UM EMAIL DO FELIPE…
Recebi ontem (17/9/10) este email enviado pelo Felipe Modesto, sugerindo um debate sobre alguns aspectos dos fundamentos postos em pratica pelas jogadoras brasileiras, confrontado-os com os praticados por jogadoras de outros países, analisando diferenças e técnicas consoantes aos mesmos. Aí está uma excelente oportunidade de discutirmos um dos fatores mais negligenciados em nosso basquete, o ensino, pratica e aplicação dos fundamentos básicos do jogo. Ao final teço algumas opiniões à respeito do tema, e abro o espaço para o discutirmos.
Professor.
Por favor, perdoe uma eventual presunção de minha parte em tentar entrar em
um debate que possa estar ligado ao meio academico, mas penso que o assunto
pode ser aberto em blogs e sites especializados
Estou enviando a mesma analise que foi enviada ao Balassiano para que possa
ser iniciado esse debate.
Estamos às vésperas do Mundial Feminino. EUA e Austrália dominam a
modalidade.Além de diferenças técnicas entre australianas e americanas em
relação ao resto do mundo, tenho notado uma diferença na mecânica dessas
jogadoras.
Penso em abordar especificamente os casos das jogadoras brasileiras e seus
déficits mecânicos.São peculiaridades em movimentos de execução de
fundamentos do jogo que começam na formação das atletas e culminam em certos
"vícios de movimento" nas atletas brasileiras.
A análise é rererente a três fundamentos do jogo.
*1 - Arremesso*
Exclua Hortencia, Janeth, Iziane e talvez Micaela.Repare como as jogadoras
arremessam.O movimento de arremesso começa como uma espécie de passe de
peito.As meninas seguram com as duas mão na "orelha" da bola que está
próxima ao tórax.Aí sim começam os movimentos de pernas bem sutil que termina
com a extensão dos braços e um chute que sai no máximo na altura dos olhos,
sem jump.
Conclusão: arremesso lento, baixo e fácil de marcar.A jogadora só arremessa
de estiver livre, bem livre.
Ex:Bethania, Fernanda Beiling, Helen, Adrianinha, Chuca, Taiara e uma
infinidade de jogadoras.
Aí é só notar o arremesso das "gringas". Taurasi, Catchings, Penny Taylor
e
TODAS as outras "gringas" arremessam como "homens".Jump alto,
acima da
cabeça e muito rápido.Difícil de ser marcado.
*2 - Drible*
Aqui só dá para excluir a Paula.A meninas batem bola de um jeito muito
lento.Quando a bola toca no chão e volta para a mão delas repare no tempo
que ela fica suspensa no ar, apoiada na palma da mão virada pra cima,
naquela "quase condução".Se alguém contar quantas batidas de bola a Helen
dá
para atravessar a quadra e comparar com a Sue Bird, arrisco que a Bird bateu
umas 10 a 15 vezes mais.
Bater mais vezes a bola possibilita uma maior velocidade com o controle dela
e mais facilidade na hora de executar dribles rápidos.Você já viu uma
brasileira dando um crossover?
Todas as brasileiras dão essa cadencia no movimento e isso torna o 1 contra
1 muito falho.Até Iziane e Janeth batiam bola assim.Aí você olha para a
Taurasi e vê porque mesmo com uma mão esquerda não muito boa ela tem
facilidade em fazer bandeja.A condução de bola e o drible são rápidos graças
a essa mecânica.
*3 - Parada Brusca*
Só me lembro da Lígia (ex-Ourinhos) fazendo esse tipo de jogada no
Brasil.Sabe aquela batida forte com uma espécie de salto e a parada para
subir para a cesta, típica de pivô?Todas as norte americansa fazem
isso.Todas as universitárias americanas fazem.
Se uma pivô brasileira for fazer dá impressão que elas vão tropeçar.
Ninguém pegava essa jogada da Lígia e é uma outra baita diferença mecânica
entre as nossas e as "gringas" australianas e americanas.
Podem argumentar que o potencial de força e torque de algumas jogadoras é
maior, mas a Hortencia que jumpeava e a Paula que batia bola com o tronco
ereto e sem a "quase conduzida" não eram exemplos de porte atlético. Por
isso que eu acho que é uma questão de mecânica, de base.
Bom, é isso professor. Escrevi no trabalho, bem corrido e na informalidade
porque é uma sugestão mesmo.
Obrigado pela atenção.
Abraço.
