TRISTES CONSTATAÇÕES…

O jogo teve um primeiro quarto parelho, com as duas equipes jogando rigorosamente iguais taticamente, mas já dava para notar a grande diferença no aspecto da técnica individual, assim como no condicionamento físico das jogadoras. Individualmente era grande a discrepância no domínio dos fundamentos, principalmente nos passes, nos deslocamentos sem a bola, e no posicionamento defensivo, aspectos estes de largo domínio das russas, que somados à sua superioridade  física, onde jogadoras muito altas se destacavam pelo físico enxuto, atlético e muito veloz, se antepondo às nossas jogadoras, muito carentes de fundamentos básicos do jogo, e em condições físicas nitidamente inferiores, tornando-as lentas e incapazes para duelarem nos rebotes, e nos embates, tanto ofensivos, como defensivos.

Do segundo quarto em diante, quando tais diferenças se acentuaram pelo aumento de ritmo imposto pela equipe russa, rapidamente a diferença no placar se fez notar, atingindo a diferença de 20 pontos.

Os dois quartos finais repetiram o terceiro, nos quais em nenhum momento a equipe russa se sentiu ameaçada, num jogo fácil e despreocupado.

Duas foram as constatações marcantes neste jogo. A primeira demonstra que o nosso modelo biotipológico raia ao grotesco, com jogadoras altas, razoável técnica individual, mas clara e visualmente obesas, tornando-as lentas, previsíveis, e com elevação do solo insignificante, e não só as veteranas, como algumas novatas. Enfrentar equipes como a russa, caracterizadas pela velocidade e pela capacidade de salto, com jogadoras como as nossas, beira ao ridículo, nos remetendo e lembrando na prática o quanto de equívocos permeiam a formação e a preparação de nossas(os) jogadoras(es), desde a base.

E com tantas limitações técnicas, como se exigir disciplina tática de uma equipe tão carente de fundamentos?

Porque nestes três meses de preparo não se priorizou exatamente os fundamentos básicos do jogo? Pela tradição de considerarmos que jogadoras(es) adultas(os) em seus clubes e nas seleções não os necessitam treinar, como se fosse uma regressão o ato de praticá-los?

E também neste elástico prazo, por que não foram implementados treinos de condicionamento físico, visando a perda de gorduras supérfluas  responsáveis pela lentidão física e mental de algumas de nossas jogadoras?

E também, desenvolver um sistema de jogo inovador, a fim de surpreender equipes que maciçamente empregam o sistema único internacional?

Bem, são questões que só poderão ser respondidas pela comissão técnica que comanda a seleção, e que em hipótese alguma poderá negar que teve um longo tempo à disposição para prepará-la, e se não o fizeram…creio ser uma outra história para ser contada.

Mas como a competição terá continuidade, somente temo que a notória e histórica velocidade nipônica não nos pregue mais uma triste peça logo mais.

Torço (meio desconfiado) para que não ocorra, sabedor que sou da grande possibilidade que, infelizmente, torne a acontecer.

Amém.



2 comentários

  1. Clayton 28.09.2010

    Prezado Professor Paulo Murilo,
    Visto que é grande conhecedor não só de aspectos técnicos e táticos do jogo, mas também da história do basquete, quando se iniciou essa busca por jogadores obesos como o professor bem define, será pela observação de alguns talentos da NBA, que na verdade possuem este biotipo e isso é totalmente diferente de se tornar um jogador com esse porte físico.
    Apesar de um pouco fora de contexto, gostaria de citar o jogador Ronaldo, que em algumas entrevistas diz ter apenas 12% de gordura corporal, ou estão enganando ele ou ele(s) acham que somos idiotas!
    Abraços,
    Clayton.

  2. Basquete Brasil 28.09.2010

    Prezado Clayton, já publiquei inúmeros artigos abordando essa temática, principalmente sobre a grande influência da NBA e da WNBA nesse processo de endeusamento fisico, largamente copiado por nós, numa atitude que tem ido de encontro à nossa realidade, de um povo com uma biotipologia específica, já que miscigenada.
    Modelos são para serem estudados, e não simplesmemte copiados, pois geram distorções dificeis de reverter.
    Infelizmente, muitos de nossos talentos se perderam dessa forma, tornando-se jogadores híbridos e sem personalidade técnica, produto em que se transformaram nas mãos de pessoas totalmente fora das exigências que se tornam necessárias a uma boa formação de base.
    Um abraço, Paulo Murilo.

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