescentar mais dois aspectos pouco ou nada relatados por nossos narradores, analistas, jornalistas e um mar de comentaristas nos blogs da modalidade, a defesa dos pivôs à frente, e o entra e sai ofensivo destes mesmos marcadores quando no ataque, jogando de frente para a cesta, raramente de costas, ações estas somente possíveis a jogadores de alta estatura cujo potencial genético é preservado quanto à velocidade e elasticidade, na contra mão dos autênticos mamutes que muitos defendem por aqui, e que já se assanham nas exigências de mais 20-5kg de lastro ao jovem Lucas, que se “modificado” neste patamar, perderá sua maior qualidade, a velocidade, e arriscando-se a futuros rompimentos de tendões e articulações, como o inditoso Delfin.

Mike Krzyzewski, que apesar da exibição acintosa e vaidosa de dois anéis de campeão NCAA, um em cada mão, copiando (infelizmente) seu colega Rick Pitino, demonstra sua fidelidade ao princípio estrutural do basquete americano, elevando aos píncaros a importância dos fundamentos acima dos sistemas, fator que pode ser razoavelmente contestado por equipes com igual ou aproximado poder fundamental, que se somado a um eficiente sistema de jogo, principalmente valorizando ações interiores, poderá colocar tão cabal superioridade em risco considerável.

Mesmo assim, o simples fato da equipe americana ter posto de lado o sistema único de jogo, advindo da NBA, imitado por todas as equipes que até agora tiveram seus jogos transmitidos ( e acredito mesmo que todas o utilizarão), por si só conota uma verdadeira revolução, fator sempre bem vindo ao progresso do basquetebol.

Pena que nossa seleção se mantenha fiel ao mesmo, que claudique seriamente nos fundamentos, e que permaneça escrava de uma administração continuísta e política, onde a meritocracia não encontra a mínima acolhida, esmagada desde sempre pela mais deslavada e medíocre mesmice, que foi o que vimos hoje contra a fraquíssima equipe do Iran.

Os três magníficos pivôs nunca estiveram em plena forma, onde um já se foi, um outro só joga daqui a duas partidas(?), e o outro saiu de quadra hoje com uma bolsa de gelo na coxa, demonstrando não estar curado da lesão, além dos outros dois não terem atingido o nível técnico exigido para uma competição de tal magnitude.

Armadores? Temo pelos mesmos quando tiverem de enfrentar defesas mais próximas e agressivas, assim como nossos alas não estão a altura das exigências defensivas e reboteiras, pelo menos em comparação às equipes que tiveram seus jogos hoje transmitidos, assim como temo por uma classificação mais digna se adaptações emergenciais não forem fomentadas, principalmente no jogo ofensivo interior, e no bloqueio efetivo dos arremessos de três, trocando-os pelos de dois.

Nosso basquete tem que ser submetido a uma reforma radical, desde a base, desde a preparação de novos técnicos, sem as formatações e padronizações alardeadas pomposamente pela ENTB/CBB, ainda mais agora quando tais aspectos estão sendo confrontados pela pequena revolução técnico tática americana, advinda de uma escola pluralista e democrática, a mesma pequena e parecida revolução que ousei ensaiar na direção do Saldanha no NBB2, convenientemente expurgada para o NBB3.

Mas como santo de casa não faz milagres, Vox populi, Vox dei.

Amém.



2 comentários

  1. ES 30.08.2010

    Olá Paulo,

    eu penso que a televisão ainda não está pronta para abordar temas tão técnicos em plena transmissão…

    Digo isso, pois, ao mesmo assistir as olimpíadas de inverno, os narradores nem ao menos se deram ao trabalho de estudar o esporte, a exemplo do que acontece nos canais ESPN e da Bandsports.

    Não é exagero, assista uma partida da MLB ou mesmo da NFL e verá os narradores enaltecendo aspectos técnicos e explicação das regras do jogo.

    Acho que essa mudança não se dará tão cedo.

  2. Basquete Brasil 31.08.2010

    Se a midia capricha na manutenção de competentes analistas politicos, economicos, judiciais, patrimoniais, educacionais, etc, por que não nos desportos? Por acaso não se trata de um materia de interesse e basica importância para a população em geral? Acredito seriamente que sim, prezado editor do ES. Um abraço, Paulo Murilo.

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