Com vemos, é um assunto ícone deste espaço, os fundamentos do grande jogo. O que teria a dizer a mais do que venho publicando nestes seis anos de blog?
Vejamos:
Arremessos- A grande maioria das meninas desenvolvem ambivalência de forças nos braços, ao contrário dos meninos que desenvolvem quase sempre uma dominância em um deles. Como desde cedo a inexistência de materiais e espaços adaptados aos mais jovens é norma geral em nosso país, elevar uma bola oficial à cesta, se torna mais efetiva com uma aplicação de força dupla do que única. A ambivalência mencionada, direciona a bola com mais precisão pelo menor esforço em fazê-lo. Pouco a pouco o habito de assim arremessar vai se solidificando, tornando sua correção posterior bastante improvável. Some-se a esta constatação o fato da presença quase institucional das defesas zonais nas divisões de base, e temos reportado o quadro que ora discutimos. Pequenas, porém efetivas, adaptações em materiais e regras no preparo das divisões de base, sem que títulos e medalhas sejam os objetivos a serem alcançados nessa fase, corrigiriam tais falhas de formação, e produziriam melhores e mais eficientes jogadoras.
Drible- É um grave engano considerar-se a parada de bola na mão como condução, quando na realidade a infração cometida é a de andar com a bola no ato de driblá-la, pois a regra coíbe a interrupção das trajetórias descendentes e ascendentes no ato do drible, interrompendo o binômio ritmo-passada deste fundamento. É uma artimanha muito ensinada e praticada a fim de que fintas, mudanças de direção e reversões sejam efetuadas ao largo do domínio do corpo em torno de seu centro de gravidade concomitantes às ações acima descritas. Com a permissividade das arbitragens e de técnicos não muito compromissados com os fundamentos, já que orientados aos sistemas de jogo, a deficiência se avoluma com os anos de prática, num erro cumulativo e comprometedor.
Parada brusca- ou o DPJ (Drible, parada e jump), que mesmo nos Estados Unidos nos campeonatos universitários, somente foi resgatado de dois anos para cá, e jamais no nosso caso. Treinei muito este fundamento no Saldanha da Gama, com enormes vantagens. Jogo preferencial no perímetro externo e contra ataques a qualquer custo mataram a pratica do DPJ, mas aos poucos ele está sendo resgatado pela reintrodução de sistemas de jogo que não o único até agora empregado.
Como vemos, um prato cheio para discussões e posicionamentos. O espaço está aberto. Obrigado Felipe pelo email.
Amém.
Fato esses fundamentos naturalmente não são ensinados como deverian ser nas categorias de base ou na escolas se é que basquetebol está presente nas escolas!!
E o resultado maior veremos à partir de amanhã na Republica Tcheca. Talento só não é suficiente para suprir deficiências de formação básica. Muitas dificuldades encontraremos sob marcação próxima e insistente, quando a ausência de alguns fundamentos conotarão nossa performance. Some-se a essa deficiência crônica o fato do desentrosamento entre a equipe e as jogadoras advindas da WNBA, e teremos um retrato fiel de nossas deficiências. Sem mencionar o fator da minimização de nossa orgulhosa tradição de defesa intransigente da camisa nacional, pela imposição de retorno de uma jogadora que a humilhou e constrangeu, demitindo,inclusive, o técnico da equipe.
Com o primado da constituição de uma equipe nacional, denegrido e pulverizado, que importa se fundamentos e sistemas estejam em jogo?
Aliás, para o técnico espanhol isso tudo é de somenos importância, pois “pimenta nos olhos dos outros é refresco”, na medida que os euros sejam garantidos.
É isso ai prezado Daniel. Paulo Murilo.
Sobre o arremesso, no mundial ficou bem claro como o domínio da mecânica deste fundamento é importante. Durant conseguia chutar com precisão mesmo marcado, dada a rapidez com que armava o arremesso. Átimos de segundo entre driblar, segurar a bola, fazer o movimento perfeito do arremesso e concluir. Com isso, o marcador não conseguia fazer o bloqueio e muitas vezes nem fazer uma sombra no americano.
Em contrapartida, no nosso time, tínhamos que presenciar Alex passando uma eternidade para executar seu arremesso torto e o Marquinhos que até tem um movimento correto de arremesso, mas também muito lento, isso pra ficar nesses dois.
Prezado Professor Paulo Murilo,
Li um artigo sobre a influência de diferentes metodologias no treinamento de basquetebol sobre o nível de conhecimento tático processual.
A pesquisa foi feita com meninos de 10-12 anos, e pelo meu entendimento do artigo, me desculpe a linguagem simplista, as crianças aprendem jogando, pois aquelas que utilizaram maior tempo das aulas trabalhando fundamentos técnicos não tiveram o mesmo desempenho.
Gostaria que o Professor emitisse sua opinião a respeito do artigo, como não achei mais o link, vou enviar o artigo por e-mail.
Abraços,
Clayton.
Desculpe, consegui o endereço:http://www.revistasusp.sibi.usp.br/pdf/rbefe/v21n4/v21n4a4.pdf
Mas Andre, não esqueçamos que ótimos arremessadores de longa distãncia não se encontram com facilidade, pois são especialistas e altamente treinados, haja vista o pequeno número dos mesmos em cada equipe que disaputou o mundial, dois, três no máximo. Além do que, de grande estatura,e muito, muito velozes, tornando-os eficientes mesmo sob pressão individual. Contra zona então, se fartaram.Com as defesas de baixa qualidade que quase sempre empregamos aqui em nosso país, onde a zona é implantada desde as divisões de base, muitos, dadas as facilidades, se convencem que são especialistas, não precisando de velocidade de execução pela liberdade que auferem.Fossem desde cedo confrontados com defesas individuais obrigatórias, para que tal distorção deixasse de existir. Mas como defesas zonais nas divisões de base premiam equipes, dirigentes e muitos técnicos com titulos e enriquecimento curricular, vão os vicios se eraizando cada vez mais a fundo, para num dia futuro chegarem às seleções com as famigeradas e repetitivas deficiências apontadas por você. Logo, ou mudamos a forma e a maneira de ensinarmos nossos jovens, ou nada mudará para agora e sempre.
Um abraço Andre, Paulo Murilo.
Prezado Clayton, imprimi o artigo e o examinarei com calma acadêmica, para responder a você o mais breve possivel. Esse tempo para estudo também poderia ser dispendido por outros técnicos, a fim de que pudessemos discutí-lo mais a fundo. Em varios artigos discutí essa temática, inclusive sugerindo aos novos técnicos envolvidos com essa categoria inicial da aprendizagem, que o objetivo mais importante era o de fazer amado o jogo pelos praticantes infantís, para os quais o aspecto competitivo perde em importância para o fator jogar, simplesmente jogar, independente de quem vença ou perca.Competitividade somente é compreendida e aceita(com ressalvas…)na pré puberdade, por fatores evolutivos sobejamente conhecidos por professores e técnicos bem formados.Como é um estudo na faixa dos 10-12 anos, acredito que não fugiremos dessas constatações. Volto mais tarde ao assunto. Agora vou lê-lo com a atenção que merece. Um abraço, Paulo Murilo.
Professor Paulo, acompanho há meses seu blog. Não sou acadêmico, mas pratiquei o belo esporte da bola laranja por anos no Paraná e em Santa Catarina. Como enveredei para o jornalismo e por escolha, para a crônica esportiva, mas advindo de uma modalidade olímpica que não o futebol, mantive minhas raízes. Com todo respeito aos bons técnicos e professores da modalidade, existiu e existe no meio, alguns que não merecem o título, por um principal motivo, além daquele que o Senhor aponta seguidamente em seus escritos públicos: o imediatismo dos títulos. Trata-se da falta de conhecimento de alguns e falta de interesse de aprender de outros, como se não fossem eles responsáveis pela modalidade, tanto quanto o técnico da seleção adulta, no masculino e/ou no feminino. Sempre digo, tratamos das seleções adultas e de base, mas esquecemos no Brasil do principal, a BASE DA SELEÇÃO, os técnicos/professores formadores, onde deve começar o trabalho de reciclagem de nossa modalidade. Só com os preparadores da base motivados e atualizados, colheremos bons resultados. Resultados à altura de nossa história, importância demográfica, geográfica e esportiva. Este trabalho precisa ser feito já, começando pela Confederação, passando pelas federações, secretarias de esporte e/ou educação, chegando aos professores, pois o tempo da improvisação acabou faz tempo. Qualidade começa no nascedouro e não na contratação dos técnicos dos selecionados adultos, afinal, “não se faz pão sem farinha”. Respeito e agradecimento. Raul.
Por uma falha técnica meu nome não saiu no comentário, cima:
Raul D’Avila
OK, Professor, Muito Obrigado!
Raul, quem dera que a maioria dos jornalistas esportivos pensassem assim, seria um enorme passo para a melhoria técnica do nosso basquete. E porque menciono os jornalistas? Porque são os que promovem a modalidade, os jogadores,e…os técnicos.Muitos jornalistas cometem equivocos brutais na promoção de técnicos descritos por você, já que medalhados e vencedores, não importando muito se na base ou na elite. Vitoria é sinonimo de noticia, trabalho educativo e formativo não, essa é a dolorosa constatação no dia a dia do nosso esporte. Ai estão o Neymar, a Iziane, o Nezinho com seus exemplos na elite para provar essa dolorosa realidade, onde o desrespeito aos tecnicos, às equipes e às tradições caem no esquecimento jornalistico, em prol das sempre anunciadas vitórias.Sem dúvida temos de mudar essa realidade, temos de dar o devido realce à formação de base, onde vitorias são etapas de evolução, e não o fim de um ciclo que mal se inicia.É longa a estrada a ser percorrida, obrigatoriamente, sem desvios e protelações. Corremos o serio risco de um vexame internacional em 2016, que nos remeterá a uma posição de inferioridade que dificilmente reverteremos. Nossos jovens merecem melhor destino, assim como nossos jovens técnicos merecem uma formação digna e democratica. Conseguiremos? Com a ausência de uma forte e bem estabelecida politica desportiva educacional, jamais!
Um abraço, Paulo Murilo.
Prezado Clayton, desculpe a demora na resposta sobre o trabalho acadêmico que você me enviou, ao qual passo agora a expor algumas considerações:
– É um trabalho bem formulado, e bem executado, quanto às metodologias empregadas,mas equivocado quanto ao universo do estudo, crianças de 10 a 12 anos.
– Trata-se de uma faixa etária cujas necessidades educacionais são aceitas unanimemente em todos os paises desenvolvidos, os quais pregam e mantêm intactas e muito bem protegidas, as caracteristicas intrinsecas e fundamentais da mesma, ou seja, o desenvolvimento bio psicomotor atravez a ludicidade, o ato de brincar, e a preservação do ritmo particular de cada criança no rumo da sociabilização e da maturação neuro motora. Paises do antigo mundo comunista, violaram estes principios, na busca dos “talentos”, com resultados desastrosos quando da chegada da adolescência e da idade adulta, em muitos milhares de cobaias humanas.
– O basquetebol, como modalidade de impacto, contato e grandes exigências de técnicas de execução de seus fundamentos, tem de primar por um planejamento progressivamente lento, onde o ponto de partida deve se situar no limiar dos contestes, dos jogos e dos materiais e equipamentos adaptados, da livre ação, até aproximadamente os 12-13 anos, quando ai sim, um enfoque competitivo e suas consequentes preparações darão inicio à especialização na modalidade, e mesmo assim ainda obedecendo as serias e bem definidas leis da maturação pré-adolescente.
– Logo, as conclusões do trabalho pecam, no meu ponto de vista, pela base e o escopo do estudo, crianças, nada mais do que crianças, com suas complexas formações, ante incompletas maturações.Por tudo isso, sugeriria aos autores do bem formulado projeto, que o aplicasse na população etária correta, ou seja, a partir dos 13-14 anos.
Bem Clayton, estes são os meus comentários, espero que os analise, discuta e formule novas e instigantes questões.
Um abraço, Paulo Murilo.
Prezado Professor Paulo Murilo, Muito obrigado por analisar e responder a respeito do artigo, concordo com suas análises, achei um material bastante interessante sobre mini-basquete no site da federação espanhola (realizaram um projeto no País inteiro, escolas, praças, clubes…) na verdade vi no blog esportesocial e também no site da federação portuguesa, gostaria que no site da CBB também estivesse disponível materiais p/ download, pois , é lógico que o material possui alguns pontos questionáveis, mas o que se percebe é o constante aperfeiçoamento dos tecnicos e valorização da base.
Se não for lhe importunar, estou finalizando um plano de aula p/ meus alunos e em breve lhe enviarei p/ análises e crítica.
Novamente Muito Obrigado.
Abraços,
Clayton.
Esse material mencionado por você vai ser largamente veiculado na pagina dedicada à Escola Carioca de Basquete, que iniciará sua caminhada em janeiro próximo, se os deuses ajudarem.
Pode enviar seu plano de aula quando bem quiser, e o analizarei com prazer. Um abraço, Paulo.
Tudo bem Professor Paulo?
Sobre a postagem do Clayton, concordo com a sua análise do artigo, o único “pecado” do estudo é a inadequação à faixa etária, já que, na minha opinião, nessa idade a criança não deve ser treinada, como acontece na maioria dos casos, e sim estimulada a gostar da modalidade esportiva que esta praticando. Crianças querem jogar, simplesmente jogar.
Participo de um projeto de extensão da Universidade Estadual de Maringá que trata do ensino da tática em detrimento da técnica na iniciação ao basquetebol. Participam do projeto 15 meninas com idades entre 13 e 18 anos, a maioria iniciante no basquetebol. Trabalhamos essencialmente o jogo de meia quadra, jogos reduzidos e adaptados (1×1, 1×1+1, 2×2, 2×1, 2×2+1, etc), os fundamentos são trabalhados dentro do jogo e elas tem total liberdade de criação e tomada de decisão durante o jogo, as correções são feita durante o feedback para que tenham o maior tempo de jogo possível durante as aulas. No final do ano teremos os resultados finais dos testes que fizemos (físicos, antropométricos, socio-alimentar e uma fimagem para análise tática do jogo)para uma melhor avaliação, o projeto esta em andamento desde fevereiro, mas posso dizer que, a nível de observação, que os resultados até agora são bem interessantes, principalmente a nível individual e quanto a socialização.
Nos baseamos em autores espanhóis e portugueses, o único autor em nosso país que se aprofundado no assunto, pelo menos o que encontramos, é o autor do artigo postado pelo Clayton, que é argentino. Esses autores enfatizam muito o ensino da tática e também da percepção e tomada de decisão no esporte.
Gostaria da sua opinião sobre esses assuntos Professor:
1)Se essa inversão no processo de ensino-aprendizagem no basquetebol, primeiro ensinar a jogar e depois refinar os fundamentos é valida? Principalmente do modo que trabalhamos no projeto.
2)Em minhas leituras encontrei um autor espanhol que diz que na iniciação a um esporte, no caso do artigo dele o basquetebol, o que deve prevalescer é a adaptação do movimento a situação e não se preocupar, neste primeiro momento, em o aluno ter uma técnica perfeita de movimento. Essa discução tem relação com a postagem do Felipe com relação a execução técnica das jogadoras brasileiras. Se o Professor quiser eu envio o artigo para o senhor analizar?
Escrevi com um pouco de pressa, então desculpe os erros de pontuação e português.
Um abraço!!!
Cleverson.
Vamos lá Cleverson, procuremos entender um fator primordial ligado a atividade desportiva, sua função sócio educativa.
Até os 10 anos aproximadamente, o jovem, a criança, tem como objetivo básico jogar, participar lúdicamente sem levar em conta o aspecto competitivo. Seu interesse é puramente social, interagir com seus companheiros, numa cumplicidade grupal, onde a necessidade de um se soma com a de todos, na busca do lazer.
Dos 12 em diante, na fase pré pubertaria, sobressair-se dentro do grupo torna-se importante, junto a aspectos de confronto e pequenas subversões, inclusive no ambito familiar.
A Educação Fisica e o Desporto, primordiais na formação da personalidade e no comportamento social, são fatores de alta importancia nessa primeira etapa do desenvolvimento do jovem, assim como o elemento competitivo o é na fase que se segue ao mesmo, ambos somente factíveis se bem orientados e dirigidos por competentes professores, principalmente na escola.
Se desde o inicio do processo o mais importante era a participação ativa nos contestes e pequenos jogos, sem preocupações técnicas e estilísticas, na etapa subsequente, dos 12 anos em diante, o aspecto técnico formativo ganha enorme importância, por ser o instrumental básico necessário para o dominio dos fundamentos da modalidade escolhida para fins competitivos, com objetivos especificos a medio e longo prazos.
Em outras palavras, no primeiro estágio da maturação do jovem, jogar é o mais importante, e o mais aconselhavel. No segundo estágio, a procura das técnicas de execução se tornam prioritarias, já que a exigência que se faz necessária é a do dominio dos fundamentos, sem os quais sistemas e táticas se tornam impraticáveis.
Não podemos nos esquecer de que a primeira fase é puramente lúdica, com materiais e instrumentais adaptados àquelas faixas étarias iniciais. Na segunda fase, ainda com algumas adaptações de carater ergométrico, e mesmo nas regras, o jogo deve ser o mais proximo possivel da realidade da modalidade escolhida, evoluindo para a concepção e prática oficias com o passar do tempo.
Esse é um conceito que sempre empreguei e estudei com bastante profundidade, e com bons aproveitamentos.
Espero que a resposta tenha sido razoável para você, e estamos abertos à continuação desse debate tão importante.
Um abraço, Paulo.
Tudo bem Professor??
Desculpe a demora ao voltar aqui, estive muito ocupado, sem tempo mesmo.
Bom, o senhor tocou em um ponto que considero muito importante, a competição.
Quando o senhor diz que a primeira fase, até os 10 anos, deve ser puramente lúdica e o aspecto competitivo não deve ser levado em conta o senhor está excluindo a competição, em qualquer forma que se manifeste, ou se referindo a competições organizadas que se assemelhem à dos adultos?
Acredito que a forma como usamos a competição pode determinar a qualidade da formação do futuro jogador e de sua educação. O jogo, o esporte tem em sua essência acompetição, se retirarmos esse componente acabamos por descaracteriza-los. Nossa sociedade é competivia, nós somos competitivos por natureza. Ganhar e perder fazem parte do jogo, ajustando essas duas faces à regras e princípios dos modelos de formação pensados nos interesses e necessidades das crianças, desde que sejam compatíveis com suas aptidões, competências e com um sistema de competição moldado em função das caracteristicas etárias, acredito ser perfeitametne viavel. E para isso concordo plenamente com o senhor quando diz que é de suma importância professores competentes para dirigir esse processo.
Escrevo isso baseado em leituras que fiz em que alguns autores até defendem a competição para menores de 8 anos desde que sejam respeitadas as caracteristicas biológicas, cognitivas e emocionais da criança, adaptando jogos, regras, visando objetivos formativos e não em busca de resultados. Eu acredito que apartir dos 8 anos já podemos incerir a competição no processo de formação, desde que todos os aspectos que citei sejam seguidos e respeitados.
Uma outra pergunta Professor. Na iniciação esportiva de jovens e até mesmo adultos, digamos com níveis diferentes de conhecimento de jogo, alguns nunca jogaram, outros em um nível intermediário e outros mais avançados. O senhor começaria do zero ou dividiria a turma por níveis de competência (ou habilidades?
Espero que as ideias tenham ficado claras e ter contribuído com esse importante debate, como dito pelo Professor. Desculpem os erros de português e pontuação.
Um abraço, Cleverson.
Prezado Cleverson, a primeira competição para uma criança deve ser aquela para cosigo mesma. É a forma mais primaria da natureza animal,a disputa com um pequeno galho, um pequeno novelo, uma bolinha de papel, o andar em pedras, o escalar uma arbusto, uma árvore, enfim, testar-se em capacidades desconhecidas, em descobertas táteis e apensas, o dominio no rodopio,o saber cair, o saber correr. Aos 8-10 anos devemos incentivar a competição individual, um pouco mais adiante com um oponente, depois contra dois, quem sabe uma dupla, e assim por diante, pois nesse mecanismo de evolução natural, ela vai se familiarizando com seu corpo, deus reflexos, suas desconhecidas potencialidsades, vai descobrindo que tais recursos podem ser transferidos a um objeto, a um ambiente diferente, a uma bola.
Paralela e concomitantemente, a sociabilização vai sendo inclusa em seus hábitos, em sua capacidade de reconhecer e aceitar o outro, complementando o circulo de habilidades individuais que aos poucos se somarão ao grupamento a que pertence.
O perigo latente, e mesmo presente, são os adultos em volta dessas crianças, e que geralmente transferem suas frustrações e sonhos competitivos ao comportamento das mesmas, prejudicando seriamente o seu natural desenvolvimento e maturação.
Logo, Cleverson, a competição de que falamos no conceito da formação de base, é a antítese daquela manifestada pelos adultos em torno do sistema, simples assim, mas complicado ao tentarmos sanar e explicar tais situações.
Quanto à iniciação desportiva com graus diferenciados entre os alunos-jogadores, mesmo adultos, no meu ponto de vista, ao nivelá-los, vamos dizer, por baixo, possibilito aos mais carentes uma evolução técnica inserida no todo, e aos mais habilidosos, uma volta às origens, como reforço e sedimentação de principios técnicos, oportunizando o grupo a uma capacitação mais linear, cuja evolução mais patente será, sem dúvida, o espirito de grupo, cerne de qualquer equipe competitiva.Essa foi a concepção que desenvolvi no Saldanha, quando encontrei a equipe com o sentido de auto estima em frangalhos.
É isso ai Cleverson. Bom trabalho, no bom caminho.
Um abraço, Paulo Murilo.